Um Estranho Impar Poesia

Cerca de 265671 frases e pensamentos: Um Estranho Impar Poesia

O duelo de Buda – quando Buda foi testado por um espírito da natureza

Um dia Sidarta Gautama, o Buda, estava no jardim de Anathapindika, na cidade de Jetavana, Índia, quando lhe apareceu um Deva (espírito da natureza) em figura de brâmane e vestido de roupas brancas como a neve, e entre ambos se estabeleceu o seguinte duelo:

O Deva:
– Qual é a espada mais cortante?
Ao que Buda respondeu:
– A palavra raivosa é a espada mais cortante.
– Qual é o maior veneno?
– A inveja é o mais mortal veneno.
– Qual é o fogo mais ardente?
– A luxúria.
– Qual é a noite mais escura?
– A ignorância.
– Quem obtém a maior recompensa?
– Quem dá sem desejo de receber é quem mais ganha.
– Quem sofre a maior perda?
– Quem recebe de outro sem devolver nada é o que mais perde.
– Qual é a armadura mais impenetrável?
– A paciência.
– Qual é a melhor arma?
– A sabedoria.
– Qual é o ladrão mais perigoso?
– Um mau pensamento é o ladrão mais perigoso.
– Qual o tesouro mais precioso?
– A virtude.
– Quem recusa o melhor que lhe é oferecido neste mundo?
– Recusa o melhor que se lhe oferece quem aspira à imortalidade.
– O que atrai?
– O bem atrai.
– O que repugna?
– O mal repugna.
– Qual é a dor mais terrível?
– A má conduta.
– Qual é a maior felicidade?
– A libertação.
– O que ocasiona a ruína no mundo?
– A ignorância.
– O que destrói a amizade?
– A inveja e o egoísmo.
– Qual é a febre mais aguda?
– O ódio.
– Qual é o melhor médico?
– O Buda.
O Deva então faz sua última pergunta:
– O que é que o fogo não queima, nem a ferrugem consome, nem o vento abate e é capaz de reconstruir o mundo inteiro?
Buda respondeu:
– O benefício das boas ações.
Satisfeito com as respostas, o Deva, com as mãos juntas, se inclinou respeitosamente ante Buda e desapareceu.

Buda
Buda – Aquele que Despertou (1995).

Ser rejeitado sempre fortalece um homem.
E se ele não experimentou isso o bastante para conseguir rir e fizer piadas disso, ou ao menos usar isso como material, ele não pode cumprir seus deveres como homem.

Distúrbios de um monólogo interior

-Quem sou eu? Eu sou eu!
-Mas, quem é eu?
- O eu é eu
- Sou eu!
- Então, você é eu?
- Não, Você sou eu!
- Eu sou você?
- Não, você é eu!
- Mas, seu você é eu, então quem sou eu?
- Eu sou eu, você é você!
- Mas, se eu sou você, então, quem é eu?
- Você é você!
- Você não entendeu!
- Eu entendi sim!
- Não bobo, o Você sou eu!
- Eu vou matar Você!
- Por que eu vai matar você?
- Quem vai te matar é eu!
- Sou eu!
- Tanto faz eu e você agora somos nozes

O Menino Que Carregava Água Na Peneira

Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino
que carregava água na peneira.

A mãe disse que carregar água na peneira
era o mesmo que roubar um vento e sair
correndo com ele para mostrar aos irmãos.

A mãe disse que era o mesmo que
catar espinhos na água
O mesmo que criar peixes no bolso.

O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos.
A mãe reparou que o menino
gostava mais do vazio
do que do cheio.
Falava que os vazios são maiores
e até infinitos.

Com o tempo aquele menino
que era cismado e esquisito
porque gostava de carregar água na peneira

Com o tempo descobriu que escrever seria
o mesmo que carregar água na peneira.

No escrever o menino viu
que era capaz de ser
noviça, monge ou mendigo
ao mesmo tempo.

O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.

Foi capaz de interromper o vôo de um pássaro
botando ponto final na frase.

Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.

O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor!
A mãe reparava o menino com ternura.

A mãe falou:
Meu filho você vai ser poeta.
Você vai carregar água na peneira a vida toda.

Você vai encher os
vazios com as suas
peraltagens
e algumas pessoas
vão te amar por seus
despropósitos.

Manoel de Barros
BARROS, M. Poesia Completa. São Paulo: Leya, 2011.

Ilusões

No silêncio da noite, sonho;
Cenas, fatos, pessoas, momentos.
Um passado distante, presente,
Ainda,
Me conduz em turbilhão;
Tristonho,
Recrio felicidades e histórias,
No inusitado da imaginação.
Busco em cantos de saudade
Trazer ao cotidiano
De agora
As alegrias vividas a dois .
O que era, perdeu-se,
Partidos cristais.
O que foi, são sensações,
Nada mais.
Os novos caminhos percorridos
Não serão os mesmos de outrora,
Jamais.
Resta-me então reviver,
No imaginário, as fortes emoções
Do passado, num canto qualquer,
Numa dobra escondida
Da memória.

É melhor mesmo continuar escrevendo
essas frases curtas, que assim amontoadas,
dão um ar de coisa, coisa pensada,
e nem é, sabe? nem é importante...

É um processo lento,
mudar de princípios,
e nunca saberás que eles mudaram
até que alguma coisa que era certa para ti
simplesmente deixe de o ser.

Faça o bem, fale o bem, pense o bem.
Perceba que cada ser que encontramos é um ser iluminado,disfarçado a nos mostrar o Caminho.
Alguns nos mostram como não devemos ser.
Outros como devemos ser.

"_Você acha que um homem pode mudar seu destino?

_Eu acho que um homem faz o que pode...até que seu destino lhe seja revelado!"

O que é um sábio


Jafar Sadeq é um dos tradicionais santos dos muçulmanos xiitas. Certa vez, encontrou-se com um religioso, e perguntou:

"Quem pode ser considerado sábio?"

"Aquele que pode distinguir o bem do mal", respondeu o religioso.

"Só isso? Então até mesmo um macaco pode ser considerado sábio, porque é capaz de distinguir o que é bom e o que é ruim para ele.

O homem então devolveu a questão:

"Já que é assim, então pode me dizer quem pode ser considerado sábio?"

"Aquele que, quando tem que escolher entre duas coisas boas e duas coisas más, é capaz de escolher a melhor das coisas boas e a menos grave das coisas más".

No momento, eu sei que não valho a pena
Se me der um tempo, eu consigo melhorar
Me dê um tempo enquanto eu melhoro
Está perdendo a paciência, garota, e eu não te culpo
A Terra está em rotação, você está me esperando

O sociólogo polonês Zygmunt Bauman declara que vivemos em um tempo que escorre pelas mãos, um tempo líquido em que nada é para persistir. Não há nada tão intenso que consiga permanecer e se tornar verdadeiramente necessário. Tudo é transitório. Não há a observação pausada daquilo que experimentamos, é preciso fotografar, filmar, comentar, curtir, mostrar, comprar e comparar.

O desejo habita a ansiedade e se perde no consumismo imediato. A sociedade está marcada pela ansiedade, reina uma inabilidade de experimentar profundamente o que nos chega, o que importa é poder descrever aos demais o que se está fazendo.

Em tempos de Facebook e Twitter não há desagrados, se não gosto de uma declaração ou um pensamento, deleto, desconecto, bloqueio. Perde-se a profundidade das relações; perde-se a conversa que possibilita a harmonia e também o destoar. Nas relações virtuais não existem discussões que terminem em abraços vivos, as discussões são mudas, distantes. As relações começam ou terminam sem contato algum. Analisamos o outro por suas fotos e frases de efeito. Não existe a troca vivida.

Ao mesmo tempo em que experimentamos um isolamento protetor, vivenciamos uma absoluta exposição. Não há o privado, tudo é desvendado: o que se come, o que se compra; o que nos atormenta e o que nos alegra.

O amor é mais falado do que vivido. Vivemos um tempo de secreta angústia. Filosoficamente a angústia é o sentimento do nada. O corpo se inquieta e a alma sufoca. Há uma vertigem permeando as relações, tudo se torna vacilante, tudo pode ser deletado: o amor e os amigos.

“Estamos todos numa solidão e numa multidão ao mesmo tempo”

Você é linda,
você é bela,
sua beleza se revela,
seu cheiro é de flor de jasmim.
Um dia vou ter você pra mim!

Conquiste-me; não adquira;
quero ser teu bem; não um dos bens.
O teu sonho de amor, não de consumo...

Minha filha, meu amor.

Você nasceu com um brilho reluzente
Que em teus olhos a beleza refletia
Primeiro choro a mais bela poesia
Que irradia como uma estrela cadente
Serei a mãe que o amor será presente
Em cada passo em que você possa alcançar
Nos tropeços em que a vida te ofertar
O meu amor te servirá de proteção
Como uma redoma estarás no coração
Pra toda vida minha filha eu vou te amar.

Um conto suicida

Domingos à tarde são horríveis! Insuportáveis! Suicidas! E ali estava ela. Olhando a chuva cair pesadamente da janela de seu quarto, no décimo quinto andar. E sobre a cama estavam fotos espalhadas, cartas rasgadas, cinzas de cigarros, copos de bebidas... E no rádio tocava 'While My Guitar Gently Weeps', dos Beatles. E sentada na janela do décimo quinto andar, estava ela, com o cabelo desgrenhado, a roupa molhada de vodca e lágrimas, tênis sujos. E segundos depois estava ela estirada no chão da cidade, com a chuva a lavar seu sangue.

Perguntais-me como me tornei louco. Aconteceu assim:
Um dia, muito tempo antes de muitos deuses terem nascido, despertei de um sono profundo e notei que todas as minhas máscaras tinham sido roubadas – as sete máscaras que eu havia confeccionado e usado em sete vidas – e corri sem máscara pelas ruas cheias de gente gritando: “Ladrões, ladrões, malditos ladrões!”
Homens e mulheres riram de mim e alguns correram para casa, com medo de mim.
E quando cheguei à praça do mercado, um garoto trepado no telhado de uma casa gritou: “É um louco!” Olhei para cima, para vê-lo. O sol beijou pela primeira vez minha face nua.
Pela primeira vez, o sol beijava minha face nua, e minha alma inflamou-se de amor pelo sol, e não desejei mais minhas máscaras. E, como num transe, gritei: “Benditos, benditos os ladrões que roubaram minhas máscaras!”
Assim me tornei louco.
E encontrei tanto liberdade como segurança em minha loucura: a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido, pois aquele que nos compreende escraviza alguma coisa em nós.

Canção do Adeus

Mais uma vez,
lábios se abriram
e me disseram
adeus!

Um duro olhar viu
meu sim silencioso,
cheio de surpresa
e desapontamento.
Lábios que antes úmidos,
prometiam beijos,
secos e crispados
recusavam o amor.
E meu corpo tremeu
apertando a garganta.
E, engraçado, nada
havia mudado.
Nunca houve amor,
apenas farsa,
ilusão e dúvida.

Sua imagem
ressurgiu das sombras,
me acusando
os erros de outrora.
Sua boca, em outros lábios
me apontavam.
O destino por mim próprio
construído era, enfim,
a sua forma de vingança.
Todo amor
que desprezei um dia,
foi consumido
ao fogo do arrependimento.
Mas, creia que já não luto
e compreendo agora
que tenho de sofrer
o que lhe fiz.

Embora por outros lábios,
outras vozes e gestos
diferentes.
Tudo é você,
tudo é seu
e me condena.

Pois uns atiram elogios, outros nos atiram pedras,
Mas me diz aí o que um cara ganharia com a minha queda?

Gratidão, apreciação, dar um 'obrigado'. Não interessa que palavras você use, elas significam a mesma coisa. Felicidade. A gente deveria ser feliz. Gratos pelos amigos, pela família. Feliz apenas de estarmos vivos. Quer gostemos disso ou não.
[...]
Talvez a gente não devesse ser feliz. Talvez gratidão não tenha nada a ver com alegria. Talvez ser grato signifique reconhecer o que você tem pelo que é. Apreciar pequenas vitórias. Admirar a luta que é para simplesmente ser humano. Talvez a gente seja agradecido pelas coisas mais familiares que conhecemos. E talvez sejamos agradecidos pelas coisas que nunca conheceremos. No final das contas, o fato de termos coragem pra continuarmos firmes de pé é razão suficiente para celebrar.