Rodrigues de Senna

Sacrificio

Tenho febre, por isso
escrevo.
A carne
pelos verbos rasgada
me prova
que escrever não é apenas
um exercicio.
É um prender-se às palavras
em sacrificio.

SANGRIA

De onde vem esse amor
Que me sangra
Agita meu peito
Aferrra-se ao que sou?

Inquieto tento recompor
A antiga sanha
Mas tombo exausto
Aonde o Nada começou.

PERDA

quero ser inteiro
mas me divido
entre o que finjo
que sou
e o que sou
de verdade.
para quem estender
a mão
se não consigo?
em que ano perdi
a minha idade?

"Um poema não é o que queremos que ele seja. Ele é aquilo que ele decide ser."

" Estamos presos
a alguma coisa
que nos falta.

Por isso,
mesmo tendo tudo,
nada nos basta."

Rodrigues de Senna, in trecho
do poema Falta.

Estou preso ao agora. Não tenho tempo para pensar no amanhã.

⁠"É sempre nu que me lanço ao desgaste do que digito"

⁠"Apesar da metalinguagem, tudo o que eu escrevo reflete o aqui e o agora. Reflete o real."