Um Estranho Impar Poesia

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FAZER POESIA
(Fábio André Malko)

Ao compor um poema somos livres
Pra reclamar da vida e do sofrimento
Esconder as angústias mais críveis
Embaixo da máscara do talento

O poeta cria, dá vida às insatisfações
Não se preocupa nem com o perigo
Dá cor as suas musas e emoções
Enfrenta suas dores sem sentido

Pode até mesmo ser outra pessoa
Fingir que sente o que não sente
Apaixonar-se assim, bem à toa
Ascender numa chama reluzente

Sonha muito quem faz poesia
Mas ele cria, jamais mente
Vive em dobro sua nostalgia
E toca o coração da gente

Sou uma simples pessoa que gosta de poesia
Um verso bem rimado
Que dure noite e dure dia

O que quero dizer é que precisamos de amor
Invoque seus desejos
Seja batalhador.

“Fazer da palavra um embalo
é o mais puro e apurado
senso da poesia”.

(trecho em "Idades cidades divindades". Lisboa: Editorial Caminho, 2007.)

Tens no teu olhar a ternura de um menino. Menino que da poesia se inundou, perfumando o mundo todo, ao espalhar a sua essência de amor ...


Hamdan

O DOM DA POESIA
(Fragmento)

Deixa a palavra escorregar,
Como um jardim o âmbar e a cidra,
Magnânimo e distraído,
Devagar, devagar, devagar.

Boris Pasternak
Poesia Russa Moderna

Nota: Tradução de Augusto de Campos

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Metamorfose

Minha poesia é um
mapa aberto em alusões,
onde minha identidade é trocada.
Nela saio de mim
e ultrapasso meus limites,
num ritual que sempre
celebro o avesso.

A poesia é urgente,
Espontânea,
Sai da gente assim
De repente,
De um jeito urgente,
Sem urgencia.

Entre conversas, risadas e devaneios...
Assim descobri abruptamente...
Que a poesia...
Tem um sabor mais especial...
Quando é partilhada por duas pessoas que se gostam.

O fotógrafo é um poeta
(Dedico a Adielson, Helivan e Liliam)

Uma fotografia
É uma poesia que só o fotógrafo enxerga.
O fotógrafo é um poeta que faz poesia sem caneta e fotografa versos com a câmara... Num clique, tudo vira poesia...

⁠ SER UM POETA - João Nunes Ventura-10/2023

Ser um poeta é dar amor e vida à poesia
Na estrela desenhar seus pensamentos,
E nas letras perpetuar todas suas rimas,
Irmanados com todos seus sentimentos.

Ser poeta é mandar a tristeza ir embora
Modular os seus versos no seu coração,
E seu mundo pregar o amor com a viola
Voltar ser criança cantando sua canção,

Ser um poeta é exaltar a beleza do luar
Lembrar sua terra seus dias de criança,
E recordar os amores numa rede sonhar
Na memória revelar toda sua esperança.

Com força que tem e a marca que ficou
Saudosas lembranças de um lindo amor
Tão jovem ainda nesse sonho lembrado,
Sonhando acordado e foi seu único bem
Sua história ele narra o amor de alguém
Hoje sem ninguém imortaliza o passado.

Urbanização

Tudo o que vivêramos
um dia fundiu-se
com o que estava
a ser vivido.
Não na memória
mas no puro espaço
dos cinco sentidos.
Havíamos estado no mundo, raso,
um campo vazio de tojo seco.

Depois, alguém
urbanizou o vazio,
e havia casas e habitantes
sobre o tojo. E eu,
que estivera sempre presente,
vi a dupla configuração de um campo,
ou a sós em silêncio
ou narrando esse meu ver.

SOB ESCOMBROS

Um tempo houve em que,
de tão próximo, quase podias ouvir
o silêncio do mundo pulsando
onde também tu eras mundo, coisa pulsante.

Extinguiu-se esse canto
não na morte
mas na vida excluída
da clarividência da infância

e de tudo o que pulsa,
fins e começos,
e corrompida pela estridência
e pela heterogeneidade.

Agora respondes por nomes supostos,
habitante de países hábeis e reais,
e precisas de ajuda para as coisas mais simples,
o pensamento, o sofrimento, a solidão.

A música, só voltarás a escutá-la
numa noite lívida,
uma noite mais vulnerável do que todas
(o presente desvanecendo-se, o passado cada vez mais lento)
um pouco antes de adormeceres
sob escombros.

Encontro-me de pé sob um céu estrelado
E sinto como o mundo rasteja
no meu sobretudo, para fora e para dentro,
qual um formigueiro

Jake: Pensava que você tinha um encontro esta noite?
Charlie: Não era um encontro. Uma experiência de encontro.
Megan: Qual é a diferença?
Charlie: Cerca de R$1500.

Flores

De um pequeno degrau dourado -, entre os cordões
de seda, os cinzentos véus de gaze, os veludos verdes
e os discos de cristal que enegrecem como bronze
ao sol -, vejo a digital abrir-se sobre um tapete de filigranas
de prata, de olhos e de cabeleiras.

Peças de ouro amarelo espalhadas sobre a ágata, pilastras
de mogno sustentando uma cúpula de esmeraldas,
buquês de cetim branco e de finas varas de rubis
rodeiam a rosa d'água.

Como um deus de enormes olhos azuis e de formas
de neve, o mar e o céu atraem aos terraços de mármore
a multidão das rosas fortes e jovens.

Ninguém deve ser igual ao outro, e sim igual ao mais alto!
Como realizar isto? Que cada um seja completo em si.

Cada Um

Cada um cumpre o destino que lhe cumpre,
E deseja o destino que deseja;
Nem cumpre o que deseja,
Nem deseja o que cumpre.

Como as pedras na orla dos canteiros
O Fado nos dispõe, e ali ficamos;
Que a Sorte nos fez postos
Onde houvemos de sê-lo.

Não tenhamos melhor conhecimento
Do que nos coube que de que nos coube.
Cumpramos o que somos.
Nada mais nos é dado.

O Cão Sem Plumas

A cidade é passada pelo rio
como uma rua
é passada por um cachorro;
uma fruta
por uma espada.

O rio ora lembrava
a língua mansa de um cão
ora o ventre triste de um cão,
ora o outro rio
de aquoso pano sujo
dos olhos de um cão.

Aquele rio
era como um cão sem plumas.
Nada sabia da chuva azul,
da fonte cor-de-rosa,
da água do copo de água,
da água de cântaro,
dos peixes de água,
da brisa na água.

Sabia dos caranguejos
de lodo e ferrugem.

Sabia da lama
como de uma mucosa.
Devia saber dos povos.
Sabia seguramente
da mulher febril que habita as ostras.

Aquele rio
jamais se abre aos peixes,
ao brilho,
à inquietação de faca
que há nos peixes.
Jamais se abre em peixes.

DO MAR

Aqueles de um país costeiro, há séculos,
contêm no tórax a grandeza
sonora das marés vivas.
Em simples forma de barco,
as palmas das mãos. Os cabelos são banais
como algas finas. O mar
está em suas vidas de tal modo
que os embebe dos vapores do sal.
Não é fácil amá-los
de um amor igual à
benignidade do mar.

Nada Fica

Nada fica de nada. Nada somos.
Um pouco ao sol e ao ar nos atrasamos
Da irrespirável treva que nos pese
Da humilde terra imposta,
Cadáveres adiados que procriam.

Leis feitas, estátuas vistas, odes findas —
Tudo tem cova sua. Se nós, carnes
A que um íntimo sol dá sangue, temos
Poente, por que não elas?
Somos contos contando contos, nada.