Um Poema para as Maes Drummond

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Os jovens sempre tiveram um problema: como é que é possível rebelarem-se e enquadrarem-se ao mesmo tempo? Agora parece que o resolveram: desafiando os pais e copiando-se uns aos outros.

A doença é o preço que a alma paga por ocupar o corpo, como o aluguel que um inquilino paga pelo apartamento onde mora.

Ninguém resiste à lisonja sendo administrada, oportunamente, com a perícia e destreza de um hábil adulador.

Não é de forma alguma um pequeno número de fortunas colossais que faz a riqueza de um país, mas a multiplicidade de fortunas medíocres.

Uma pessoa pode chegar aos sessenta anos sem fazer uma ideia do que é um carácter. Nada é mais oculto do que as coisas com que continuamente andamos na boca.

Qualquer Francês deseja beneficiar de um ou mais privilégios. É a sua maneira de afirmar a sua paixão pela igualdade.

O crime é a extensão lógica de um tipo de comportamento perfeitamente respeitável no mundo dos negócios.

Embora a avareza impeça um homem de se tornar necessariamente pobre, geralmente torna-o demasiado timorato para enriquecer.

Desconfia que a ambição não seja a cobertura do orgulho e que a modéstia não seja senão um pretexto para a preguiça.

O avarento, por um mau cálculo, sofre de presente os males que receia no futuro.

Não se pode imaginar uma cor, fora das cores do espectro solar. Não se pode ouvir um som, fora da nossa escala auditiva. Não se pode pensar, fora das possibilidades da língua em que se pensa.

Aquele que não tem um objetivo, raramente sente prazer em qualquer empreendimento.

Dor

Passa-se um dia e outro dia
À espera que passe a Dor,
E a Dor não passa, e porfia,
Porque trás dia, outro dia
Que traz Dor inda maior;

Porque embora a Dor aflita
Calasse há muito seus ais,
Ainda, fundo, palpita
Uma outra Dor que não grita:
A Dor do que não dói mais.

(in "Dispersos e Inéditos")

Glória

Vive dentro de mim um mundo raro
Tão vário, tão vibrante, tão profundo
Que o meu amor indómito e avaro
O oculto raivoso ao outro mundo

E nele vivo audaz, ardentemente,
Sentindo consumir-se a sua chama
Que oscila e desce e sobe inquietamente;
Ouvindo a minha voz que por mim chama

Em situações grotescas que me ferem,
Ou conquistando o que meus olhos querem:
Príncipe ou Rei sonhando com domínios.

Sinto bem que são vãs pra me prenderem
As mãos da Vida, muito embora imperem
Sobre a noção real dos meus declínios.

(in "Dispersos e Inéditos")

Teoria X

- O trabalho é em si mesmo desagradável para a maioria das pessoas;

- Um indivíduo comum, em situações comuns, evitará sempre que possível o trabalho;

- Alguns indivíduos só trabalham sob forte pressão. Eles precisam ser forçados, controlados e às vezes ameaçados com punições severas para que se esforcem em cumprir os objetivos estabelecidos pela organização;

- O ser humano comum prefere que o dirijam, quer esquivar das responsabilidades, tem relativamente pouca ambição e deseja mais nada que sua segurança.

LUMIAR

Dou-me conta do nome a que reduza
sua história este lugar e entendo

como um nome não é somente o som
arbitrário que a minha mão regista

prendendo o designado: um mar
sob a luz fina; tanto tempo fixa

um lugar no seu corpo, que se torna,
tal como o tempo que contém, flexível

O nome do lugar sempre designa
a fluidez da vida retida

(A moeda do Tempo, Assírio & Alvim, 2006)

O Casal

Eles desligaram a luz e o seu globo branco brilha
um instante e depois dissolve-se, como um comprimido
num copo de escuridão. Depois a ascensão.
As paredes do hotel elevam-se na escuridão do céu.

Os seus movimentos crescem mais suaves, e eles dormem
mas os seus pensamentos mais secretos começam a conhecer-se como duas cores que se conhecem e correm juntas no papel molhado de um desenho do rapaz da escola.

É o escuro e o silêncio. A cidade no entanto está mais próxima esta noite. Com as suas janelas fechadas.
As casas vieram.
Eles permanecem embalados e esperam muito próximo,
uma multidão de gente com faces em branco.
no

Insegurança Nacional

A sub-secretária inclina-se para a frente e desenha um X
e os seus brincos balançam como espadas de Damocles.

Como uma colorida borboleta é invisível contra o chão
Assim o demónio funde-se com o jornal aberto

Um capacete desgastado por ninguém ganhou poder
A mãe tartaruga foge voando por debaixo da água.

Para aprender sobre o sonho americano, deveríamos ler sobre imigrantes, a classe trabalhadora, mães negras, ou, no mínimo, alguém que não tenha uma mansão.

Café, o poema do café

Café de meia, de cafeteira
Tomo até de mamadeira

Café em grão, de verão
Secando ao Sol na fazenda do Barão

Café em pó, com pão e só
Cedinho na casa da vovó

Café expresso, de padaria
Com gosto de correria

Se o café (coitado) soubesse para onde iria,
Sequer ele nasceria.
Mas se não fosse a coragem do café,
Eu não estaria de pé! (Escrevendo poesia)