Um dia Vc Va me dar o Valor que Mereco
O que pode se esperar de um ser humano perdido?
Que ele viva como nunca fosse morrer
Ou que ele morra como nunca tivesse vivido?
O que pode se esperar de uma pessoa que não pode sonhar...
TEU CORPO
O teu corpo muda
Independente de ti
não te pergunta
se deve engordar.
É um ser estranho
que tem o teu rosto
ri em teu riso
e goza com teu sexo.
Lhe dás de comer
e ele fica quieto.
Penteias-lhe os cabelos
como se fossem teus.
Num relance, achas
que apenas estás
nesse corpo.
Mas como, se nele
nasceste e sem ele
não és?
Ao que tudo indica
tu és esse corpo
-que a cada dia
mais difere de ti.
E até já tens medo
De olhar no espelho:
Lento como nuvem
o rosto que eras
vai virando outro.
E a erupção no queixo?
Vai sumir? Alastrar-se
feito impingem, câncer?
Poderás detê-la
com Dermobenzol?
Ou terás que chamar
o corpo de bombeiros?
Tocas o joelho:
Tu és esse osso.
Olhas a mão.
A forma sentada
de bruços na mesa
és tu.
Mas quem morre?
Quem diz ao teu corpo – morre –
quem diz a ele – envelhece –
se não o desejas,
se queres continuar vivo e jovem
por infinitas manhãs?
Jardins
Comecei a gostar dos livros mesmo antes de saber ler. Descobri que os livros eram um tapete mágico que me levavam instantaneamente a viajar pelo mundo... Lendo, eu deixava de ser o menino pobre que era e me tornava um outro. Eu me vejo assentado no chão, num dos quartos do sobradão do meu avô. Via figuras. Era um livro, folhas de tecido vermelho. Nas suas páginas alguém colara gravuras, recortadas de revistas. Não sei quem o fez. Só sei que quem o fez amava as crianças. Eu passava horas vendo as figuras e não me cansava de vê-las de novo. Um outro livro que me encantava era o “Jeca Tatu“, do Monteiro Lobato. Começava assim: “Jeca Tatu era um pobre caboclo...“ De tanto ouvir a estória lida para mim, acabei por sabê-lo de cor. “De cor“: no coração. Aquilo que o coração ama não é jamais esquecido. E eu o “lia“ para minha tia Mema, que estava doente, presa numa cadeira de balanço. Ela ria o seu sorriso suave, ouvindo minha leitura. Um outro livro que eu amava pertencera à minha mãe criança. Era um livro muito velho. Façam as contas: minha mãe nasceu em 1896... Na capa havia um menino e uma menina que brincavam com o globo terrestre. Era um livro que me fazia viajar por países e povos distantes e estranhos. Gravuras apenas. Esquimós, em suas roupas de couro, dando tiros para o ar, saudando o fim do seu longo inverno. Embaixo, a explicação: “Onde os esquimós vivem a noite é muito longa; dura seis meses.“ Um crocodilo, bocarra enorme aberta, com seus dente pontiagudos, e um negro se arrastando em sua direção, tendo na mão direita um pau com duas pontas afiadas. O que ele queria era introduzir o pau na boca do crocodilo, sem que ele se desse conta. Quando o crocodilo fechasse a boca estaria fisgado e haveria festa e comedoria! Na gravura dedicada aos Estados Unidos havia um edifício, com a explicação assombrosa: “Nos Estados Unidos há casas com 10 andares...“ Mas a gravura que mais mexia comigo representava um menino e uma menina brincando de fazer um jardim. Na verdade, era mais que um jardim. Era um mini-cenário. Haviam feito montanhas de terra e pedra. Entre as montanhas, um lago cuja água, transbordando, se transformava num riachinho. E, às suas margens, o menino e a menina haviam plantado uma floresta de pequenas plantas e musgos. A menina enchia o lago com um regador. Eu não me contentava em ver o jardim: largava o livro e ia para a horta, com a idéia de plantar um jardim parecido. E assim passava toda uma tarde, fazendo o meu jardim e usando galhos de hortelã como as árvores da floresta... Onde foi parar o livro da minha mãe? Não sei. Também não importa. Ele continua aberto dentro de mim.
Bachelard se refere aos “sonhos fundamentais“ da alma. “Sonhos fundamentais“: o que é isso? É simples. Há sonhos que nascem dos eventos fortuitos, peculiares a cada pessoa. Esses sonhos são só delas: sonhos acidentais, individuais. Mas há certos sonhos que moram na alma de todas as pessoas. Jung deu a esses sonhos universais o nome de “arquétipos“. Esses são os sonhos fundamentais. O fato de termos, todos, os mesmos sonhos fundamentais, cria a possibilidade de “comunhão“. Ao compartilhar os mesmos sonhos descobrimo-nos irmãos. Um desses sonhos fundamentais é um “jardim“.
Faz de contas que a sua alma é um útero. Ela está grávida. Dentro dela há um feto que quer nascer. Esse feto que quer nascer é o seu sonho. Quem engravidou a sua alma eu não sei. Acho que foi um ser de um outro mundo... Imagino que o tal de “Big-Bang“ a que se referem os astrônomos foi Deus ejaculando seu grande sonho e soltando pelo vazio milhões, bilhões, trilhões de sementes. Em cada uma delas estava o sonho fundamental de Deus: um jardim, um Paraíso... Assim, sua alma está grávida com o sonho fundamental de Deus...
Mas toda semente quer brotar, todo feto quer nascer, todo sonho quer se realizar. Sementes que não nascem, fetos que são abortados, sonhos que não são realizados, se transformam em demônios dentro da alma. E ficam a nos atormentar. Aquelas tristezas, aquelas depressões, aquelas irritações - vez por outra elas tomam conta de você – aposto que são o sonho de jardim que está dentro e não consegue nascer. Deus não tem muita paciência com pessoas que não gostam de jardins...
Menino, os jardins eram o lugar de minha maior felicidade. Dentro da casa os adultos estavam sempre vigiando: “Não mexa aí, não faça isso, não faça aquilo...“ O Paraíso foi perdido quando Adão e Eva começaram a se vigiar. O inferno começa no olhar do outro que pede que eu preste contas. E como as crianças são seres paradisíacos, eu fugia para o jardim. Lá eu estava longe dos adultos. Eu podia ser eu mesmo. O jardim era o espaço da minha liberdade. O jardim era o espaço da minha liberdade. As árvores eram minhas melhores amigas. A pitangueira, com seus frutinhos sem vergonha. Meu primeiro furto foi o furto de uma pitanga: “furto“ – “fruto“ – é só trocar uma letra.... Até mesmo inventei uma maquineta de roubar pitangas... Havia uma jabuticabeira que eu considerava minha, em especial. Fiz um rego à sua volta para que ela bebesse água todo dia. Jabuticabeiras regadas sempre florescem e frutificam várias vezes por ano. Na ocasião da florada era uma festa. O perfume das suas flores brancas é inesquecível. E vinham milhares de abelhas. No pé de nêspera eu fiz um balanço. Já disse que balançar é o melhor remédio para depressão. Quem balança vira criança de novo. Razão por que eu acho um crime que, nas praças públicas, só haja balancinhos para crianças pequenas. Há de haver balanços grandes para os grandes! Já imaginaram o pai e a mãe, o avô e a avó, balançando? Riram? Absurdo? Entendo. Vocês estão velhos. Têm medo do ridículo. Seu sonho fundamental está enterrado debaixo do cimento. Eu já sou avô e me rejuvenesço balançando até tocar a ponta do pé na folha do caquizeiro onde meu balanço está amarrado!
Crescido, os jardins começaram a ter para mim um sentido poético e espiritual. Percebi que a Bíblia Sagrada é um livro construído em torno de um jardim. Deus se cansou da imensidão dos céus e sonhou... Sonhou com um ... jardim. Se ele – ou ela – estivesse feliz lá no céu, ele ou ela não teria se dado ao trabalho de plantar um jardim. A gente só cria quando aquilo que se tem não corresponde ao sonho. Todo ato de criação tem por objetivo realizar um sonho. E quando o sonho se realiza, vem a experiência de alegria. Nos textos de Gênesis está dito que, ao término do seu trabalho, Deus viu que tudo “era muito bom.“ O mais alto sonho de Deus é um jardim. Essa é a razão porque no Paraíso não havia templos e altares. Para que? “Deus andava pelo meio do jardim...“ Gostaria de saber quem foi a pessoa que teve a idéia de que Deus mora dentro de quatro paredes! Um coisa eu garanto: não foi idéia dele. Seria bonito se as religiões, ao invés de gastar dinheiro construindo templos e catedrais, usassem esse mesmo dinheiro para fazer jardins onde, evidentemente, crianças, adultos e velhos poderiam balançar e tocar os pés nas folhas das árvores. Ninguém jamais viu a Deus. Um jardim é o seu rosto sorridente... E se vocês lerem as visões dos profetas, verão que o Messias é jardineiro: vai plantar de novo o Paraíso: nascerão regatos nos desertos, nos lugares ermos crescerão a murta (perfumada!), as oliveiras, as videiras, as figueiras, os pés de romã, as palmeiras... E lá, à sombra das árvores, acontecerá o amor... Leia o livro dos “Cânticos dos Cânticos“!
Pensei, então, que o ato de plantar uma árvore é um anúncio de esperança. Especialmente se for uma árvore de crescimento lento. E isso porque, sendo lento o seu crescimento, eu a plantarei sabendo que nem vou comer dos seus frutos e nem vou me assentar à sua sombra.... Eu a plantarei pensando naqueles que comerão dos seus frutos e se assentarão à sua sombra. E isso bastará para me trazer felicidade!
Um cara difícil exige uma paciência oceânica.
Ele vai ser romântico e muito bruto. Ele vai ser generoso e muito casca-grossa. Ele vai dizer a verdade e vai mentir às vezes. Ele vai fazê-la se sentir uma eleita entre todas e depois vai dar
mole para muitas. Ele vai implicar com as mínimas coisas, e com as grandes também. Ele vai exibir qualidades que você nem sabia que um homem poderia ter, e em troca vai abusar de todos os defeitos que você sabia que todo homem tinha. Ele vai ser ótimo na cama. Vai ser um perigo dirigindo um carro. Vai ser gentil com sua mãe. Vai ser um brucutu com a mãe dele. Ele mudará de humor a cada 20 minutos, ele vai brigar por nada, vai beijá-la demoradamente por horas e, com essa bipolaridade bem ou mal disfarçada, ele a deixará tão tonta e exausta que você pensará que foi atropelada por um trem descarrilhado. – Quem sou eu? – será sua primeira pergunta ao acordar sobre os trilhos.
No primeiro encontro, pergunte: – Você é um homem difícil? Se ele responder que é, procure imediatamente um psicanalista. Para você, santa.
Um ponto importante da sabedoria de vida consiste na proporção correta com a qual dedicamos a nossa atenção em parte ao presente, em parte ao futuro, para que um não estrague o outro. Muitos vivem em demasia no presente: são os levianos; outros vivem em demasia no futuro: são os medrosos e os preocupados.
Quando um homem não é influenciado por difamações continuamente repetidas ou por denúncias pelas quais ele sente alguma simpatia, ele pode ser chamado de perspicaz.
Uma ligação. Uma mensagem. Um olhar. Um sorriso. Um beijo. Não programe sua vida, pois as melhores coisas acontecem naturalmente.
Definição de poesia
Um risco maduro de assobio.
O trincar do gelo comprimido.
A noite, a folha sob o granizo.
Rouxinóis num dueto desafio.
Um doce ervilhal abandonado
A dor do universo numa fava.
Fígaro: das estantes e flautas –
Geada no canteiro, tombado.
Tudo o que para a noite releva
Nas funduras da casa de banho,
Trazer para o jardim uma estrela
Nas palmas úmidas, tiritando.
Mormaço: como pranchas na água,
Mais raso. Céu de bétulas, turvo.
Se dirá que as estrelas gargalham,
E no entanto o universo está surdo.
Nossa história tem três partes: um começo, um meio e um fim. Embora seja assim que todas as histórias se desenrolam, ainda não consigo acreditar que a nossa não durará para sempre.
A UM GATO
Não são mais silenciosos os espelhos
Nem mais furtiva a aurora aventureira;
Tu és, sob a lua, essa pantera
que divisam ao longe nossos olhos.
Por obra indecifrável de um decreto
Divino, buscamos-te inutilmente;
Mais remoto que o Ganges e o poente,
É tua a solidão, teu o segredo.
O teu dorso condescende à morosa
Carícia da minha mão. Sem um ruído
Da eternidade que ora é olvido.
Aceitaste o amor desta mão receosa.
Em outro tempo estás. Tu és o dono
de um espaço cerrado como um sonho.
O coração é um solo. Vale onde brotam as paixões, como os outros vales da natureza inanimada, ele tem suas estações, suas quadras de aridez ou de seiva, de esterilidade ou de abundância.
Depois das grandes borrascas e chuvas, os calores do sol produzem na terra uma fermentação, que forma o húmus, a semente, caindo aí, brota com rapidez. Depois das grandes dores e de lágrimas torrenciais, forma-se também no coração do homem um húmus poderoso, uma exuberância de sentimento que precisa expandir-se. Então um olhar, um sorriso, que aí penetre, é semente de paixão e pulula com vigor extremo.
Um grão de ouro é capaz de dourar uma grande superfície, mas não tão grande como um grão de sabedoria.
Simples como um fim de tarde
Foi esperando quase nada que um quase tudo apareceu. Simples como um fim de tarde. No começo era medo, incerteza, insegurança surgindo como relâmpago no céu. Depois, uma sensação de pertencimento, de paz, de alegria por encontrar um sentimento desconhecido, mas que fazia bem. Não teve espumante, holofote, tapete vermelho. Foi simples como um fim de tarde. Algum frio na barriga, interrogações deslizando pelas mãos suadas, uma urgência em saber se aquilo era ou não pra ser. É que um dia alguém nos ensina que quando é pra ser a gente sente. Eu sempre quis que fosse pra ser, mas nunca foi. Com isso, me distanciei de mim e das minhas crenças. Mas então, o que não tinha nada, nada pra ser, foi. E eu fiquei ali, perplexa, parada, estupefata, com medo de dar certo. Porque a gente tem um medo que nos mastiga lentamente. Um medo azedo, que deixa a boca adormecida, que cutuca insistentemente. Medo da felicidade. Medo de que um sonho aconteça. Medo de enfrentar nossos sentimentos que ainda não acordaram. Então, abri os olhos. Não era sonho. Eu vivi aquilo. Eu sobrevivi ao medo. Eu encontrei o que chamam de amor.
(Posso dividir uma coisa com você? Apesar de meio bobo, às vezes chato e outras tantas maluco, ele é simples como um fim de tarde.)
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