Texto sobre Tristeza de Mario Quintana
Teoria ou prática?
Existem pessoas que teorizam muito sobre a amizade, sobre os amigos, ou como reconhecê-los, mas não sabem como cativá-los. Na teoria, nas frases, nos versos e nos poemas tudo é bonito, mas na prática do dia-a-dia a realidade é outra. Não fale sobre os amigos e sim pratique a amizade, coloque em ação e transforme o adjetivo em verbo.Teorias, sim tenho muitas, sobre os diferentes tipos de amigos, mas quem na essência me conhece, sabe que prefiro teoriar colocando a amizade em prática cultivando um sentimento que não é dado, e sim adquirido com o tempo. E parafraseando Vinicius de Moraes, termino esse pensamento, falando: ''-Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!"
Estórias
Me bateu uma vontade de escrever sobre o amor, sobre "nós". Mais havia alguma coisa que me impedia de falar sobre "nós". Deveria ser o fato de "nós" nunca ter existido. Eu apenas tinha dentro de mim lindas estórias de um "eu e você" e um "felizes para sempre" no final. Mesmo sendo apenas estórias - eu era feliz-. Mais chega um momento que as estórias não satisfazem mais, e você começa a querer escrever uma linda história, que contenha um "nós" e um "felizes para sempre" no final - que seja de verdade-. E você começa escrevendo tudo que contém no seu coração flamejado de amor. E percebe que não é tão fácil assim ser feliz com um "nós", porque na trajetória da sua história você encontrará muitos nós a serem desatados, muitas cicatrizes a serem saradas, muitos corações a serem conquistados e machucados, muitos lágrimas a serem derramadas... Ai você olha pra trás e percebe, que nas suas estórias você era mais feliz, mesmo elas sendo apenas estórias.
Viagem de um vencido
Noite. Cruzes na estrada. Aves com frio...
E, enquanto eu tropeçava sobre os paus,
A efígie apocalíptica do Caos
Dançava no meu cérebro sombrio!
O Céu estava horrivelmente preto
E as árvores magríssimas lembravam
Pontos de admiração que se admiravam
De ver passar ali meu esqueleto!
Sozinho, uivando hoffmânnicos dizeres,
Aprazia-me assim, na escuridão,
Mergulhar minha exótica visão
Na intimidade noumenal dos seres.
Eu procurava, com uma vela acesa,
O feto original, de onde decorrem
Todas essas moléculas que morrem
Nas transubstanciações da Natureza.
Mas o que meus sentidos apreendiam
Dentro da treva lúgubre, era só
O ocaso sistemático de pó,
Em que as formas humanas se sumiam!
Reboava, num ruidoso burburinho
Bruto, análogo ao peã de márcios brados,
A rebeldia dos meus pés danados
Nas pedras resignadas do caminho.
Sentia estar pisando com a planta ávida
Um povo de radículas em embriões
Prestes a rebentar, como vulcões,
Do ventre equatorial da terra grávida!
Dentro de mim, como num chão profundo,
Choravam, com soluços quase humanos,
Convulsionando Céus, almas e oceanos
As formas microscópicas do mundo!
Era a larva agarrada a absconsas landes,
Era o abjeto vibrião rudimentar
Na impotência angustiosa de falar,
No desespero de não serem grandes!
Vinha-me à boca, assim, na ânsia dos párias,
Como o protesto de uma raça invicta,
O brado emocionante de vindicta
Das sensibilidades solitárias!
A longanimidade e o vilipêndio,
A abstinência e a luxúria, o bem e o mal
Ardiam no meu Orco cerebral,
Numa crepitação própria de incêndio!
Em contraposição à paz funérea,
Doía profundamente no meu crânio
Esse funcionamento simultâneo
De todos os conflitos da matéria!
Eu, perdido no Cosmos, me tornara
A assembléia belígera malsã,
Onde Ormuzd guerreava com Arimã,
Na discórdia perpétua do sansara!
Já me fazia medo aquela viagem
A carregar pelas ladeiras tétricas,
Na óssea armação das vértebras simétricas
A angústia da biológica engrenagem!
No Céu, de onde se vê o Homem de rastros,
Brilhava, vingadora, a esclarecer
As manchas subjetivas do meu ser
A espionagem fatídica dos astros!
Sentinelas de espíritos e estradas,
Noite alta, com a sidérica lanterna,
Eles entravam todos na caverna
Das consciências humanas mais fechadas!
Ao castigo daquela rutilância,
Maior que o olhar que perseguiu Caim,
Cumpria-se afinal dentro de mim
O próprio sofrimento da Substância!
Como quem traz ao dorso muitas cartas
Eu sofria, ao colher simples gardênia,
A multiplicidade heterogênea
De sensações diversamente amargas.
Mas das árvores, frias como lousas,
Fluía, horrenda e monótona, uma voz
Tão grande, tão profunda, tão feroz
Que parecia vir da alma das cousas:
"Se todos os fenômenos complexos,
Desde a consciência à antítese dos sexos
Vêm de um dínamo fluídico de gás,
Se hoje, obscuro, amanhã píncaros galgas,
A humildade botânica das algas
De que grandeza não será capaz?!
Quem sabe, enquanto Deus, Jeová ou Siva
Oculta à tua força cognitiva
Fenomenalidades que hão de vir,
Se a contração que hoje produz o choro
Não há de ser no século vindouro
Um simples movimento para rir?!
Que espécies outras, do Equador aos pólos,
Na prisão milenária dos subsolos,
Rasgando avidamente o húmus malsão,
Não trabalham, com a febre mais bravia,
Para erguer, na ânsia cósmica, a Energia
À última etapa da objetivação?!
É inútil, pois, que, a espiar enigmas, entres
Na química genésica dos ventres,
Porque em todas as cousas, afinal,
Crânio, ovário, montanha, árvore, iceberg,
Tragicamente, diante do Homem, se ergue
a esfinge do Mistério Universal!
A própria força em que teu Ser se expande,
Para esconder-se nessa esfinge grande,
Deu-te (oh! Mistério que se não traduz!)
Neste astro ruim de tênebras e abrolhos
A efeméride orgânica dos olhos
E o simulacro atordoador da Lua!
Por isto, oh! filho dos terráqueos limos,
Nós, arvoredos desterrados, rimos
Das vãs diatribes com que aturdes o ar...
Rimos, isto é, choramos, porque, em suma,
Rir da desgraça que de ti ressuma
É quase a mesma coisa que chorar!"
Às vibrações daquele horrível carme
Meu dispêndio nervoso era tamanho
Que eu sentia no corpo um vácuo estranho
Como uma boca sôfrega a esvaziar-me!
Na avançada epiléptica dos medos
Cria ouvir, a escalar Céus e apogeus,
A voz cavernosíssima de Deus
Reproduzida pelos arvoredos!
Agora, astro decrépito, em destroços,
Eu, desgraçadamente magro, a erguer-me,
Tinha necessidade de esconder-me
Longe da espécie humana, com os meus ossos!
Restava apenas na minha alma bruta
Onde frutificara outrora o Amor
Uma volicional fome interior
De renúncia budística absoluta!
Porque, naquela noite de ânsia e inferno,
Eu fora, alheio ao mundanário ruído,
A maior expressão do homem vencido
Diante da sombra do Mistério Eterno!
Sobre o amor
"Nas diversas formas de amar, posso dizer que sempre amo à primeira vista.
Admiro mesmo sem conhecer; observo pelas palavras, pela forma íntegra de agir, a maneira especial com que trata pessoas sem ao menos conhecê-las.
Gosto de gente com conteúdo, com idéias, que sabe onde estão e quem são.
Palavras vãs não acrescentam em nada no dicionário da minha história. Prefiro aos inteligentes do que belos, pois a beleza envelhece, mas as idéias se fortalecem....
Se não posso acrescentar, que não seja eu o divisor!!!!
À medida que dou, acrescento algo em mim.
ÚLTIMA CHANCE
Esquece tudo o que já escrevi sobre o amor.
Tudo aquilo não se compara.
Amor é isso que o que estou vivendo.
É o querer bem, é a vontade de estar junto
E, mesmo não estando, sentir-se junto.
É ser um, em dois. É isso.
É está Cá, não pensar só em Si e se bastar com um olhar.
Amor é Divino, é de Deus, é especial, é sintonia...
É pensar igual, sem trocar idéias, é harmonia...
É saber que o outro quer, sem trocar palavras, não iludir...
Amor é mágico pela simplicidade.
Amor é simples.
Amar é simples, basta se permitir.
Não tem muito enfeite, não é escandaloso, não "se mostra",
Amor é, e assim por ser, torna-se visível sem querer...
Tem brilho próprio, não tem ornamentação,
Chama a atenção por ser, é alegria...
Não é fantasia, nem se cria...
Amor nasce, naturalmente, no coração daquele que, da mágoa, se desvencilha.
O amor fala, o amor diz... por isso eu te digo, meu amor:
Você é minha última chance de ser feliz!
Por sobre as nuvens
Existe um lindo céu
Maravilhoso céu
Morada dos Anjos
Por sobre as nuvens
Existe um trono
Cujo Rei
Está assentado
A direita de Deus
Céu, lindo céu
É o lugar
onde eu quero viver
Pra sempre
Céu, lindo Céu
É o lugar
que o meu deus preparou
Pra mim
Céu, lindo céu
Onde com os Anjos
eu cantarei
adorando ao Senhor
Borboleta azul sobre meu jardim
a levar recados entre as rosas
ora fala com as amarelas...
ora fala com as vermelhas...
sempre com beijinhos de despedidas
após recado dado...
esvoaçante colorido dando vida e sentido
a planar sobre o canteiro
tão festiva como algazarra de criança
Ah!... que dia lindo...
colorido com tantas nuances de azul...
E a chegar mais borboletas...
listradas com amarelo e preto...
deve ser time de futebol!!...
Que festa no meu jardim...
com tantos cumprimentos, beijos e apertos de mãos...
E um silêncio tranqüilo...
apenas o ruído das folhas a rolar pelo chão,
passáros e o vento...
E a borboleta azul voando silenciosamente...
preenchendo tanto espaço e
colorindo a vida...
Sou mais santo sentado sobre essa pedra a beira-mar
Do que deuses estranhos que você coloca diante desse altar
Sou mais verdadeiro com mentiras sinceras
Do que esse sorriso sombrio que seu caráter revela
Belos discursos para os famintos e os ignorantes
Os convencendo que só chega a paz pela guerra
Estamos aprisionados pelo medo da tragédia anunciada
Nos tratam como não existimos ,como contos de fada
O respeito pelo próximo a cada minuto se distancia
A ganancia enlouqueceu o homem cegou sua alma
Culturas abusivas que transformam homens em nobres assassinos
Estamos vivendo em um caos terrestre
Somos jogados numa estrada escura sem direção
Somos forçados acreditar que o mundo melhor é uma ilusão
Leis perversas que abreviam a linha do tempo para um rápido final
E a insana tolerância provocando suicídio mental
Estou nadando contra corrente
Contrariando a ideologia do novo mundo
Que ensina que todo mal e justificado
Sinto muito mais não adoro criaturas invés do criador
Não me ajoelharei a nenhuma estátua
Nenhum general condecorado me curvarei como meu salvador
Não faço a vontade de falso profeta e sanguinário ditador
Lideres mundiais se querem matar
Vocês que desembainham sua própria espada
Meu sangue não será derramado por nenhuma pátria maldita
Você me deixou mal
Você não deve saber nada sobre mim
Você não deve saber nada sobre mim
Eu poderia arrumar outro como você num minuto
Na verdade, ele estará aqui num minuto, baby
Você não deve saber nada sobre mim
Você não deve saber nada sobre mim
Eu posso ter outro como você para amanhã
Então, você, nem por um segundo, pense
Que você é insubstituível
Então vá em frente e cresça
WORMHOLE
Sobre perder-se em outras dimensões...
Sabe, receio que muitas vezes gostaria de ter a opção de por lá ficar.
Gosto de viajar entre minhas dimensões, uma vez que fisicamente nunca vou a lugar algum.
Revelo-te agora um sonho singelo: conhecer uma cachoeira – é sério, jamais testemunhei uma cachoeira...imagino ser maravilhoso o som das águas caindo. E quão espetacular deve ser a visão dos raios de sol a crivar as gotas que jorram...caleidoscópio mágico de luz e água, a carícia do arco-íris...
Em minhas viagens pelo buraco da minhoca – wormhole – eu sou alguém feliz, com as escolhas acertadas, sinto os mais nobres aromas e ouço apenas as canções mais belas...sussurros...E estou acompanhada de quem amo, não sinto saudade...não sinto saudade...não sinto saudade...
Certa vez esse meu sonho tomou forma. Flutuei até uma cachoeira e encontrei a pessoa mais encantadora de toda minha vida. Não sei bem em que dimensão isso aconteceu, apenas sinto ser para lá que vou com tanta frequência, pois é onde sempre te encontro!!!
É fácil escrever sobre as pessoas, difícil é falar de mim.
Esse meu temperamento temperado.
To tão difícil hoje, e me calo em Calisto de mim.
Estou confusa em confusões incomuns, quero gritar
E soluço.
E esse choro que antes estava preso, agora me lava.
Rosto, mente, coração, alma.
Lava sem sabão, mas tira tudo de impuro que
Que estava cravado carne a dentro.
Juntos novamente...
Talvez amanhã ou depois, a gente
Volte a conversar sobre nós dois,
Precisamos dar um tempo, e refletir
Tranquilamente sobre a gente.
Onde estará você neste momento
— Pensativa sobre o fato decadente,
Que levou a nossa separação, por
Pessoas de má índole inconsequentes.
Às vezes penso que estou ficando louco
Quando me pego conversando com você
De repente volto a realidade, olho pros
Lados e não consigo mais te ver.
Saio pra rua procurando em outros rostos
Pra ver se encontro um pouquinho de você,
Mas que tolice, são apenas rostos estranhos,
É mais um dia que eu passo sem te ver.
Sei que você está sozinha atualmente,
Uma fonte inteligente me informou,
Que está de volta e desta vez é pra ficar
Pois não consegue esquecer o que passou.
Chega de dar um tempo
Acabou o sofrimento,
Agora é só love, amor
O que já passou, passou
Enfim, juntos novamente.
Seus olhos.
Seus olhos cor de mel raro,
trouxe sobre mim um alto preço a pagar, amargo e caro.
Eu desconfiei do perigo atrás do seu astuto sorriso.
Senti pulsar forte e temeroso meu coração de menino.
Eu sabia que seria perigoso demais,
Que teu abraço me faria dormir em teus braços,
E que aquela madrugada me arrastaria a sua cama.
Seu cheiro ainda está em mim,
Os detalhes do teu corpo ainda estão como um quadro pintado nas paredes das minhas lembranças.
Sei que você está em algum lugar,
Sorrindo, conversando, cantando
Letras invertidas à sinfonia de um coração apaixonado.
Perdoa-me em não aceitar ter sido teu...
Pois meu corpo é de homem, mas meu coração é de menino.
Se o tempo me perdoasse,
E me desse uma única oportunidade de voltar,
Tomaria a mesma dose do nosso pecado só pra ter você novamente,
Na mesma paixão, no mesmo lugar.
Oração ao Cadáver desconhecido
“Ao curvar-te com a lâmina rija de teu bisturi sobre o cadáver desconhecido, lembra-te que este corpo nasceu do amor de duas almas; cresceu embalado pela fé e esperança daquela que em seu seio o agasalhou, sorriu e sonhou os mesmos sonhos das crianças e dos jovens; por certo amou e foi amado e sentiu saudades dos outros que partiram, acalentou um amanhã feliz e agora jaz na fria lousa, sem que por ele tivesse derramado uma lágrima sequer, sem que tivesse uma só prece. Seu nome só Deus o sabe; mas o destino inexorável deu-lhe o poder e a grandeza de servir a humanidade que por ele passou indiferente. Tu que tivestes o teu corpo perturbado em seu repouso profundo pelas nossas mãos ávidas de saber, o nosso respeito e agradecimento.
Ignore o que vou dizer sobre o que ficou depois de tudo. Escrever é a única forma que encontro neste momento para externar essa dor que parece consumir cada pedaço que você não levou da minha alma partida. Tem noção do quanto isso dói?
Eu só queria lhe dizer, mesmo que não leia, que mesmo sem querer eu ainda penso em nós. Mas já esqueci a cor dos seus olhos castanhos e o jeito estranho como pisca quando fica confusa. Está tudo bem agora. Eu sei que é só uma questão de tempo até eu me acostumar com a sua ausência (mesmo que eu ainda não tenha me acostumado comigo mesma).
Embora eu ame madrugadas, foi em uma de insônia que você voltou a me atormentar. Fechei o livro que me contava como eram os finais felizes e desejei ter um, também. “Como esperar por finais felizes se eu nem sequer tenho começos?”, pensei e ri de mim mesma. Dormi pensando em você, em mim, nos laços, em nós. Quem foi que desatou a gente? Aí pensei em escrever e… Enfim. Não importa. Somos linhas paralelas. Obrigada por não ler, estou bem melhor agora.
E sobre a desigualdade social...
As pessoas que possuem mais são as que menos se interessam em ajudar o próximo, pouco importa se a mesa do vizinho é farta ou vazia, se o sapato que aperta seu pé vai calçar aquele morador de rua, se aquela roupa que já não está na moda poderia servir para aquela menina pobre que mora ali na esquina da sua casa! É inacreditável como existem pessoas mesquinhas e vazias, que agradecem a Deus pelo sapato novo, mas esquecem que o irmão muitas vezes não vai para a igreja porque não tem um sapato! Agradecem a Deus pela casa, pela comida, pela coberta, mas não se importam com aquele que, por ventura, não tem nada disso! Cuidado porque qualquer dia desses Deus pode bater aí na sua porta pedindo um prato de comida e você pode ignorar e dizer que não tem jantar! Vai perder a oportunidade de abençoar!
- Você tem se abstido de discussões. O que aconteceu? Não tem mais opinião sobre nada?
- Tenho, o motivo é que as discussões perderam o seu sentido mais puro. Há um, não tão discreto, jogo sujo para ver quem faz a sua opinião prevalecer sobre as outras. Não é mais em prol da evolução conjunta a respeito de um tema, mas sim na elevação do ego.
A discussão racional sobre a fé muitas vezes é uma distração atrelada mais a uma busca. Eu vejo isso em mim.
Discuto muito racionalmente a minha fé, eu convivo com muita duvida, mas as minhas duvidas não me impedem de crer...
Eu tenho tudo para ser ateu, mas simplesmente não consigo ser...
As mesmas angustias não me impedem de crer...
Eu acho que a experiência espiritual acontece. Mesmo quem nega a Deus, convive com ele o tempo inteiro, nem que seja pra nega-lo.
Mas...
E eu que achei que a lua não brilhasse
sobre os mortos no campo da guerrilha,
sobre a relva que encobre a armadilha
ou sobre o esconderijo da quadrilha,
mas brilha.
E achei que nenhum pássaro cantasse
se um lavrador não mais colhe o que planta,
se uma família vai dormir sem janta
com um soluço preso na garganta,
mas canta.
Também pensei que a chuva não regasse
a folha cujo leite queima e cega,
a carnívora flor que o inseto pega
ou o espinho oculto na macega,
mas rega.
Também pensei que o orvalho não beijasse
a venenosa cobra que rasteja
no silêncio da noite sertaneja, sobre as ruínas de esquecida igreja,
mas beija.
Imaginei que a água não lavasse
o chicote que em sangue se deprava
quando, de forma monstruosa e brava,
abre trilhas de dor na pele escrava,
mas lava.
Apostei que nenhuma borboleta
- por ser um vivo exemplo de esperança -
dançaria contente, leve e mansa
sobre o túmulo de uma criança,
mas dança.
E eu pensei que o sol não mais aquecesse
os campos que a guerra empobrece,
onde tomba do homem a própria espécie
e a sombra da dor enlouquece,
mas aquece.
Por isso achei que eu não mais fizesse
poema algum após tanto embaraço,
tanta decepção, tanto cansaço
e tanta espera, em vão, por teu abraço,
mas faço.
DE AMARITUDINE (SOBRE A AMARGURA)
Como nos salvarmos de nós mesmos? Somos o que somos, um núcleo duro cercado de clara de ovo por todos os lados, de liquidez instável, porém que não nos modifica em nada a vida. Somos o resultado de estímulos vívidos diferentes, nada mais. Mudam-se os prantos e os pranteados, a marca do cigarro consumido à exaustão durante as madrugadas. Mas os dentes amarelados continuam os mesmos, bem como o jeito esquisito de sorrir, os olhos baixos, tão inexpressivos e preguiçosos. O núcleo duro permanece intacto, a personalidade com suas imensas crostas, a ira das lágrimas e o tremor das mãos ávidas por revide.
Essa inépcia do Ego em servir-se do resto de alma que ainda subsiste sob o imponderável de nosso Ser é o que nos permite sobreviver sem sermos pulverizados de uma só vez neste mundo terrível. Não, não o orbe terreno, mas o mundo, esse teatro armado de emoções humanas, sem destino, sem motivos. Acaso, o que sobraria de nós se nossa fornalha interior trabalhasse sem descanso, sempre mais voraz?
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