Versos de Comedia
Sorrir para curar a dor, sorrir para sentir calor, assim aos pés do redentor, disface em cada saudade, faça do sorriso forma de amor e esse amor vai trasnformar-te.
Feliz é o destino da inocente vestal, esquecida pelo mundo que ela esqueceu, brilho eterno de uma mente sem lembranças!
A natureza é racional e revelará seus segredos àqueles que aprenderem a ler e a entender sua linguagem.
Às vezes, eu me perguntava se aquilo não era um mecanismo de defesa, já que a única maneira que encontrou de lidar com sua vida foi fingir que não era com ele que aquelas coisas estavam acontecendo.
Amor... e Morte...
O amor
é como a morte
ato banal de todo dia...
Emoção forte
de tristeza ou de alegria,
ele sempre nos surpreende, e a ele nunca nos acostumamos
talvez...
O amor é como a morte:
quando amamos
é sempre a primeira vez.
A BICICLETA
Me lembro, me lembro
foi depois do jantar, meu avô me chamou,
tinha um riso na cara, um riso de festa:
- Guilherme, vou tapar seus olhos,
venha cá.
Os tios, os primos, os irmãos, na grande mesa redonda
ficaram rindo baixinho, estou ouvindo, estou ouvindo:
- Abre os olhos, Guilherme!
Estava na sala de jantar, junto da porta do corredor,
como uma santa irradiando, num altar,
como uma coroa na cabeça de um rei,
a bicicleta novinha, com lanterna, campainha, lustroso selim de couro,
tudo.
Me lembrei hoje da minha bicicleta
quando chegou a minha geladeira.
Mas faltou qualquer coisa à minha alegria,
talvez a mesa redonda, os tios, os primos rindo baixinho,
– abre os olhos, Guilherme!
Oh! Faltou qualquer coisa à minha alegria!
Soneto à tua volta
Voltaste, meu amor... enfim voltaste!
Como fez frio aqui sem teu carinho....
A flor de outrora refloresce na haste
que pendia sem vida em meu caminho.
Obrigado... Eu vivia tão sozinho...
Que infinita alegria, e que contraste!
-Volta a antiga embriaguez porque voltaste
e é doce o amor, porque é mais velho o vinho!
Voltaste... E dou-te logo este poema
simples e humilde repetindo um tema
da alma humana esgotada e envelhecida...
Mil poetas outras voltas celebraram,
mas, que importa? – se tantas já voltaram
só tu voltaste para a minha vida...
(Do livro "Eterno Motivo" " - Prêmio Raul de Leoni, da Academia Carioca de Letras - 1943)
Quando chegares...
Não sei se voltarás
sei que te espero.
Chegues quando chegares,
ainda estarei de pé, mesmo sem dia,
mesmo que seja noite, ainda estarei de pé.
A gente sempre fica acordado
nessa agonia,
à espera de um amor que acabou sendo fé...
Chegues quando chegares,
se houver tempo, colheremos ainda frutos, como ontem,
a sós;
se for tarde demais, nos deitaremos à sombra e
perguntaremos por nós...
Capricho da memória:
de tantos momentos em que te vejo
e em que no meu pensamento
tua imagem se insinua,
havia de fixar-te, naquele íntimo instante
em que mais te desejo:
inteiramente nua!
Noturno n.º 1
Pela madrugada o rádio põe em surdina
um fundo musical de filme
em meu desespero.
E a serenidade da noite, impassível,
com sua felicidade de luar e estrelas
me faz mal,
parece afrontar meu desejo impossível
e ainda me torna mais triste, mais sentimental...
Você está em todas as formas do pensamento
E no pensamento que conforma todas as coisas...
Em vão tento fugir com a música, tento evadir-me com a noite,
em vão!
Você é a música, a noite, você é tudo!
É a própria forma e o conteúdo
Da minha solidão...
Manhã para se feliz
Esta é uma manhã para ser feliz
em um lugar, de algum modo,
é uma manhã para ser feliz...
Esta é uma manhã para dois, para dois juntos
abraçados e tontos, num remoinho
não como nós, eu aqui, diante do sol, das árvores,
de tudo envergonhado porque estou sozinho...
Esta é uma manhã que me fala de ti, nas nuvens,
na transparência do ar,
neste azul do céu, imaculado,
na beleza das coisas tocadas de sonho
e imaturidade...
Uma manhã de festa
para ser feliz de verdade!
Esta é uma manhã
para te Ter ao meu lado...
Quando Deus fez uma manhã como esta
estava com certeza apaixonado...
Noturno
Agora, à noite, fujo às vezes
e aporto em algum bar
Como antigamente.
Marinheiro do amor, de porto em porto,
a vida como um navio, de mar em mar...
Pensei que tinha lançado ancora,
que plantara raízes,
que não partiria mais.
E de repente, desarvoraste meu destino,
e te foste
- volto a ser o antigo marinheiro -
e sozinho, preciso embebedar-me,
agora num navio encalhado,
sem mar...
