Versos Curtos de Amor Ciumes
Tô resolvendo umas coisas aqui, tentando arrumar o que está errado, está mais do que na hora. Achei necessário, por exemplo, abrir mão de algumas pessoas para me aproximar de outras. Tem gente que atrapalha um pouco a caminhada.
Não demora muito e eu canso, procuro defeito onde não tem ou me empolgo demais. Eu meio que estrago as coisas.
Lá fora o mundo te maltrata. As pessoas te olham torto, te empurram nas filas, não te respeitam dentro dos ônibus, te xingam nas esquinas, procuram bater boca por besteira. Parecem um bando de animal que não deu muito certo. Eu fico na minha, mal me movo. Não sei mais lidar com pessoas.
De todos os tipos de pessoas que conheci, das mais talentosas, complicadas e intensas, e que de alguma forma modificaram meus conceitos, eu sempre gostei mais daquelas que sabem nos tocar sem nem precisar encostar um dedo; só pelo olhar, pelo silêncio. Sempre gostei das que entram inteiras quando a gente já se acostumou ou se contentou com metades.
Chorei desesperadamente ao sair daquele lugar. E chorei ainda mais quando cheguei em casa e lembrei daquilo tudo que tinha acontecido.
E aí depois daquele dia, eu não o procurei mais. Não estava a fim de bancar o compreensível. Preferi evitar conversa.
E principalmente à noite, antes de dormir, fico pensando que nunca mais vai acontecer de novo, que durou muito pouco, e que vai ficar marcado para sempre.
Uma gente que esquece da outra com facilidade. Que se diz amiga, mas some no momento exato que você precisa.
Agora, mais do que nunca, eu precisava ir adiante. Precisava ir além desses pensamentos mesquinhos e limitados.
Acordei muito bem hoje. Muito decidido, irreconhecível, confiando em mim pra valer. Eu estou entrando em outro ciclo, depois de ter passado por dias escuros, bastante dolorosos. Então, só pra que ficasse mais claro, abri todas as portas de casa, deixei o que não era pra ser sair pelas janelas. Estou com uma sensação de que, pela primeira vez na vida, as coisas estão começando a dar certo.
Ali, naquela chuva, quando os olhos de um se encontraram nos olhos do outro, perceberam que se esperavam por muito tempo, por vidas talvez.
Sabe aquela vontade de amar o que realmente importa? Então, é disso que eu estou falando. Nas últimas semanas eu mudei muito, passei a ter mais orgulho de mim.
E tive que prender várias vezes a vontade de chorar. Ainda tento. Mas, às vezes, é tão forte que eu agarro o travesseiro, à noite, e choro, choro e choro muito, até que uma hora, quem sabe, eu pegue no sono.
Eu não o culpo mais. Na verdade, nem sei se ele teve realmente culpa por tudo isso. Só sei que, às vezes, me lembro dele. E não sinto mais aquelas dores de antes. Não sinto raiva, nem saudade. Não fico mais triste e nem perdido. Só permaneceu a certeza que eu sempre tive: uma hora o tempo iria passar.
De todos os rapazes que eu tinha visto ali, naquela manifestação, ele era o mais entregue, parecia um filósofo platônico, sabia se portar, tinha umas coisas que fazia a gente não tirar os olhos. E quando o vi, em meio àquelas fumaças de gás lacrimogêneo, mesmo sendo tudo muito rápido e assustador, tive certeza de que havia sido feito unicamente para ele.
Na pior (ou melhor) das hipóteses, não diga. Mesmo que ele demonstre alguma coisa, ainda que ele diga palavras bonitas que faça você sentir uma coisa forte por dentro, não conte. Não confesse, não se declare, caia fora. Deixe que ele faça isso por você.
