Arrancar do meu Peito
O MEU POETAR (soneto)
Eu poeto porque sou prosa
Brindado no redigir o brado
Trilhando os trilhos do fado
De poesia e alma amorosa
Poeto como quem é atado
Aos versos. Sede preciosa
Se suspiros, arte dolorosa
Que imergem do eu calado
Poeto com a voz corajosa
Do amor à vida, indomado
Sem amarras, força curiosa
Canto os devaneios, alado
Tal o perfume de uma rosa
O poeta mineiro do cerrado!
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, julho
Cerrado goiano
DESAFIO (soneto)
O meu fadário é devanear solitário
Ter o cerrado a desfolhar no olhar
Sonhar acordado e no mesmo luar
Ficando no tempo, noutro cenário
Onde a solidão nunca sabe esperar
Eu só tenho a saudade num sacrário
Anexo ao coração num pulsar diário
E lágrimas em um soluço sem parar
Oh, uivo árido, trove tal um canário
Os meus versos, e a ela vai revelar
Cada vazio aqui falante e tão vário
Por favor, acaso, pare de me tragar
Faça-me nos beijos dela um erário
E novamente no teu amor eu amar
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Agosto de 2017
Cerrado goiano
CERRADO PÁLIDO
Cerrado pálido, em meu poetar
Vem, e com mais cor, por favor
Esconder o sufocante amargor
Porque desbotou o meu versar
Aí, o meu pobre senso criador
Cuida que é menos o tal pesar
Por estar tão pouco a celebrar
A emoção, vida, sangue, calor
Pois... livre é o teu vento a chiar
D'alma o pensamento quer amor
E o aflitivo peito, só quer chorar
Que há de agora, aí, dizer o autor
Pendente na dor e, chora o olhar
Se do zelo só queria ser um valedor
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, abril, 05'30"
Cerrado goiano
ROTEIRO DO SILÊNCIO
Não há silêncio assaz
Para o meu sossego
O cerrado uiva ineficaz
Não há nenhum apego
No horizonte fulgaz
E tão pouco, aconchego
No canibalizar a paz...
Perdido os cães ganem
O sino da igreja tão capaz
Tange mais, que amém
E não é bastante voraz
Pros silêncios tais, porém,
Me leva a todo silêncio audaz
Qual a solidão devaneia também.
O meu silêncio é maior
Que toda solidão, vai além.
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2018, janeiro
Brasília, DF
Paráfrase Hilda Hilst
Á Virgem Santíssima
A teus pés, tal fé de incerteza,
O coração cheio de inquietude.
Posto o meu olhar de solicitude,
No teu doce alento de pureza...
Mais que piedade, é plenitude,
Que nem sei se há mais riqueza.
Tal o amor, tal luz, tal grandeza,
Que ao nosso clamor, servitude...
No rosário, desfio minha rudeza.
Mãe feita de perdão, pura beleza,
Cheia de graças, a reza primeira...
Da paz, divina piedosa dolorosa,
Silenciosa, fita-me assim chorosa...
Auxílio em nossa hora derradeira.
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2018, setembro
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
TÉDIO
Sobre o meu poetar, como uma sina
Tal ave de rapina, pesa a monotonia
Despovoando os versos, na surdina
Ilustrando a poesia de turva predaria
Oh! Escrever no silêncio, e inquilina
A solidão, sem sonho e sem alegria
Sem uma idéia e sensação cristalina
Faz o tédio ao poeta sua companhia
Ah! Deixar de fantasiar este ensejo
O pensamento no vão, a alma fria
Se a luz está escura e assim velada
Como posso avivar o meu desejo?
Se dorme numa catedral tão vazia
E lá fora a vida está abandonada!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
30 de setembro, 2018
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
CAOS
No fundo do meu eu, o meu efeito
São noites, entardecer e alvoradas
Enlevos, suspiros e dores sepultadas
Devaneios engasgados no meu peito
Retas alongadas, curvas e lombadas
Mas, de repente, o esperado desfeito
Refeitos, rajadas do eu ser imperfeito
Clamor, as regras, retintim das ciladas
E nos motins, glórias e nada absoluto
Choro e hosana... Com o dito estrovo
Numa sina dum salmo agreste e bruto
E há no poetizar, de que me comovo
Gritos, festa, agonia, meu eu matuto
Incertezas, e o recomeçar de novo!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2018, outubro
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
SONETO CHOROSO
Choroso soneto, meu, tão chorado
Sem leveza, sem arte, sem ternura
Traçados pela sorte em desventura
Em vagidos manhosos desentoado
É tristura na trova, e desesperado
O estro. No papel cheio de ranhura
Sem condição de uma doce leitura
Afrontando o coração desgraçado
E nesta tal tirania de infeliz criatura
Ditosos algozes. No peito abafado
Surgindo da sepultura da amargura
Ó sátira mordaz, de sentido perverso
Deixe o teu jugo imóvel e silenciado
Guie só fausta melodia ao meu verso
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2018, outubro
Cerrado goiano
RESPOSTAS NO AMOR
Amo... vejo envasado em nobre sentimento
Todo o meu ser em fulgor, a alma em união
Contempla-me a glória, inteireza na emoção
Ame! - E deixe o mal com o seu sofrimento!
Sofro... quando me encontro em desilusão
De espinhos, arranhão, então fique atento
O desdém que humilha, não há argumento
Pois, o contento, se deixa levar pela paixão
Se tem irrisão, perdoe, o perdão é prece
Árduo é o caminho, e perverso a injúria
E ter um bom alívio é o que se esquece
Amor... amar... amo, trova dum profeta
Ao coração enriquece, sem ser luxúria
A eterna inspiração do ser, de ser poeta!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2018, outubro
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
Medos
Nebulosa nuvem circunda meu pensamento,
Uma furtiva lágrima escorre pela face,
De repente uma tristeza corroí meu sentimento,
Ao não me sentir a direção de sua inspiração,
De ser personagem na história de seu coração.
Ah! Se eu pudesse expressar toda essa aflição,
De medo,
De angustia,
De sofreguidão,
Entranhadas na carne,
Assombradas pela solidão,
Que traz insônia,
Que tira o sossego,
Provoca dor.
Só porque desejei seu amor,
Seus beijos,
Seu olhar que traz calor,
Seus abraços de desejos,
Por mim,
Para mim,
Sentir, enfim,
Sua empolgação,
Tanto quanto demonstro por ti.
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
13/11/2007
HORAS TANTAS
Horas tantas, aterrado e um tanto aflito
Confidenciei para a lua o meu detrimento
Do acaso, que com as desditas foi escrito
E se a fito, ainda o sinto no pensamento
Atroa, n'alma um pávido e nuvioso grito
Titilando dores em um amofino violento
Arremessando os anseios para o infinito
Tal o choro do cerrado aflado pelo vento
Clemente lua, que o meu azar sentiste!
No firmamento confessei o meu pranto
Enfardado pelas nuvens transparentes
E no meu peito, uma solidão tão triste
Onde o poetar a soluçar em um canto
Escorre silenciosas lágrimas ardentes
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
30 de julho de 2019
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
SONETO SEM AMOR
Meu amor pouco ao meu alcance
Nas nuances até hoje em segredo
Não tive uma chance, pouca chance
Dele, surpresa, desilusão e tal medo
Meu amor, o olhar foi de relance
Na vida o desencontro foi enredo
Andou por andar, nenhum elance
Confiando no amor pra amar, ledo!
Pedinte viver, atravessou sem ter
A glória de um amor para amar
Passou por passar, pobre viver!
Aí de mim, na sina de encontrar
Nem digas, ó implacável haver
Nem sorriso, gesto, pra poetar...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
06 de setembro de 2019
Cerrado goiano
Canto em Versos
O meu poetar une versos
dos amores, dos reversos
porém, não são submersos
nem tão pouco dispersos...
É uma exaltação aos universos:
das trovas, dos mundos diversos
das dores e louvores tão imersos
nas palavras e sigilos complexos
De simples poemas abstersos...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Cerrado goiano
SONETO DA AUSÊNCIA
O cerrado já não mais é meu confidente
o pôr do sol não mais ouve o meu plangor
os cascalhos do segredo fazem amargor
e a saudade já não mais está condizente
Não mais estou melancólico no rancor
nem tão pouco sou aquele imprudente
e ao vento nada mais contei contente
deixo o tempo no tempo ao seu dispor
Até da recordação eu tenho medo, dor
o entardecer tornou-se inconcludente
e o olhar se perdeu nas ondas de calor
O poetar fez da madrugada noite ingente
carente nas buscas do tão sonhado amor
e hoje o meu eu no cerrado está ausente
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
06/06/2016
Cerrado goiano
TORMENTO NO SONETO
O fado, comigo, não teve deleite
Tem um gosto agridoce meu dia
Devoluto, e sem lisonja fugidia
Na ventura me sinto um enjeite
Lembranças, só são de nostalgia
Um poetar desnudo, sem enfeite
Inspiração desmaiada como leite
E a lágrima de tão pouca alegria
As doces palavras sem onde deite
O ânimo com nuance sem ousadia
O coração desprezado, quem aceite
E mesmo, num tal tormento, quereria
Um olhar de afogo, sorriso que afeite
Onde minha sorte, pudesse ter alforria
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Novembro, 2016
Cerrado goiano
Papel e Tinta
Laivei o meu pincel
no cinza do cascalhado
no entardecer fogueado
no chão ressecado
no desbotado areado...
Laivei o meu pincel
na luz do horizonte
na sombra atrás do monte
no suor da fronte...
E no branco do papel
vão aparecendo inquinações:
de folhas secas, chão árido
amarelados ipês, buritis, ar cálido
pequis, céu divino e estrelado
num desenho do cerrado...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Novembro de 2016
Cerrado goiano
epílogo
se te pareço ingrato
cerrado
olhe o meu aparato
verás que não sou errado
nem sem tato
apenas um saudoso
do meu lugar exato
amoroso
onde eu fui e sou
verboso
pois, aqui acabou
o que vim fazer
e se fico ou se vou
é escolha, não só prazer.
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Cerrado goiano
SONETO PELO CAMINHO
O meu fado pôs a me versejar
Pelas trilhas do destino nefando
Me fez chorar, rir, foi interrogando
Acerca do amor pôs a ignorar
Subi e desci, e a vida foi forjando
Desafinei certamente ao disciplinar
E pude segredar na noite de luar
Assim, estórias foram desfiando
Por vielas, ruas e, becos a andejar
Andei, e ele comigo foi andando
Pelos caminhos o diverso a poetar
Agora, o canto maduro, no comando
Lembranças, tudo tem tempo e lugar
Na estrada, continuo caminhando...
(até Deus chamar!)
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
20/01/2017, 14'00"
Cerrado goiano
SONETO TRISTE
Hoje acordei com meu verso triste
Escorrendo pelo papel só inclinação
Cabisbaixa a inspiração e, pelo chão
Querendo lira na sorte que não existe
Pois, cada cisma, na cisma consiste
E o prazenteiro é em vão, e assim são:
Desferrolha fagulhas infeliz do coração
Petrechando a consternação em riste
As minhas angústias querem expansão
Minha dor, está ali sozinha, é imensidão
Tão calada, não entenderão o que sente
Aí quem me dera, não a ter! Pois então?
A tenho!... E pouco cabe na solidão...
Quando caberia aqui: - verso contente!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Janeiro, 2017, 05'55"
Cerrado goiano
NAS ENTRELINHAS DO SONETO
No sentimento, do amar, seja meu amor
Basta estar ao meu lado, o querer haver
Ao olhar-me, ouça o coração, por ti bater
Adentre, rogo-te, quero ser o teu amador
Nas mãos, tenho flores, pra lhe escrever
Tocando nos versos tais qual um beija flor
Palavras entoadas de afago a lhe compor
E paixão, pois você é vida no meu viver!
Entre sussurros e suspiros és puro ardor
Em primaveras no meu peito a florescer
Desenhando sensações ao meu redor
Em ti esqueço que existe qualquer ser
Tudo é livre, tu fazes do versar um relator
Nas entrelinhas do soneto, o amor ter!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2017, abril. 05'40"
Cerrado goiano
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