Voce foi o meu Momento Inesquecivel Amor
Aqui estou , engolindo meu orgulho novamente para lhe escrever , para deixar a caneta deslizar por si só é traduzir os tramas trasbordados e mal contidos de meu coração. Eu sinto sua falta , isso é óbvio . Mas não devia ser .
Acontece meu bem que houve lágrimas , um balde delas, mas houve risadas também . E após dez meses que você me deixou eu percebi que estava bem , estava melhor do que quando estava com você , mais viva, mais corajosa , mais mulher. Eu tinha sofrido um bocado mas depois de um tempo parou de incomodar tanto e depois de um tempo você tinha perdido tanta coisa : os amigos que fiz , os livros que li , as festas que fui , as experiências que adquiri. E após expandir meu mundo para tantas outras coisas mais importantes você foi ficando desimportante demais para caber nele .
Achou que ela iria te querer, meu bem? Ela queria, ela queria romance, ela queria flores, ela queria gestos bonitos de vez em quando. Você a machucou, tantas e tantas vezes. E agora ela quer...quer perdas e danos, quer ação de regresso, quer compensação pelo tempo que ela perdeu. E agora ela quer...quer tudo menos você
Eu gostaria de dizer como os meus olhos brilharam, que o meu coração saltou e que minha alma flutuou, flutuou no ar como um milhão de borboletas. Gostaria de explicar a sensação de ter um sonho realizado; o sonho de uma vida. Eu adoraria explicar tudo isso mas eu não posso, pois há coisas que fogem da lógica e das palavras e não conseguem ser explicadas, só sentidas , sentidas como o sopro do vento no rosto e a água do mar na pele.
Ele riu de uma maneira deliciosa e isso fez meu peito ficar em fogo, como se fosse uma fera selvagem que eu tentasse domar. Eu ia repreender minha felicidade boba mas me contive. Há quanto tempo eu estava repreendendo minha felicidade e não a deixando ser plena, ser livre, flutuar nos céus como balões ? A vida era muito curta e talvez um amigo meu estivesse certo quando disse que devemos nos permitir sentir, deixar o coração ser selvagem, como na música do Belchior, e se libertar das amarras da razão.
Eu tinha tanta coisa para te contar: contar do meu novo emprego, contar da venda de livros que está indo bem, da faculdade, das festas loucas que fui, das pessoas maravilhosas que tenho conhecido...Poderia passar muito tempo contando tudo isso, mas não tenho vontade de te contar nada, pois você já não é importante para mim. Você foi como um rio que passou, e todas as emoções se evaporaram como água, e a poesia, os versos que guardei para você congelaram em minhas veias e em meu coração...Ou talvez tenha sido você que congelou todos esses sentimentos e versos em mim, quando me tratou da maneira que tratou.
Meu amigo riu da minha timidez, do meu sotaque, da minha confusão e da minha mania de tropeçar nas palavras. No fundo eu não sei se sou eu que tropeço nas palavras ou são elas que tropeçam em mim, mas em todo caso,esse nosso tropeção gera lindas histórias, belas poesias e uma porção de sentimentos fragmentados, como pétalas de flores espalhadas pelo ar.
13 de março
Meu querido Rick, eu nem sei porque estou te escrevendo. Talvez a saudade tenha se confundido no meu coração e eu lhe escrevi ao invés de anotar simplesmente minhas desilusões e dramas no diário, como uma veia que se perdeu a caminho do cérebro e foi parar no coração. Talvez seja isso que tenha acontecido comigo, porque estava aqui estudando Português e de repente lembrei de você e fiquei toda boba e sentimental. Talvez seja a música que toca no rádio; “Aqui”, do Capital inicial. Mas talvez a cupla não seja só da música e sim desse pôr do sol maravilhoso e da própria matéria de português, que me leva a conjugar verbos e consequentemente, escrever. Eu achei que o nosso verbo era amar, mas talvez não seja. Talvez meu verbo seja sofrer. Mas eu não me importo em fingir, e vou fingindo que você me ama e conjugando: “eu amo, tu amas, ele ama, nós amamos, vós amais, eles amam”, como uma melodia só minha, uma música esquecida nas beiradas do meu coração, mais ou menos no lugar onde minha saudade está armazenada. “Eu amei, tu amaste, ele amou, nós amamos, vós amastes, eles amaram”. E eu queria te contar como anda tudo na Dornelly. Se você soubesse como tudo foi difícil ano passado! Mas não vamos falar de coisas tristes, porque de triste já resta nossa história. Agora já está tudo ok na escola, e tenho até amigos e estou bem, tentando me virar com as aulas à tarde, as provas, o curso de inglês e a catequese, mas em meio a isso tudo consigo me virar. E eu lhe desejo felicidade e uma porção de coisas boas. Desejo que você ame, mesmo que seja a Deise, mesmo que seja outra garota que não seja eu, porque é isso que a gente faz quando ama; deseja que a pessoa seja feliz acima de tudo, mesmo que a felicidade não inclua você. E assim vamos seguindo, querido. “Eu amarei, tu amarás, ele amará, nós amaremos, vós amarás e eles amarão”. E eu te amei, te amarei e te amo.
Audrey P. B
Meu professor dizia que "a vida não é um croissant", e eu sei que não é mesmo, sendo sempre doce e saborosa, com os problemas se dissolvendo como areia, nada disso . A vida é mais semelhante a um sorvete, sendo maravilhosa, épica, mas passando rápido demais e derretendo nos momentos mais importantes, em que o coração é leve, as risadas altas e os compromissos quase não existem, como nas férias. Mas por ser efêmera e fugidia é que é bela e peculiar, e deve ser aproveitada, antes que passe num piscar de olhos.
Que me perdoe o bom inglês, mas meu coração bate em português! Há momentos e lugares que devem ser admirados e sentidos, como o vento que vem do Pacífico e renova a alma, a geada que congela a grama nas manhãs de inverno, o rio que corre selvagem por baixo das montanhas e as luzes que brilham ao norte. "A beleza é fundamental" já dizia Vinícius de Moraes. Bem, que me perdoe o poeta, mas devo interferir na frase e dizer que "a beleza é frágil, efêmera e fundamental". Há tanta beleza no Canadá e tanta beleza no Brasil! Eu acho que não se trata de um lugar ser mais bonito que o outro, se trata apenas de ter aquele olhar estrangeiro, ter essa capacidade de olhar as coisas como se fosse a primeira vez que as vê, com os olhos limpos e a alma renovada. Acho que só assim é possível sermos mais humanos e menos máquinas, sé assim é possível sentir...
Eu queria dizer a ele...queria dizer que ele tinha meu telefone, meu e-mail, meu Instagram se ele quisesse entrar em contato. Queria dizer que ele é extremamente sexy, até no sábado de manhã, enquanto eu estou um bagaço pela manhã e não funciono antes de duas xícaras de café, pois eu sou uma criatura noturna. Por fim, eu queria frisar que é claro que ele pisou na bola, e fez isso de maneira muito idiota, muito boba, mas que eu acreditava no duplo grau da jurisdição e no in dubio pro reo, e eu estava disposta a dar uma segunda chance a ele se ele quisesse, se ele me quisesse.
Ver meu nome naquela lista valeu mais que qualquer beijo de qualquer garoto,mais que qualquer viagem que eu fiz, que qualquer paixão, e valeu cada uma das festas que deixei de ir para ficar estudando. Porque eu passei toda minha vida me escondendo,como uma lagarta em um casulo, achando que todo mundo era mais capaz, mais bonito e mais inteligente que eu, merecendo mais do que eu o amor, a felicidade e o sucesso. Mas algo mudou quando eu vi meu nome naquela lista de aprovados,algo que eu não entendo muito bem ainda, como se eu merecesse a vitória, e a merecesse mais do que ninguém.Então eu percebi que não sou a lagarta no casulo, eu sou a borboleta, uma borboleta que se esconde tanto que aos olhos dos outros parece uma lagarta, mas no fundo eu sou uma borboleta que está aprendendo a voar...
Sabe o que percebi ontem? Eu não sinto mais ressentimento em relação à Bia e em meu coração, de algum modo, não sei como, não sei quando, eu encontrei uma forma de perdoá-la, pois quando eu estava agoniada em relação ao meu relacionamento foi tão fácil conversar com ela e contar tudo.Ela me perguntou: "Você está apaixonada por ele? Se você vir que isso não vai dar em nada, pule fora antes de sofrer". Eu não soube responder o questionamento dela, mas me senti grata pelo conselho. Então hoje eu poderia ter ficado em casa, sabe? Mas eu senti que precisava ir, porque hoje era o dia em que ela apresentaria o TCC e eu de alguma forma senti que precisava estar lá, que precisava estar lá por ela. Isso soa um pouco bizarro, não? Depois de tudo que aconteceu entre nós...Mas eu fui, tentei acalmá-la, fiquei ao lado dela a noite toda e quando todos a aplaudiram , eu aplaudi também e senti orgulho dela. Foi nesse momento, com a chuva de aplausos que eu percebi como eu queria, mais que queria, como eu precisava estar ali por ela, como me orgulhava dela e como eu a tinha perdoado, como em meu coração eu encontrei essa forma secreta e silenciosa de perdão. Eu sei que nossa amizade talvez nunca mais volte a ser o que era, aliás, eu duvido que volte, mas o importante é que eu a perdoo, de todo meu coração eu a perdoo!
Meu querido F, Supostamente, eu não deveria estar lhe escrevendo, pois lhe escrever é lhe entregar uma parte da minha alma, uma parte de minha sensibilidade, no entanto, acho que você merece isso , merece ao menos uma carta, e eu espero sinceramente que seja só uma. Agora que acabou eu posso gritar as palavras que me sufocavam, agora que acabou eu posso me permitir engolir esse nó que estava se formando em minha garganta pouco a pouco. Eu sei sobre sua ex. Eu sei que vocês voltaram a ficar e que é questão de tempo até reatarem o namoro. Eu poderia me fazer de sonsa, de desentendida e fingir acreditar que é sua mãe que está ligando quando toca seu celular , mas eu não sou esse tipo de garota, me desculpe. Eu estou, admito, dividida entre a serenidade e a descrença, pois enquanto uma parte minha deseja que você seja feliz , outra parte apenas aguarda para ver quanto tempo esse relacionamento vai durar dessa vez, quanto tempo ela vai demorar para colocar outro chifre em você. Eu sei que é arrogante de minha parte, mas seria divertido ver você quebrar a cara ao perceber que escolheu a garota errada. Porque a garota certa sou e sempre serei eu, mas quando você perceber isso será tarde demais para flores e bombons, tarde demais para você tentar agir como um cavalheiro, tarde demais para me amar. A verdade é que você nunca soube me cativar, nunca soube falar a minha linguagem do amor, pois eu sou feita de versos, eu sou feita de poesia e eu merecia amor. O fato é que eu não me permiti te amar e se você me perguntar o porquê disso eu não sei explicar para mim mesma. Talvez no fundo eu soubesse que você não era o suficiente para mim e nunca seria. Eu acho que é isso, eu sabia que você nunca seria extraordinário o suficiente para se encaixar na minha vida e no meu coração. Talvez também eu tenha me tornado uma pessoa amarga ao longo dos anos e não me permita amar mais ninguém... eu não sei. O que eu sei, ou que gostaria que você soubesse, mais precisamente falando, é que eu acho você um cara legal, inteligente e decente- de longe , o mais decente com quem já me envolvi- mas você está fazendo um papel de otario nesse momento. Eu queria que você soubesse que se porventura a gente namorasse eu não iria restringir sua liberdade como ela faz, pois eu acho que o amor tem que ser livre para ser amor e do contrário é prisão domiciliar , é regime fechado, é prisão preventiva, é medida cautelar, mas não é amor. Eu espero que você encontre o que está procurando e lhe desejo sorte nos dias que virão. Por fim , quero que saiba que é você quem decide se isso pelo que estamos passando são reticências ou um ponto final, pois eu acredito no princípio do in dúbio pro reo e concedo o benefício da dúvida e uma segunda chance, mas jamais uma terceira. -de sua meio amiga e meio amor, Audrey.
Então há poucos minutos eu larguei meu livro e me sentindo um tanto quanto sozinha, vim escrever em você, diário, pois toda vez que me sinto sozinha você consegue preencher essa solidão, ou eu mesma preencho minha solidão com palavras e algo de vazio em mim de repente torna-se cheio e não me sinto mais tão triste. Eu contive minha vontade de escrever ao Rick, também, pois toda vez que sinto a saudade apertar eu escrevo a ele, e isso faz com que eu me sinta melhor, mesmo que ele nunca vá ler essas cartas. No entanto, escrever a ele é amá-lo cada vez mais, é perpetuar esse amor em suas páginas, é me machucar profundamente e eu não quero mais isso. Basta! Tem que bastar de uma vez por todas! Agatha Christie menciona em “A Morte no Nilo” que: “ O que importa é o futuro, não o passado”. Eu sei que o passado faz parte de nós, que nos tornou quem somos hoje, mas o fato de ele ser importante não significa que devemos viver acorrentados a ele, não é mesmo? Eu estou acorrentada ao Rick por correntes invisíveis que eu mesma criei ao longo dos anos e isso não está certo, não é saudável para mim. (Anseios de uma jovem escritora)
Meu querido Rick, sei que não escrevo há muito tempo, e eu inclusive deveria tomar juízo e parar de escrever estas cartas bobas. Hoje, no entanto, estou aflita e precisei escrever para não sufocar com minhas preocupações. A prova de matemática é amanhã e por mais que eu tenha passado a semana estudando, não sei se saberei resolver as questões. Eu não sei lidar com ângulos, formas geométricas e raízes quadradas juntos e misturados em uma questão. Pensando bem, eu não sei nem lidar com eles individualmente. Acontece que eu não sou feita de números e lógica, nada disso. Eu sou feita de palavras, de advérbios que intensificam, de substantivos que explicam, de verbos que dramatizam, e de pronomes que apresentam, demonstram e captam todo amor que eu sinto por você. Sinto-me neste momento banhada de luz pelo sol que se põe e pelas listras azuis e rosas que se formam no céu da tarde. Imagino se você está olhando para o céu agora, mas creio que não...você deve estar flertando com uma garota qualquer, comemorando um gol ou andando de bicicleta na avenida em alta velocidade e de braços abertos para mostrar que você é destemido. Você deve estar tendo uma vida incrível, cheia de amigos, de novidades, e eu estou perdendo essa parte da sua vida. Cada dia que passa, uma nova página da sua vida é escrita, cada mês, um capítulo, cada ano, um novo livro, e eu vou sendo deixada para trás, e o garoto que eu conhecia vai ficando no passado e eu vou deixando de conhece-lo, de reconhece-lo, de entende-lo, como se eu fosse uma leitora voraz tentando ler todos os capítulos da sua vida, mas sempre acabo ficando para trás, em algum canto esquecido de sua história, de sua memória.
Fico pensando se eu te encontrasse por acaso na rua um dia, em uma dessas reviravoltas do destino, eu fico me perguntando se eu te reconheceria e se você me reconheceria. Uma parte do meu coração me diz que eu sempre vou te reconhecer em qualquer lugar do mundo, em qualquer situação, mas será mesmo? Será que você mudou tanto quanto eu sinto que mudei? De qualquer modo, eu lhe desejo sorte na sua vida e jogo mil beijos às estrelas, como se elas pudessem entrega-los a você...
-Annie.
(Anseios de uma jovem escritora)
23 de fevereiro
Meu querido Rick, eu sei é tarde, pois já passa da meia noite, mas me perdoe a má- caligrafia, me perdoe o sentimentalismo. É que sentimentalismo é meu nome do meio e não consigo ficar séria quando penso em você e quando a música “When you´re gone”, da Avril toca, pois ela me faz lembrar de você e de todos os sentimentos que transbordam por meu coração a ponto de eu não conseguir contê-los, a ponto de eu precisar escrever para não sufocar. Os anos longe de você parecem décadas e me sinto perdida quando penso que já faz tanto tempo, que você tem outra, que é tarde e estou perdendo meu tempo escrevendo em vão, que esse amor é sem esperança e sem futuro, e que eu te amo, te amo, te amo de forma enlouquecedora e esse amor me queima de dentro para fora, fazendo com que eu não consiga amar outro além de você. Perdoe esses versos sem sentido, perdoe o meu amor, embora talvez, quem sabe, você riria dele se soubesse. Você sairia anunciando aos quatros cantos que te amo e como sou insana, e talvez você tivesse razão pois eu me sinto cada vez mais insana conforme o tempo passa e deixo de estudar e construir meu futuro olhando as estrelas e pensando desiludida em você, e às vezes me acho tão idiota e débil…Eu estou tendo um ano bom, todavia, minha melhor amiga foi embora e isso me faz ficar ainda mais triste, e até as aulas estão sem graça sem ela. Eu sou um tal qual uma mocinha de filmes antigos; frágil, doce e sentimental, e tenho medo de não conseguir encarar os desafios que a vida me impõe, contudo, até agora estou indo bem, estou lidando super bem com as aulas, com meus compromissos do dia a dia, com a adolescência, e olha que a adolescência não é fácil! Devo dizer que estou amando estudar as orações coordenadas e subordinadas na aula de português, embora isso não seja novidade, pois eu amo português! Eu não deixo de sorrir toda vez que a professora Rosa entra na sala e nos explica uma nova classificação de orações, ao mesmo tempo em que meus colegas sentem vontade de pular da janela sem hesitar. Quem sabe nem todos consigam compreender o amor, a magia, a poesia que brota nas entrelinhas… Queria saber como você está e quem sabe vê-lo um dia, mesmo que de longe, só para servir de alento, só para dar uma folga para essa saudade que sufoca. Talvez se eu fizer um pedido a uma estrela, ela atenda meu desejo e permita que eu te veja, mesmo que de longe, como aquele dia na sexta-serie, aquele breve momento de doçura. Eu me subordino a você como uma oração sem sentido, sem complemento, pois meu complemento é você e sem você estou fadada a vagar por aí como uma oração subordinada, que não é totalmente clara, que depende de outra, que depende de algo, que depende de você. Sei que isso é errado, mas é a realidade, e é provável que o que eu queira te dizer com esse momento de prolixidades seja apenas isto: eu sinto sua falta.
-Annie.
(Anseios de uma jovem escritora)
Era surreal estar na Grécia com o mar egeu ao meu redor, as pessoas falando “kalimera” nas ruas, as praias paradisíacas, as colunas do partenon, a mitologia e a história se espalhando no ar com o giro do vento. Se eu estivesse na França, na certa me sentiria parte de um quadro de Renoir, mas eu estava na Grécia e me sentia parte de um cartão postal, um daqueles com uma linda moça sorridente de vestido, e ao fundo, as construções brancas e azuis de Oiá. Eu sou a moça do cartão postal e ela é feliz, extremamente mais feliz a cada dia que passa, e ela ri, ela quebra pratos no chão enquanto dança
“ Sirtaki” , ela vira um copo de raki e admira a glória do Partenon. Ela sobe as escadas de Santorini, nada no mar Mediterrâneo, se ajoelha perante o templo de Zeus, ela tem a persistência de uma espartana , ela é abençoada por Apólo.
Coloquei música no meu ipod e uma melodia suve me invadiu. Garoava lá fora e a cidade parecia levamente cinzenta. Pessoas andavam na rua apressadas com seus guarda-chuvas enquanto Edu Lobo e Tom Jobim cantavam “Luiza” no meu ipod fazendo eu divagar e pensar em como seria morar ali, se seria caótico, se seria mágico, se as pessoas liam Erico Verissimo e ouviam Tom Jobim, como eu. A chuva caía suavemente escorrendo pelo vidro da janela e uma moça corria segurando um guarda-chuva vermelho. Eu achei a imagem digna de um quadro e se eu fosse artista eu pintaria um quadro, mas eu sou escritora, então escrevo, então descrevo. Descrevo como o guarda-chuva revolto se agitava com o toque do vento, de como a garoa aos poucos queria se transformar em uma chuva. Descrevo como um sol preguiçoso se escondia atrás da névoa... fui tomada de uma onda de suavidade e eu tive me segurar para não cutucar Josh no banco da frente e mostrar a música que eu ouvia e dizer como era bonita, como era poética. Eu queria dizer que o cenário lá fora combinava perfeitamente com a música e como daria um belo quadro, uma bela canção, um belo poema. Eu queria dizer tudo isso, mas me detive. Ele certamente acharia que eu era idiota. Eu não sei dizer diário porque pensei em cutucar Josh e falar para ele sobre bossa nova e sobre poesia aquela hora da manhã. Não sei explicar logicamente a mim mesma porque entre tantas pessoas ali no ônibus eu pensei em Josh. Não sei dizer porque eu pensei que certamente ele seria a única pessoa no mundo que poderia entender, que poderia me entender. Pensei que nenhuma de minhas amigas entenderia aquele momento de sensibilidade em que a chuva caía suavemente e como a música corria por minha mente, levando-me com ela. Nenhuma de minhas amigas entenderia pois elas jamais teriam a sensibilidade suficiente para isso, para sentir a música e a poesia correndo pelo corpo como chuva, mas eu pensei que Josh entenderia e não sei dizer ao certo porque tive essa sensação naquele momento.
23 de dezembro
Meu querido Rick, por muito tempo hesitei se deveria lhe escrever de novo pois desde que percebi que o amor que eu tinha por você cessou pareceu-me inútil lhe escrever. No entanto, eu preciso lembrar que te amei por quatro longos anos e por isso creio que eu lhe deva pelo menos isto: uma carta de despedida.
Eu queria dizer que eu te amei vagarosamente, pouco a pouco, pelos detelhes, pela gentileza, pela forma doce como você me acolheu quando eu comecei a estudar com você na quarta-série, apresentando os colegas e os professores e se oferecendo para me acompanhar até em casa. Eu te amei quando você elogiou minha tiara cor-de-rosa e por isso eu passei a usar tiara todos os dias. Creio que todas as meninas fiquem bonitinhas de tiara aos 10 anos, mas na minha mente eu era a mais linda pois você disse que eu era e eu acreditei. Eu te amei quando você me trouxe um bombom e quando pediu para ficar comigo na quinta-série. Eu te amei em cada detalhe de uma maneira doce que era só minha, por isso eu tinha medo que qualquer pessoa estragasse esse sentimento. Eu tive medo que alguém interferisse nesse meu sentimento e tornasse ele amargo. Talvez tenha sido por isso que eu odiei tanto a Tati: ela poderia vir a ser uma ameaça. A Tati sempre foi bonita e a maneira como você a olhava me irritava tremendamente. Eu lembro como eu subia nas árvores da escola na quarta-série para ficar olhando para você. Lembro de como fiquei assustada um dia em que a bola ficou presa na árvore em que eu estava e você foi lá para pegar. Meu coração parecia que ia se explodir em milhões de pedacinhos! Eu fui te amando pouco a pouco, de grão em grão, e quando vi, Rick, eu estava apaixonada! Eu surtei quando mudei de escola pois iria ficar longe de você e não ver você todos os dias parecia que ia me destruir. Meses passaram, depois anos e eu fui te amando em palavras, fazendo você reviver em meus versos, em minhas lembranças, como um artista que pinta uma paisagem bonita que viu para nunca esquecer dela. Eu te amei em versos, eternizei sua memória em meu coração e passei a sonhar com o dia que eu fosse te ver, que fosse falar com você. Eu sonhava com o dia em que você acordaria e se daria conta que sempre me amou e que essas meninas vulgares não fazem nem nunca fizeram seu tipo. Eu queria dizer que te agradeço por toda gentileza da quarta-série, pelo bombom e por todo afeto que me dedicou, mesmo que sob o meu ponto de vista esse afeto nunca tenha sido suficiente. É engraçado o desenrolar dos capítulos da nossa vida, você não acha? Parece que as coisas acontecem como devem acontecer, Rick, porque quando finalmente você me procurou e pediu para ficar comigo eu de repente não queria mais você. Eu não entendi na época qual era o problema comigo e porque de repente eu não te queria se na minha mente eu te amava perdidamente! Mas a verdade é que eu já não te amava há algum tempo, Rick. Eu amei a lembrança, eu amei o quadro, eu amei a paisagem, eu amei a rosa da primavera que murchou no inverno. Eu amei aquele Rick, aquele Rick que eu conheci na quarta série que era gentil! Isso não quer dizer que você não seja uma boa pessoa, por favor não me entenda mal! O que eu quero dizer é que eu amei a sua lembrança e não propriamente você. Quando finalmente conversamos, eu percebi que você era tão diferente! Pode ser que você tenha tido a mesma impressão de mim, quem sabe, mas o fato é que eu não te reconheci como a pessoa que eu amava e de repente, Rick, eu não queria ficar com você porque eu já não amava você. De repente, sem eu perceber, sorrateiramente, alguém havia entrado no meu coração e ocupado o lugar que anteriormente era seu. Nem eu percebi quando ao certo isso aconteceu. Na verdade, a paixão não é um marco histórico, um evento que você sabe exatamente quando ocorreu e de que maneira. A paixão é como o vento, que vem sorrateiro até você, vindo não sei de onde, não sei porquê e quando você percebe, tornou-se uma ventania. Certo estava Camões, quando disse: “Ah o amor... que nasce não sei onde, vem não sei como, e dói não sei porquê”. O amor é uma ventania que chega sorrateiramente e te leva com ela sem você perceber, Rick. Eu fui levada pelo vento e quando percebi meu coração acelerava quando eu chegava perto do Josh. Quando me dei conta, eu queria ficar falando com ele por horas e horas sobre discos e livros sem razão aparente. Ele me deixa desconcertada. Ele me deixa acelerada e muito nervosa. Quando eu me dei conta que meu coração não acelerava mais por você e sim por ele foi como se eu encaixasse uma peça faltante no quebra-cabeças da minha vida e tudo fizesse sentido. Veja bem, eu nem gosto de quebra-cabeças; eles me irritam pois eu sempre sou muito lerda para montar, porém devo dizer que quando eu encaixei essa última peça do quebra-cabeças que é a minha vida tudo serenou. Eu não sei se você sabe o que é amar alguém e como é sentir o nervosismo, o coração acelerado, o panapaná de borboletas do estômago, mas eu desejo que um dia você saiba, Rick. Eu desejo que um dia, subitamente, como em uma armação do destino, você encontre uma garota que te faça perder a fala, que te deixe constrangido, que vire seu mundo do avesso! Eu desejo que ela te ensine a amar, Rick. Talvez um dia certo? Sei que você não acredita no amor e a maioria dos garotos na sua idade não acredita, mas eu acredito no amor, Rick. Eu acredito que o amor é esse sentimento doce e mágico que nos eleva, nos transborda e nos consome. Espero que um dia você entenda. Então eu lhe desejo toda sorte do mundo e que você tenha uma vida maravilhosa e realize todos os seus sonhos.
Com amor,
-Annie.
(Anseios de uma jovem escritora)
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