Textos de Chico Chavier sobre o Amor
PONTEIO À MADRUGADA
Eu não sou de improvisar,
Mas se verso é na bitola
Saltitante, cabriola
Com um quê de emocionar.
Já fui carcará a ciscar
Na terra fértil sulcada...
Se ponteio à madrugada
Meu arpejar denuncia
Que respiro poesia
Junto com a passarada!
Sou difícil de juntar
Se me espalho... É minha sina
Ser um galo de campina
De galho em galho a trinar
Ou calango a rastejar
Em lajedos da Caatinga,
Meu camuflar de coringa
Me esconde e ninguém acha
No barro do chão que racha
Se não chove e nada vinga.
Sou o aboio do vaqueiro
No semiárido cinzento,
Ligeiro quão pensamento
A peitar o marmeleiro,
Flor e fruto de cardeiro
A desafiar mormaço,
Eu sou água de cabaço
Na sombra da umburana,
Sou tapera, sou choupana
Esquecida qual retraço.
No meu tempo de menino
Eu fui rico fazendeiro,
Plantação de umbuzeiro
Tratei com zelo e refino.
Fui calça boca de sino
Em caminho de carrapicho,
Não tive medo de bicho,
Sempre fui desassombrado
E estradeiro acelerado
Destacado por capricho.
Eu sou desse mundo agreste
Onde fui peão no eito...
Chão que tem o meu respeito
No coração do Nordeste.
Caboclo é Cabra da Peste
No Sertão Paraibano,
Tem miolo, tem tutano,
Tem um que de sábio ser
Que o tempo sabe ler
Em cada estação do ano.
Convidei um rouxinol
Para uma parceria
Quando entrei na moradia
Tão deserta quão paiol.
Na viola um tom bemol,
Começamos a cantar...
Mas terminei por chorar
De tanta melancolia,
Tudo se fez poesia
Ao voltar ao meu lugar.
QUANDO A NATUREZA EXCEDE
NA BELEZA SINGULAR
Os que contemplam o belo
Na fauna e no vergel,
Nas nuvens soltas no céu,
Num fruto, num cogumelo,
Num veio d’água singelo,
Vivem a valorizar
O meio ambiente, o lar
Onde vive e até se mede
Quando a natureza excede
Na beleza singular.
O poeta que se inspira
Nas cores que a natura
Dispensa com a ternura
Do arco-íris que tira
O fôlego de quem o mira,
D’um artista a pincelar
Quadro que faz meditar
No abstrato que procede
Quando a natureza excede
Na beleza singular.
As flores que na floresta
Enchem a vista da gente,
Faz qualquer olhar plangente
Convidado para a festa,
Nos embala na seresta
D’aves a cantarolar,
De um constante sibilar
Logo passa a ser a sede
Quando a natureza excede
Na beleza singular.
Do tucano ao beija-flor
Tem beleza sem igual,
Capacete de calau
Também tem o seu valor
E faz parte do esplendor
Da fauna espetacular,
Costa litorânea, o mar,
Amazônia que não cede
Quando a natureza excede
Na beleza singular.
Nos mistérios do pavão,
Na semente germinada
Dando fruto que agrada
Quando há degustação,
Num quintal de criação,
Galinha a cacarejar
É como gado a pastar
No cercado que concede
Quando a natureza excede
Na beleza singular.
O sol nasce do arrebol
Para aquecer a manhã
Do lago da jaçanã,
A estender seu lençol
Para que o girassol
Desabroche ao luar
Quão poesias no ar,
A ternura é que sucede
Quando a natureza excede
Na beleza singular.
TODO TEMPO O TEMPO TODO
Majestosa é a natura
Que apresenta fauna e flora!
Coloração se mistura
No Vergel a toda hora!
Eu que sou um nordestino
Que tem força igual bambu,
Meu contemplar vespertino
Exalta o mandacaru!
Sobre o bem viver das aves
Quase sempre me debruço...
Porque vivem sem entraves,
Com Deus controlando o pulso!
Todo tempo o tempo todo
Pulsa a vida em nosso ser,
Não importa, se no lodo,
Ou onde o ente viver!
"A Poesia é" mui bela...
Nos eleva às alturas...
E nos faz navegar nela
Sobre mares de ternuras!
MANDACARU EM FLOR
A flor do mandacaru
Traz beleza e esperança
Ao semiárido cinzento,
Qual marco de confiança,
A transmitir singeleza
À Caatinga, à natureza,
Num sugerir de aliança.
Desabrocha entre espinhos
Esbanjando majestade,
No atrair de passarinhos
Que a beijam com bondade.
Mandacaru faz-se grato,
Floresce solo, no mato
Seco, mostrando humildade.
O mandacaru em flor
Devolve vida a savana,
Mata branca nordestina
Que de seca, desengana!
Bendito seja o cardaeiro
Que junto ao juazeiro,
Mostra resistência e gana!
Salve o vermelho fruto
Do mandacaru primeiro,
Sã porção que alimenta
A atraídos pelo cheiro,
Passarinhos, roedores,
Que desfrutam dos primores
Presentes no tabuleiro!
Carta às mães
Minha irmã, se Deus te deu.
A luz da maternidade,
Deu-te a tarefa divina
Da renúncia e da bondade.
Busca imitar no caminho
A Rosa de Nazaré,
Irradiando o perfume
De amor, de humildade e fé.
Lembra sempre em tua estrada,
Que a paz de tua missão
É feita dessa ternura
Que nasce do coração.
Contempla em cada filhinho
Um luminoso sorriso
Da alegria dolorosa
Que te leva ao paraíso.
Porque, ser mãe, minha irmã,
É ser prazer sobre as dores,
É ser luz, embora a estrada.
Tenha sombras e amargores.
Ser mãe é ser a energia
Que domina os escarcéus,
É ser nas mágoas da Terra
Um sacrifício dos céus.
Pensa nisso e não duvides
Da grande misericórdia,
Que te deu na senda escura
A lâmpada da concórdia.
Ouve ainda. Tem cuidado
Com o teu próprio coração.
Não deixes que se transforme
O teu amor em paixão.
Muita vez, a mãe terrestre.
Em vez de salvar, condena,
Porque do amor que redime
Faz a paixão que envenena.
Há muitas mães nos Espaços
Chorando na desventura,
Os perigosos desvios
De sua imensa ternura.
Ama o filho de outra mãe
Qual se fora teu também,
E estarás santificado
Teu lar nas luzes do Bem.
Castiga amando o teu filho
Em teu carinho profundo.
Prefere o teu próprio ensino
Às tristes lições do mundo.
Recorda que está contigo
A missão de renovar,
De corrigir perdoando,
De esclarecer e ensinar.
Nos teus exemplos repousa
A esperança do Senhor,
Que há de salvar este mundo
Por meio de teu amor.
Carinho e reconhecimento
Querida Mamãe,
Pedindo-lhe me abençoe com o seu carinho de todos os dias, venho trazer-lhe meu abraço.
É sempre doce acenar, à senhora, com o sinal de nossa ternura, de nosso reconhecimento.
Tenho a ideia de que nós, seus filhos, somos pássaros incapazes de esquecer a árvoreacolhedora que os viu nascer.
Por muito vastos sejam os nossos voos, chega o momento em que sentimos sede do aconchego suave do ninho e, alegres e confiantes, tornamos aos seus braços, renovando as energias para as incursões no espaço infinito! Graças a Jesus, vemo-la corajosa, refeita.
A ventania arrasadora rouba-lhe os galhos de esperança, decepa as flores de seu ideal deesposa, mãe e mulher; mas a senhora permanece firme, à frente do temporal.
Rendamos graças à Divina Providência pela dádiva de sua coragem e de seu heroísmo.
As mãos de Jesus operam milagres nos corações que a elas se entregam com segurança.
Afastam pesares, curam chagas, adormecem a dor.
Levantam-nos para o trabalho e sustentam-nos na tarefa que nos cabe desenvolver.
Dissipam a neblina da angústia e acendem nova luz nos horizontes de nossa fé.
Multiplicam nossas forças, dilatando-as no serviço a que nos afeiçoamos a favor denosso próprio bem.
Cerram nossos lábios quando a fadiga nos sugere observações imprudentes e constituem infalível apoio para que não venhamos a cair nos despenhadeiros que se alongam nasmargens do caminho que devemos trilhar.
São arrimos valiosos que nos sustentam de pé, transportando-nos através de asas luminosas,às visões do Céu...
Procuremos, cada dia, as mãos do Senhor.
Sem elas, Mamãe, não seria possível um passo à frente, na estrada de redenção a quefomos conduzidos pela Bondade Celestial.
Com a senhora, aprendi a buscar esse bendito sustentáculo de minha jornada nova...
Deus a recompense por todas as bênçãos de sua maternal dedicação.
Ainda e sempre, rogo-lhe não esmorecer...
Com o Mestre da Verdade, sabemos que tudo perder no mundo transitório é tudo reencontrar na vida eterna.
Seu espírito valoroso tem sabido planejar o bem e executá-lo, sem desligar-se da certeza de que tudo é de Deus e de que tudo permanece n'Ele, nosso Amoroso Pai.
Compreendo-lhe a suprema renúncia.
Sem ela, contudo,não lhe seria possível realizar tanto, em nosso benefício.
É por isso que, em preces silenciosas e constantes, peço ao Senhor a conserve resistentee calma, nobre e forte.
Recordemos que as mãos de Jesus permanecem nas diretrizes de nossa marcha.
O tempo é um empréstimo de Deus.
Elixir miraculoso – acalma todas as dores.
Invisível bisturi – sana todas as feridas, refazendo os tecidos do corpo e da alma.
Com o tempo erramos, com ele retificamos.
Em companhia dele, esposamos graves compromissos e, por ele amparados, resgatamostodos os nossos débitos.
Enquanto acreditamos que o tempo nos pertence, muitas vezes, caímos presas de cipoais de sombra; mas, quando compreendemos que o tempo é de Deus, o nosso retorno à paz seconcretiza em abençoada recuperação de nós mesmos para o amor que tudo regenera e tudosantifica.
Confiemos, assim, no tempo que o Senhor nos concede à própria libertação e prossigamos convertendo nossos problemas em lições e as nossas lições em bênçãos da divina imortalidade.
Jesus está conosco e, ao toque de sua infinita bondade, todas as nossas experiências setransformam em motivos de felicidade imperecível.
A todos os nossos, o meu abraço carinhoso de sempre.
E beijando-a com o meu coração reconhecido, sou a filha sempre ao seu lado.
Mãe
“Honrarás pai e mãe" – a Lei determina. Não te esquecerás, porém, de que nove mesesantes que os outros te vissem a face, a tua presença na Terra era um segredo da vida, entre odevotamento e o Mundo Espiritual.
Na juventude ou na madureza, lembrar-te-ás da mulher frágil que, sendo moça, envelheceu, de repente, para que desabrochasses à luz, e trazendo o ideal da felicidade como sendo uma taça transbordante de sonhos, preferiu trocá-los por lágrimas de sofrimento, para quetivesses segurança no berço.
Agradecerás a todos os benfeitores do caminho, mas particularmente a ela que transfigurou em força a própria fraqueza, a fim de preservar-te.
Quando o mundo te aclama a cultura ou o poder, o renome ou a fortuna, recorda aquelaque não apenas te assegurou o equilíbrio, ensinando-te a caminhar, mas também atravessoulongos meses de vigília, esperando que viesses a pronunciar as palavras primeiras, para melhor escravizar-se à execução de teus desejos.
Muitos disseram que ela estava em delírio, cega de amor, que nada via senão a ti, entretanto, compreenderás que ela precisava de uma ternura assim sobre-humana, de modo a esquecer-se e suportar-te as necessidades, até que lhe pudesses dispensar, de todo, o carinho.
Se motivos humanos a distanciam, hoje de ti, que isso aconteça tão-só na superfície dascircunstâncias, nunca nos domínios da alma, porque, através dos fios ocultos do pensamento,sentir-lhe-ás os braços, sustentando-te as esperanças e abençoando-te as horas.
Nunca ferirás tua mãe. Ainda quando o discernimento te coloque em posição diversa,em matéria de opinião. Porque ela se tenha habituado a interpretação diferente do mundo,não lhe dilaceres a confiança com apontamentos intempestivos e espera, com paciência, queo tempo lhe descortine novos horizontes, relativamente à verdade.
‘Honrarás pai e mãe – a Lei determina. Não te esquecerás, porém, de que se teu pai é o companheiro generoso que te descerrou o caminho para a romagem terrestre, tua mãe é o gêniotutelar que te acompanha os passos, em toda a vida, a iluminar-te o coração por dentro, com abondade e a perseverança da luz de uma estrela.”
Meu tesouro
Agradeço, senhor, o mundo em verde e flor Que nos fizeste...
– A Terra – O lar de luz que se equilibra, em pleno Lar Celeste!...
Agradeço a esperança que me acalenta o ser,
A benção de servir, o Dom de compreender...
Agradeço a amizade em que meu coração se renova e se ufana, toda vez que se alegraou se refaz, no entendimento da ternura humana.
Agradeço a lição do sofrimento, no cadinho da prova em que me exaltas, entregando-me a dor por auxílio divino e apagando em silêncio as minhas próprias faltas !...
Agradeço a instrução e o carinho da escola,
O socorro do bem e a palavra tranquila que me ajuda ou consola!...
Agradeço a alvorada, o Sol que me sustenta e acaricia,
A noite que me acalma o pensamento, o pão de cada dia...
Entretanto, meu Deus, mais do que tudo, agradeço-te em prece enternecida
O regaço materno que me trouxe para a glória da vida!...
Em tudo, em todo o tempo e em toda a parte, sê bendito, Senhor,
Pela santa Mãezinha que me deste, me tesouro de amor!
Minha mãe
Desejava, mãezinha, para testemunhar-te afeto e gratidão,
escrever-te um poema que me fotografasse o coração.
E, ao servir-me do verbo, quisera misturar
a beleza das flores e das fontes, o azul do céu, o ouro do sol e os lírios do luar...
Anseio enaltecer-te! A palavra, no entanto, mãe querida,
não consegue mostrar as bênçãos incessantes que nos trazes à vida.
Em vão consulto dicionários! Não encontro a expressão lúcida e bela
que nos defina claramente a luz que o teu sorriso nos revela...
Ofereço-te, assim, ao carinho perfeito
o doce pranto de agradecimento que me verte do peito.
As lágrimas que choro de alegria refletem, uma a uma
as estrelas de amor que te engrandecem, – a tua glória em suma!
És tudo de mais lindo que há no mundo, – o agasalho, a ternura calma e boa,
o refúgio de santo entendimento, a presença que abençoa...
Desculpe, meu tesouro de esperança, se não te sei nobilitar
o reino de bondade e sacrifício, no sustento do lar!
E não sabendo, mãe, como louvar-te a celeste afeição,
rogando a Deus te glorifique a vida, trago-te o coração.
“Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado.”
Procura-se
Procura-se uma alma gêmea...
Ou ate mesmo um amor bobo...
Que me faça sorrir novamente...
Que me devolva o brilho no olhar...
E o sorriso bobo no rosto...
Procura-se...
Uma mão solitária...
Para nos caminhos da vida...
Andar colada nas minhas...
Procura-se...
Uma amante...
Que me faça nascer e morrer a todos os instantes...
Que me inspire...
E com o seu perfume...
Me seduza...
Me envolva....
Procura-se...
Hoje estou triste
Amor... Hoje estou triste... Nesses dias
a vida de repente se reduz
a um punhado de inúteis fantasias...
... Sou uma procissão só de homens nus...
Olho as mãos, minhas pobres mãos vazias
sem esperas, sem dádivas, sem luz,
que hão semear vagas melancolias
que ninguém vai colher, mas que compus...
Amor, estou cansado, e amargo, e só...
Estou triste mais triste e pobre do que Jó,
- por que tentar um gesto? E para quê?
Dê-me, por Deus, um trago de esperança...
Fale-me, como se fala a uma criança
do amor, do mar, das aves... de você!
("O Poder da Flor" - 1969)
Lembranças de Um Amor Passageiro.
Um dia tive ao meu lado um grande amor,
tudo era perfeito quando estávamos juntos
viviamos cada momento como se fosse o último,
aproveitarmos a vida juntos era nosso lema.
Curtiamos cada oportunidade dada por
Deus, muitas viagens, festas etc...
mas um dia o sonho acabou, todos as
oportunidades pareciam ter sido dadas,
não havia mais nenhuma, foi quando
a realidade voltou, tudo era muito bom;
nossa vida juntos eram só de momentos
felizes.
Não queria ter acordado daquele sonho
mas a vida é uma caixinha de surpresa
e hoje sinto tua falta. nossos momentos
juntos podem terem acabados, mas nossas
lembraças sempre estarão guardadas em
nossos corações.
Sou réu de amor
Confesso o meu pecado
Porem não me arrependo desse crime
Que amar alguém e talvez não ser amado
Seja o crime mais gostoso e mais sublime
A confissão por certo não redime
A quem quer continuar culpado
E se eu for por acaso condenado
Não há razão para que desanime
Pelo contrário, altivo, embora fique
Meu coração partido em mil pedaços
Eu quero que a justiça se pratique
Sou réu de amor e julgo-me indefeso!
Pela justiça, entrego-me a teus braços
Pois eternamente quero ficar preso...
Carta a um amor impossível
Recebi tua carta, - e ainda sob o peso
da emoção que me trouxe, eu te escrevo, surpreso,
reavivando na minha lembrança esquecida
certos traços sem cor de uma história perdida:
- falo dos poucos dias que passamos juntos.
Tão longe agora estas, quantos belos assuntos
a que eu não quis, nem soube mesmo dar valor,
relembras com um estranho e desvelado amor.
Tua carta é tão doce, e tão cheia de cores
que, dir-se-ia a escrever com o mel que há nas flores,
sobre o azul de um papel tão azul, que o papel
faz a gente pensar num pedaço de céu!
Impregnado nas folhas chegou até mim,
um perfume sutil e agreste de jasmim
e um pouco do ar sadio e puro de montanha!
Estranha a tua carta, inesperada e estranha!
Deixas nas minhas mãos a tua alma confiante,
ante a revelação desse amor deslumbrante
e abres teu coração, num gesto de ansiedade,
sob a opressão cruel de uma imensa saudade.
Dizes que só por mim tu vives, - que a tristeza
é a companheira fiel que tens por toda parte,
e me falas assim com tamanha franqueza
que eu nem sei que dizer receando magoar-te!
Não compreendo esse amor que revelas por mim
nem mereço a ternura e o enlevo sem fim
de um só trecho sequer de tudo o que escreveste,
- por exemplo, - de um trecho belo e bom, como este:
"Teu olhar é o meu sol! Vivo da sua luz!
- e mesmo que esse amor seja como uma cruz
eu o levarei comigo em meu itinerário!
E o bendirei na dor ascendendo ao Calvário!
Sem ele não existo; e sem ti, meu destino
será vazio, assim como o bronze de um sino
que ficou mutilado e emudeceu seus sons
na orquestra matinal dos outros carrilhões!
Quero ser tua sombra até, - e quando tudo
te abandonar na vida, e o frio, e quedo, e mudo,
encerrarem teu corpo em paz sob um lajedo,
eu ficarei contigo ao teu lado, sem medo,
e sozinha e sem medo eu descerei contigo
oh! Meu único amor! Oh! Meu querido amigo!
- para que os nossos corpos juntos, abraçados,
fiquem na mesma terra em terra transformados!"
Escreves tudo assim, - e eu nem sei que te diga
nesta amarga resposta, oh! Minha pobre amiga!
Tarde, tarde demais... Bem me arrependo agora
do amor que te inspirei, daquele amor de outrora
que eu julgava um brinquedo a mais em minha vida
e a quem davas tua alma inteira e irrefletida...
Releio a tua carta, e confesso que sinto
o ter-te que falar sobre esse amor extinto,
um prelúdio de amor que ficou sem enredo
e que só tu tocaste em surdina, em segredo...
Dizes que o que eu mandar, farás... e que és tão minha
que mesmo que não te ame e que fiques sozinha
bastará para ti a lembrança feliz
dos dias de ilusão em que nunca te quis!
E escreves, continuando essa carta que eu leio
com uma vontade louca de parar no meio:
"Minha vontade é a tua! E meu destino enredo
no teu!... És o meu Deus! Teu desejo é o meu credo!
Creio na tua força e no teu pensamento,
e nem um só segundo e nem um só momento
deixarei de seguir-te aonde quer que tu fores,
seja a estrada coberta de espinhos ou flores,
te aureole a fronte a glória e te sirva a riqueza
ou vivas no abandono e sofras na pobreza!
Serei outra Eleonora Duse, e te amarei
com um amor infinito, sem razão nem lei.
Tu serás o meu Poeta imortal, - meu Senhor,
a quem entregarei minha alma e o meu amor!
Creio na tua força e no teu pensamento!
- faço dela um arrimo, e tenho nele o alento
da única razão que dirige meus atos;
- é a lógica fatal das cousas e dos fatos!
Orgulho-me de ser a matéria plasmável
onde o teu gênio inquieto, e nervoso, e insaciável,
há de esculpir uma obra à tua semelhança!
Junto a ti sou feliz e me sinto criança
curiosa de te ouvir, fascinada e atraída
pela tua palavra alegre e colorida!
E se falas da vida ou se o mundo desvendas
os assuntos ressoam na alma como lendas
e tudo é novo e é belo, e tudo prende e atrai,
de um simples botão que se abre a um pingo d'água que caí.
Há em tudo uma alma nova! Há em tudo um novo encanto!
Tantas vezes te ouvi! E sempre o mesmo espanto
quando tu me dizias, que era tarde, era a hora
em que eu ia dormir em que te ias embora...
Muitas vezes, deitada, - eu rezava baixinho
uma prece que fiz só para o meu carinho:
com meus beijos de amor matarei tua sede,
com os meus cabelos tecerei a rede
onde adormecerás feliz, imaginado
que é a noite que te envolve e te embala cantando;
formarei com os meus braços o ninho amoroso
onde terás na volta o almejado repouso;
minhas mãos te darão o mais terno carinho
e julgarás que é o vento a soprar de mansinho
sussurrando canções e desfeito em desvelos
a desmanchar de leve os teus claros cabelos!
No meu seio, - que a uma onda talvez se pareça,
recostarei feliz, enfim, tua cabeça,
e nada, nenhum ruído há de te perturbar!
- meu próprio coração mais baixo há de pulsar...
Quando o sol castigar as frondes e as raízes
com o meu corpo farei a sombra que precises,
e se o inverno chegar, ou se sentir frio,
em mim hás de achar todo o calor do estio!
Não te rias, - bem sei que te digo tolices,
mas ah! Se compreendesses tudo, ou se sentisses
a alegria que sinto ao te falar assim,
talvez que não te risses, meu amor, de mim...
Isto tudo, - é obra apenas da fatalidade,
- quando o amor é uma doença e é uma febre a saudade."
Tua carta é uma frase inteira de ternura,
como uma renda fina, cuja tessitura
trai a mão delicada e a alma de quem a fez
Ela é bem a expressão da mulher, que uma vez...
(mas não, não recordemos estas cousas mais,
- para o teu bem, deixemos o passado em paz
se o não posso trazer num augúrio feliz
para a prolongação de um sonho que desfiz...)
Tua carta é o reflexo da tua beleza,
e há no seu ofertório a singela pureza
desse amor que te empolga e te invade e domina!
(Uma alma de mulher num corpo de menina!)
Reli-a muito, a sós... - Mais adiante tu dizes,
com esse místico dom das criaturas felizes:
"Amo, para a alegria suprema e indizível
de humilhar-me aos teus pés tanto quanto possível,
e viverei feliz, como a poeira da estrada
se erguer-me ao teu passar, numa nuvem dourada
cheia de sol e luz, - nessa glória fugaz
de acompanhar-te os passos aonde quer que vás!
Não importa que eu role depois no caminho,
não importa que eu fique abandonada e só,
- quem nasceu para espinho há de ser sempre espinho!...
- quem nasceu para pó, há de sempre ser pó!"
Faz-me mal tua carta, muito mal... Receio
pelo amor infeliz que abrigaste em teu seio,
e uma angústia mortal me oprime e me castiga,
deixa que te confesse, oh! Minha pobre amiga!
Não pensei... Não pensei que te afeiçoasses tanto,
nem desejava ver a tristeza do pranto
ensombrecer teus olhos... Quando tu partiste,
não compreendia bem por que ficaste triste
nem quis acreditar no que estavas sentindo...
Hoje, - hoje eu descubro que o teu sonho lindo
era mais do que um sonho, - era mesmo, em verdade
uma grande esperança de felicidade!
Me perdoarás, no entanto... ah! Não fosses tão boa!
E eu insisto de joelhos a teus pés: - perdoa!
Se eu soubesse, ou se ao menos eu adivinhasse
o que não pude ver além de tua face
e o que não soube ler velado em teu olhar,
não teria deixado esse amor te empolgar...
Perdoa o involuntário mal que te causei!
A carta que escreveste, e há bem pouco guardei,
um grande mal também causou-me sem querer:
- é bem rude e bem triste a gente perceber
que encontrou seu ideal, - o seu ideal mais belo,
- e o destruir, tal como eu, que agora o desmantelo!
É doloroso a gente em mil anos sonhá-lo
e inesperadamente ter que abandoná-lo!
Se algum amor eu quis, esse era igual ao teu
que tudo me ofertou e nada recebeu;
ingênuo e puro amor, simples, sem artifícios,
capaz como bem dizes "de mil sacrifícios,
e de mil concessões, chorando muito embora,
só para ver feliz o ente que quer e adora!"
E pensar que isso tudo que tu me ofereces:
— teu raro e imenso amor, teus beijos, tuas preces,
a tua alma de criança ainda em primeiro anseio;
e o teu corpo, onde a forma ondulante do seio
não atingiu sequer seu máximo esplendor;
tua boca, ainda pura aos contatos do amor;
- e dizer que isso tudo, isso tudo afinal
que era o meu velho sonho e o meu maior ideal,
abandono, desprezo, renuncio e largo
com um gesto vil como este, indiferente e amargo!
Enfim, já estás vingada... Porque ainda és criança
há de este falso amor te ficar na lembrança
como uma experiência... (a primeira vencida
das muitas que talvez ainda encontres na vida... )
E um dia então... - quem sabe se não será breve?
- descobrirás na vida aquele amor que deve
transformar teu destino e realizar teu sonho...
Antevendo esse dia de festa, risonho,
comporei, como um véu de noiva, para as bodas,
a mais bela poesia, a mais bela de todas...
(... Recebendo-a, dirás, esquecida e contente:
- "quem teria enviado este estranho presente?")
Sé feliz, minha amiga... eu me despeço aqui...
Lamento o meu destino, porque te perdi
e maldigo esta carta pelo que ela diz...
Não chores, - porque eu sei que ainda serás feliz...
E que as lágrimas de hoje, - enxuguem-se ao calor
de um verdadeiro, eterno e imorredouro amor!
P. S. - Sê feliz. Amanhã tudo isto será lenda...
E pede a Deus, por mim, - que eu nunca me arrependa...
(do livro" Eterno Motivo" - 1943)
AMOR SOB O LUAR
E quando a lua cheia nos invadir
Em nossos corpos se encontrarem ao luar
E o amor nos descobrir
E teu cheiro vagar pelo ar
Se espalhar num instante
Feito perfume excitante
Desejo e Luar
Quero teu olhar faminto
E teu corpo contra ao meu
O que faremos é puro instinto
Sem regras, sem testemunhas
Só teu olhar sobre o meu
Vamos adentrar em cachoeiras
Matas e lugares verdejantes
Enquanto eu mecho meus lábios
E você vem possui a cada instante
É só eu fechar os olhos
Lembro do seu cheiro e piro
E ainda inspiro...
Aspiro...
E suspiro por você...
O amor quando se alberga
no peito do rico ou pobre
se torna logo um guerreio
com capacete de cobre
e só obedece a honra
porque a honra é mais nobre.
Se o amor é soberano
a honra é sua coroa,
portanto, um amor sem honra
é como um barco sem proa,
é como um rei destronado
no mundo vagando à toa.
Assim...
Assim foi nosso amor... um sonho que viveu
de um sonho, e despertou na realidade um dia...
Um pouco de quimera ao léu da fantasia...
Um flor que brotou e num botão morreu...
Embora sendo nosso, este amor foi só meu,
porque o teu, não foi mais que pura hipocrisia,
- no fundo, há muito tempo, a minha alma sentia
este fim que o destino afinal já lhe deu...
Não podes, bem o sei - sendo mulher como és,
saber quanto sofri, vendo esta flor desfeita
e as pétalas no chão, pisadas por teus pés...
Que importa ? Hás de sofrer mais tarde - a vida é assim...
Esse mesmo sorrir que agora te deleita
é o mesmo que depois há de amargar teu fim !...
(Coletânea - "Meus Sonetos de Amor " 1ª Edição, 1961)
EMERGÊNCIA DE AMOR
Era para ser só um beijo
Mas, virou urgência
Emergência de amor
Você até tentava conter minhas mãos inquietantes
Mas, eu tentava te envolver em mais beijos excitantes
Você me queria agora!
Já estava pronto para eu te invadir
Para o amor não tem hora
Só é preciso se permitir
Te penetrei tão profundo
Nossa que excitante explosão
Quem diria que o proibido
Nos deixaria extasiados, nas nuvens
E loucos de paixão...
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Que chore, grite, esperneie, morra de amor, sinta falta.
Eu sou mais eu.
Não importa o que você faça, eu não vou ser o que você quer, muito menos o que você imagina.
Mas que eu faça tudo o que me dá prazer.
Ei! Eu sou mais eu, confio no que faço, porque tudo que eu faço, eu dou o melhor de mim e no que eu estiver errada que eu seja humilde de aprender o certo.
Tudo é apenas psicológico.
Você não vai ver em momento algum te tratando mal, vou fazer praticamente tudo o que você deseja, vou fantasiar junto com você e na hora de cair na real. Sempre estarei de pé no chão.
✨ Às vezes, tudo que precisamos é de uma frase certa, no momento certo.
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