Moacir LuÌs Araldi
Deito meu olhar sobre o mar,
no instante em que a onda
mansamente toca meus pés,
trazendo vontades
não sei de onde,
nem de quê.
Ternas lembranças me percorrem
e um riso incerto voa,
saudoso das asas poéticas Pessoais
do mar salgado de Portugal.
Sou ungido
das tuas águas,
ó mar!
Sinto-me doce
ante teu sal.
Pequena ilha
a milhas da costa
contempla o continente
e descansa
Fixa,
move o mar
Pássaro ínfimo
habita
Barco noturno,
distante
Luz móvel,
errante
Meus pés de areia
- Ilha distante –
Sopro de esperança,
vista que mal te alcança
Quero amanhecer ouvindo a voz do mar
e partir sem sonhos
- Pela areia molhada da esperança-
Recolher-me-ei às minhas espessas crenças
rumo a novas e sensíveis lonjuras
Vou ao encontro dos poetas de outrora,
trocar a vida pela poesia sem aflições;
Ouvir metáforas de mentes geniais,
nostalgias marcantes de outros jamais
Descansar os olhos turvos
em insônias tantas e indecifráveis.
Equilibrar-me no muro frágil
do abismo e do paraíso celestial
Poemas divinos me manterão ativo
sem ostentar nenhum glamour
Sensíveis versos líricos livres
Ternos, imortais, inesquecíveis;
- eternos -
Há um grito que não responde
Eco silencioso que soa longe
Solto no ar
A onda peleia com as pedras
-indestrutíveis -
Mar sem memória de marés
não é mar
Sal sem demasia,
apenas mar
sem sinônimos
nem significados
Arrojado,
céu azulado
A água passou:
é passado.
Ela mexia o café
Ele espiava o mar
Hialino olhar
Ela queria sol de bronze
Ele queria ondas
de mergulhar
Ao sol tornaram-se areia e mar.
O rio que brinca em mim
É infantil
É límpido
Águas saudáveis
que nem sei poluir
Coaxam as rãs animadas
A voz humana silencia
Sento-me à sombra marginal
extasiado a observar:
- Náiade não há -
A voz da natureza
muito tem a nos ensinar.
Há paz em ver o mar
Sossego interior
alimentando o sol
Versos em suas ondas
lembram-me que ontem,
pensativo, contei estrelas
Na areia a gaivota
silencia o semblante
A tarde envelheceu...
- Sozinha -
A vista da vida
vinha dos olhos de vidro
das ventarolas das janelas
Descendo
a descida
Degrau
por
degrau
Lindo e límpido
como água do poço
Frescor da brisa
cheirando a flores
Zunido de abelhas
adoçando o sonho
Crescidos
os girassóis sorriam.
A vida em espírito e corpo se formando
O vento embalando a luz
nas poesias lançadas ao ar
Canções intensas sem instrumentos
na ternura dos meus sentidos
Cresci admirando os caminhos,
colhendo belezas que as mãos alcançavam
- Lamentando as flores mortas –
e fazendo versos ofertados com carinho
Meus olhos anoiteceram
O silêncio me fez lembranças aos passarinhos
A vida é um voo constante.
O arame farpado
fere o vento
e a ferida arde
O sangue dolorido
espalha-se
e morre
na terra
A vida treme
Geme o fim
Adeus, eterno!
A morte ainda
é para sempre.
Onde foi que o vento virou?
Meus passos lentos
estão pesando
O cansaço senta-se à beira da estrada
e espera
Te prometi eternidade, vida!
- Fidelidade além do soneto –
Aberto, o peito expõe feridas
Aves pretas sobrevoam
Sombras passam em meu corpo
e sabem que ainda respiro
Me desejam morto.
Viver é juntar pétalas
Formar rosas
de tempos
e ventos
Fora isso,
tudo é depois
Exceto nós
que somos agora
Em nosso Jeito
de não sermos.
Manhã virgem de sol
Dor doída
que já não dói
A vida é um flash.
Ontem
ficou pra trás
Caminhos desbotam
as folhas faciais
Anoitece outono
para amanhecer inverno
E o frio aprisiona,
mas o colorido da primavera,
- Que dádiva! –
avança pelos dias de verão
E a liberdade de amar
o mesmo amor
- outra vez -
ilumina o coração.
No lado do carona,
a térmica na mateira
Da erva úmida,
o cheiro do mate
No rádio alguma música
regional
A paisagem bela
A serra
Os morros
A terra
Diante dos olhos
nuvens se movem
sem rosto
Dirigindo,
penso em Deus
Sou parte do mundo;
Sou tão pequeno!
Ligo as luzes,
Já é noite.
A estrada é solitária
- Sempre foi -
Reflexos luminosos
indicam sereno da madrugada
Peço a um anjo
que me guie
A vida não tem parada
Já, já
surgirá um novo dia.
Lua feita de silêncios
na calmaria noturna
A vida, inconformada,
tatua frases no peito
Pinta uma lágrima desmotivada,
amistosa,
- Do nada -
O futuro é desconhecido,
mas a noite é enluarada.
A paisagem veste-se de noiva
Os caminhos congelam
Pobre gado!
Desespera-se pelo estábulo
Da boca verte fumaça
Um sentimento
sentido,
O tremor
do minuano zunindo,
O milho,
doce alimento
Noite impiedosa
Um filete de lua
tremelica...
gelado.
Adornos de risos e alegrias
Farras e fantasias
semeando a vida
no horto de hortênsias,
perfumando o sacrário
da frase morta
Esquecida
Nos degraus do campanário
não há luz
- Morrem as estrelas-.
Em silêncio a luz apagou,
A alma aquietou-se,
triste e aniquilada
Vaga-lumes de estrelas
distantes e calados,
iluminado a madrugada
Olhos sem brilho
vertem dormentes,
frutas inférteis,
infrutíferas sementes
Tudo é deserto
O verde morreu
O eco distante
diz o que viveu.
Vozes do passado
- Compõem pinturas –
e expõem na tela
traços de lonjuras
A vida
é sombra
de sonhos
fantasiados.
O tempo...
Jovens noites de brisa
Nostálgica juventude.
A noite deixa tudo tão longe,
nostálgico...
Um tanto trágico que
parece real
O anjo noturno
anima a alma
antes do sono contínuo
Mãos juntas
iluminam a prece
Ativam sonhos …
Estou lá
Nos quadros e afins
nos vasos e nos jardins
Em arranjos preparados
nos frascos perfumados
Pétala aromatizada
Natureza viva
Flor florida.
Charnecas floridas
após a chuva
- Vida líquida -
dançam alegres
Ventos de elásticos
Repuxe de ondas
repetem nos olhos
a fotografia
Exalam nos ares
- Aqui e além-mares -
legendas perfumadas
em cores que balançam
colorindo o inconsciente
- Das flores –
da gente.
Vida vindo
ventando vivências
aventando a existência
A rosa escarlata
para a mais bela
Ansioso
ao vê-la na janela
Depois o adeus
envelhece o silêncio.
Simbiose de fungos e algas
Líquens colorem as pedras
e os caminhos...
Vidros e olhos embaçados
mergulhados em brisas e saudades.
Reflito um instante...
Tantas coisas em mim
Calo!
Pensamentos não falam.
Vermelha uva
- Vinho -
Cacho sem espinhos
Ramos podados
Cipós sustentados
e o pássaro em volta
Um grão no papo,
outro no chão
O canto silvestre
de agradecimento
Se não fosse o pássaro
seria o vento.