Nenhuma opinião deveria ser defendida com fervor. Ninguém mantém fervorosamente que 7 X 8= 56, pois se pode mostrar que esse é o caso. O fervor apenas se faz necessário quando se trata de sustentar uma opinião que é duvidosa ou demonstravelmente falsa.
O universo é o que é, não o que eu escolher o que ele deve ser. Se é indiferente aos desejos humanos, como parece ser; se a vida humana é um episódio passageiro, quase imperceptível na imensidão de processos cósmicos; Se não há um propósito sobre-humano, e nenhuma esperança de salvação final, é melhor saber e reconhecer essa verdade do que se esforçar, na fútil auto-afirmação, em ordenar o universo a ser o que achamos confortável.
Se um homem pretende beber e ao mesmo tempo estar apto para o trabalho no dia seguinte. Julgamo-lo imoral se ele adota o rumo que lhe proporciona a menor satisfação do seu desejo (...) está claro que o código moral de qualquer comunidade não é definitivo nem auto-suficiente, mas deve ser examinado com vistas a descobrir-se se é tal qual o que a sabedoria e a benevolência teriam decretado. Nem sempre os códigos morais foram impecáveis (...) as normas morais não deveriam ser tais que tornassem impossível a felicidade instintiva.
Se eu sugerir que entre a Terra e Marte há um pote de chá chinês girando em torno do Sol em uma órbita elíptica, ninguém seria capaz de refutar minha asserção, tendo em vista que teria o cuidado de acrescentar que o pote de chá é pequeno demais para ser observado mesmo pelos nossos telescópios mais poderosos. Mas se afirmasse que, devido à minha asserção não poder ser refutada, seria uma presunção intolerável da razão humana duvidar dela, com razão pensariam que estou falando uma tolice. Entretanto, se a existência de tal pote de chá fosse afirmada em livros antigos, ensinada como a verdade sagrada todo domingo e instilada nas mentes das crianças na escola, a hesitação de crer em sua existência seria sinal de excentricidade e levaria o cético às atenções de um psiquiatra, numa época esclarecida, ou às atenções de um inquisidor, numa época passada.
A felicidade não deixa de ser verdadeira porque deve necessariamente chegar a um fim; tampouco o pensamento e o amor perdem seu valor por não serem eternos
Quando um homem age de maneiras que nos incomodam, desejamos considerá-lo mau. Nós nos refutamos a encarar o fato de que seu comportamento irritante é o resultado de causas antecedentes que, se você as seguir por tempo suficiente, o levará além do momento de seu nascimento e, portanto, a eventos pelos quais ele não pode ser responsabilizado por qualquer estiramento da imaginação. Quando um automóvel não liga, não atribuímos seu comportamento irritante ao pecado. Nós não dizemos, você é um carro perverso, e você não pode ter mais gasolina até que você vá.
Dos primórdios da civilização até quase os dias de hoje – e ainda hoje na China e no Japão – os pais têm sacrificado a felicidade de seus filhos no casamento ao decidir com quem se casarão, escolhendo quase sempre a noiva ou noivo mais rico disponível. No mundo ocidental (exceto em parte na França) as crianças libertaram-se dessa escravidão pela rebelião, mas os instintos dos pais não mudaram. Nem a felicidade nem a virtude, mas o sucesso material é o desejo de um pai médio para seus filhos. Ele quer que seja de tamanha relevância que ele possa se vangloriar dele para seus amigos, e esse desejo domina em grande parte seus esforços para educá-los.
O governo pode facilmente existir sem leis, mas as leis não podem existir sem governo.
Historicamente, a existência de Jesus é duvidosa, se ele realmente existiu, não sabemos quase nada sobre ele. Portanto, não me preocupo com o aspecto histórico.
"Devido à identificação da religião com a virtude, juntamente com o facto de a maioria dos homens religiosos não serem os mais inteligentes, uma educação religiosa encoraja os estúpidos a resistir à autoridade dos mais cultos, como aconteceu, por exemplo, quando o ensino da doutrina na evolução foi declarado ilegal. Até onde me lembro, não há em todos os evangelhos uma única palavra em louvor da inteligência; e, a este respeito, os ministros da religião seguem a autoridade evangélica muito mais rigorosamente que em muitos outros aspectos."
- Bertrand Russell: Educação e Sociedade (Lisboa: Livros Horizonte, 1982), pp. 68-77.
O medo coletivo estimula o instinto de rebanho e tende a gerar agressividade contra aqueles que não são considerados membros do rebanho.
A matemática é um estudo que, quando partimos de suas partes mais conhecidas, pode ser continuado em uma de duas direções opostas. A direção mais conhecida é construtiva, rumo a uma complexidade gradualmente crescente: de números inteiros para frações, números reais, números complexos; de adição e multiplicação para diferenciação e integração, e adiante, para a matemática superior. A outra direção, menos conhecida, procede, por análise, rumo à abstração e à simplicidade lógica cada vez maiores; em vez de perguntar o que pode ser definido e deduzido do que é inicialmente suposto, perguntamos que ideias e princípios mais gerais podem ser encontrados em termos dos quais o que foi nosso ponto de partida pode ser definido ou deduzido. É o fato de seguir essa direção oposta que caracteriza a filosofia matemática em contraposição à matemática comum.
Muito do que se passa como o idealismo é ódio disfarçado ou amor disfarçado de poder.
Eu tendo a me considerar um agnóstico; mas, para todos os propósitos práticos, sou um ateísta. Eu não vejo a existência do Deus cristão como sendo nem um pouco mais provável que a existência dos Deuses do Olimpo ou de Valhalla. Ilustrando de outra forma: ninguém pode provar que não existe, entre a Terra e Marte, um bule de porcelana girando em uma órbita elíptica, e no entanto ninguém vê este fato como provável o suficiente para ser levado em conta na prática. Eu vejo o Deus Cristão como igualmente improvável.
O problema do mundo é que tolos e fanáticos estão sempre cheios de convicção, enquanto os sábios estão sempre cheios de dúvidas.
Nota: Apesar de muitas vezes atribuída, de forma errônea, a Charles Bukowski, trata-se de uma paráfrase de Bertrand Russell.
...MaisO que o mundo precisa não é de dogma, mas de uma atitude de investigação científica, combinada à crença de que a tortura de milhões de pessoas não é desejável, seja ela infligida por Stalin ou por uma divindade imaginária à semelhança dos que acreditam.