Textos para Mensagens de Bodas de Ouro

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⁠Como todos os outros povos no ocidente, os brasileiros seguiram a ideia de que não é o tempo presente que comprometemos para gerar o nosso futuro, mas é a penhora do tempo futuro que deve nos dar alguma sobrevivência no presente.
O trabalhador faz o que sobra para ele no mercado de trabalho, e não aquilo que melhor pode realizar as suas potencialidades.
Estamos enredados na complexidade de um capitalismo cuja lógica do mercado das finanças, e não mais a lógica do mercado em função da produção, dominou a sociedade.
Damos mais dinheiro aos monopólios (fornecendo dados que serão capitalizados) e mesmo assim não ganhamos nada por isso. É a extorsão máxima de mais-valia que temos hoje. Toda sua vida é capitalizada. Nossa vida é uma engrenagem. Mais um conjunto de dados para o capitalismo. Que nos faz pagar para acessar esses meios que nos espoliaram. Pagamos para trabalhar, pagamos para fazer cada atividade.
O Estado é privatizado para os bancos. No fim o que sobra é só a dívida da dívida. É como se começássemos a vida com o saldo negativo.
Convencem-se que toda a infosfera precisa ser utilizada por elas próprias para se projetarem e conseguirem trabalhar.
Acham-se na condição de dados e, mais ou menos conscientemente, se comportam como dados. São dados concorrenciais no mercado de trabalho que, enfim, se transforma em um mercado de dados, ou melhor, em uma nuvem de dados que, por mecanismos que estão muito além de mérito pessoal, as destacam no Youtube ou coisas semelhantes.
Todos precisam estar na internet oferecendo seus serviços, produtos, habilidades e, principalmente, falta de habilidades. Mas tudo na forma de dados.
O que é íntimo e o que poderia ser público se fundiram. Ninguém mais sabe o que é a privacidade ou intimidade. Todos, até em nome da ética, pedem transparência. Interessante: transparência. Seja um dado, mas seja visto tão rapidamente que vire algo transparente.
A padronização se acentua na infosfera, pois ela é um campo de mimetismo, de alta diversidade, porém padronizada.
A infosfera não é avessa à criação, mas a cada nova criação ela se satura pela repetição, pela mesmidade, pela velocidade do fluxo do mesmo. Talvez a pornografia seja o exemplo mais típico desse processo, mas todo e qualquer fluxo pode ser pornográfico, ou seja, explícito em demasia, repetido sem que o espírito possa ser chamado.
Cada eu que se apresenta na internet obedece, antes de tudo, a velocidade de uma capacidade perceptiva que impera o fugaz, a insaciabilidade, o que é viciante e sem qualquer reflexão.
O fluxo contínuo de imagens, dizem alguns psicólogos, tem função de dopamina.
No campo da política democrática, então, nasce a reclamação pela falta de propostas dos candidatos, mas se algum candidato não apresentar o comportamento pedido pela velocidade de fluxo e de imagens dos shorts do TikTok, e resolver realmente explicar uma proposta, não será ouvido.
Eles próprios, os que pensam comandar os investimentos e saber deles, os que operam as bolsas de valores, estão ali, feito idiotas, querendo nos convencer que sabem o que está ocorrendo. Acreditam que podem dar lição de economia financeira e investimentos. Não podem. Todos os cálculos e tendências são feitos por máquinas. E os algoritmos criam fluxos que escapam ao modo de entender humano. Esse modo de funcionar da máquina molda todos nós, e também o que esperamos da performance dos políticos. Não raro, os políticos se tornam caricaturas do que a internet fez deles naquilo que ela tornou o fixo, pela repetição. A função dos memes é exatamente essa.

Inserida por xALVESFELIPE

⁠Frendship with Amanda

Dizem que amor é sempre brando, macio como nuvem ao amanhecer. Mas o que temos é trovão trocando farpas, é tempestade que insiste em não ceder. Dizem que amor é feito de calmaria,
mas o nosso laço é furacão. Não tem flores na varanda, mas tem raízes fincadas no chão. Elas são a prova de que, mesmo em solo instável, pode emergir uma relação incomparável. Gritamos, não por raiva, mas por querer ser ouvido, ferimos, não por mal, mas para proteger o que é vivido. E no fim, cansados da guerra travada, voltamos ao riso, prontos pra renascer. Não somos perfeitos, nem queremos ser, só sabemos que aqui é o nosso lugar. Entre gritos, risos e tempestades, sempre voltamos a nos encontrar. O amor por uma pessoa também é isso: encontrar beleza nas rachaduras, e ainda assim chamar de lar. Aos outros, a nossa relação parece estranha, um labirinto ou um enigma, sem razão ou caminho, quem observa de longe não enxerga a montanha que construímos juntos, no silêncio e no destino. Pemanecemos, não porque é fácil, mas porque sabemos, no fundo do peito, que o telhado pode vazar, as paredes podem rachar, mas a casa que temos ainda é lar. E assim seguimos, com baldes e panos, consertando o que dá, deixando o resto pra depois. Porque o amor por uma pessoa também deve incluir isso: aceitar as goteiras de seu telhado, e ainda assim escolher ficar, debaixo do mesmo teto. Brigamos, nos distanciamos, mas sem querer. Cada batalha é um lembrete do quanto ainda queremos entender. No caos, em meio ao grito e ao rancor, escolhemos seguir, mesmo sem saber onde dói a dor. Brigamos, nos afastamos, mas sempre voltamos, porque é no caos que nos encontramos. Nossos corações, que se chocam e se quebram, se refazem, se curam, e se entregam. Nos tornamos mais fortes, mais próximos, e mais íntimos, laços que a alma tece em ritmos. Um amor que não se ressente, que se acolhe, se escolhe, que se compreende, que juntos um alicerce. E o que sentimos, mesmo sem palavras, é o reflexo de algo mais profundo, que não se vê, mas se sente, um amor que se faz forte no meio do descompasso, no que é imperfeito, mas é eternamente presente. E mesmo nos momentos mais escuros, nos encontramos, iluminados pela certeza de que juntos, somos inteiros. Mesmo nas tempestades, sempre há a promessa do sol, e a certeza de que juntos podemos enfrentar qualquer clima, qualquer adversidade. Justamente nesse mistério que encontramos nossa magia, no jeito único que só nós dois entendemos, forte o suficiente para resistir ao tempo, essa é a nossa verdade. A vontade de cuidar permanece, e nos move, mesmo nas horas de dor, como um farol que nos guia ao amor. Mesmo quando o mundo ao nosso redor treme, sabemos que temos um ao outro para nos sustentar, porque é no perdão, nas pequenas reconciliações, que o nosso amor se renova e cresce, sem parar. Mesmo nos dias mais difíceis, sem desanimar, o amor nos leva a seguir, sempre a caminhar. E o que nos torna indestrutíveis, na verdade, não é a ausência de dificuldades, mas a lealdade. A nossa capacidade de nos curar e abraçar, independente do que aconteça, um ao outro amparar. Não se trata de corações em chama, nem de juras ditas ao luar. É o falar suave que acalma, um olhar que sempre vai se encontrar da maneira mais bela. O tipo de amor que é para sempre, sem cautela. Sentimentos se entrelaçam sem fim, é amizade que faz o mundo, e transforma cada momento em jardim. Perguntam, mas não entendem o segredo, é o carinho que vai além do amor, o medo de perder algo de imensurável valor. Seus pensamentos, sua dor, seus medos e risos não estão à vista, mas são meus quando você escolhe os pronunciar. Presença não é só corpo, é o eco que fica no ar, é a lembrança que acende quando o outro está a milhas a mar. Há outras formas de tocar: um verso, um riso, um suspiro. Há outras formas de amar: um nome escrito no mar, um suspiro compartilhado em segredo, um sorriso que brilha mesmo no medo. Em um falatório que organiza a mente, em um silêncio que cria ambiente, em um gesto simples e a alma a tocar, tudo que se forma um lar, aquela pausa que você pode descansar. Intimidade é isso: um fio invisível que tece, ligando almas, corações, onde o tempo se esquece. E assim, mesmo longe, extremamente presente: na palavra que acolhe,no afeto que aquece a gente. Qualquer um pode dizer que te ama, mas eu? Aaah, eu te poesio!

Inserida por xALVESFELIPE

⁠*O coração que ama e não é amado*

Sofre, geme e chora
O coração que ama e não é amado
Vive sozinho e amargurado
Abandonado pelo seu amor, peregrino e sofredor
Sentindo sempre uma grande dor.

Dor que só é aliviada com uma linda canção
Canção que vai ao íntimo do coração
Tirando toda a tristeza
Trazendo de volta a beleza
E a paz a este pobre coração.

Coração que um dia já sofreu
E que bastante viveu
Amando e não sendo amado
Sofrendo e sendo humilhado
Vivendo como o culpado de viver nesta solidão.

Mas o verdadeiro culpado
Foi aquele amor do passado
Este sim, deveria ser condenado e maltratado
Por quem tanto ele humilhou
E também maltratou
Para saber como é doloroso
Sofrer por um grande amor.

Inserida por marilia_lima_4

Peço a paz e o silêncio

A paz dos frutos
e a música
de suas sementes
abertas ao vento.

Peço a paz
e meus pulsos

traçam na chuva
um rosto e um pão.

Peço a paz
silenciosamente
a paz, a madrugada

em cada ovo aberto
aos passos leves da morte.

A paz peço, a paz apenas
o repouso da luta no barro das mãos
uma língua sensível ao sabor do vinho
a paz clara, a paz quotidiana
dos actos que nos cobrem
de lama e sol.

Peço a paz e o silêncio.

Casimiro de Brito.
BRITO, C., Jardins de Guerra, 1966
Inserida por NewtonJayme

MARIA DE NAZARETH,

Não me desampare teu amparo,
não me falte a tua piedade,
não me esqueça a tua memória.

Se tu, Senhora, me deixas,
quem me sustentará?

Se tu me esqueces,
quem se lembrará de mim?

Se tu, que és Estrela do Mar
e guia dos desencaminhados,
não me iluminar, onde irei parar?

Não me deixes tentar pelo inimigo,
e se me tentar, não me deixe cair,
e se cair, ajuda me a levantar.

Quem te invocou, Senhora,
que não tenha sido ouvido?
Quem te pediu que não tenha atendido?

Inserida por NewtonJayme

Sorte

Existem 2 trilhões de galáxias e, até este momento, foram descobertos cerca de 150 planetas, pertencendo 8 nosso sistema Solar. Já em nosso planeta, há 6 continentes, 193 países e por volta de 7 bilhões de pessoas. Em aproximadamente 4,54 bilhões de anos de história eu nasci na mesma época, galáxia, planeta, continente e país que você, qual a probabilidade? Meu amor por ti não caberia no Aglomerado de Virgem.

Inserida por GabrieldeArruda

⁠O Eremita

Com lentes tingidas de um brilho sombrio,
Meus olhos, embotados de dor e lágrimas,
Veem o que outros não percebem, no silêncio confinado.
Com olhos que ultrapassam o véu da realidade,
Sou um estranho em minha terra, sem lugar para pertencer,
Amei com a quietude de estrelas esquecidas,
Sonhei com a vastidão de galáxias perdidas,
Mas meu coração é um relicário de esperanças defuntas,
Um navio sem ancoradouro, perdido em um oceano de solitária penúria.
Sou um homem que, em suas próprias marés, se consome e se afoga
E, nas profundezas da mente, se perdeu.

Inserida por GabrieldeArruda

Marginal

Às margens profundas do meu ser, vagueio como um rio agitado sem leito. As palavras, como pesadas pedras, afundam no abissal silêncio impenetrável.

As pobres almas que toquei, como folhas secas outonais, desprendem-se e voam para longe. Desaparecem na bruma do cruel tempo.

Ó rio, sem rumo, sem destino, és espelho da minha própria existência.

Rio sou. E fluí.

Leva-me para além.

Que eu seja a folha seca que flutua em tuas correntezas, que se despede, e que o tempo, implacável, me leve para a outra margem.⁠

Inserida por GabrieldeArruda

⁠⁠Impermanência

Quão alegres são as chegadas, loquazes,
E os prazeres que consigo trazem,
O espírito se incendeia, dança,
Quão tristes são as partidas, silentes,
E os prazeres que consigo levam,
O espírito se dilacera, despedaça.
Ah, estou farto, meu tolo coração, tantas vezes ridículo, deseja pelo dia
Em que os encontros superarão as despedidas. Como uma pessoa a quem lhe impõe a ter a sua desgraça.

Inserida por GabrieldeArruda

⁠Epiderme

Dentro de mim habita o verdadeiro terror,
Onde os monstros se escondem sob a pele,
Revelando a verdade que nos abate,
Não se iludam, aqueles que confiam em nós!
Não há cama que os oculte, pois não se escondem debaixo dela,
Mas por baixo dos lençóis e os seres, onde não há certezas,
Não creio em mim, com certeza, sou um monstro, não mártir, nem herói.
Mediocramente humano, foi minha vida, escravo do que nunca serei
A capacidade humana, essa sempre me aterrorizou mais que fantasmas.
Consagro a nós o desprezo, tudo isso seja o que for que sejas
Aqueles que confiam, não se enganem.

Inserida por GabrieldeArruda

(Des)encaixes

⁠Sou uma peça defeituosa neste quebra-cabeça da vida, tão fragmentado. Não tenho um lugar de encaixe, não. Estou desconectado das outras peças. Talvez eu deva cortar os meus excessos, minhas ásperas arestas que me impedem de encaixar-me neste tão cruel jogo.

Estou vencido, talvez tenha desistido ou mesmo nunca tenha tentado coisa alguma. Devo despir-me das ilusões, das expectativas vãs, para poder encontrar uma peça que possa me completar. Devemos lutar para conquistar o nosso espaço, mas tudo isso me pesa.

A pele que visto é errada; rasguei-me e de mim nada restou. Esta é a razão do meu sofrimento e das coisas fugidias. Quem me dera pudesse resolver este grande desafio, montar este estúpido jogo e dar-me por satisfeito.

Às vezes a vida é traiçoeira, e o destino parece um enigma insolúvel. Mas para mim, a vida nunca foi senão uma acompanhante de sentir. Compreendi finalmente que a sua beleza está na futileza. Aproveitar a vida, deixe-me ser azarado no jogo; tenho tido azar na sorte, mas a minha sorte está no amor, ah, e como eu amei.

Inserida por GabrieldeArruda

⁠Parassonia

Estou cansado, é claro,

Porque, a esta altura, a gente tem que estar cansado.

De que estou cansado, não sei:

De nada me serviria sabê-lo,

Pois o cansaço fica na mesma.

Estou cansado de pensar, a toda hora, há tantos anos, desde a minha mocidade.

A minha cabeça já não mais encontra repouso, noite após noite, o sono me escapa, como se temesse adentrar neste caos que é a minha mente.

Quando finalmente o apanho, sonâmbulo, eu converso com as paredes.

E mesmo quando acordado, eu converso comigo mesmo, tenho o hábito de conversar sozinho.

Tenho visto muito e entendido muito o que tenho visto.

Eu penso demais, e a minha cabeça pesa toneladas.

Lembro de coisas que gostaria de ter esquecido e imagino coisas que gostaria que não tivessem acontecido.

Deus, com sua ironia, me amaldiçoou com o pensamento, e me fez inquieto, inquisitivo.

Há um certo prazer até no cansaço que isto me dá,

Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa.

Inserida por GabrieldeArruda

⁠Às vezes, uma tristeza tão penetrante
Invade e arrebata minha alma,
Levando-a para um lugar desconhecido,
Onde me perco e não me encontro,
Onde não existem portas nem janelas,
Apenas uma estrada longa rumo ao mistério da vida.

Inseguro, volto minha atenção para trás,
Com os olhos sobre os ombros,
E o peso das minhas decisões sobre as costas,
Tropeço nas minhas incertezas.
Rendido, me entrego ao chão,
Derramo-me sobre a cama e inicio um novo dia nessa velha rotina.

Inserida por GabrieldeArruda

⁠Sublime

Fiz grandes e nobres propósitos, mas sou tão pequeno,
Sim, tão pequeno e insignificante.
Observo as grandes cidades de concreto e aço,
Entre arranha-céus que roçam o céu,
Vejo pessoas cruzando as ruas, e os carros.
Há vielas estreitas, onde cada pequeno passo
Descobre o encanto revelado pelo tempo,
Que talvez se perca nesta vida vulgar,
Mas permanece gravado em grafites vulgares.
Vida vulgar, vulgar, como um mendigo verdadeiro.

Vou ao campo e vejo os animais, e as crianças,
Nos vastos jardins, entre rosas delicadas e lírios em flor,
O perfume suave que enche o ar, e o vento que acha meu cabelo.
Cada pétala, um juramento de amor...
Assim saibamos valorizar o simples, o modesto, o singelo.

Descobrir o sublime no cotidiano, no ordinário,
Na essência real das coisas,
Encontrar a beleza que transcende o mundano,
A verdade mais metafísica.

Por trás de cada nascer e pôr do sol dourando o céu,
Onde há pequenos planetas distantes,
Sob os verdes tapetes e vastos campos,
E na imensidão divina, onde o céu se alarga no firmamento.

Sempre há pequenos milagres a perceber,
Em cada gesto simples, um mundo descoberto,
Na plenitude do ser e do existir,
Onde a grandeza habita nas igrejas e casas, e nas mentes,
Onde podemos vislumbrar o infinito num beco e ouvir a voz de Deus num viaduto.
Mas sou, e serei sempre, o que não soube, fiz de mim sublime, humano.

Inserida por GabrieldeArruda

⁠⁠Eu sinto uma profunda dor silenciosa...

Gosto do som da música, do percurso
da minha casa até o trabalho;
estou sempre ouvindo música.
Em casa e no trabalho, ouço o barulho
dos carros, dos comboios e de toda a gente.
Chego em casa, ligo a televisão e ouço o noticiário:
outra vítima do silêncio se atirou
nos ruidosos trilhos do trem.
No trabalho, ouço o rádio, que toca uma música ridícula, e
minh'alma sofrida dança desolada.

Gosto do som da chuva, lágrimas do céu;
até os homens choram, silenciosamente.
E o choro da terra é abafado
pelos nossos gritos ambiciosos;
ouço o barulho das fábricas, corro para o campo,
e a chuva, tempestuosamente,
em seu suave cair, encharca meu coração ressecado.

Gosto do canto dos pássaros;
da minha cama me levanto,
e nela me deito, ouvindo os tordos ao amanhecer
e os urutaus ao anoitecer que, calmamente,
levam distante meu espírito atormentado.

Gosto de deitar-me e dormir
com o barulho do ventilador;
porque gosto de barulho,
assim silencio os gritos sussurrados
em minha cabeça. E eu, que tenho sido tão quieto,
se os ouço e me falam, descanso resignado.

Inserida por GabrieldeArruda

⁠Eu acredito em Deus, mas me pergunto se Ele crê em mim,
assim como cremos na Sua chuva, e no seu Sol.

O que é real? As paredes sólidas e frias de concreto,
concreto, a realidade concreta. Ou a memória fugaz
de um abraço quente e terno, terno, visto o terno,
chego ao trabalho, olho-me no espelho, e não vejo nada.

Cego, vejo além do espelho e enxergo através da realidade sensível,
sensível, atravesso as aparências em busca de algo que transcenda o tangível.

Mas então o espelho despedaça-se diante dos meus olhos,
como coisa real, um mosaico de sentimentos e lembranças,
desfaz-se e reconstrói-se a cada instante. Cada caco reflete uma versão minha,
mas, entre tantos, quem realmente sou eu?

Há tantos de mim que não podem tantos estarem certos, e entre tantos, perdi-me.

Inserida por GabrieldeArruda

⁠Eu vivo um dia de cada vez,
Levanto-me cedo, enfrento o trem,
E volto tarde, sem ninguém.

Construo sonhos de papelão,
Como um mendigo,
Mãos calejadas, olhos cansados,
Essência perdida.

Vivo um dia de cada vez,
Como se fosse o último,
Não por querer viver,
Mas por precisar comer.

Construo um lar de solidão,
Como um empregado,
Com tijolos de suor e dor,
E paredes de ilusões.

Vivo um dia de cada vez,
Como se fosse uma prisão,
Não por querer viver,
Mas por não ser ninguém.

Construo uma vida de incertezas,
Enfrento a vida, e me perco,
Sem coragem para lutar...

Inserida por GabrieldeArruda

⁠Eu tenho o péssimo hábito
de amar tudo aquilo
que me escapa à mão.
Talvez o amor, em essência,
seja um desejo inatingível,
perseguindo incansavelmente
o próprio rabo, como um cão à roda.

Carrego em minha pequenez
a cruel ironia
dos sonhos que, alçados,
se erguem como montanhas firmes,
e que, num instante breve,
se desmoronam em montes de areia.

Soterrado pela rotina,
pela futilidade do dia-a-dia,
sinto o peso da realidade
que escorre entre meus dedos
como areia numa ampulheta.

Talvez esperar que o mundo
se despenhe em barranco,
e morrer deitado à sombra
não seja de toda a má ideia.

Inserida por GabrieldeArruda

⁠Há um buraco negro em meu peito,
um abismo que devora a luz que sou,
deixando a minha alma inquieta, fora da órbita.

Um universo na minha mente se expande,
planetas de pensamentos que colidem e se metamorfoseiam;
tanta imensidão não cabe neste corpo tão diminuto,
que agoniza sob o peso da própria grandeza.

Meus amores e sonhos, infinitos na sua finitude,
são tão distantes quanto as estrelas que piscam longínquas.
Ah... metafísica! Em nenhum mundo encontro disposição,
apenas o fardo de estar indisposto,
cansado de aqui, cansado de lá,
Alá me acuda, ou Deus, que fiz eu aos deuses?
Estou cansado de teologia,
cansado de qualquer lugar que me aprisione.

Inserida por GabrieldeArruda

⁠Estou à procura de algo, o quê? Não faço a mínima ideia,
E isso realmente importa? Sinceramente, tanto faz...
Mas oh, maldito desejo que pulsa!
O tédio de não possuir o que desconheço,
E a ânsia por algo que não se sabe.

Como posso querer o que nunca vi,
Se, talvez, querer nunca foi?
Nem sei se ainda existe,
Ou se apenas existiu, ou se pode existir.

Para onde vou, tudo que encontro
Pertence a alguém, pertence a alguém,
Tudo tem posses e senhores,
E a mim, que restará?

A quem ou a que pertenço? Sei lá!
Tudo tem nome, tudo tem endereço,
mas eu permaneço desconhecido, incerto.
Talvez eu não seja deste mundo, e, sinceramente, tanto faz!

Inserida por GabrieldeArruda