Carlos de Castro

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⁠ACOLHE-ME

Abre-me a porta do teu lar
Suspenso num tempo de encantar.

Ó lindo passarinho,
Dá-me a entrada estreita do teu ninho
E deixa-me deitar nesse maciinho,
Quentinho,
Tão fofinho,
Dos cobertores
Tecidos por ti, com amores,
Dos pedacitos das flores,
De ramos e das palhas multicores.

Acolhe-me, ó passarinho:
Estou a ficar já tão velhinho...
O meu lar é maior que o teu
Mas tão triste, como eu,
Ó passarinho.

E eu queria:
Será assim tanto mal,
Irmão passarito,
Passar contigo num grito,
O meu tão aflito natal?

(Carlos De Castro, In Há Um Livro Por Escrever, em 28-11-2022)

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⁠O MEU JARDIM

Tantas flores tenho nele dos meus amores.
A Abelha azul,
Que tem que estar virada a sul;
Agapantas
E Cardos sacripantas;
A Sábia ananás
De um vermelho voraz;
A De Jerusalém
Amarela, só por bem.
A da Sapatinha da judia
Descendo quando subia.
A Vi burno
De um branco em verde soturno;
A Alfazema,
Que tem odores de poema.
Amores perfeitos,
Que para mim,
Que não sou flor nem jardim,
Sempre foram imperfeitos.
Senhores, do mundo imundo
Onde me afundo:
Será culpa de mim?
É que eu nunca tive um jardim!
Nem flores,
Nem amores.
Sempre e só, me tive a mim!

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 02-12-2022)

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⁠OLHOS SEM LÁGRIMAS

Ai, se eu tivesse lágrimas para chorar...
Mesmo agora a brotar
Como duas fontes fortes, sem parar:
Eu inundaria os leitos
Secos dos rios,
E os peitos
Sem leite para amamentar
Os filhos com fome, já frios.
Ai, se os meus olhos
Sem escolhos,
Quisessem agora chorar
Copiosamente,
Amargamente,
Como ondas de fúria que brotam do mar:
Eu, regaria as flores do meu coração
Da paixão,
Tão tristes, tão coitadinhas
Cada vez mais a mirrar,
A secar,
Pobres tristinhas.
Ai, se eu tivesse outra vez lágrimas,
Já nem sabia chorar!

Carlos De Castro, In Há Um Livro Por Escrever, em 05-12-2022

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⁠RECADO AO PENSADOR:

Que triste! Que vergonha vai ao Brasil da censura ainda no poder, senhores do PENSADOR! Coitados, já nem pensam! Que dó, que nojo vocês (censura do site) me metem!) Tenham verguenza! Que palavra ou palavras impróprias para a vossa "pureza tipo iurdiana" eu empreguei hoje, no meu tão singelo e despretensioso poema , sem maldades, nem palavras de ofensa para ninguém? Vá, digam-me a mim e ao mundo!!!!!!!!!!!!! que o vai ler!!!!!!!!!
Porque não publicam a imagem do meu poema "Olhos Sem Lágrimas" !?...
Porque é que, por exemplo: a poesia "desabrida e de palavras ditas pecaminosas" de Charles Bukowski e seus pensamentos, têm assento no PENSADOR? Mais há centenas de outros/as autores que vocês têm no vosso rol, cujos textos "abertos" já não são atentatórios contra a moral e a religião, no vosso pobre e alienado conceito, pois não!?...
Mas isso, aí pelo Brasil, não muda nunca, não!?...
Pobre país, de tantos cérebros bons, dominados por uma censura atroz!

Carlos De Castro, in No Brasil Há Censura, Aqui Não, em 05-12-2022

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CANIS VITA

⁠Aqui, onde me sento,
É cadeira de tormento,
É assento
Sem acento.
São momentos
Sem ter tempos
Nem revolta para escrever
Nos tampos dos sofrimentos,
Nos tormentos
A padecer,
A origem de ser quem sou,
Sem saber porque aqui estou
Neste recanto
Fétido de pranto.
Só escuridão,
Luz apagada,
Só acesa quando o nada
Traz tristeza
Incerteza,
À casa da solidão.
E nesta lúgubre ilusão
Que se faz noite já no dia
Eu, neste tão frio chão
De vida triste de cão,
Já só ladro em fantasia.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 07-12-2022)

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⁠A V E R S Ã O

Nunca gostei dos calados,
Que falam pelos cotovelos;
E só vomitam mefíticos,
Raquíticos,
Ovos mal estrelados,
Enrolados em novelos
De frustração.

Que desilusão!
Que pivete!
O que ali vai de falsete!

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 09-12-2022)

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⁠RESQUÍSCIOS DO CORPO

Nem te amo
Nem te reclamo
Nem por ti oro
Ou desadoro
Ruína do meu corpo
Morto,
Feito carne balofa.

Se nesta vida
Rude e sofrida
Nunca me serviste de alcofa,
Que lá na outra menos dura
Onde a fineza e rijeza perdura,
Não me envergonhes cachopa,
Com tuas esfinges de gordura.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 12-12-2022)

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⁠Prefiro ouvir uma história mal contada por não saberem dizer melhor, do que uma história bem contada só para iludir o parceiro.

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VINTE ANOS E

⁠Contei os natais com ela
Maria, minha mãe.
Vinte e tantos no presépio
Comigo, José filho,
Em nome de meu pai, Manuel.

Era a Gruta de Belém,
Porém,
Quase parecendo a outra,
Era o meu Natal puro,
Que os meus de agora esconjuro,
Neste destino cruel!

Foi-se a mãe;
Meu pai, seguiu-a além,
Fiquei eu, menino patético!
Que natal tão estépico,
Mais senil que poético,
Este de agora meu
Pobre que sou pigmeu,
Desde que minha mãe morreu
Há distância de esperanças mil,
Depois das águas de Abril.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 22-12-2022)

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⁠Negro, choroso e triste fica o coração, quando o homem se recusa a pensar pela razão da sua massa cinzenta.

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⁠Evita dizer não, sem primeiro confirmar se era essa a tua real vontade e o sentido verdadeiro da tua resposta.

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⁠ANIVERSÁRIOS

Ela faz anos.
Aquele faz anos.
Tantos a fazerem anos...

Eu só queria aprender
A saber
Fazer
Os meus anos,
À minha medida,
Sem enganos,
Nem danos,
À chegada e à partida.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 31-12-2022)

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⁠O INTRUSO

Batia no vidro frio,
Da janela fria.
Batia.
Como que a medo
De revelar um segredo
Porque ali estava
E instava.
Abri a janela,
Singela.
Corri-a de par em par.
Ele, entrou radiante,
Com passo frio e distante,
Como que a querer mostrar
A alteza do seu rol.
Era o sol,
O de inverno,
Que já me foi de inferno
Em dias de verão,
Nesta janela da escuridão.
Só eu,
Triste plebeu,
Bato a tantas janelas
De tantas capelas
De santos de milagre,
Mas ninguém mas abre!

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 03-01-2023)

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⁠DECEÇÃO

Nunca de longe ou de perto
Pelo certo do incerto,
Chegarei a ser poeta,
Ou dizedor de palheta.

E assim me tornei anacoreta
Sem relógio ou ampulheta
Nesta gruta
Abrupta,
Onde vou morrer
Sem saber
O que é ser
Realmente,
Verdadeiramente,
Poeta!

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 05-01-2023)

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⁠AMOR FUGIDIO

Luz que vieste do oculto
Luz que cega sem brilhar,
Que convida a mar de amar
Maré negra de outro vulto.

Por que andaste no ofusco
Do meu sol de companhia,
Quando eu somente te pedia,
Essa coisa do amor que busco.

Fugiste. Eu vi, eu sei,
Porque por ela me dei,
Na noite longa que dormia.

Um sono de olhos abertos,
Como que a fixar a luz,
A tua, dos olhos incertos.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 06-01-2023)

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⁠E L E

Era ele, de canastro robusto,
Sempre o foi, mas de cintura fina,
Calçava no pé, com perna de menina,
Quarenta a quarenta e um de justo.

Isto, é história dos anos de fusto:
Forte, baixote e de rosto sisudo,
Cantando e declamando poetas de rudo,
Mas moço bom de ímpeto augusto.

Poeta, por favores e epítetos tais,
Em recriações de fugidios tempos,
Tornados tormentos de amores reais.

Pouco desfrutou ele de galais eventos
Com luzes malignas, de cores fatais:
Por ser amante do escuro dos mortais.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 08-01-2023)

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FOTOGRAFIAS

Ó linda musa das minhas fotografias,
Por onde andas agora, amor silvestre?
Bati em ti tantos flashs de alegrias,
Mesmo quando na objetiva me bateste.

Lembras-te quando do ângulo me fugias,
A correr atrás da cansada borboleta?
Nem notavas que eu depois por outras vias,
Batia a câmara a captar melhor careta.

E neste vai e vem de fotos de gaveta,
Só me lembrei de ti, infeliz, ao ver-te
A chorar, em nova, com cara de pateta.

Se do mundo ainda fores um ser vivente,
E te restar alguma faúlha de vergonha,
Lembra-te de mim, sempre, mulher peçonha.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 09-01-2023)⁠

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⁠P E P I T A

Quando me foges ao longe
Fico tão triste, desprezado,
Torno-me em vida de monge,
Nesta solidão do meu fado.

Foste sempre o meu outro lado,
O calor no frio dividido em dois,
No aconchego do nosso estrado,
Erguido no antes para o depois.

Fica-me no olfato o perfume,
Do teu cheiro de puro ciúme
Tão louco e canil que agita.

E queima como o forte odor
Dos teus sonoros flatos de amor,
Minha terrier cadelinha, Pepita.

(Carlos de Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 10-01-2023)

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⁠Nascemos para ser livres, mas pouco fazemos para conservar essa liberdade.

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SONHOS INCERTOS

⁠Ó sonhos por construir
Neste coração de sentir,
Dir-me-eis
Quando vireis,
No agora ou no porvir?

Ó amores que prometeis
Os vossos belos anéis,
Dizei-me tições fogosos
Vícios da carne gostosos,
Quando vireis?

Ó vida real e crua,
Afasta de mim a incerteza:
Sonhos serão surpresa,
Como corpo de mulher nua?

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 13-01-2023)

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⁠Antes quero perder um mau amigo, do que ganhar um bom inimigo.

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FRUSTRAÇÃO

Já não sei escrever...
Deixei de saber pensar.
A poesia deixou de me amar
E fugiu de mim sem eu ver
Nem poder mais versos ditar.

Que tábua agora para me agarrar
Nas ondas alterosas deste mar,
Se ela foi para não mais voltar
À inspiração dorida do meu penar?

Poesia vagabunda, iracunda, reles
A minha, que só contemplas aqueles
De sacrossanto nome já firmado
Nos anais dos teus egrégios brasões
E afundas sem mais remissões,
Os que querem só escrever um fado.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 16-01-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠Àqueles que têm inveja do meu penar, só lhes aconselho uma coisa:
Penem, como eu peno.

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⁠OLHOS DE CRIANÇA

Eram olhos grandes…

Pareciam dois faróis na tempestade
A iluminar na mais pura claridade,
O escuro dum mundo ainda a descobrir.

Eram olhos na ânsia de muita esperança
Daquela que ao longe ainda está por vir...
Eram olhos mágicos a anunciar bonança.

Eram dois pesos fiéis de uma balança
Que um dia pesarão as coisas em fundo,
Na conta do peso e da medida
Da sua inocente e tão verde vida.

Deus te guie e salve, lindo infante
De teus pais vaidosos do semblante,
Desses cabelos aos caracóis, triunfante,
Esperança e bonança para o mundo.

Mesmo quando a vida pula e avança
Deus meu, por favor ilumina e conserva
Estes olhos de criança!

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 19-01-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠IMAGINAÇÃO

Um poeta, dizia:
Um dia, vou chorar de alegria!
E o poeta acreditou.

E eis que o dia chegou:
Mas o poeta nem riu nem chorou.
Porque esse não era o dia
Que ele pedia
Ou imaginou.

(Carlos De Castro, in Há Um livro Por Escrever, em 20-01-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro