Paola Rhoden
Anjos cantam luzes no Natal
A luz renasce na alma
Um som irradia cores
Pesamos nossos valores
Com um pouco mais de calma
Ouvindo o canto dos Anjos
Sonhamos dia melhores
Olhamos os arredores
No som suave do arranjo
cada janela uma luz
E cada nicho um sorriso
As vozes do paraíso
A toda gente seduz
Anjos cantam pelo astral
No escuro brilham estrelas
Todos felizes ao vê-las
Porque tudo é Natal
Probabilidade de chuva
Quando saio para a rua
Pesquiso o céu em seus sintomas
Olho as nuvens
Sinto o vento
Aspiro a limpidez do ar
Vejo a flor que se insinua
Comparo aromas
Acompanho o voo das penugens
Da paineira a brilhar
Não fiz isso algumas vezes
Principalmente na vida
Deixei de pesquisar
A quem dar meu coração
Assim sofri os revezes
Do querer, e não ser querida
Ficando sozinha no andar
Sem ter quem me desse a mão
Por isso é bom sentir o vento
Colher o sol no olhar
Ver se a andorinha está víuva
Porque ao caminhar ao relento
Podemos bem não notar
A probalidade de chuva.
Poeta é o sonho
Da alma risonha
De um choro tristonho
E a poesia está
Nas flores, na grama
No vôo dos pássaros
No som colorido
E o rir da criança
poesia balança
coração sofrido
Um jardim florido
Das folhas a dança
A poesia está
Em tudo que existe
E o poeta insiste
Em seu poetar
Por isso o poeta
É alguém a cantar
chorar colorido
Nos passos que dá
Esses sons
Muito longe
não sei onde
Se perderam
No entanto
Ouço vozes
Que velozes
Na distância
Feneceram
E eu fiquei
O silêncio
Cobre o tempo
Que vivi
Nas estradas
Percorridas
Pés cansados
Só feridas
Nem senti
Só o alento
Procurei
Continuo
O caminho
Sou forçada
Pois a hora
Não chegou
Aqui estou
E o vento
Na janela
Me lembrou
Que andei
Então penso
Que essas vozes
E as feridas
Que a saudade
Por maldade
Não me deixa
Esquecer
Fica assim
E mais nada
As andorinhas voltaram.
Amanheceu, olhei o céu, e elas vieram. O seu vôo formando uma dança na felicidade infinita do viver. A alegria de vê-las assim eufóricas, no cruzar incessante de asas e bicos, me fizeram lembrar de dar as boas vindas, como elas, ao novo dia e á vida que se inicia a cada acordar. Porque todos os dias é um renascer das esperanças e dos sonhos, como o esvoaçar das andorinhas a cada verão.
Os ventos levam as folhas
As flores ficam sem pétalas
A vida passa depressa
E nisso não temos escolhas
Quantas vezes precisamos errar para achar o verdadeiro acerto? Não sabemos. Apenas não podemos desistir de tentar acertar.
Sonhos abandonados
Depois de tanto tentar,
Cabecear e dar na trave,
Acordei de meu sonhar!
Deixei os sonhos de lado,
Esqueci todos os entraves,
Decepções e enfados.
Olho agora as borboletas!
Sonhos vão para as gavetas.
Flores nascem, flores morrem
Nos galhos aboletadas,
Sem ter ninguém que as socorre
Fenecem acorrentadas.
Não gasto tudo que ganho
Não falo mal de ninguém
Não fico mais com estranhos
Não sonho com nada também.
Quase que chorei pensando,
Que a vida já me esqueceu,
Mas agora estou lembrando
Fui eu mesma quem perdeu!
Cada passo que dou aqui,
Vai de encontro ao meu destino.
Não tem como ser feliz
Se a vida não for um hino.
Nem repente, nem embolada
Sem nada que fazer,
Me peguei a olhar o passado.
Com os olhos da mente aguçados
Vi imagens, momentos, lazer.
Vi também quem amei com esmero,
Me deixar no desespero,
Largando como se larga
Algum traste bem usado.
Disse que já estava velha
E que o mundo lá fora se espelha
Na beleza e no prazer.
Fiquei assim, um tanto abalada,
Porque olhando a meninada,
Na juventude e frescor,
Vi que ninguém mais interessa,
De conhecer o Amor.
Vivem o mundo como uma peça
De um teatro singular,
Sem nada muito pensar,
E onde o ser deixou de ser.
E vi também que a de vinte,
Que me substituiu,
Logo, enjoada partiu,
Deixando o vivente sozinho,
Carente por um carinho.
E aquele olhar que dizia:
Como você é feia,
Agora vive na peleia
Para achar outra guria.
Velho, pobre, feio e retro,
Vai ficar só pra vovô.
E verá que sem dinheiro
Nem amigos vão querer
Ser mais seu companheiro,
E vai viver por viver.
Porque o mundo castiga
Mesmo que faça oração,
Quem na vida abriga,
Maldade no coração.
Saudade
Estive no mar olhando,
Um por do sol tão divino.
Sua imagem flutuando
Seu doce olhar de menino
Lembro-me de como olhava
Sua imagem refletida,
Nas águas do sol se pondo,
E conversava sobre a vida.
Essa saudade ainda fica
No coração machucado,
Procurando um consolo,
E nunca ter encontrado.
Eu sei que não vai voltar
Mas não deixo de sofrer,
A saudade vai ficar
Junto a mim até eu morrer.
Rondel
Por muito tempo fomos felizes
Não fosse da vida às adversidades
Que nos conduziu aos deslizes
Destruiu nosso amor deixando apenas saudades
Ente mentiras e verdades
Desculpas perdão e novas diretrizes
Por muito tempo fomos felizes
Não fosse da vida às adversidades
Lembro ainda das suas esquisitices
Dos seus defeitos e qualidades
E de todas as nossas mesmices
Entre dúvidas e realidades
Por muito tempo fomos felizes
Realizei meu sonho
Nasci, cresci, trabalhei e vivi.
Fiz tudo que sabia
Tenho no coração
a alegria de ter amado muito.
Tenho o conhecimento
que Deus me permitiu ter.
Por isso tenho o saber.
Tenho os amigos que mereço a meu lado.
Tenho a felicidade de saber o que quero.
E os dias foram contados.
Tenho na alma a sensação do dever cumprido.
E acima de tudo,
tenho o poder de decidir por mim mesma,
o que fazer de meu dia.
Viuvez de pensamentos
Tantas vezes vi o sol iluminar uns rostos tristes, e a chuva molhar algumas faces sorridentes. Muitas vezes vi lágrimas caírem pela dor, e outras maiores por alegria. Também vi folhas caírem pela seca, outras apenas por ser outono. Vi flores perderem a cor por negligência, mas centenas delas feneceram por ser sua hora.
E num relance vejo a vida entre os dedos, escorrendo liquidamente só por prazer, não dando tempo ao meu tempo, que esguio e despercebido segue em frente, deixando sorrisos e flores pelo caminho no andar indiferente.
Meu olhar não consegue perseguir o vento que leva minha alma insegura, pelos campos verdes que não são mais de esperança, mas de um amarelo pálido do sorriso sem anseios, num cantar de rouxinol enviuvado em seu repente, no sorriso indisciplinado da criança, que vive no interior de cada um.
E os rostos tristes não tornaram a ser alegres, e os sorridentes talvez também venham a entristecer. E assim permanece a vida em uma corrida alucinada, não levando em conta, nem o canto solitário do pássaro sem companheira, nem do som do sol brilhando no orvalho, enquanto as flores sobreviventes se esgueiram no amanhecer.
Enfim, nem sei se o olhar persegue a realidade ou se este mundo é uma ilusão, apenas sigo com os passos na certeza de uma estrada, que me traga não só pedras, mas a Paz no coração.