Poemas curtos de Clarice Lispector
Que é que eu faço, é de noite e eu estou viva. Estar viva está me matando aos poucos, e eu estou toda alerta no escuro.
Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro...
Eu me dou melhor comigo mesma quando estou infeliz: há um encontro. Quando me sinto feliz, parece-me que sou outra. Embora outra da mesma. Outra estranhamente alegre, esfuziante, levemente infeliz é mais tranquilo. Tenho tanta vontade de ser corriqueira e um pouco vulgar e dizer: a esperança é a última que morre.
E quero a desarticulação, só assim sou eu no mundo. Só assim me sinto bem.
No fundo ela não passara de uma caixinha de música meio desafinada.
Sou uma pessoa insegura, indecisa, sem rumo na vida, sem leme para me guiar: na verdade não sei o que fazer comigo.
Já que ela não era uma pessoa triste, procurou continuar como se nada tivesse perdido. (Ela não sentiu desespero etc. etc.) Também que é que ela podia fazer? Pois ela era crônica. (...) Tristeza era luxo.
Quando o amor é grande demais torna-se inútil: já não é mais aplicável, e nem a pessoa amada tem a capacidade de receber tanto. Fico perplexa como uma criança ao notar que mesmo no amor tem-se que ter bom senso e medida. Ah, a vida dos sentimentos é extremamente burguesa.
Amar não acaba. É como se o mundo estivesse à minha espera. E eu vou ao encontro do que me espera.
A feiura é o meu estandarte de guerra. Eu amo o feio com um amor de igual para igual.
Antes o sofrimento legítimo que o prazer forçado.
E, antes de aprender a ser livre, eu aguentava – só para não ser livre.
Um dia uma folha me bateu nos cílios. Achei Deus de uma grande delicadeza.
Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil.
Eu sou nostálgica demais, pareço ter perdido alguma coisa não se sabe onde e quando.
Fico com medo. Mas o coração bate. O amor inexplicável faz o coração bater mais depressa. A garantia única é que eu nasci. Tu és uma forma de ser eu, e eu uma forma de te ser: eis os limites de minha possibilidade.
Escrevo como se estivesse dormindo e sonhando: as frases desconexas como no sonho. É difícil, estando acordado, sonhar livremente nos meus remotos mistérios.
Eu cheia de saudade de você, mas aguentando firme.
Mas nem sempre é necessário tornar-se forte. Temos que respeitar a nossa fraqueza. Então, são lágrimas suaves, de uma tristeza legítima a qual temos direito. Elas correm devagar e quando passam pelos lábios sente-se aquele gosto salgado, límpido, produto de nossa dor mais profunda.
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