Eliane Brum

Encontrados 22 pensamentos de Eliane Brum

Medo é necessário, faz sentido. Só não dá para ter medo de ter medo, paralisar e deixar as histórias passarem sem encontrar quem as conte (...) Por mais que você escolha não viver, a vida te agarra em alguma esquina. O melhor é logo se lambuzar nela, enfiar o pé na jaca, emlamear os sapatos. Se quiser um conselho, vá. Vá com medo, apesar do medo. Se atire. Se quiser outro, não há como viver sem pecado. Então, faça um favor a si mesmo: peque sempre pelo excesso.

Eliane Brum
A vida que ninguém vê. Porto Alegre: Arquipélago, 2006.

O mundo é salvo todos os dias por pequenos gestos. Diminutos, invisíveis. O mundo é salvo pelo avesso da importância. Pelo antônimo da evidência. O mundo é salvo por um olhar. Que envolve e afaga. Abarca. Resgata. Reconhece. Salva.

Eliane Brum
A vida que ninguém vê. Porto Alegre: Arquipélago, 2006.

Para aqueles que acreditaram no fim do mundo e para aqueles que não acreditaram: nosso mundo acaba várias vezes no espaço de uma vida. Mas sempre temos a chance de recomeçar, dando outros sentidos para as marcas que carregamos, sentidos que nos permitam criar novas versões de nós mesmos ou pelo menos olhar para a atual com mais generosidade. Um dia, porém, o meteoro chega. E chega para todos, sem que nenhum de nossos tremendos esforços e vastas ilusões seja capaz de mudar o final.

São muitos os pequenos fins de mundo – e desconfio que os grandes apocalipses nos distraem dessa verdade, como tantas outras manchetes em neon que nos cegam dia após dia. É um pequeno mundo que acaba quando já não podemos contar com a ignorância que nos fazia viver como se houvesse sempre amanhã. É um pequeno mundo que acaba no primeiro cabelo branco ou na primeira queda, na primeira ruga ou na primeira dor na coluna. É um pequeno mundo que acaba no momento em que percebemos que já não seremos bailarinas clássicas ou jogadores de futebol ou escreveremos o romance que mudará a história da literatura universal ou faremos a descoberta que nos levará ao Nobel – no exato instante em que descobrimos que precisamos adaptar nossos grandes planos. (...)

A cada um desses pequenos apocalipses temos a chance de recomeçar. Partidos, aos pedaços, às vezes colados como um Frankenstein de filme B. Enquanto o meteoro não chega há sempre um possível que podemos inventar. Se os anúncios de fim do mundo servem para alguma coisa, além de fazer piadas e encher os bolsos de alguns espertos, é para nos lembrar de que o mundo acaba mesmo. Não em apoteose coletiva, com dia e hora determinados, mas na tragédia individual, sem alarde e sem aviso prévio, que desde sempre está marcada na vida de cada um de nós.

Meus votos de Natal e Ano-Novo pós-apocalipse são: não adiem os começos, porque o fim já está dado.

Eliane Brum
Malditos maias! Época, 24 dez. 2012.

Cuidar é escutar a demanda da vida. É não tratar
como morte o que é vida e como coisa o que é gente

Eliane Brum
A enfermaria entre a vida e a morte. Época, 14 ago. 2008.

A vida de cada um é também a tessitura desse monstruário pessoal no qual vamos nomeando os seres que assombram apenas a nós. Aqueles que nascem de uma mitologia íntima, forjada em nosso confronto com o real, sempre muito mais apavorante.

Eliane Brum
Meus desacontecimentos: a história da minha vida com as palavras. Porto Alegre: Arquipélago, 2014.
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Inserida por rodkalenninfe

Nas andanças pelo Brasil que, muito mais tarde, eu faria como repórter, escutei de homens e mulheres das mais variadas geografias uma expressão que revela a finura da linguagem do povo brasileiro: “Sou cego das letras”. Era como expressavam, em voz sentida, sua condição de analfabeto.

Eliane Brum
Meus desacontecimentos: a história da minha vida com as palavras. Porto Alegre: Arquipélago, 2014.
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Aprendi ali que ninguém é substituível. Alguns se tornam substituíveis ao se deixar reduzir a apertador de parafusos da máquina do mundo. Alienam-se do seu mistério, esquecem-se de que cada um é arranjo único e irrepetível na vastidão do universo. Quando a alma estala fingem não saber de onde vem a dor. Então engolem a última droga da indústria farmacêutica para silenciar suas porções ainda vivas. Teriam mais chance se ousassem se apropriar de sua singularidade. E se tornassem o que são. Para se perder logo adiante e se buscar mais uma vez, já que ser é também a experiência de não ser.

Eliane Brum
Meus desacontecimentos: a história da minha vida com as palavras. Porto Alegre: Arquipélago, 2014.
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Inserida por rodkalenninfe

Na minha infância não se falava em trauma. Nós éramos mais ou menos consolados, e a vida seguia sem muito espaço para dramas. Fazia parte do processo educativo aprender a resolver os próprios problemas desde cedo. Me virei como pude.

Eliane Brum
Meus desacontecimentos: a história da minha vida com as palavras. Porto Alegre: Arquipélago, 2014.
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Escrever, para mim, é um ato físico, carnal. Quem me conhece sabe a literalidade com que escrevo. Eu sou o que escrevo. E não é uma imagem retórica. Eu sinto como se cada palavra, escrita dentro do meu corpo com sangue, fluídos, nervos, fosse de sangue, fluídos, nervos. Quando o texto vira palavra escrita, código na tela de um computador, continua sendo carne minha. Sinto dor física, real e concreta, nesse parto.

Eliane Brum
O olho da rua – uma repórter em busca da literatura da vida real. São Paulo: Globo, 2008.
Inserida por portalraizes

Talvez não exista nada mais sério do que a boçalidade que atravessa o país.

Eliane Brum
Parabéns, atingimos a burrice máxima. El País, 12 nov. 2015.
Inserida por NiravaGulaboBeth

A burrice se tornou um problema estrutural do Brasil.

Eliane Brum
Parabéns, atingimos a burrice máxima. El País, 12 nov. 2015.
Inserida por NiravaGulaboBeth

Debater com seriedade a burrice nacional é mais urgente do que discutir a crise econômica e o baixo crescimento do país. A burrice está na raiz da crise política mais ampla. A burrice corrompe a vida, a privada e a pública. Dia após dia.

Eliane Brum
Parabéns, atingimos a burrice máxima. El País, 12 nov. 2015.
Inserida por NiravaGulaboBeth

Torna-se urgente, prioritário, fazer um esforço coletivo e enfrentar a burrice com o único instrumento capaz de derrotá-la: o pensamento.

Eliane Brum
Parabéns, atingimos a burrice máxima. El País, 12 nov. 2015.
Inserida por NiravaGulaboBeth

Os tempos são graves demais para papinhos de salão.

Eliane Brum
Parabéns, atingimos a burrice máxima. El País, 12 nov. 2015.
Inserida por NiravaGulaboBeth

E é tão difícil quanto arriscado escrever sobre o que está em movimento, sem a proteção assegurada pelo distanciamento histórico. Poucos são os intelectuais que se arriscam a sair do conforto de seus feudos para enfrentar o debate público com suas dúvidas. E por isso aqueles que se arriscam de forma honesta, sem ficar arrotando suas certezas e suas credenciais, ou usando-as para massacrar aqueles que já são massacrados, são tão preciosos.

Eliane Brum
Parabéns, atingimos a burrice máxima. El País, 12 nov. 2015.
Inserida por NiravaGulaboBeth

Não é engraçado. É a ruína causando mais ruína. O que interessa é fazer barulho, porque o barulho encobre o vazio de ideias.

Eliane Brum
Parabéns, atingimos a burrice máxima. El País, 12 nov. 2015.
Inserida por NiravaGulaboBeth

Acusar o outro de impor um pensamento quando é ele que empreende todo os esforços para barrar qualquer pensamento.

Eliane Brum
Parabéns, atingimos a burrice máxima. El País, 12 nov. 2015.
Inserida por NiravaGulaboBeth

A burrice não tem limites, ela sempre pode atingir patamares ainda mais extremos.

Eliane Brum
Parabéns, atingimos a burrice máxima. El País, 12 nov. 2015.
Inserida por NiravaGulaboBeth

Estamos exaustos e correndo. Exaustos e correndo. Exaustos e correndo. E a má notícia é que continuaremos exaustos e correndo, porque exaustos-e-correndo virou a condição humana dessa época.

Eliane Brum
Exaustos-e-correndo-e-dopados. El País, 4 jul. 2016.
Inserida por bruno8891

Enxergar alguém como se o pedestal fizesse parte do corpo é a melhor maneira de não enxergar coisa alguma.

Eliane Brum
Memento Mori. Época, 19 abr. 2010.
Inserida por polako_zf

⁠Recordações são fragmentos de tempo. Com elas costuramos um corpo de palavras que nos permite sustentar uma vida.

Eliane Brum
Meus desacontecimentos: a história da minha vida com as palavras. Porto Alegre: Arquipélago, 2014.
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Inserida por naianabcarvalho

A singularidade do que sou, só eu sou. A singularidade do que é você, só você é.

Eliane Brum
Meus desacontecimentos: a história da minha vida com as palavras. Porto Alegre: Arquipélago, 2014.
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Inserida por naianabcarvalho