Ita Portugal

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Cada vez mais eu estou convencida que amor de verdade é provido de imensas atitudes e quase nada de palavras.

Eu não sabia que a saudade incomodava, que o amor era tanto e que a vida doía.
Não sabia que a mágoa machucava, que a lembrança desbotava e que a aspereza enrugava.
Eu não sabia que o caminho era longo, que as pedras incomodavam e as curvas confundiam.
Eu não sabia que o silêncio torturava, o desejo salivava e a distância traria o esquecimento. Também não sabia que a ironia maltratava e que em todos os tempos o fingimento não tinha graça nenhuma.
Eu não sabia que a preocupação esquentava a cabeça, que a noite se afeiçoava com a solidão. Eu desconhecia sobre os interesses fúteis como praga que contaminava os dias. Isso eu não sabia.
Eu não sabia que o choro era sinal de fraqueza. Pensei que arejava a alma, em algumas situações. Não sabia que as mães eram heroínas, mesmo que os filhos nem se deem conta disso, nem que os pais fazem um esforço danado para parecem certos o tempo todo com seus sermões quilométricos.
Eu não sabia que a alma fica doente e o corpo padece com isso. Que o coração é lugar para dúvidas e a razão nunca é obediente.
Eu desconhecia o sofrimento como escada para a felicidade, que o medo fragilizava e que havia um abismo entre o sonho e a realização.
Eu não sabia que o universo conspira a favor de quem faz a sua parte. Que sorte é quase uma fábula e que o discurso só funciona quando é resultado de uma prática.
Não sabia que era preciso tanto esforço para viver em um mundo contraditório.

Às vezes o amor só existe na ponta da caneta. No texto incompleto. No poema feito às pressas. Na música que toca repetidamente. Às vezes o amor é apenas lembrança. Às vezes, saudade.

Não deixe ninguém fazer a sua história por você. Não aceite os créditos de seus erros ou acertos. Seja artesão. Cultive uma orquestra particular de sentimentos, mas acima de tudo ame-se. Seja solidário e saiba ser solitário. Solidão não é a pior coisa da vida. Das coisas piores, viver acompanhado de sombras silenciosas e esperar quem nunca virá, são borrões e indelicadezas que matam silenciosamente.

Já fiz besteiras dignas de risadas, quebrei protocolos, e outras coisas que nem deram muito certo. Tudo pelo gosto da liberdade e desprendimento de viver.

Sobre liberdade:
Permito-me pensar que, em tempos de libertação, precisamos procurar cores mais reais e menos alquimia forçada para mascarar os dias cinzentos. É viver sem apaziguar o irresistível. A pauta do dia é o desejo mais sincero. Palavras mais livres, sem ensaios, sem gramática, sem verbos e sujeitos superficiais. Fotos com nervuras e celulites. Rostos sem maquiagem. Caras com choro. Gente sem enfeites. Erros mais honestos. Horários mais flexíveis. Deslizes sem cobranças. Menos glamour, mais naturalidade. Pés descalços, livres da pressão do salto alto e da pose programada. Menos imagem, mais conteúdo.

Feliz por um dia
Vou andando do meu jeito, visto que viver é emergente, eu quero mais é quebrar tabus, arregaçar as mangas, abrir as portas e soltar todos os meus vocábulos junto com o meu coração. Quero é dizer do que gosto, de quem gosto. Repetir a dose, exagerar no gole, não fazer corpo mole e assumir meus sentimentos.
Quero que se dane a formalidade que me exige andar de salto alto, corpo ereto, copos, talheres e pratos no mesmo alinhamento. Quero mesmo é dar adeus à frescura que me deixa entalada na roupa de festa e me faz beber vinho em pequenos goles, para não entornar. Que me exige dar risadinhas no canto da boca e fazer poses para ficar bem na foto.
Quero sai por ai. Andar descalça. Cumprimentar os passarinhos. Sorri para as flores e gargalhar com as crianças. Quero falar de amor para que todos possam ouvir. Ter liberdade de ficar em silêncio. Falar quando for necessário. Aconselhar meu coração. Sonhar com dias melhores. Cantar sem rima. Escrever sem motivos. Chorar sem razão. Amar sem restrição.
Romper o óbvio. Sair do prumo. Soltar o remo e navegar. Colher flores para dar de presentes. Tricotar verdades. Descartar as mentiras. Dizer bye bye para a tristeza. Não ser levada a sério. Não servir de exemplo. Não dar conselhos. Quero acordar na lua. Tocar o céu. Passear pelas nuvens, pelo menos nos sonhos.
Quero um dia maior para viver com vontade. Um coração mais largo para caber tanto amor. Por favor, não me fale de regras, técnicas, normas. Perdi essa aula por pura teimosia.
Quero viver, aventurando-me na ousadia de fazer um belíssimo espetáculo, sem nenhum script. Sem nenhum diretor que me exija tanta disciplina. Quero é suportar minhas loucuras e me completar com o resto de alegria possível.

A gente também se perde com sentimentos. Queremos acreditar, mas também desejamos ardentemente questionar, descartar, proibir. Acovardamos de tomar qualquer decisão e ficamos ali, jogados na cama, cantando Djavan...

Deixa que eu canto. Escrevo. Toco. Declaro.
Deixa que eu decifro. Sangro. Remendo. Engulo. Devolvo.
Vou colhendo tudo. Capturando a poesia. Gritando o verbo urgente. Explorando o afeto.
Deixa que eu vou passear nos sentimentos.
Deixa que eu retiro a palavra que vive em mim.
Qualquer uma das minhas palavras, sempre falará de amor.

Se eu fosse rebobinar minha biografia afetiva, certamente encontraria: dois tropeções, três teimosias, uma ilusão, uma desistência, quatro bis, duas besteiras, uma escorregada, incontáveis loucuras, algumas covardias e vida longa para o romantismo. Andemos para viver outras emoções.

Sou mesmo um caso perdido, pois embora eu tenha tomado todas as precauções, frequentemente tenho uma horrível incontinência para o amor...

Egocentrismo:
Se eu fosse você, não vivia sem mim.

Pedidos:
Dois sonhos possíveis embrulhados para presente, por favor.

Receita para a saudade:
Escreve que passa.

Testamento
A você deixo o meu afeto. E mais. Deixo os beijos que ainda não dei. O bilhete para ser lido. O quadro colocado no alto para nunca ser de lá retirado. Um jantar à altura de sua fome. O velho livro de histórias. A coleção de filmes para chorar. Uma garrafa cheia de café. E uma bruta saudade.
A você eu deixo tudo de bom para me vingar de todas as sequências de discórdias nas falidas noites de domingo. Deixo o meu telefone azul. Os sonhos adormecidos. As extravagâncias das férias. O vício de escrever na madrugada. A você deixo o meu relógio vermelho, que de propósito está uma hora adiantado, assim não correrá o risco de perder seu jogo predileto. E por falar em jogo, deixo a camisa do seu time, no ponto de ser usada. O taco de beisebol, mas não acerte a janela. Folhas de caderno para as cifras da madrugada. O vinho gelado para as noites de frio. A pipoca amanteigada. O filme no pause. O copo de vodka. Ovos mexidos. Roupa limpa e suaves prestações da coleção de Drummond.
Deixo a roupa lavada, passada. A carne assada no forno. A conta vencida. A senha da internet. E tudo desligado. Aceso deixo apenas as fagulhas do coração, prontas para serem apagadas.
Um pouco das tempestades, não te fará mal, portanto deixo vinte e cinco dos meus odiados clichês, dois poemas ordinários, uns palavrões impublicáveis.
Pelo excesso de mistério, deixo as vírgulas, as reticências, as aspas, a interrogação.
Deixo o dicionário para decifrar as palavras soltas e não confundir sentimentos.
Deixo sem nenhum medo a minha covardia transbordante. As atrapalhadas afetivas. O sol. A lua. O mar, não necessariamente nessa ordem. Deixo a desordem das escolhas que é mesmo para bagunçar as ideias.
Deixo a sensação da promessa cumprida e uma lista de coisas pendentes para serem feitas a qualquer horinha dessas. Deixo para amanhã, qualquer coisa bonita, talvez quem sabe uma lembrança patética, uma abusada vontade, uma sentimento que coça, um vazio sem canção.
E por último deixo o perigo do meu amor.

Amava como gente grande e nunca dava certo.

Uns e outros
Alguns reclamam das filas. Outros ansiosos estão nela para receber seus trocados.
Uns falam demais. Outros ficam em um silêncio obrigatório por falta de conhecimento.
Uns caminham apressados para não perder o tempo, a vida, o sucesso, o trabalho, a luta, o dinheiro. Outros vagarosamente fazem da caminhada um passo seguro para a liberdade.
Uns formulam, reformulam, hesitam, forçam, reforçam e sem saber o que fazer não tomam nenhuma decisão. Outros, que também pouco sabem, vão experimentando sem nada deixar escapar.
Uns limpam a casa. Outros cuidadosamente deixam a alma pronta para o que der e vier.
Uns dão sorrisos ensaiados, comemorando os ganhos. Outros gargalham como simples forma de celebrar alegria.
Uns fingem que sabem. Outros mostram que precisam aprender.
Alguns imitam para ser. Outros são escancarados de autenticidade.
Uns vivem em estado de preocupação. Outros ocupam-se em florescer boas intenções.
Uns são securas. Outros terras férteis.
Uns possuem bens. Outros são do bem.
Uns matam a vontade. Outros renascem em esperança.
Uns procuram o sucesso. Outros encontram a serenidade.
Uns agarram a certeza. Outros devolvem a paz.
Uns são fortes. Outros são suaves.
Uns usam os meios. Outros as finalidades
Uns falam. Outros, amam.

Não tenho garantias e nem certeza de nada. Sigo tentando!!!!

Um lembrete:
Abraça-me ao invés de cantar. O corpo traz a música que preciso.

Sobre o amor sabemos de cor, só nos resta pôr em prática.

Já plantei tanta coisa. Plantei sementes em terra áridas para dias de pouca fartura. Plantei tardes bonitas numa janela que se abria para o sol entrar. Plantei conversa mole com voz dissonante em noites de extrema preguiça só pra não ter que raciocinar.
Plantei lua nova no céu, para um relacionamento que se iniciava. Depois, plantei silêncio repleto de questões, quando a coisa esfriou.
Plantei risos em dias completamente normais e insônia nas noites cheias de torturas e angústias. Penso que não resolveu, pois elas se repetiram.
Plantei alegria sólida e pensei que duraria uma eternidade. Ela foi gasta em porções generosas e não sobrou nada para o dia seguinte. Plantei sorte para o acaso, liberdade para os entraves, solidariedade para os aflitos, claridade para as dúvidas, parágrafos para as explicações, roteiros para os caminhos tortos, conforto para os invernos, floração para a nudez da paisagem, fantasias para as adultices, risos para as lágrimas.
Plantei sangue e suor para dispersar os problemas. Teimosos que são, eles continuaram. E fiquei plantada esperando a vida mudar. Amanheceu. Entardeceu. Anoiteceu. Inevitavelmente a vida mudou e não me avisou para onde foi.

Com o tempo, alargamos a nossa credibilidade e passamos a viver com menos descompassos. Acomodamos as aflições e deixamos de impedir o tempo de cumprir seu ritual. A partir de um certo tempo o que nos importa é a boniteza da alma e a tranquilidade do coração.

Pra falar a verdade, não sei bem cuidar de minhas dúvidas, minhas angústias. Sei apenas que preciso todos os dias me reinventar para defender sem nenhum heroísmo aquilo que boto fé. Sinceramente, dou uma de amadora, mas acredite, eu mergulho com toda força. Tenho tido a sorte de conseguir fazer a viagem. Só ainda não fiz upgrade da saudade que você deixou.

Você sabe o que significa esperar?
Confesse, você ainda não tem a dimensão do estado de espera.
Você não sabe o que é aguardar, inclusive com mãos frias a chegada de alguém que não usa relógio por imprecisão. Você ainda não sabe que a espera é o corte vagaroso, feito no coração.
E você espera o abraço. O agradecimento. Espera o tempo do outro. Espera o cumprimento das obrigações. Espera os dilemas serem resolvidos e as verdades prevalecerem.
Espera a cartomante. O horóscopo. As rezas. O resultado das promessas. Você não imagina que é capaz de tantas esperas e sobreviver ao calafrio que elas causam.
E você acredita e se dá conta de que precisa defender outras esperas mais doloridas. São as esperas que, retardadas trarão uma insuspeitada felicidade. São as esperas pelo sossego afetivo. Pela resposta do e-mail. Esperas para repousar no coração do outro. Para deixar de ocupar o lugar da superficialidade.
Esperas por um olhar, uma piscadela de confirmação, um eterno sim. Você sabe que esperar muitas vezes borra os sentimentos, envelhece a alma e traz uma angústia escancarada, desejosa de sagrada confirmação. É. Esperar a farta porção de desejo do outro para devorar a nossa alma é uma delícia discreta e suarenta. Ecoa longe o grito da espera. Vem cá! Não me deixe passear nas belíssimas imagens do meu pensamento, tantas vezes confuso.
A você acaba aprendendo que uma espera custa e não e só uma gorjeta. Uma espera custa todos os tostões economizados o ano inteiro para o bendito repouso da felicidade.
Benditas esperas valiosas. Elas custam todas as impaciências do telefone tocar com o pedido de desculpa salvador. Custam todos os convite que nunca saíram da imaginação. Uma vontade estúpida de acordar sem saudade. Custam todas as interpretações dos sinais deixados, que você decifra como uma leve resposta para o coração amoroso.
Custam enxergar indícios de que o romance iniciado no verão tem futuro.
O estado da espera é exatamente proporcional ao olhar piedoso, as lágrimas quase caindo, o andar mil vezes no quarteirão, atravessar o relógio com a visão insistente de águia. Visitar infinitas vezes as cartas, as lembranças, a caixa de fotos amareladas.
O estado de espera é uma terapia caríssima e ávida para transformar razões desafortunadas em sonhos realizados. E para ultrapassar vitoriosa, vale tudo. Vale o drama, as unhas roídas, o suar do corpo, a ânsia noturna e o franzir do rosto.
Faça tudo com as esperas. Faça drama, misérias, desforra com vinho barato, desistências indecisas, preces, legitimo protesto, xingamentos, desordem interior. A qualquer custa, faça um texto, um desabafo audível ao mundo, uma canção ou pelo menos uma resposta satisfatória.
Tomara que o para sempre, espere o dia seguinte com notícias felizes, pagamento a prazo e sem reajuste. Sinceramente eu desejo que as esperas sejam as superstições falidas das ausências.

Lista para o próximo ano:
A sorte de ter bons amigos. Um café fresquinho. Um banquinho para os pés cansados. Uma palavra de conforto. Um suspiro de alívio. Presença da natureza. Cheiro de terra molhada. A imensidão do mar. A gratuidade do afeto. A esperança como saldo. O pagamento da prestação vencida. O prato vazio e a barriga satisfeita. O coração farto de alegria. A liberdade do pensamento. O respeito pela vida. A ilusão da poesia. A ausência de adultices. O exagero dos sonhos. A floreira na janela. A porta aberta para a vida. A coragem para seguir em frente. O amor por decreto. E isso é só o começo...