Rosário Bissueque
E se Moçambique fosse governado pelo povo? Talvez as praças fossem lugares de festas e não de medo.
Ela olhou para a carta de despejo na mesa, havia tantas palavras, mas a única que ela conseguia ler, era 'FIM'.
🦆💎 - O PATO E A JOIA:
Valor depende da utilidade.
Quem seria o primeiro a aceitar a eternidade do momento, se o primeiro passo, embora difícil, fosse ainda assim possível?
🐜🐞 - A FORMIGA E O BESOURO:
Persistência vale mais que tamanho.
O sapo agora dorme, cansado de tantos saltos em vão. Circulou pelas ruas estreitas, visitou todos os lugares do mundo e brilhou nas cores escuras das festas juninas. Mas há um mundo que sangra e há sempre alguém a vender por litros.
Mas não se preocupe.
Nós estamos aqui prontos, para culpar as estrelas, as marés, o velho governo e até as galinhas.
Há um mundo que sangra, sangra nos olhos da Maria das Dores, Joana da Liberdade, e do Santo António, mas Matias Malvado, não se importa. Mas não importa muito, se há algum propósito a encontrar, encontraremos, a menos que ele seja um mistério.
Antônio Valverde
Era um senhor gordo escuro e sorridente que queria que as coisas fossem iguais todos os dias, numa nação próspera onde as pessoas viviam em paz e harmonia. O futuro parecia sempre brilhante mas tudo começou a mudar quando um novo Presidente Antônio Valverde assumiu o cargo.
Caminhos, determinação, força, união, ponte, irmandade, laços, tempo, perseverança, verdade, resiliência, jornada, conquistas, desafios, respeito, conexão, autenticidade, superação, confiança, destino.
"Que a poesia continue a ser um meio de libertação" - Rosário Bissueque
"A placa sempre diz "CUIDADO COM O CÃO", mas o portão nunca está trancado.
Talvez porque o cão já tenha aprendido que morder dá mais trabalho do que assistir. Agora quem entra, entra por sua conta, sabendo que o funeral não está incluído".
Rosário Bissueque - "Que a poesia continue a ser um meio de libertação"
Somos feitos de futuros possíveis, entre espaços e palavras ainda por dizer.
"Que a poesia continue a ser um meio de libertação"
Cervos vivos e solitários, chamam pelo horizonte e gritam; estrelas, estrelas, estrelas dos olhos brancos. Mas as estrelas não param, as estrelas simplesmente ignoram e continuam a brilhar.
A terra pode até arder, os rios podem secar, valores e vidas, como poeira ao vento. Mas lá, lá bem no alto, as estrelas continuarão a brilhar. Sim, elas continuarão a brilhar meu amor, porque o mundo não pode parar nem por mim e nem por ti.
AÍNDA BEM QUE NÃO SOMOS TODOS
Você já imaginou se todos fôssemos apenas turistas?
Só escolheríamos mostrar as partes boas, as paisagens perfeitas, os sorrisos fáceis. Não falaríamos do mendigo que, pela fome, é agredido no mercado por tentar levar um pedaço de carne.
Esconderíamos as estradas mal feitas, que não chegam onde deveriam, e as doenças que os hospitais não conseguem curar, apesar dos esforços. Focaríamos nas praças brilhantes e nos monumentos grandiosos, mas jamais mostraríamos as sombras, os cantos esquecidos, as lutas diárias de quem vive nas margens.
Ainda bem que não somos todos.
Porque como turistas, deixaria de ser nossa missão contar a verdade crua, de expor as feridas da sociedade. Mas é justamente dessas feridas que vem o real aprendizado, a verdadeira transformação. Somos todos, no fundo, mais do que turistas. Somos habitantes, parte de um todo que precisa enxergar além do óbvio, compreender a dor para poder mudar.
Note que, até o navio de Titanic tem mais valores do que nossas contas bancárias. É isso mesmo! Afasta-te, negra, o mundo não precisa de nós.
QUEM ME OLHA HOJE
Quem me olha hoje não vê o que Namarroi fez.
Namarroi é um espelho partido. Mas calma aí, estrangeiro — aqui também há progresso. Entendeu?
Uma antena nova;
Mais uma estrada bem cavada;
Uma estação de rádio sem emissão;
Duas selfies ao lado do tribunal;
E um lindo discurso de quem nunca cozinhou numa panela de barro.
E daí?
Daí tive mais ensinamentos: ensinaram-me a ter orgulho da terra.
Só faltou uma coisa — não me avisaram que o orgulho também dói,
e que até o silêncio protesta.
Mas não, meus amigos,
Namarroi não nos deve nada.
Mas devia-se a si mesma.
A ORQUESTRA DO INÚTIL
Às vezes, tento querer escrever o que esta sociedade pretende dizer, mas logo descobro que ela mesma já se perdeu na vontade de enunciar-se. Não há verbo que a represente, nem sujeito que se assuma. Há, sim, um murmúrio colectivo, um desejo de parecer pensamento. E escrever o que a sociedade quer dizer é como tentar traduzir o silêncio de um homem que aplaude porque os outros já o fazem. É tentar dar nome ao abismo quando o abismo, educadamente, nos pede um autógrafo. E depois só contamos. Contamos quantas horas restam até o próximo.
Há quem, por ofício ou desvario, destile notas como se o tempo coubesse inteiro numa só melodia. E fá-lo com tamanha urgência que o silêncio. E depois morre afogado na enxurrada de compassos. E assim, entre a batida e o aplauso comprado, ergue-se o trono de um Rei, não por virtude mas por volume, não por arte mas por frequência.
É nobre, sim, o timbre. E há talento disso ninguém duvida, mas até o ouro, quando em demasia, perde o espanto e vira moeda. E a sociedade de ouvidos embotados, aplaude por reflexo. Confunde constância com génio, e quantidade com legado. Ora, família, o excesso também é uma forma de desperdício.
Hoje é Dia do Livro. Aquele objecto cheio de letras que muita gente só compra para decorar a estante ou posar para fotos com ar inteligente. É também o Dia dos Direitos Autorais, que serve para lembrar que copiar o trabalho dos outros sem dar crédito não é criatividade, é preguiça. Mas pronto, neste dia todos fingem que amam livros e respeitam autores. Amanhã?
Voltamos às citações mal feitas e aos textos roubados.
Rosário Bissueque
"Que a poesia continue a ser um meio de libertação"
Empoleirada na transparência mimética da folha, sem decreto, sem farda. Produz o trinado do vazio institucionalizado, qual quimera entoando a partitura de um porvir que nunca se quis presente, e que, mesmo quando prometido com verbo polido e peito batido, se esvai em lamentos mais vistosos que verídicos, pois onde há brilho, nem sempre há substância e onde há substância, não se canta assim