Múcio Bruck

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Vivendo a Loucura...


Saio e sigo só, em caminhos que me levam
Por ruas, alamedas e calçadas que se emendam
Direções diversas, sem fim, sem necessidades reais
Sem saber, percorrendo cada um dos pontos cardeais

Moro na companhia de meus fantasmas e vozes
Que me assombram continuo e severamente
Arrebatando o restado são de minha sanidade
Vago sem rumo ou querência, insone pela cidade

Quando me visita a lucidez, rabiscos que me tornei
Machuca-me na alma o abandono e a vergonha
Dita e explícita nos olhos dos muitos que amei
E silente, pranteio por dentro, sofro e choro

O acalanto e esperança que reside no eu
Mesmo limitado pela deficiência que me pune
Amordaça em tirania e emudece o expressar da dor
Escancarando minhas vitrines, vazias de amor

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Leves Gotas...



Trago nos olhos
A pressa lenta de razão ausente
Que vinga num jardim inseguro
Onde se faz raro o certo ser presente


Trago nos olhos
Impaciências de pais... crianças adultas
Passando paradas, caís e estações
Blindada probidade em garras de leões


Trago nos olhos
Dificuldades, alertas de nebulosas
Que escondem revezes e quimeras
Quiméricos de minhas primaveras



Trago nos olhos
Fantasias, sonhos e telas arcaicas
Naus sem rumo por rios que me inundam
Navegando em gotas de leves esperanças

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O prazer de meu eu...


Sou pescadora
Não nego minha raça
Uso linha, anzol e vara
E se me faltar a isca
Serve uma de luz que pisca


Sou pescadora
Em rio, mar ou lagoa
Sou feliz nessa raiz
Faça chuva, vento ou ventania
Meu querer é minha companhia


Sou pescadora
Não importa que peixe pescar
Se Pirarara, Piraiba ou Piapara
Não é o pescado que me atrai
Mas a faceta de meu eu que sobressai

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Não te Culpes...



O que tenho a oferecer-te?
Diz um irmão doente ao sadio:
Amizade sincera
Amor fraterno e verdadeiro
Estar pronto a ajudar-te
E à sua família, se necessário
Guardar de ti teus segredos
Com a própria vida, se preciso
Atravessar noites a cuidar-te
Quando pegar-te abandonado
Por aqueles a quem se dedicou
Nos anos de sua melhor saúde


Vá e olha-te no espelho
Não repare rugas e nem a feição
E pergunta-te, no silêncio
De sua exposta pequinês
Sou eu o filho que do céu
Meu pai vê com olhos de mel
Ou sente em mim ser qual fel?
E consolando aquele pai
Deus o abraçou em amor
E disse: “Não te culpes,
pelo que teu filho é, faz e fez
pois senhor, sou Eu O Criador!

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Para você, quero dizer...


Pisca-te a estrela, miúda, recém nascida
Já capaz de saber a quem mirar e guardar
Na sua eternidade, pois, dotada de sentidos
Aponta, silente e segura, pessoas sutis, completas
Carregadas de serenas paixões, que ofertam o bem maior
Resgatar sentimentos, ensinando a crescer sendo melhor

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Quando os sonhos se perdem...



Não mais reconheço que lugar é esse
Há, dependurada na entrada, uma placa
Onde se lê: “Doce Lar”, talhada em madeira
Fora de esquadro, sem cor, meio esquecida...


Há anos, atravesso os mesmos umbrais
Daquela construção, lugar que vivo
Passo por janelas, parede trincada
Não mais reparo nos muros de minha morada


Recordo que por anos a ergui, tijolo por tijolo
Cuidei das feridas de meus braços, pernas e mãos
As chuvas, o sol, a chegada das noites, calor e frio
Passaram por mim, sem interromperem minha obra


Servi de risos, passei por vil sonhador
Mas a fé e o desejo me incentivavam
Misturei amor, querer e sonho à massa de cimento
E depois de pronta, se fez orgulho de um sentimento


No tempo passante, a vida me trouxe filhos
E com eles, alegrias, sustos, surpresas
Uns mais amorosos que outros
Outros, a vida ensinou gratidões


Ingratos também, pois no tempo nada aprenderam
Recebi carinho quando era servil e nada negava
Ganhei descortesias e desrespeitos insanos
Daqueles que não ensinei a chamar-me de pai


Hoje, os anos passados a nada me permite mudar
A idade avançada me pesa e afasta quem amo e amei
Frágil e já sem forças, não sou dono do destino meu
Me tornei vítima do que disse e do que não ensinei

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A Louca de 20 minutos...


Olho-te aqui, agora
Com olhar jamais sabido ou tido
Olhos de quem sabe amar
E que aprendeu a desamar


Olho-te aqui, agora
Como quem implora, pelas retinas
Para que fiques um tantin mais
Vinte minutos de atenção, antes de se ir

Olho-te aqui, agora
Com o olhar de quem deseja
Quiçá, até mereça um colo
E acarinhar a dor que rasga a alma


Olho-te aqui, agora
Com íris incolor, sem vida
Mudez a suplicar que fique
Pois a voz já se recusa a pedir

Olho-te aqui, agora
Sentado bem ao seu lado
Com intenção de tocar-te a tez
Sentir o calor de são amor


Olho-te aqui, agora
E o sal de uma lágrima
Insana, toca meus lábios
Coerente, assumida, jamais derradeira


Olho-te aqui, agora
E de ti, sei, tudo o que me restará
Serão parcas lembranças, sinais de geleiras
Sentimentos fantasmas, falas nulas e vazias

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A vida tece seu destino...


A vida respira e viaja atenta e confiante! Segue em frente e não raro, alça voo rumo ao infinito, mas só quando não perde a capacidade de se emocionar, de saber sua exata valia e conhecer cada uma de suas fragilidades.
Segue em frente, passos firmes e decididos, previamente desenhados, tecendo em sua trajetória, uma colcha de verdades dentro do próprio destino, vívido e adornado de certezas que, ao final, saberá que seu passado foi bordado com fios de realizações de desejos de bem!

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No vão que se deu...
(Múcio Bruck)

A madrugada trazia, silenciosa
Um ar frio, brilho estelar e forte desejo
Sua ausência, um vão infindo e dolente
O afã de um beijo, um abraço esperado
Machucava o querer e produzia lágrimas
O amor se negava a partir, se findar
Incomodava a vida decidida e ferida
A madrugada trazia lembranças
Torturava o penar, já sem voz
Quieto, acomodado na aceitação
Flor sem cor, pétala da solidão

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Nos tempos dos fuzis...


Sou nascido em ano aguerrido, em ventre livre
Em tempos confusos, pais tementes e legalistas
Lúcidos nos entendimentos de sua época
Diferenciavam o bem do mal sem temores


Vim ao mundo em dias de instalada ditadura
E dela herdei temores e aprendizados
Foi no turbilhão dos fatos que assisti
Que forjei meu caráter e ideologias


Conheci armas e flores, algozes e heróis
Foi nas ruas, na insurreição de meu povo
Que a proporção exata do brio me arrebatou
Ali, vi a perversidade do poder, mostrava sua cara


Bandeiras, gritos de ordem pela liberdade
Passeatas, corações agitados e viris
Combatidos por déspotas sem arreios
Instituindo a vergonha no cenário da historia


Hoje, caminho pela vida, ruas e avenidas
Sob sol e lua, alvo de distraídos olhares
Passando cenários, pessoas, vezes sem rumo
Cada um com seu querer, quiçá, até um ideal

Inserida por mucio_bruck

Nosso beijo era pavio, queimando prazer
Pureza, sabor de melado, puro mel
Queria que soubesses disso
Para um dia, você se lembrar
Que o céu, residia em nossos lábios

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Sábia em seus encantos...



Não mais tenho ao alcance o toque de tuas mãos
Puro carinho, que teciam meias a mantas de lã
Já não sinto o calor de seu abraço... seu afago
Tenho vivas lembranças, sentidas heranças


Trago em mim seus exemplos e aprendizados
E, quando penso já tudo saber, pacientemente
Lentos passos curtos e amenos me a trazem
No encanto de ditos, palavras eternas de mãe


Sábias, solenes, simples e desenroupadas
De qualquer intenção de sabedoria, já as sendo
Que, como flechas, atravessam meus enganos
Em decisões “seguras”, que descortinei equivocadas

Havia luz, amor e entrega de cuidados em tudo
Que aquela mestranda, dona de meu nascer
Em suas ações, me presenteava com toques de anjo
Linda mulher, plena, conhecedora do mundo meu


Sabia de cor, meus sonhos pactuados com o futuro
Curiosamente, sem os a tê-los ditos, mas que não me vierão
Dela, fui agraciado com eterna luz, dessas de alumiarem
De quereres às veredas amanhecidas em risos... ou ais


Fio não ter sido o melhor aprendiz nessa apurada vivência
Mas também não fui o menos agraciado nesse noviciado
Viajo ao passado, colho momentos dos tempos de infância
Replanto-os no eviterno jardim, morada de rica lembrança

Inserida por mucio_bruck

Sob o Domínio do Medo...



Te socorre a insônia desde aquele outubro
No vão das palavras não ditas... emudecidas
Viajantes aladas, vagando insanas em seu olhar
Tementes de verdades há muito adormecidas


Era só mais uma despedida, nada além
Mas ele, tolerante e tecido em querer
Chorava silencioso, coração aberto em chagas
Tomado da decepção da despida não entendida


Flor brotada distante, com sabor de estrada
Engano pelo temor do afã de se ver desnudada
De se expor, baixar guardas, crescer, alçar voo
Findar uma dependência finita de posse imposta


Revelaste tantos nós, amarras e submissões
Que em ti, jamais caberia qualquer forma de amor
Seja por desejo ou escolha, o bem não vigora em ti
E na opção da submissão, fio restada lhe a solidão

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Macumbeira...


Fostes na pedreira
Levando meu nome
Num boneco de cera
Em noite de lua cheia

Macumbeira
Fostes na encruzilhada
Na sacola, ia pipoca, um prato e farofa
Atrapalhada, fizestes a reza errada

Macumbeira
Vieste à minha porta
Com vela, charuto e galinha morta
Tome tento e vê se se comporta

Macumbeira
Deixe de besteira
Arrume outro trabalho
Esse seu funciona ao contrário

Macumbeira
Não vá pela cabeça daquela que te incumba
De mal feitos, feldade, vildade e quizumba
Pois, chuto tudo que é macumba!

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Mais que demais...


Quando o amor é mais que demais
É forte, viril, chega bem chegado
Afaga o querer, acarinha a pele
Não teme recusa e nem esforços mede


Quando o amor é mais que demais
Conversa abertamente com seu eu
Habitante da alma, dono do desejo
E transpira seu bom, em corpo inteiro


Quando o amor é mais que demais
Não conhece nem reconhece desrespeitos
Não se dá a vícios de ditas distâncias
De presença de nãos, vãos abertos


Quando o amor é mais que demais
Respira em compasso gêmeo
Vivo, sadio e certo, dentro do outro
Não veem se horas são poucas ou demais


Porque,
Quando o amor é mais que demais
A gente ri, a gente chora, é mais gente
Entrega sem ego, o coração latente

Inserida por mucio_bruck

Ânima...


Vera Cruz tem um horizonte singular
Aldeia de gente que sai a semear
Que canta, que planta flor na janela
De fuxicos em finais de tarde


Vera Cruz é terra fincada no norte
Tem parques, tem donzelas tímidas
A espera de um amor de contos
Que olham estrelas e fazem pedidos


Vera Cruz é um tesouro, brilho de ouro
Riqueza de sentimentos refletidos
Nos olhos de Veras, Marília’s, Glaucia’s
De Geralda’s e tantas outras mil almas


Vera Cruz é onde tudo se inicia e se dá
Passam estradas de terra, rios e sonhos
Viajam bois, peixes, amados, amantes
Seres simples, amiga, gente diamante


Vera Cruz é o berço do bom da vida
É a inspiração dos contistas e dos poetas
É um celeiro a céu aberto nas Gerais
Onde cabe o mundo e muito mais

Inserida por mucio_bruck

Eis Amor...


Quase fui amada pela mulher que sou
Mas a ideia dele era outra, me usar
Para outra esquecer... e mudei o ânimo
E fiz dos verbos e rimas, serenas razões
Dando voz às sãs e boas amigas palavras
Quiçá, as mais próximas que se possam ter
Assim, loteei meu coração, desarmei minh’alma
Bem à beira de um cais, mar sem tormentas
Nele fiz morada das iguais e abandonadas
Juntas, vivemos a terna e finita eternidade
Acendi fogueiras, qual calor, pouco a pouco
Derreteram imensas e vagantes geleiras
Que oprimiam as paixões mais verdadeiras

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Zé Macambúzio...


No auge de suas 78 primaveras
Bem delineadas pelo nome a que faz jus
Zé Macambúzio, era homem de fé quebrantada
Sitiante de parca leitura e boas prosas e tiradas


Tinha em vida poucos desejos e paixões
Cigarro de palha e uma rede na varanda
Rosinha “roçadeira” era seu grande amor
Mulher inculta, mas de fibra e imenso valor


Zé Macambúzio, jamais se deu à lida
Não se dava bem com ferramentas
Arados, enxadas, foices e plantios
Fez da languidez sua arte de viver

Na chegada dos reveses da seca
Decidiu deixar de se perdurar
E toda a redondeza o visitou
No intento de convencê-lo a reagir


Zé Macambúzio estava decidido
Encomendou sua urna e mortalha
Agendou a data de seu funeral
Convidou carpideiras e vizinhança


Tentaram removê-lo dessa sandice
Mas a ideia de passar a eternidade
Na horizontal, sem infortúnios
Sem incômodos, sem mendicidade


Chegou enfim o dia da despedida
Seguiu-se o cortejo e ouviu-se um a voz
“Zé, desiste disso que te dou um saco de arroz”
E Zé respondeu: “Com casca ou sem casca?”


De pronto, ouviu-se a resposta:
“É arroz com casca, Zé”
Sem pestanejar, Zé Macambúzio ordenou
“Meu povo, toca lá pro cemitério!”

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Nem sempre o que fiamos ser de bom alvitre para o que nos convém, deve ser aplicado ou possa se encaixar no universo da alegria e na vida do outro! Muito antes, pelo contrário...

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Amar é um ato...


Sei exatamente onde desejo chegar
Não conheço caminho outro
Que não seja o do respeito e paixão
Numa jornada de Fé, Sacrifício e Doação


Encontrarei pela jornada optada
Agrados, desafios e muitos mistérios
Amigos farei e nem todos serão presentes
Pois o por vir é longo e terão os ausentes


Caminharei por vales, avenidas e veredas
Temerei inimigos, farei pactos com a alegria
Me irmanarei com a coragem que me falta
E usarei o bem querer que de mim salta


Sei exatamente onde desejo chegar
Quiçá, a última estação, e descerei
Almas inquietas ali, à minha espera
Entes, esquecidos em amor, verei


Abraçarei cada Santo de minha Fé
Serei fiel aos que de mim cuidaram
Não esquecerei jamais de sê-los grato
Pois amar não é escolha, é um ato

Inserida por mucio_bruck

Me alimento de sentimentos
Aro em mim a “terra” de meu plantar
Semeio-os e os colho em mim
Nesse fazer, os dias parecem fáceis
De se viverem, de serem vencidos
Ledo engano, há dias de alegria e fé
Há os de mistérios e descobertas
Há de bem querer e decepções
Assim, me vem e cabe em mim
Toda forma de ser e acontecer
Desde colher nos jardins de meu eu
Sementes de bem, que nele tem
E trocá-las por um sorriso seu

Inserida por mucio_bruck

Por amor...


Eu ando buscando maneira
De encontrar sua paixão
Que em fuga, se perdeu
Após inglória decepção


Eu ando buscando jeito
De atravessar suas guardas
Para abraçá-la, com efeito
Dar guarida a seu corpo em meu peito


Eu ando buscando desculpas
Para aportar no cais os seus não’s
Que navegam tristes em mim
Em naus, num branco e preto sem fim


Eu ando buscando por ti
Que por medo, se perdeu em si
Medo de aceitações, medo de amar
De decifrar seus mistérios e aprender a voar

Inserida por mucio_bruck

Uma lágrima...


Invento entre nós uma ponte
Que vai de meu coração ao seu
Feita dos carinhos por ti esquecidos
Mas que juntos passamos: você e eu


Não foram dias e nem meses, mas anos
Sorrimos, choramos, brincamos, amamos
Me coube a seriedade de ser varão
E a ti, ser a flor, maternal paixão


Deixaste, em algum momento
Toda dor que reside na saudade
Dentre tantas, saber que em nosso lar
Eras eterna, terna em pureza, meu alento


E na falta desse encontro diário
Finda-me a festa de saldar sua presença
Sua sensível beleza de ser fortemente frágil
De ser luz, essência, minha querença

Amor de mão única...




Partistes e nas marcas de seus passos
Um rio surgiu ante meus olhos
Queria saber nadar para atravessá-lo
Ou ter um saveiro para viajá-lo´
Quiçá, atar-me seguro a um sonho alado
E procurar avistá-la à margem das águas
Porque sem ti, que valia há de haver em mim
O rio findou à porta de uma caverna
Escura, gelada, poeira em terra seca
Resgatei o sol que me deixaste apagado
Retornei ao meu eu, já acordado
Rasguei seu retrato, doei alianças
Me livrei de lamentos e das lembranças
Me dei conta de que se há saudade
Não é dessas que trazem do passado
Momentos que queimam o peito
Antes, trás à tona a alegria do já desfeito

Inserida por mucio_bruck

Na beira da lua...


Supero com a força de minha raça
As cicatrizes e feridas que trago nas mãos
Restadas da lida diária de meu destino
Ais sofridos ecoam dos meus dias de menina


Mas, meu sustento vem do canavial
A paga é parca, mas é a que tenho
Mas a noite sempre me socorre
Me entrega a lua que semeei grama


É nela onde solto minha imaginação
Aqui, não cabem imites: corro e brinco
Sorrio e admiro uma estrelinha a piscar
Me ajeito na beira e descanso a pescar