Amor Textos de Luis Fernando Verissimo
A Criança que Fui Chora na Estrada
A criança que fui chora na estrada.
Deixei-a ali quando vim ser quem sou;
Mas hoje, vendo que o que sou é nada,
Quero ir buscar quem fui onde ficou.
Ah, como hei-de encontrá-lo? Quem errou
A vinda tem a regressão errada.
Já não sei de onde vim nem onde estou.
De o não saber, minha alma está parada.
Se ao menos atingir neste lugar
Um alto monte, de onde possa enfim
O que esqueci, olhando-o, relembrar,
Na ausência, ao menos, saberei de mim,
E, ao ver-me tal qual fui ao longe, achar
Em mim um pouco de quando era assim.
O RACISMO NUNCA IRÁ ACABAR , ENQUANTO:
1. O Carro Branco Usar Sempre PNEUS Pretos.
2. Racismo Nunca Irá Acabar Enquanto o Pão
Branco, Custar Mais que o Pão Castanho.
3. Enquanto Lavarmos Primeiro a Roupa
Branca, So Depois é que é a PRETA.
4. Enquanto As Pessoas Usarem a Roupa
Branca Para o Casamento, e a Roupa Preta
Para Funeral.
6. Racismo Nunca Irá Acabar, Enquanto
Usarmos o Saco Branco Para as Compras No
Super Mercado, E o Saco Preto Para Lixo.
7. Racismo Nunca Irá Acabar Enquanto
Aqueles Super Criminosos Estiverem Na Lista
Negra e Nunca Na Lista Branca.
Racismo Nunca Irá Acabar.
Eu falhei, falhei de novo.
Mais uma oportunidade jogada para o alto na esperança de que outro mais eficaz estenda seus braços e a agarre enquanto cai.
Eu falhei.
Já falhei tantas e tantas vezes que se me pedissem para contar, provavelmente não lembraria de todas as vezes.
Mas a vida é assim, não é? Falhamos o tempo todo e todo o tempo. Falhamos na escola, na faculdade, no trabalho. A vida é uma falha suscetível a várias outras falhas, pois são nelas que encontramos novas oportunidades, novos começos e um novo mundo. A parte mais difícil de falhar é o desapego, porque estamos tão acostumados com a ideia de que aquilo pode dar certo, que esquecemos todo o resto. Olhamos apenas para frente e esquecemos de olhar para os lados.
Seguir em frente é sempre bom, mas talvez em algum momento olhar para os lados seja bom também. Então me diga, o que existe de tão especial na sua frente que te impeça de olhar para os lados? O que existe na sua direita ou na sua esquerda que te assusta tanto? Eu sei! É assustador caminhar para onde não podemos ver. É difícil se imaginar em uma nova vida um novo caminho.
Ficamos imaginando coisas terríveis, “E se houver um buraco?”, “E se estiver escuro?”. São tantas questões, mas aqui vai uma dica: Buracos existem em todos os lados e eles são importantes, afinal sem eles você não saberia se reerguer. Sem cair não iria se levantar e sem se levantar você não iria continuar. Então “tá” esperando o que? Vai, corra! Corra como o vento, corra sem medo de cair, sem medo de tropeçar, corra como se o mundo fosse seu. Porque eu te garanto que no final disso tudo, ele realmente será seu.
Mas eu falhei, falhei de novo… Na falha vou me abrigar a um novo começo onde nele falharei mais vezes até que numa curva incerta eu encontre o acerto.
QUANDO EU MORRER...
Você pode até chorar, mas não vá se lamentar, não vá agir como se a vida também tivesse acabado para você. Na verdade, você é a minha continuação, desde que sejam mantidos acesos os meus ideais, desde que mantenham-se vivos os meus bons costumes, os meus bons exemplos...
Conte histórias sobre mim e de como eu queria mudar o mundo, mas seja também o protagonista da sua própria história, piloto da sua própria moto sobre a belíssima estrada da vida e de vez em quando lembre-se de olhar pelo retrovisor, para ver o quanto tem avançado, mas lembre-se de seguir em frente, pois você ainda pode ir mais longe.
Curando sentimentos...
Iniciamos o processo de cura em nossas vidas ao liberar ressentimentos através do perdão, tanto para os outros quanto para nós mesmos. E ao nutrirmos nossos corações com gentileza e amor, proporcionamos a nós mesmos o cuidado que merecemos. É importante lembrar que, ao trilharmos esse caminho, experimentamos um crescimento significativo como seres humanos em nossa jornada evolutiva.
To confuso, eu quero te amar mas os obstáculos são muitos.
Eu quero você você só pra mim, sem ninguém palpitando ou se entrometendo, é tão bom quando estamos juntos a sós!
O Tempo passa, 1 hora parece 1 minuto, te acaricio você me acaricia, parece contos de fada, tenho medo de estar sonhando de tão bom.
Eu me apeguei demais em você, talvez você fez por merecer, ou eu tenha feito.
Eu quero muito você, mas só você !!
Fiquei doido, fiquei tonto...
Meus beijos foram sem conto,
Apertei-a contra mim,
Aconcheguei-a em meus braços,
Embriaguei-me de abraços...
Fiquei tonto e foi assim...
Sua boca sabe a flores,
Bonequinha, meus amores,
Minha boneca que tem
Bracinhos para enlaçar-me,
E tantos beijos p'ra dar-me
Quantos eu lhe dou também.
Ah que tontura e que fogo!
Se estou perto dela, é logo
Uma pressa em meu olhar,
Uma música em minha alma,
Perdida de toda a calma,
E eu sem a querer achar.
Dá-me beijos, dá-me tantos
Que, enleado nos teus encantos,
Preso nos abraços teus,
Eu não sinta a própria vida,
Nem minha alma, ave perdida
No azul-amor dos teus céus.
Não descanso, não projecto
Nada certo, sempre inquieto
Quando te não beijo, amor,
Por te beijar, e se beijo
Por não me encher o desejo
Nem o meu beijo melhor.
(Fernando Pessoa)
Eu não sei como foi seu dia hoje.
O que te fez rir ou o que te fez ficar com raiva.
Se foi fácil ou difícil.
Mais existe uma pessoa que talvez só por estar trocando mensagem com você ou saber que você está lá sempre, se sinta ouvido, compreendido ou até importante.
Você é importante.
De varias formas.
Menina baixinha
Com o coração gigante
Porém a altura não importa
Enquanto no peito estiver o diamante
Cabelos curtos e macios
Loiros e ostensivos
Lisos, bem definidos
Realça bem com o seu sorriso
Alguns amores irei recitar
Ama a noite, festas e forrozear
Família, amigos e domar
Já falei forró, mas é bom enfatizar
Finalizo por aqui minhas bobeiras
minha baixinha querida, nunca esqueças que és a mais Linda de todo bairro Mangueira!!
A.R.
SONHOS DE MENINA
Sorriso que anima
Aquece qualquer coração
Sonhos de menina
Buscados com determinação
Curte a vida
Como quem dança uma valsa
Apesar das feridas
Que seu medo realça
Mas num belo olhar
Traz a vontade de conquistar o mundo
E o desejo de se entregar
A um amor fiel e profundo
PARA VIVER UM GRANDE AMOR
Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso — para viver um grande amor.
Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... — não tem nenhum valor.
Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro — seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada — para viver um grande amor.
Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor.
Para viver um amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que não existe amor sem fidelidade — para viver um grande amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.
Para viver um grande amor, il faut além de fiel, ser bem conhecedor de arte culinária e de judô — para viver um grande amor.
Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito — peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor.
É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista — muito mais, muito mais que na modista! — para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor...
Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs — comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica e gostosa farofinha, para o seu grande amor?
Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto — pra não morrer de dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer "baixo" seu, a amada sente — e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia — para viver um grande amor.
É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser impermeável ao diz-que-diz-que — que não quer nada com o amor.
Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva escura e desvairada não se souber achar a bem-amada — para viver um grande amor.
meu amor...
Oi, acordei tarde hoje só pra sonhar mais tempo com você, que pena que o sol veio tão cedo tirar-te do meu mundo. A cada dia conto as horas lentamente quando poderei dizer cada palavra de amor que escrevi nas páginas do meu coração e assim derramá-las em seus ouvidos? Quando perceberás que cada olhar que lanço em tua direção são vários “eu te amo” ditos pelo silencio de minha timidez? Quando oh bela de minha vida perceberás que cada vez que te tocava meu coração se derramava de amores dentro de meu peito afogando sua imagem esculpida nele? Queria que o tempo não passasse enquanto estou com você, tempo cruel que se apressa a correr, ferindo-me com a idéia de separar-me de ti, oh amada minha.
Não fez nada para merecer tudo o que sinto, porém tudo o que falei é muito pouco em comparação com o que tenho dentro de meu peito, pequeno demais para suportá-lo... O mundo em que guardo os meus sonhos é pequeno demais para guardar por o que sinto por você. Preciso dizer, não posso conter tudo isso dentro de mim: EU TE AMO e não consigo imaginar outra pessoa ao meu lado, minha vida é triste demais sem você, arde dentro de mim o desejo de declarar o meu amor por ti, mas emudeço quando penso no simples fato de ouvir um não de seus lábios que tanto quero junto aos meus, não posso falar, me assusta correr tanto risco, no entanto te escrevo com todas as letras...EU TE AMO e não deixarei de te amar, mesmo que você peça, não adianta, decepcionei meu coração ao amar quem não me ama...amando...você .
Mandai-me Senhores, hoje
que em breves rasgos descreva
do Amor a ilustre prosápia,
e de Cupido as proezas.
Dizem que de clara escuma,
dizem que do mar nascera,
que pegam debaixo d’água
as armas que o amor carrega.
O arco talvez de pipa,
a seta talvez esteira,
despido como um maroto,
cego como uma toupeira
E isto é o Amor? É um corno.
Isto é o Cupido? Má peça.
Aconselho que não comprem
Ainda que lhe achem venda
O amor é finalmente
um embaraço de pernas,
uma união de barrigas,
um breve tremor de artérias
Uma confusão de bocas,
uma batalha de veias,
um reboliço de ancas,
quem diz outra coisa é besta.
Para viver um grande amor
Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso — para viver um grande amor.
Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... — não tem nenhum valor.
Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro — seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada — para viver um grande amor.
Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor.
Para viver um amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que não existe amor sem fidelidade — para viver um grande amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.
Para viver um grande amor, il faut além de fiel, ser bem conhecedor de arte culinária e de judô — para viver um grande amor.
Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito — peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor.
É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista — muito mais, muito mais que na modista! — para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor...
Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs — comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica e gostosa farofinha, para o seu grande amor?
Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto — pra não morrer de dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer "baixo" seu, a amada sente — e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia — para viver um grande amor.
É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser impermeável ao diz-que-diz-que — que não quer nada com o amor.
Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva escura e desvairada não se souber achar a bem-amada — para viver um grande amor.
A T
No amor basta uma noite para fazer de um homem um Deus.
(PROPÉRCIO)
Amoroso palor meu rosto inunda,
Mórbida languidez me banha os olhos,
Ardem sem sono as pálpebras doridas,
Convulsivo tremor meu corpo vibra...
Quanto sofro por ti! Nas longas noites
Adoeço de amor e de desejos...
E nos meus sonhos desmaiando passa
A imagem voluptuosa da ventura:
Eu sinto-a de paixão encher a brisa,
Embalsamar a noite e o céu sem nuvens;
E ela mesma suave descorando
Os alvacentos véus soltar do colo,
Cheirosas flores desparzir sorrindo
Da mágica cintura.
Sinto na fronte pétalas de flores,
Sinto-as nos lábios e de amor suspiro...
Mas flores e perfumes embriagam...
E no fogo da febre, e em meu delírio
Embebem na minh’alma enamorada
Delicioso veneno.
Estrela de mistério! em tua fronte
Os céus revela e mostra-me na terra,
Como um anjo que dorme, a tua imagem
E teus encantos, onde amor estende
Nessa morena tez a cor de rosa.
Meu amor, minha vida, eu sofro tanto!
O fogo de teus olhos me fascina,
O langor de teus olhos me enlanguece,
Cada suspiro que te abala o seio
Vem no meu peito enlouquecer minh’alma!
Ah! vem, pálida virgem, se tens pena
De quem morre por ti, e morre amando,
Dá vida em teu alento à minha vida,
Une nos lábios meus minh’alma à tua!
Eu quero ao pé de ti sentir o mundo
Na tu’alma infantil; na tua fronte
Beijar a luz de Deus; nos teus suspiros
Sentir as virações do paraíso...
E a teus pés, de joelhos, crer ainda
Que não mente o amor que um anjo inspira,
Que eu posso na tu’alma ser ditoso,
Beijar-te nos cabelos soluçando
E no teu seio ser feliz morrendo!
Dezembro, 1851
Eu vou embora sozinha. Eu tenho um sonho, eu tenho um destino, e se bater o carro e arrebentar a cara toda saindo daqui, continua tudo certo. Fora da roda, montada na minha loucura. (...)
Dá minha jaqueta, boy, que faz um puta frio lá fora e quando chega essa hora da noite eu me desencanto. Viro outra vez aquilo que sou todo dia, fechada sozinha perdida no meu quarto, longe da roda e de tudo: uma criança assustada.
Terça-Feira Gorda
De repente ele começou a sambar bonito e veio vindo para mim. Me olhava nos olhos quase sorrindo, uma ruga tensa entre as sobrancelhas, pedindo confirmação. Confirmei, quase sorrindo também, a boca gosmenta de tanta cerveja morna, vodca com coca-cola, uísque nacional, gostos que eu nem identificava mais, passando de mão em mão dentro dos copos de plástico. Usava uma tanga vermelha e branca, Xangô, pensei, Iansã com purpurina na cara, Oxaguiã segurando a espada no braço levantado, Ogum Beira-Mar sambando bonito e bandido. Um movimento que descia feito onda dos quadris pelas coxas, até os pés, ondulado, então olhava para baixo e o movimento subia outra vez, onda ao contrário, voltando pela cintura até os ombros. Era então que sacudia a cabeça olhando para mim, cada vez mais perto.
Eu estava todo suado. Todos estavam suados, mas eu não via mais ninguém além dele. Eu já o tinha visto antes, não ali. Fazia tempo, não sabia onde. Eu tinha andado por muitos lugares. Ele tinha um jeito de quem também tinha andado por muitos lugares. Num desses lugares, quem sabe. Aqui, ali. Mas não lembraríamos antes de falar, talvez também nem depois. Só que não havia palavras. havia o movimento, a dança, o suor, os corpos meu e dele se aproximando mornos, sem querer mais nada além daquele chegar cada vez mais perto.
Na minha frente, ficamos nos olhando. Eu também dançava agora, acompanhando o movimento dele. Assim: quadris, coxas, pés, onda que desce, olhar para baixo, voltando pela cintura até os ombros, onda que sobe, então sacudir os cabelos molhados, levantar a cabeça e encarar sorrindo. Ele encostou o peito suado no meu. Tínhamos pêlos, os dois. Os pêlos molhados se misturavam. Ele estendeu a mão aberta, passou no meu rosto, falou qualquer coisa. O quê, perguntei. Você é gostoso, ele disse. E não parecia bicha nem nada: apenas um corpo que por acaso era de homem gostando de outro corpo, o meu, que por acaso era de homem também. Eu estendi a mão aberta, passei no rosto dele, falei qualquer coisa. O quê, perguntou. Você é gostoso, eu disse. Eu era apenas um corpo que por acaso era de homem gostando de outro corpo, o dele, que por acaso era de homem também.
Eu queria aquele corpo de homem sambando suado bonito ali na minha frente. Quero você, ele disse. Eu disse quero você também. Mas quero agora já neste instante imediato, ele disse e eu repeti quase ao mesmo tempo também, também eu quero. Sorriu mais largo, uns dentes claros. Passou a mão pela minha barriga. Passei a mão pela barriga dele. Apertou, apertamos. As nossas carnes duras tinham pêlos na superfície e músculos sob as peles morenas de sol. Ai-ai, alguém falou em falsete, olha as loucas, e foi embora. Em volta, olhavam.
Entreaberta, a boca dele veio se aproximando da minha. Parecia um figo maduro quando a gente faz com a ponta da faca uma cruz na extremidade mais redonda e rasga devagar a polpa, revelando o interior rosado cheio de grãos. Você sabia, eu falei, que o figo não é uma fruta mas uma flor que abre pra dentro. O quê, ele gritou. O figo, repeti, o figo é uma flor. Mas não tinha importância. Ele enfiou a mão dentro da sunga, tirou duas bolinhas num envelope metálico. Tomou uma e me estendeu a outra. Não, eu disse, eu quero minha lucidez de qualquer jeito. Mas estava completamente louco. E queria, como queria aquela bolinha química quente vinda direto do meio dos pentelhos dele. Estendi a língua, engoli. Nos empurravam em volta, tentei protegê-lo com meu corpo, mas ai-ai repetiam empurrando, olha as loucas, vamos embora daqui, ele disse. E fomos saindo colados pelo meio do salão, a purpurina da cara dele cintilando no meio dos gritos.
Veados, a gente ainda ouviu, recebendo na cara o vento frio do mar. A música era só um tumtumtum de pés e tambores batendo. Eu olhei para cima e mostrei olha lá as Plêiades, só o que eu sabia ver, que nem raquete de tênis suspensa no céu. Você vai pegar um resfriado, ele falou com a mão no meu ombro. Foi então que percebi que não usávamos máscara. Lembrei que tinha lido em algum lugar que a dor é a única emoção que não usa máscara. Não sentíamos dor, mas aquela emoção daquela hora ali sobre nós, eu nem sei se era alegria, também não usava máscara. Então pensei devagar que era proibido ou perigoso não usar máscara, ainda mais no Carnaval.
A mão dele apertou meu ombro. Minha mão apertou a cintura dele. sentado na areia, ele tirou da sunga mágica um pequeno envelope, um espelho redondo, uma gilette. Bateu quatro carreiras, cheirou duas, me estendeu a nota enroladinha de cem. Cheirei fundo, uma em cada narina. Lambeu o vidro, molhei as gengivas. Joga o espelho no mar pra Iemanjá, me disse. O espelho brilhou rodando no ar, e enquanto acompanhava o vôo fiquei com medo de olhar outra vez para ele. Porque se você pisca, quando torna a abrir os olhos o lindo pode ficar feio. Ou vice-versa. Olha pra mim, ele pediu. E eu olhei.
Brilhávamos, os dois, nos olhando sobre a areia. Te conheço de algum lugar, cara, ele disse, mas acho que é da minha cabeça mesmo. Não tem importância, eu falei. Ele falou não fale, depois me abraçou forte. Bem de perto, olhei a cara dele, que olhada assim não era bonita nem feia: de poros e pêlos, uma cara de verdade olhando bem de perto a cara de verdade que era a minha. A língua dele lambeu meu pescoço, minha língua entrou na orelha dele, depois se misturaram molhadas. Feito dois figos maduros apertados um contra o outro, as sementes vermelhas chocando-se com um ruído de dente contra dente.
Tiramos as roupas um do outro, depois rolamos na areia. Não vou perguntar teu nome, nem tua idade, teu telefone, teu signo ou endereço, ele disse. O mamilo duro dele na minha boca, a cabeça dura do meu pau dentro da mão dele. O que você mentir eu acredito, eu disse, que nem na marcha antiga de Carnaval. A gente foi rolando até onde as ondas quebravam para que a água lavasse e levasse o suor e a areia e a purpurina dos nossos corpos. A gente se apertou um conta o outro. A gente queria ficar apertado assim porque nos completávamos desse jeito, o corpo de um sendo a metade perdida do corpo do outro. Tão simples, tão clássico. A gente se afastou um pouco, só para ver melhor como eram bonitos nossos corpos nus de homens estendidos um ao lado do outro, iluminados pela fosforescência das ondas do mar. Plâncton, ele disse, é um bicho que brilha quando faz amor.
E brilhamos.
Mas vieram vindo, então, e eram muitos. Foge, gritei, estendendo o braço. Minha mão agarrou um espaço vazio. O pontapé nas costas fez com que me levantasse. Ele ficou no chão. Estavam todos em volta. Ai-ai, gritavam, olha as loucas. Olhando para baixo, vi os olhos dele muito abertos e sem nenhuma culpa entre as outras caras dos homens. A boca molhada afundando no meio duma massa escura, o brilho de um dente caído na areia. Quis tomá-lo pela mão, protegê-lo com meu corpo, mas sem querer estava sozinho e nu correndo pela areia molhada, os outros todos em volta, muito próximos.
Fechando os olhos então, como um filme contra as pálpebras, eu conseguia ver três imagens se sobrepondo. Primeiro o corpo suado dele, sambando, vindo em minha direção. Depois as Plêiades, feito uma raquete de tênis suspensa no céu lá em cima. E finalmente a queda lenta de um figo muito maduro, até esborrachar-se contra o chão em mil pedaços sangrentos.
Tem muita gente contaminada pela mais grave manifestação do vírus - a aids psicológica... Do corpo, você sabe, tomamos certos cuidados, o vírus pode ser mantido a distância. E da mente? Porque uma vez instalado lá, o htlv-3 não vai acabar com as suas defesas imunológicas, mas com suas emoções, seu gosto de viver, seu sorriso, sua capacidade de encantar-se. Sem isso, não tem graça viver, concorda?
Você gostaria de viver num mundo de zumbis? Eu, decididamente não. Então pela nossa sobrevivência afetiva - com carinho, com cuidado, com sentimento de dignidade - ó gente, vamos continuar namorando. Era tão bom, não era?
Ela é feita como eu, pedaço de passado mal vivido, ou acontecimentos inesperados que causam grande estrago dentro do coração. Entretanto, ainda chegando de mansinho pude encontrar nela uma parte de alguém que tem um coração tão cheio de amor, e tão meiga. Ainda pequena por fora, mas tão grande por dentro, podendo encantar apenas com o sorriso, parar seu respirar somente com o olhar. Ela é o reverso daquilo que se encontra em qualquer lugar. O oposto de comum, ela é rara de se encontrar. Mas eu encontrei.
Ainda que a saudade não bata mais na minha porta eu vou sempre me lembrar, ainda que eu não escute mais aquela mesma musica, eu vou sempre relembrar, ainda que aquele texto não passe novamente pelos meus olhos eu ainda vou lembrar, ainda que a ligação seja perdida, o contato cortado, as esperanças tenham acabado, os sonho interrompidos, outros abraços encontrados, novos olhares se cruzado, eu vou lembrar, pois as memorias nunca morrem.
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