Amor entre Pessoas que Nunca se Viram
Mas é que a verdade nunca me fez sentido. A verdade não me faz sentido! É por isso que eu a temia e a temo.
E dizer que nunca, nunca dei isto que estou sentindo a ninguém e a nada. Dei a mim mesma?
De nascer até morrer é o que eu me chamo de humana, e nunca propriamente morrerei. Mas esta não é a eternidade, é a danação. Como é luxuoso este silêncio. É acumulado de séculos. É um silêncio de barata que olha.
Nunca diga “Eu preciso dele.”, diga “Eu apenas quero ele.” Lembre-se que você não precisa de ninguém.
E urgia compreender melhor o desejo que me descontrolara, eu nunca havia sentido coisa semelhante. Se desejo era aquilo, posso dizer que antes de Matilde eu era casto.
Encontrar-se consigo própria era um bem que ela até então não conhecia. Acho que nunca fui tão contente na vida, pensou. Não devia nada a ninguém e ninguém lhe devia nada. Até deu-se ao luxo de ter tédio – um tédio até muito distinto.
Não sou perfeito. Nunca fui. E também não sou bom exemplo pra ninguém. Mas se quiseres pensar sobre as palavras que digo, procure tirar delas bom proveito, por que foram escritas com o coração, por uma pessoa igual a você, e que teria errado menos, se machucado menos, e vivido melhor, caso tivesse ouvido estas mesmas palavras de outrem.
Encho a cara sozinha aos sábados esperando o telefone tocar, e nunca toca, ouvindo samba-canção e blues com caipira de vodca.
Se nunca nasceste de ti mesmo, dolorosamente, na concepção de um poema... estás enganado: para os poetas não existe parto sem dor.
Isso me apavora, o "nunca mais" que me persegue desde o momento em que acordo e que me dá medo e que me faz voltar a ser criança, medo de nunca mais viver o que vivi, sentir o que senti.
