Vestido de Noiva de Nelson Rodrigues

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ACORDAR VIVER

Como acordar sem sofrimento?
Recomeçar sem horror?
O sono transportou-me
àquele reino onde não existe vida
e eu quedo inerte sem paixão.

Como repetir, dia seguinte após dia seguinte,
a fábula inconclusa,
suportar a semelhança das coisas ásperas
de amanhã com as coisas ásperas de hoje?

Como proteger-me das feridas
que rasga em mim o acontecimento,
qualquer acontecimento
que lembra a Terra e sua púrpura
demente?
E mais aquela ferida que me inflijo
a cada hora, algoz
do inocente que não sou?

Ninguém responde, a vida é pétrea.

O avesso do meu amor é esperança.
Assim como o avesso do amor divino é orfandade.

Pergunte pro seu Orixá, amor só é bom se doer.

Há em cada adolescente um mundo encoberto, um almirante e um sol de outubro.

Machado de Assis
Dom Casmurro (1899).

Se o ciúme é sinal de amor, como querem alguns, é o mesmo que a febre no enfermo. Ela é sinal de que ele vive, porém uma vida enfermiça, maldisposta.

São demais os perigos desta vida. Para quem tem paixão, principalmente.

Vinicius de Moraes

Nota: Trecho do poema "Soneto de Corifeu", de Vinicius de Moraes

Quando acende o lampião, é como se fizesse nascer mais uma estrela, mais uma flor. Quando o apaga, porém, é estrela ou flor que adormecem. É uma ocupação bonita. E é útil, porque é bonita.

Outro dia me pus a pensar que sou semelhante
às mulheres da literatura de Érico Veríssimo,
as mesmas que enquanto os homens ocupavam da guerra,
elas se ocupavam do tempo e do vento.
Eu não tenho muitas definições a meu respeito;
apenas respeito a dor de cada hora,
a esperança de cada momento.
E se isso me define, então sou a dor que sabe esperar.
(...) Enquanto houver vida, as possibilidades existirão.
Cada um se ocupa do que pode.
Eu ainda me ocupo das mesmas esperanças que
as Mulheres de Atenas(...)

Padre Fábio de Melo
Mulheres de Aço e de Flores

Elimine a causa que o efeito cessa.

Podemos ser instruídos com o conhecimento de outro, mas não podemos ser sábios com a sabedoria de outro.

O sonho é uma fresta do espírito.

Machado de Assis
Memórias Póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Typografia. Nacional, 1881.

Nota: Trecho condensado do original.

...Mais

Quanto mais nos aproximamos de um princípio universal, mais vão ficando para trás e cada vez mais longe as realidades concretas cuja explicação buscávamos. E, ao voltarmos do topo, às vezes parecemos ter perdido de vista o propósito da viagem. O momento do reencontro passa, e nada nos resta nas mãos senão o enunciado abstrato e sem vida de um princípio lógico, que é a recordação melancólica de uma universalidade perdida. É preciso, portanto, descer novamente do princípio às suas manifestações particulares, e depois subir de novo, e assim por diante. De modo que a alternância sim-não, verdade-erro, que constitui para nós o início da investigação, é finalmente substituída pela alternância alto-baixo, universal-particular. Passamos, assim, da oscilação horizontal para a vertical. E é justamente o despertar da capacidade de realizar em modo constante esta subida e descida, que constitui o objetivo de toda educação tradicional.

A tristeza é uma telha quebrada na casa da nossa vida, mas a esperança é um cobertor que nos protege.

Quem escapa do perigo vive a vida com outra intensidade.

Machado de Assis

Nota: Trecho adaptado de outra frase.

O mundo meu é pequeno, Senhor.
Tem um rio e um pouco de árvores.
Nossa casa foi feita de costas para o rio.
Formigas recortam roseiras da avó.
Nos fundos do quintal há um menino e suas latas
maravilhosas.
Seu olho exagera o azul.
Todas as coisas deste lugar já estão comprometidas
com aves.
Aqui, se o horizonte enrubesce um pouco, os
besouros pensam que estão no incêndio.
Quando o rio está começando um peixe,
Ele me coisa
Ele me rã
Ele me árvore.
De tarde um velho tocará sua flauta para inverter
os ocasos.

Manoel de Barros
BARROS, M. Poesia Completa. São Paulo: Leya, 2011.

A palavra que vem do pensamento sem saudade
não ter contentamento
ser simples como o grão de poesia
e íntimo como a melancolia

Sofremos por quê? Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções irrealizadas.

Que os segredos, amiga minha, também são gente; nascem, vivem e morrem.

Machado de Assis
Esaú e Jacó (1904).

Só as grandes paixões são capazes de grandes ações.

Machado de Assis
Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881).

Ouça-me este conselho: em política, não se perdoa nem se esquece nada.

Machado de Assis
Quincas Borba (1892).