Uma Surpresa a cada Manha

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O povo deve ser educado com o mesmo cuidado e ternura com que um jardineiro cultiva uma árvore frutífera de estimação.

A vida, meu amor, é uma grande sedução onde tudo o que existe se seduz. Aquele quarto que estava deserto e por isso primariamente vivo. Eu chegara ao nada, e o nada era vivo e úmido.

Clarice Lispector
A paixão segundo G.H. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Poucos sabem, mas a palavra ‘amor’ é derivada da palavra ‘morte’. Quando você diz a uma pessoa ‘eu te amo’, é como dizer ‘eu morreria por você’.

'Aquele que persegue duas coisas de uma só vez não alcança uma delas e deixa a outra escapar.'

Por falta de um prego, perdeu-se uma ferradura. Por falta de uma ferradura, perdeu-se um cavalo. Por falta de um cavalo, perdeu-se um cavaleiro. Por falta de um cavaleiro, perdeu-se uma batalha. E assim, um reino foi perdido. Tudo por falta de um prego.

Prudência é uma atitude que mantém a vida segura, mas com frequência não a faz feliz.

A uma mulher

Quando a madrugada entrou eu estendi o meu peito nu sobre o teu peito
Estavas trêmula e teu rosto pálido e tuas mãos frias
E a angústia do regresso morava já nos teus olhos.
Tive piedade do teu destino que era morrer no meu destino
Quis afastar por um segundo de ti o fardo da carne
Quis beijar-te num vago carinho agradecido.
Mas quando meus lábios tocaram teus lábios
Eu compreendi que a morte já estava no teu corpo
E que era preciso fugir para não perder o único instante
Em que foste realmente a ausência de sofrimento
Em que realmente foste a serenidade.

Rio de Janeiro, 1933

E, outra coisa: o diabo, é às brutas; mas Deus é traiçoeiro! Ah, uma beleza de traiçoeiro – dá gosto! A força dele, quando quer – moço! – me dá o medo pavor! Deus vem vindo: ninguém não vê. Ele faz é na lei do mansinho – assim é o milagre. E Deus ataca bonito, se divertindo, se economiza.

Guimarães Rosa
Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.

Tenho uma mania de achar que nada acontece por acaso. Talvez isso ainda me deixe louca, já que vivo esperando sinais. Não sei se você está me entendendo, é mesmo meio difícil de explicar, mas volta e meia penso assim puxa, será que isso vai mesmo dar certo? Se for pra dar, vai acontecer tal coisa e se acontecer tal coisa é porque é pra ser. Tá, eu sei que é coisa de gente doida, mas eu nunca disse que era totalmente certa.

Quer saber? Até acho que um pouco de doideira faz bem. Não dá pra ser muito certinho, viver de uma forma muito correta, fazendo o bêabá do jeito que todo mundo disse. Eu sei o que quero pra mim. Além de brigar pelas coisas que quero, também tenho um pouco de sorte. Sei que sim. Sorte por ter no meu caminho pessoas que me dão apoio e estrutura. Porque a gente precisa disso quando o mundo está desmanchando feito desenho na chuva.

Acho que as pessoas surgem na vida da gente por algum motivo. Algumas nos ensinam, outras aprendem. É uma via de mão dupla. E penso o seguinte: se alguém aparece na minha vida e eu posso ajudar, ajudo. Acho que é obrigação. Não sou de desperdiçar oportunidades, talvez porque já tenha desperdiçado um punhado delas no passado. Hoje em dia o que aparece na minha frente eu agarro. Acho que se a gente tem condição de fazer algo não tem porque não fazer. É meu dever, entende? Não dá pra ficar parado vendo as coisas acontecerem, tem que agir.

O mundo e as pessoas mudam muito rápido. Hoje quem você ama está aqui, amanhã pode não estar. Hoje você tem um emprego, amanhã pode não ter. Hoje você dormiu com a frase entalada na garganta, amanhã o dia nasce de outro jeito, com outra cara e a frase pode ficar perdida no meio do nada. Ou pode ser tarde demais.

Acredito que todo mundo tem um poder. E a gente pode, sim, mudar as coisas. Me chame de idealista. De sonhadora. E de romântica. Sou tudo isso. Mas ainda acredito nas pessoas e nas mudanças. E toda mudança começa no fundinho de cada pessoa que quer realmente fazer alguma diferença.

Chega uma hora em que você cansa. Cansa de se preocupar, cansa de tentar agradar, cansa de fazer tudo certo, de ser bonzinho e politicamente correto.

Não estarei insinuando nenhuma novidade se afirmar que nunca houve uma multidão inteligente.

Nelson Rodrigues
RODRIGUES, Sonia (org.). Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012.

Debaixo da 'casca grossa' existe uma pessoa que deseja ser apreciada, compreendida e amada.

Quem não vê bem uma palavra, não pode ver bem uma alma.

Uma mulher é como um saquinho de chá. Você nunca sabe quão forte é até que esteja em água quente.

Desconhecido

Nota: A citação costuma ser atribuída a Eleanor Roosevelt, mas não há fontes que confirmem essa evidência. Metáforas semelhantes já estavam em circulação desde o século XIX.

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Aprendi que quando uma coisa é verdadeira, ela não precisa fazer sentido.

A vida é uma droga. E depois você morre.

Stephenie Meyer

Nota: A verdadeira autoria do pensamento é desconhecida.

Não tenho ambições nem desejos.
ser poeta não é uma ambição minha.
É a minha maneira de estar sozinho.

Ou quando uma nuvem passa a mão por cima da luz
E corre um silêncio pela erva fora.

Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem sabe o que é amar...

Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver do Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer,
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...

A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas.
Aponta-me todas as coisas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.

Fernando Pessoa

Nota: Trechos do poema “O Guardador de Rebanhos”, in Poemas de Alberto Caeiro (heterônimo de Fernando Pessoa) e de outros. Link

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Sou um apreciador dos opostos, das diferenças.
Se fosse para eu apaixonar-me por uma pessoa em tudo parecida comigo, eu namoraria com o espelho.

Do Outro Lado da Tarde

Sim, deve ter havido uma primeira vez, embora eu não lembre dela, assim como não lembro das outras vezes, também primeiras, logo depois dessa em que nos encontramos completamente despreparados para esse encontro. E digo despreparados porque sei que você não me esperava, da mesma forma como eu não esperava você. Certamente houve, porque tenho a vaga lembrança - e todas as lembranças são vagas, agora -, houve um tempo em que não nos conhecíamos, e esse tempo em que passávamos desconhecidos e insuspeitados um pelo outro, esse tempo sem você eu lembro. Depois, aquela primeira vez e logo após outras e mais outras, tudo nos conduzindo apenas para aquele momento.

Às vezes me espanto e me pergunto como pudemos a tal ponto mergulhar naquilo que estava acontecendo, sem a menor tentativa de resistência. Não porque aquilo fosse terrível, ou porque nos marcasse profundamente ou nos dilacerasse - e talvez tenha sido terrível, sim, é possível, talvez tenha nos marcado profundamente ou nos dilacerado - a verdade é que ainda hesito em dar um nome àquilo que ficou, depois de tudo. Porque alguma coisa ficou. E foi essa coisa que me levou há pouco até a janela onde percebi que chovia e, difusamente, através das gotas de chuva, fiquei vendo uma roda-gigante. Absurdamente. Uma roda-gigante. Porque não se vive mais em lugares onde existam rodas-gigantes. Porque também as rodas-gigantes talvez nem existam mais. Mas foram essas duas coisas - a chuva e a roda-gigante -, foram essas duas coisas que de repente fizeram com que algum mecanismo se desarticulasse dentro de mim para que eu não conseguisse ultrapassar aquele momento.

De repente, eu não consegui ir adiante. E precisava: sempre se precisa ir além de qualquer palavra ou de qualquer gesto. Mas de repente não havia depois: eu estava parado à beira da janela enquanto lembranças obscuras começavam a se desenrolar. Era dessas lembranças que eu queria te dizer. Tentei organizá-las, imaginando que construindo uma organização conseguisse, de certa forma, amenizar o que acontecia, e que eu não sabia se terminaria amargamente - tentei organizá-las para evitar o amargo, digamos assim. Então tentei dar uma ordem cronológica aos fatos: primeiro, quando e como nos conhecemos - logo a seguir, a maneira como esse conhecimento se desenrolou até chegar no ponto em que eu queria, e que era o fim, embora até hoje eu me pergunte se foi realmente um fim. Mas não consegui. Não era possível organizar aqueles fatos, assim como não era possível evitar por mais tempo uma onda que crescia, barrando todos os outros gestos e todos os outros pensamentos.

Durante todo o tempo em que pensei, sabia apenas que você vinha todas as tardes, antes. Era tão natural você vir que eu nem sequer esperava ou construía pequenas surpresas para te receber. Não construía nada - sabia o tempo todo disso -, assim como sabia que você vinha completamente em branco para qualquer palavra que fosse dita ou qualquer ato que fosse feito. E muitas vezes, nada era dito ou feito, e nós não nos frustrávamos porque não esperávamos mesmo, realmente, nada. Disso eu sabia o tempo todo.

E era sempre de tarde quando nos encontrávamos. Até aquela vez que fomos ao parque de diversões, e também disso eu lembro difusamente. O pensamento só começa a tornar-se claro quando subimos na roda-gigante: desde a infância que não andávamos de roda-gigante. Tanto tempo, suponho, que chegamos a comprar pipocas ou coisas assim. Éramos só nós depois na roda gigante. Você tinha medo: quando chegávamos lá em cima, você tinha um medo engraçado e subitamente agarrava meu braço como se eu não estivesse tão desamparado quanto você. Conversávamos pouco, ou não conversávamos nada - pelo menos antes disso nenhuma frase minha ou sua ficou: bastavam coisas assim como o seu medo ou o meu medo, o meu braço ou o seu braço. Coisas assim.

Foi então que, bem lá em cima, a roda-gigante parou. Havia uma porção de luzes que de repente se apagaram - e a roda-gigante parou. Ouvimos lá de baixo uma voz dizer que as luzes tinham apagado. Esperamos. Acho que comemos pipocas enquanto esperamos. Mas de repente começou a chover: lembro que seu cabelo ficou todo molhado, e as gotas escorriam pelo seu rosto exatamente como se você chorasse. Você jogou fora as pipocas e ficamos lá em cima: o seu cabelo molhado, a chuva fina, as luzes apagadas.Não sei se chegamos a nos abraçar, mas sei que falamos. Não havia nada para fazer lá em cima, a não ser falar. E nós tínhamos tão pouca experiência disso que falamos e falamos durante muito e muito tempo, e entre inúmeras coisas sem importância você disse que me amava, ou eu disse que te amava - ou talvez os dois tivéssemos dito, da mesma forma como falamos da chuva e de outras coisas pequenas, bobas, insignificantes. Porque nada modificaria os nossos roteiros. Talvez você tenha me chamado de fatalista, porque eu disse todas as coisas, assim como acredito que você tenha dito todas as coisas - ou pelo menos as que tínhamos no momento.

Depois de não sei quanto tempo, as luzes se acenderam, a roda-gigante concluiu a volta e um homem abriu um portãozinho de ferro para que saíssemos. Lembro tão bem, e é tão fácil lembrar: a mão do homem abrindo o portãozinho de ferro para que nós saíssemos. Depois eu vi o seu cabelo molhado, e ao mesmo tempo você viu o meu cabelo molhado, e ao mesmo tempo ainda dissemos um para o outro que precisávamos ter muito cuidado com cabelos molhados, e pensamos vagamente em secá-los, mas continuava a chover. Estávamos tão molhados que era absurdo pensar em sairmos da chuva. Às vezes, penso se não cheguei a estender uma das mãos para afastar o cabelo molhado da sua testa, mas depois acho que não cheguei a fazer nenhum movimento, embora talvez tenha pensado.Não consigo ver mais que isso: essa é a lembrança. Além dela, nós conversamos durante muito tempo na chuva, até que ela parasse, e quando ela parou, você foi embora.

Além disso, não consigo lembrar mais nada, embora tente desesperadamente acrescentar mais um detalhe, mas sei perfeitamente quando uma lembrança começa a deixar de ser uma lembrança para se tornar uma imaginação. Talvez se eu contasse a alguém acrescentasse ou valorizasse algum detalhe, assim como quem escreve uma história e procura ser interessante - seria bonito dizer, por exemplo, que eu sequei lentamente seus cabelos. Ou que as ruas e as árvores ficaram novas, lavadas depois da chuva. Mas não direi nada a ninguém. E quando penso, não consigo pensar construidamente, acho que ninguém consegue. Mas nada disso tem nenhuma importância, o que eu queria te dizer é que chegando na janela, há pouco, vi a chuva caindo e, atrás da chuva, difusamente, uma roda-gigante. E que então pensei numas tardes em que você sempre vinha, e numa tarde em especial, não sei quanto tempo faz, e que depois de pensar nessa tarde e nessa chuva e nessa roda-gigante, uma frase ficou rodando nítida e quase dura no meu pensamento. Qualquer coisa assim: depois daquela nossa conversa - depois daquela nossa conversa na chuva, você nunca mais me procurou.

Tenho uma parte que acredita em finais felizes. Em beijo antes dos créditos, enquanto outra acha que só se ama errado. Tenho uma metade que mente, trai, engana. Outra que só conhece a verdade. uma parte que precisa de calor, carinho, pés com pés. Outra que sobrevive sozinha. Metade auto-suficiente...

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