Amor e Morte
SENTIMENTO DO NADA
Inspiração exige transpiração
Abba! Enojei-me nesta viagem
A musa abriu suas pernas, vi o Parnaso desmoronar dentro de seu
Útero. Fiz poesia sem ser poeta. Comi a musa
[Ou ela me comeu?
Pouco Importa!
Temos filhos agora:
Crise existencial de Sousa
Solidão da Silva Encarnada
Maria das Dores
Zé Pelintra Nosso de Cada Dia.
Por hora (sou) pouco importa: uma poeira descolada
O tempo fez-me Europa!
Por hora (fui) isto importa: uma gotícula no mar
A gaivota não tem misericórdia!
Modelaram-me num tipo humano
Faz graça
Estou imberbe: não fumo, não bebo, não mato.
Reproduzo o existir: como, defeco, amo.
Minhas amantes envelheceram
O cupim devorou minha biblioteca, devorou minha planta, minhas pupilas, minhas
Raízes. Viver além da conta
Há morte aqui
Há morte debaixo do meu travesseiro
Em minhas pupilas mulatas - há morte.
E eis que vivo: posto morto
Já não questiono o Universo
Sinto!
(Italo Samuel Wyatt, A Janela do Éden)
►Só Teu
Não me dê razões para lhe odiar
Meu coração padece sabendo que você não está
Escrevo-te esta, e muitas outras centenas de cartas,
Implorando, incansavelmente, para voltar para casa.
Sei que não as lê
Sei também que morrerei de tanto sofrer
Querida minha, a tantas coisas que quero lhe dizer
Mas este papel jamais será despido pelos seus olhos,
Que guardam tantos remorsos, não importa o quanto eu te implore.
Eu agora escrevo sem nenhuma esperança
Apenas para sobreviver por entre as semanas
A corda está bem ali,
E aquela cadeira que a muito tempo meu pai veio a construir
Tudo que preciso fazer é subir e pôr um fim
Meu amor, ainda pensas em mim?
Jamais mentirei para você
Minhas lágrimas hoje me dizem,
Que nunca conseguirei te esquecer
E, como uma rosa sem uma gota para se refrescar,
Meus dedos, meus lábios, começaram a se ressecar
Meus olhos estão pesados
Temo que jamais conseguirão ver se cabelo enfeitado.
Estarei lhe enviando esta carta não como adeus
Apenas para que saiba
Que meu amor é somente teu.
‘Morrer’ é uma coisa, e ‘perder a vida’ é outra (bem diferente):
1- O ser humano é considerado morto quando suas atividades cerebrais decretam falência perante as leis da medicina;
2- O ser humano, porém, perde a vida, quando deixa de sonhar, de amar, de acreditar, de se expor, de sentir prazer com pequenos gestos, ou quando até mesmo o brilho do sol ao meio dia passa a lhe causar incômodo.
E no meio dessa moda do desapego...
Se tu morrer amanhã vai engolir teu orgulho para entregar teu amor hoje?
Vê esta pessoa importante para você a sua frente? Está vivo! Então sugiro que aproveite à rica oportunidade que tens neste efêmero presente que o vislumbra, e portanto, proclama a ela teus ansiosos elogios à vontade.
Pois talvez, futuramente, este poderá ter evoluído para óbito, e então... Teus elogios sublimes que pretendia proclamá-los de nada valerão, teus elogios cairão no mais fundo dos abismos. E mesmo que ainda consigas guardar contigo um único elogio, este permanecerá inaudível por ele.
Por mais alto e incansavelmente que conseguires entoar tua branda voz, este, jamais, jamais ouvirá as tuas demasiadas gritarias.
Você nasce sozinho, e morre sozinho! Então não ache que dois é um, é só no momento, eu sei, eu lamento. Só no momento do momento desta vida. (09/11/2017)
È certo e 100% que durante nossa estada nessa vida duas coisas vão nos alcançar e por mais que estudemos, divaguemos sobre elas, estaremos desprevenidos quando nos alcançar. Quando o Amor nos alcança, acontece, não sabemos amar,,,, estamos tão preocupados em estabelecer regras pra nãos ermos machucados, pra não sofrer que não consigamos simplesmente deixar fluir, temos que aprender a amar. e a morte, ah a morte, ela também nos alcancara, mas já isso não temos como aprender, como evitar, afinal; ninguém aprende a morrer né. E desses dois acontecimentos ninguém escapa, não podemos não podemos fugir das suas garras quando é chegado o momento, pois ambos nos atacarão sem que possamos ter a mais vaga ideia de quando isso acontecerá.
"Cristo não deu e não dá vida a melancolia, pelo simples fato da melancolia ser totalmente contra a vida, ou seja, é a morte."
Quase sem vida, cabeça ao seu colo.
Fecho os olhos para não mais vê-la
com força fecho minha boca, para nem uma gota escapar.
Em um pranto doloroso me pergunta o porquê?
E dos meus olhos fechados descem lágrimas que não enxugarei, da boca fechada nascem sussurros, palavras mudas que te dediquei...
Por que a pergunta se hoje mesmo isso me pediu? Sempre lhe disse que qualquer loucura por sua felicidade faria...
Você foi o remédio, hoje optou ser o veneno.
Ás vezes eu paro e penso: - Qual o verdadeiro sentido da vida ?
Perder um ente querido é terrível, penso também no dia em que eu tiver que passar pelo sofrimento da dor e da morte. Morrer deve ser tão doloroso e assustador, a existência e realidade cotidiana por si só já é tenebrosa.
Muitas pessoas podem dizer: Mas você tem que aproveitar os momentos aqui na vida, fazer o bem e ajudar o próximo. Exatamente. Mas, e depois que tudo isso acabar?
Um ano depois
Sentimentos sombrios
Transpassados de um humor sórdido
Lembanças embebedadas no mais elevado teor alcoólico
E o cheiro a contrastar com estes meus lençóis frios
Aqui da janela, tudo parece uma pintura
Verniz escorrendo no acabamento mal feito
Feio como o conhecido pacto desfeito
Bem-vindo à famosa ausência de compostura
O sangue escorre por meu braço
Lágrimas orvalham meu rosto
No espelho só me vem desgosto
O importante é que rompi o laço.
Cortei as linhas que nos ligavam
Sequei todo sentimento
E por um feliz momento
Desejei poder não dar ouvidos a tudo que falavam.
Por vezes precisei me entorpecer para não sentir
Do meu cigarro favorito foram sete maços
Nas paredes do meu quarto vários traços
A lua me mostrava ser melhor deixar partir.
Thaylla Ferreira Cavalcante
A gente se mata um pouquinho a cada dia...
A gente se mata um pouquinho quando diz "tudo bem" quando não está tudo bem, quando está tudo péssimo e a vontade de gritar se enrola na garganta de tanta angústia.
A gente se mata um pouquinho quando pede desculpas mesmo sabendo que não estava errado, e mesmo sabendo que não se deve pedir desculpas estando certo... mas a gente pede pra ver tudo "parecer" bem... e se mata um pouquinho.
A gente se mata um pouquinho quando se põe em segundo lugar, quando se deixa sofrer pra ver a felicidade no outro. A gente se mata um pouquinho quando se deixa de lado para por o outro no centro...
E de pouquinho em pouquinho... a gente se mata por dentro.
Hoje minha avó morreu
A verdade é que foi tudo tão rápido e automático que não pensei nela
Só conseguia pensar no meu pai.
Sei que é loucura mas não consigo imagina-la morta
Pra mim ela sempre vai estar na frente da casa sentada na cadeira de macarrão proseando com os vizinhos.
Já meu pai não,
Ele está aqui e vejo os anos pesando sobre seus ombros.
Eu vi ele chegar hoje andando devagar, eu vi a dor nos olhos dele
E eu vi lágrimas que não via há muito tempo
Talvez nunca tenha visto como aquelas.
E me doeu tanto
Doeu na alma ver (incapaz de reverter) alguém que amo tanto exalando aquela dor tão real, tão intensa.
Pai tudo o que eu queria era arrancar isso de você, mas seria egoísmo demais não deixar você viver o seu luto.
O tempo tudo cura, você só precisa saber que ela está nesse momento, sentada na cadeira de macarrão, com a caixa de fumo do lado, fazendo pacientemente o próprio cigarro. Ela vai pedir um café pra depois do cigarro e vai rir de tudo isso. Daquelas gargalhadas doidas que se seguiam de um beliscão que era a forma dela dizer Te amo.
Ela está melhor que nós.
Eu te amo demais.
Eu queria que você nunca esquecesse disso.
Antigas utopias
Enquanto o frio maltrata lá fora
Cá me esquento no vazio desta imensidão
O vento assanha os meus cabelos,
O único cá inerte tem sido este coração.
Meu mundo grita e se apavora,
Porque a maquiagem já não basta para esconder
Já nem sei o que me perturba agora
Se é a monotonia ou a falta de você
Sei que nada me seria o bastante
E que a vida não tem sido muito mais
Do que uma lástima desinibida
Um filme fracassado, ainda em cartaz
Pois dentre todas as promessas
Apenas uma se cumpriu
“fico aqui, ainda que as avessas”
E ficastes, mas foi dentro de mim.
Todo o resto sucumbiu
O que me sobrou foi um punhado de entranhas
De lástimas e secreções
Destas, as mais estranhas
Sobras póstumas de velhas paixões
E se é certo não dizer,
Eu digo! Que a vida tem dessas de nos fazer inquilino
De amores onde nem se devia estar
Mas se é certo não fazer,
Eu faço! Porque pior é não amar.
Thaylla Ferreira Cavalcante (Sou nós)
Eu, morta e enterrada
Meu silêncio sepulcral
Serve de passagem
Uma espécie de ritual
A vida é renovada
A torre foi, enfim, derrubada.
Eu, descanso em paz.
As vezes a fumaça do meu cigarro tem mais peso que as lágrimas que não saem dos meu olhos.
Formam uma nuvem densa de odio,tristeza e morte.
Iridescência
O que é a vida se não um enigma
Um jogo de esgrima sem vencedor
O que é a vida se a gente não finda
De uma vez por todas o que começou
O que representa esta grande impotência
Da loucura desvairada
Que teu pai te proporcionou
E em qual esquina esteve marcada
Esta promessa que tu nunca concretizou
Nesta eloquência desvairada
Encontrei meu salvador
Entreguei a ti, tudo que de mim sobrou,
Não que fosse muito, sei, sou quase nada
Mas se nada sou, eis-me aqui entregue
Torcendo pra não ser tomada,
Ainda assim, cá estou, abandonada,
Desejando-te da alma à epiderme.
Porque sim, tenho mil amigos
Uma estante repleta de livros e Cd’s
Sim, tenho mil e um escritos,
Mas só um poema é sobre você
E este tem-me sido um companheiro incansável,
Na batalha das decepções que o presente da vida veio a ser
Desde então colmei-me de difíceis escolhas e percebi
Nada mais será bom o bastante sem a dádiva de te ter.
Nada sou perto de tua iridescência admirável.
Conheço uma única pessoa
Capaz de emanar todas as cores mesmo sem permitir
Tens sido excepcional ao ponto de me refletir.
Pois sei, é preciso arriscar pra se libertar,
Prometo estar aqui enquanto decidires ficar.
P.S: Fica!
Thaylla Ferreira Cavalcante
“Amanhã, dia de Corpus Christi. Não vou comungar, não tenho vontade, apesar da paz que sinto. A despeito das minhas dúvidas, dos meus erros, acredito, acredito. A verdadeira fé deve ser mesmo a vontade de crer, de aceitar com humildade como faço agora. É pensar: quero crer, portanto creio. Esta a força que nos leva à frente. Não se deter no pensamento do que é certo ou errado, verdadeiro ou não, mas querer com toda força, aceitar, aceitar. Mas mesmo assim, aceitando, não sei por que, não tenho vontade de comungar. Adio, adio sempre, para uma época que não sei quando, talvez quando não tiver mais tempo. Penso comigo: quando me aposentar irei diariamente à missa como mamãe, Tidoce e Dazinha faziam. Será que me aposentarei um dia? Para mim a aposentadoria é um prêmio tão esperado que chego a temê-lo. Serão dias de sol, de música, de alegria. A liberdade em parte, pois com Nonô na situação em que se acha não me é possível tê-la integralmente. Mas a liberdade exatamente como é mais bela, a liberdade que o amor dá. Não desejo nem nunca desejei a liberdade integral, desde a morte da minha mãe. Liberdade sim, mas presa pelo amor a alguém, a alguma coisa. Liberdade total para mim significa abandono, falta de amor. Preciso querer alguém, prender-me, sentir que necessitam de mim, mesmo apesar do meu receio, das minhas queixas. O que poderei fazer da liberdade total? Arrastá-la como um fardo, invejando as cadeias do amor dos outros e suspirando por elas. Sentarei num banco de praça numa manhã fria e de sol, vendo as árvores, sentindo o vento, ouvindo o vozerio das crianças que brincam, os rumores da vida meio distante através da névoa dos anos vividos. Andarei devagar pelas ruas, pisando as folhas caídas no outono, tentando adivinhas o mistério de cada casa adormecida na manhã fria. E à noite, sentada no quarto de música, ouvirei tudo que amo, olhando os quadros, os retratos na parede, pensando com doçura nos que já se foram, rebuscando na memória um som, um gesto, um sorriso esquecido no tempo.
A vitrola para e me levanto para tirar o disco. Nonô vem saindo do quarto, cheio de tinta. Vou ajuda-lo a lavar as mãos. Irrita-se porque tento enxaguar mais uma vez os dedos que ele julga limpos, me empurra, zanga-se. É sempre assim. Insisto e enxugo vagarosamente os seus dedos, tirando qualquer resto de tinta que por acaso tenha ficado, com um pano velho. Do banheiro encaminha-se para a sala de música, onde liga a televisão e senta-se na poltrona favorita. Acompanho-o me sentando também a seu lado e começamos a ver um filme onde um dos personagens num dado momento faça de inferno. Sacode a cabeça e escreve no caderno, me mostrando: “Não tem inferno, juro a você.”
Olho-o em silêncio e ele mantém o meu olhar, reafirmando com a cabeça:
- Não, não.
Estou com ele, mas quantas vezes não tenho discutido no confessionário a esse propósito! Foi mesmo origem de um desentendimento meu com um padre a quem detestei no momento. Passei muito tempo sem voltar ao confessionário, para quê? Se não admitiam que eu fosse sincera? Que me adiantava dizer que acredito na existência do inferno, se dentro de mim penso o contrário? Nonô, por exemplo, já tem o seu inferno aqui mesmo. Quase cinco anos emparedado vivo, haverá maior inferno? Nem mesmo a morte, libertação, apesar do medo que a precede.”
Vida Vida – pp. 201 e 202
