Texto Pontos Autor Luis Fernando Verissimo
Não sei se é certo ou errado,mas eu amo.
Não sei porque,mas eu amo.
Não sei como aconteceu ,só sei que amo você e nada
no mundo vai fazer com que este sentimento tão nobre que habita meu coração se apague.
O mundo pode passar,mas meu amor não,podera haver alguém que te ame,mas não mais do que eu,pois eu te amo em toda a minha essensia,em todo meu ser.
Eu sou completamente teu ...
Honestidade
A humanidade cada vez mais demonstra preocupação com questões transcendentes da vida.
A consciência de que viver não se resume a aspectos materiais se dissemina pela sociedade.
Fala-se em entrar em contato com a própria essência, em desenvolver a espiritualidade.
Independentemente de filiação a determinada corrente religiosa, a ampla maioria afirma acreditar em uma força superior.
Isso revela as criaturas buscando identificar a razão de sua existência.
Como tudo no universo encontra-se em constante metamorfose e aprimoramento, conclui-se que o progresso é uma das finalidades da vida.
O anseio pelos aspectos sublimes da existência demonstra justamente as criaturas em pleno processo evolutivo.
Mas é importante recordar que a evolução dá-se de modo cadenciado.
Na natureza não ocorrem saltos.
As espécies não se transformam repentinamente.
Determinadas etapas devem ser vencidas para ser possível atingir-se a fase seguinte.
É como a construção de uma casa: ninguém inicia pelo acabamento.
Faz-se necessário antes providenciar sólida estrutura.
O mesmo ocorre com o psiquismo das criaturas.
A identificação com as faixas superiores da vida pressupõe o domínio de aspectos básicos do viver.
A harmonia e a paz são o resultado de vivências nobres do espírito.
Tais conquistas não são improvisáveis e nem surgem de um momento para o outro.
Assim, ao preocupar-se com questões transcendentes, não esqueça coisas elementares.
A honestidade é justamente uma das primeiras virtudes a serem conquistadas por quem deseja a paz e a felicidade.
O céu não é um local determinado no espaço, mas um estado de consciência, de harmonia com as leis divinas.
Mas não é possível harmonizar-se com tais leis sem o rigoroso atendimento dos próprios deveres.
Ser honesto implica demonstrar lealdade em todos os aspectos da existência.
O homem honesto realiza as tarefas que lhe cabem, com ou sem testemunhas.
Ele não inventa desculpas para avançar sobre o patrimônio do vizinho.
Infelizmente, nossa sociedade vive uma grande crise ética.
Ao tempo em que demonstram indignação com a desonestidade alheia, os indivíduos são com freqüência desleais em seus negócios particulares.
Muitas vezes, quem reclama dos políticos não paga corretamente seus impostos.
Inúmeros estudantes bradam contra a falta de ética de governantes e empresários, mas colam nas provas e copiam as tarefas dos colegas.
Esse gênero de conduta sinaliza apenas hipocrisia.
Como afirmou Jesus, é necessário dar a César o que é de César.
Ao agir honestamente, ninguém faz mais do que a obrigação.
Mas não há como desenvolver harmonia espiritual se nem a honestidade ainda foi assimilada.
É paradoxal fazer caridade sem pagar as próprias contas.
A torpeza dos outros não lhe serve de desculpa.
Antes de preocupar-se com a ausência de ética alheia, analise seu modo de viver.
Pense se você tem condições de assumir tudo o que faz e diz.
Pense nisso!
A lealdade irrestrita é uma recompensa em si mesma, pois confere dignidade e auto-respeito.
Assim, se você deseja viver em paz, seja honesto.
Afinal, a conquista da paz pressupõe poder observar o próprio proceder sem remorso ou vergonha.
Medo de perder…
Você sabe por quê o mar é tão grande?
Tão imenso?
Tão poderoso?
É porque teve a humildade de colocar-se alguns centímetros abaixo de
todos os rios.
Sabendo receber, tornou-se grande.
Se quisesse ser o primeiro; estaria alguns centímetros acima de todos
os rios, não seria mar, mas sim uma ilha.
Toda sua água iria para os outros e estaria isolado.
A perda faz parte.
A queda faz parte.
A morte faz parte.
É impossível vivermos satisfatoriamente.
Precisamos aprender a perder, a cair, a errar e a morrer.
Impossível ganhar sem saber perder.
Impossível andar sem saber cair.
Impossível acertar sem saber errar.
Impossível viver sem saber morrer.
Se aprenderes a perder, a cair, a errar,
ninguém mais o controlará.
Porque o máximo que poderá acontecer
a você é cair, errar e perder.
E isto você já sabe.
Bem aventurado aquele que já consegue
receber com a mesma naturalidade
o ganho e a perda…
o acerto e o erro…
o triunfo e a queda….
… a vida e a morte.
"Faça o que ele manda, ouça o que ele diz, confie nele. Não o entregue tão facilmente mas coloque-o em tudo o que você faz! Deixe-o bater forte, mantenha quem você ama perto dele. Seja ele mole ou feito de pedra, cuide bem dele! Ele é a coisa mais importante que você possui!
Ame seu coração
Grilos
O Grilo Falante saíra pelo mundo e assim chegara a China, onde encontrara outros grilos submetidos a uma triste sina: eram obrigados a lutar entre si para diversão de uns poucos espectadores. No meio deles o Grilo Falante se destacava, sobretudo, porque falava duas línguas: a dos humanos e a dos grilos. O que considerava uma dádiva do destino. Era uma oportunidade para que assumisse o papel de defensor dos oprimidos. Assim como Espártaco liderara uma revolta de gladiadores, ele lideraria os grilos não falantes numa rebelião. Empolgado, fazia discurso atrás de discurso: “Nós grilos, somos vitimas dos humanos!” Proclamava. “Eles fazem com que a gente se mate, e para quê? Para que tenham diversão, uma diversão cruel, doentia...uni-vos, grilos! Nada tendes a perder, a não ser a vossa condição de escravos!”
No começo os grilos ficaram perplexos, sem saber o que fazer, mas aos poucos foram se entusiasmando com a pregação e acabaram autorizando o Grilo Falante a negociar com os humanos, condições de vida mais justas. O Grilo Falante disse aos proprietários dos grilos que nada tinha a ver com política. O que ele queria era proteção para seus companheiros. E listou suas condições: as lutas, daí em diante, deveriam ser apenas simuladas, de brincadeira. A caixa em que lutavam seria confortável, com ar condicionado. Os grilos teriam direito a ração dupla de alimento e, etc...
Na falta de alternativa, os donos dos grilos aceitaram as condições. Mas estão atrás do Pinóquio. Pagarão a ele qualquer quantia para que leve o Grilo Falante embora da China.
Reflexão: Os mais espertos se sobressaem sempre sobre os demais.
Quando você resolve dividir sua vida com um cão, começa uma jornada incrível - uma jornada que lhe trará tanto amor e devoção como você nunca imaginou, além também de testar sua força e coragem.
Se você permitir, a jornada lhe ensinará muitas coisas sobre a vida, sobre você mesmo e, acima de tudo, sobre relacionamentos. Você mudará, pois uma alma não pode tocar outra sem deixar sua marca.
No caminho, você aprenderá a aproveitar os prazeres simples da vida - deitar ao sol, correr na grama, um carinho. Claro que haverá momentos bons e ruins durante esta jornada.
Se verá fazendo coisas bobas, que seus amigos que não tem um cão não entenderão. Coisas como ficar meia hora procurando a melhor comida para seu cão; comprar petiscos para ele no aniversário ou dar mais uma volta no quarteirão porque ele está adorando o passeio.
Sua casa ficará um pouco mais suja e cheia de pelos. Vai vestir menos roupas pretas e comprar mais rolos para retirar pelos.
Aprenderá o que é o amor verdadeiro, aquele que diz "não importa onde estivermos ou o que faremos, ou como a vida nos trata, desde que estejamos juntos". Respeite isso. É o presente mais precioso que qualquer ser vivo pode dar a outro. E você não o encontrará tão facilmente entre a raça humana.
E você aprenderá humildade. Tanto amor e alegria com nossa simples presença.
Se você prestar atenção e aprender direitinho, quando a jornada acabar você não será apenas uma pessoa melhor, mas a pessoa que seu cão sempre soube que você seria: aquele que ele tem orgulho de chamar de melhor amigo.
Nunca amamos alguém. Amamos, tão-somente, a idéia que fazemos de alguém.
É um conceito nosso - em suma, é a nós mesmos - que amamos.
Isto é verdade em toda a escala do amor. No amor sexual buscamos um prazer nosso dado por intermédio de um corpo estranho. No amor diferente do sexual, buscamos um prazer nosso dado por intermédio de uma idéia nossa.(...)
As relações entre uma alma e outra, através de coisas tão incertas e divergentes como as palavras comuns e os gestos que se empreendem, são matéria de estranha complexidade. No próprio ato em que nos conhecemos, nos desconhecemos. Dizem os dois 'amo-te' ou pensam-no e sentem-no por troca, e cada uma quer dizer uma idéia diferente, uma vida diferente, até, porventura, uma cor ou um aroma diferente, na soma abstracta de impressões que constiui a atividade da alma.
O Homem Nu
Ao acordar, disse para a mulher:
— Escuta, minha filha: hoje é dia de pagar a prestação da televisão, vem aí o sujeito com a conta, na certa. Mas acontece que ontem eu não trouxe dinheiro da cidade, estou a nenhum.
— Explique isso ao homem — ponderou a mulher.
— Não gosto dessas coisas. Dá um ar de vigarice, gosto de cumprir rigorosamente as minhas obrigações. Escuta: quando ele vier a gente fica quieto aqui dentro, não faz barulho, para ele pensar que não tem ninguém. Deixa ele bater até cansar — amanhã eu pago.
Pouco depois, tendo despido o pijama, dirigiu-se ao banheiro para tomar um banho, mas a mulher já se trancara lá dentro. Enquanto esperava, resolveu fazer um café. Pôs a água a ferver e abriu a porta de serviço para apanhar o pão. Como estivesse completamente nu, olhou com cautela para um lado e para outro antes de arriscar-se a dar dois passos até o embrulhinho deixado pelo padeiro sobre o mármore do parapeito. Ainda era muito cedo, não poderia aparecer ninguém. Mal seus dedos, porém, tocavam o pão, a porta atrás de si fechou-se com estrondo, impulsionada pelo vento.
Aterrorizado, precipitou-se até a campainha e, depois de tocá-la, ficou à espera, olhando ansiosamente ao redor. Ouviu lá dentro o ruído da água do chuveiro interromper-se de súbito, mas ninguém veio abrir. Na certa a mulher pensava que já era o sujeito da televisão. Bateu com o nó dos dedos:
— Maria! Abre aí, Maria. Sou eu — chamou, em voz baixa.
Quanto mais batia, mais silêncio fazia lá dentro.
Enquanto isso, ouvia lá embaixo a porta do elevador fechar-se, viu o ponteiro subir lentamente os andares... Desta vez, era o homem da televisão!
Não era. Refugiado no lanço da escada entre os andares, esperou que o elevador passasse, e voltou para a porta de seu apartamento, sempre a segurar nas mãos nervosas o embrulho de pão:
— Maria, por favor! Sou eu!
Desta vez não teve tempo de insistir: ouviu passos na escada, lentos, regulares, vindos lá de baixo... Tomado de pânico, olhou ao redor, fazendo uma pirueta, e assim despido, embrulho na mão, parecia executar um ballet grotesco e mal ensaiado. Os passos na escada se aproximavam, e ele sem onde se esconder. Correu para o elevador, apertou o botão. Foi o tempo de abrir a porta e entrar, e a empregada passava, vagarosa, encetando a subida de mais um lanço de escada. Ele respirou aliviado, enxugando o suor da testa com o embrulho do pão.
Mas eis que a porta interna do elevador se fecha e ele começa a descer.
— Ah, isso é que não! — fez o homem nu, sobressaltado.
E agora? Alguém lá embaixo abriria a porta do elevador e daria com ele ali, em pêlo, podia mesmo ser algum vizinho conhecido... Percebeu, desorientado, que estava sendo levado cada vez para mais longe de seu apartamento, começava a viver um verdadeiro pesadelo de Kafka, instaurava-se naquele momento o mais autêntico e desvairado Regime do Terror!
— Isso é que não — repetiu, furioso.
Agarrou-se à porta do elevador e abriu-a com força entre os andares, obrigando-o a parar. Respirou fundo, fechando os olhos, para ter a momentânea ilusão de que sonhava. Depois experimentou apertar o botão do seu andar. Lá embaixo continuavam a chamar o elevador. Antes de mais nada: "Emergência: parar". Muito bem. E agora? Iria subir ou descer? Com cautela desligou a parada de emergência, largou a porta, enquanto insistia em fazer o elevador subir. O elevador subiu.
— Maria! Abre esta porta! — gritava, desta vez esmurrando a porta, já sem nenhuma cautela. Ouviu que outra porta se abria atrás de si.
Voltou-se, acuado, apoiando o traseiro no batente e tentando inutilmente cobrir-se com o embrulho de pão. Era a velha do apartamento vizinho:
— Bom dia, minha senhora — disse ele, confuso. — Imagine que eu...
A velha, estarrecida, atirou os braços para cima, soltou um grito:
— Valha-me Deus! O padeiro está nu!
E correu ao telefone para chamar a radiopatrulha:
— Tem um homem pelado aqui na porta!
Outros vizinhos, ouvindo a gritaria, vieram ver o que se passava:
— É um tarado!
— Olha, que horror!
— Não olha não! Já pra dentro, minha filha!
Maria, a esposa do infeliz, abriu finalmente a porta para ver o que era. Ele entrou como um foguete e vestiu-se precipitadamente, sem nem se lembrar do banho. Poucos minutos depois, restabelecida a calma lá fora, bateram na porta.
— Deve ser a polícia — disse ele, ainda ofegante, indo abrir.
Não era: era o cobrador da televisão.
O que é O Teatro Mágico?
Ninguém pode falar sem nunca ter ouvido,
Ninguém pode falar sem nunca ter sentido.
Talvez se entendêssemos de que se trata esse ‘tal Teatro Mágico’ Perderíamos a Graça, a Claudia, a Marta.
O Teatro Mágico não é pra se entender
O Teatro Mágico é pra se sentir, para se viver.
Teatro Mágico é aquele sorriso involuntário voluta o ario lutario rio sem medir.
O choro de vida da senhora guardado no coração corar a são
É dar a mão, o pão, deixar-se levar pela emoção
Deixar livre o coração, a imaginação.
É a união do 'serumano' Ser humano
O Teatro Mágico é cada um de nós
É conhecer o seu eu, teu, ateu, tua, nua, pura, rua.
Vamos cada um de nós, fazermos o nosso Teatro Mágico De risos, choros e abraços compartilhados.
Cantos e encantos e momentos tantos.
Vamos camarada Vamos pra luta.
Mas não a luta armada E sim a luta amada A luta daqueles que têm no coração o poder da criação, A força da imaginação.
Vem, vem que eu seguro a tua mão.
Eu não sei na verdade quem eu sou
já tentei calcular o meu valor
Mas sempre encontro um sorriso e o meu paraíso é onde estou
Por que a gente é desse jeito?
criando conceito pra tudo que restou
Meninas... são bruxas e fadas
Palhaço é um homem todo pintado de piadas
Céu azul é o telhado do mundo inteiro
Sonho é uma coisa que fica dentro do meu travesseiro
Eu não sei na verdade quem eu sou
Já tentei calcular o meu valor
Mas sempre encontro um sorriso... e o meu paraíso é onde estou
Eu não sei... na verdade quem eu sou
Perguntar... da onde veio a vida
por onde entrei... deve haver uma saída
e tudo fica sustentado... pela fé
Na verdade ninguém... sabe o que é
Velhinhos são crianças nascidas faz tempo
com água e farinha colo figurinha e foto em documento
Escola! É onde a gente aprende palavrão...
Tambor no meu peito faz o batuque do meu coração
Eu não sei na verdade quem eu sou
Já tentei calcular o meu valor
Mas sempre encontro sorriso... e o meu paraíso é onde estou
Eu não sei... na verdade quem eu sou
Percebi que a cada minuto
Tem um olho chorando de alegria e outro chorando de luto
Tem louco pulando o muro, tem corpo pegando doença
Tem gente trepando no escuro, tem gente sentido ausência
Meninas... são bruxas e fadas
Palhaço é um homem todo pintado de piadas
Céu azul é o telhado do mundo inteiro
Sonho é uma coisa que fica dentro do meu travesseiro.
Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:
"Navegar é preciso; viver não é preciso".
Quero para mim o espírito desta frase,
transformada a forma para a casar como eu sou:
Viver não é necessário; o que é necessário é criar.
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.
Só quero torná-la grande,
ainda que para isso tenha de ser o meu corpo
e a (minha alma) a lenha desse fogo.
Só quero torná-la de toda a humanidade;
ainda que para isso tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso.
Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue
o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir
para a evolução da humanidade.
É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.
Luís Fernando Veríssimo diz que : “Os tristes acham que o vento geme, os alegres acham que ele canta”.Tem dias que estamos assim, ouvindo o choro dos ventos. Nesses dias precisamos de um ombro amigo, de um afago, de um aperto de mão...Quando isto acontece, o melhor caminho é superar sozinho.
Estive pensando na fúria cega com que os homens se atiram à caça do dinheiro. É essa a causa principal dos dramas, das injustiças, da incompreensão da nossa época. Eles esquecem o que têm de mais humano e sacrificam o que a vida lhes oferece de melhor: as relações de criatura para criatura. De que serve construir arranha-céus se não há mais almas humanas para morar neles. (...) É indispensável trabalhar, pois um mundo de criaturas passivas seria também triste e sem beleza. Precisamos, entretanto, dar um sentido humano às nossas construções. E quando o amor ao dinheiro, ao sucesso nos estiver deixando cegos, saibamos fazer pausas para olhar os lírios do campo e as aves do céu.
-Menina - pensa Amaro. - Tu nunca poderias compreender. Nem tu nem ninguém sabe quanta ternura há em mim. Eu hei de ser sempre para vocês todos o seu Amaro melancólico e taciturno, o seu Amaro que trabalha num banco e faz música nas horas vagas, o seu Amaro que vai ler livros à sombra dos plátanos, o seu Amaro que não sabe fazer um gesto de amizade nem de acolhimento. Vocês nunca compreenderão. E tu, menina, não podes compreender também a alegria íntima que me dás. Porque és poesia, és música, és... nem sei o que és... Tudo isto se pode sentir, tudo isso se pode pensar. Mas nada disto se pode dizer. Seria piegas, seria idiota, como seria idiota também eu dizer que te amo. Tenho mais de o dobro da tua idade. E algumas rugas no rosto. Pirolito não pode apanhar o raio de sol. O raio de sol é de um outro mundo. Clarissa, se eu pudesse te falar, se tu pudesses entender... Eu te pediria que nunca desejasses que o tempo passasse. Eu te pediria que fizesses durar mais e mais este momento milagroso. A vida é má, menina, a vida envenena. Amanhã serás gorducha e prática como titia. Amanhã terás filhos, te transformarás numa matrona respeitável. Onde estará então a menina em flor que corria no pátio atrás das borboletas? Mas tu tens curiosidade de conhecer a vida... É natural. Talvez nem compreendas a significação deste momento. Quanta coisa eu teria para dizer se eu pudesse falar, se pudesses entender..."
Eu te amei muito. Nunca disse, como você também não disse, mas acho que você soube. Pena que as grandes e as cucas confusas não saibam amar. Pena também que a gente se envergonhe de dizer, a gente não devia ter vergonha do que é bonito. Penso sempre que um dia a gente vai se encontrar de novo, e que então tudo vai ser mais claro, que não vai mais haver medo nem coisas falsas. Há uma porção de coisas minhas que você não sabe, e que precisaria saber para compreender todas as vezes que fugi de você e voltei e tornei a fugir. São coisas difíceis de serem contadas, mais difíceis talvez de serem compreendidas — se um dia a gente se encontrar de novo, em amor, eu direi delas, caso contrário não será preciso. Essas coisas não pedem resposta nem ressonância alguma em você: eu só queria que você soubesse do muito amor e ternura que eu tinha — e tenho — pra você. Acho que é bom a gente saber que existe desse jeito em alguém, como você existe em mim.
Dizem que a gente tem o que precisa. Não o que a gente quer. Tudo bem. Eu não preciso de muito. Eu não quero muito. Eu quero mais. Mais paz. Mais saúde. Mais dinheiro. Mais poesia. Mais verdade. Mais harmonia. Mais noites bem dormidas. Mais noites em claro. Mais eu. Mais você. Mais sorrisos, beijos e aquela rima grudada na boca. Eu quero nós. Mais nós. Grudados. Enrolados. Amarrados. Jogados no tapete da sala. Nós que não atam nem desatam. Eu quero pouco e quero mais. Quero você. Quero eu. Quero domingos de manhã. Quero cama desarrumada, lençol, café e travesseiro. Quero seu beijo. Quero seu cheiro. Quero aquele olhar que não cansa, o desejo que escorre pela boca e o minuto no segundo seguinte: nada é muito quando é demais.
Ou me quer e vem, ou não me quer e não vem. Mas me diga logo pra que eu possa desocupar o coração. Avisei que não dou mais nenhum sinal de vida, e não darei. Não é mais possível. Não vou me alimentar de ilusões. Prefiro reconhecer com o máximo de tranquilidade possível que estou só do que ficar à mercê de visitas adiadas e encontros transferidos.
Ele pode estar olhando as suas fotos. Neste exato momento. Porque não? Passou-se muito tempo. Detalhes se perderam. E daí? Pode ser que ele faça todas as coisas que você faz. Escondida. Sem deixar rastro nem pistas. Talvez ele faça aquela cara de dengoso e sinta saudade do quanto você gostava disso. Ou percorra trajetos que eram seus, na tentativa de não deixar que você se disperse das lembranças. As boas. Por escolha ou fatalidade, pouco importa, ele pode pensar em você. Todos os dias. E ainda assim preferir o silêncio. Ele pode reler seus bilhetes, procurar o seu cheiro em outros cheiros. Ele pode ouvir as suas músicas, procurar a sua voz em outras vozes. Quem nos faz falta acerta o coração como um vento súbito que entra pela janela aberta. Não há escape. Talvez ele perceba que você faz falta. E diferença. De alguma forma, numa noite fria. Você não sabe. Ele pode ser o cara com quem passará aquele tão sonhado inverno em Paris. Talvez ele volte. Você confia nele? Ou não.
Olha, eu estou te escrevendo só pra dizer que se você tivesse telefonado hoje eu ia dizer tanta, mas tanta coisa. Talvez mesmo conseguisse dizer tudo aquilo que escondo desde o começo, um pouco por timidez, por vergonha, por falta de oportunidade, mas principalmente porque todos me dizem que sou demais precipitado, que coloco em palavras todo o meu processo mental (processo mental: é exatamente assim que eles dizem, e eu acho engraçado) e que isso assusta as pessoas, e que é preciso disfarçar, jogar, esconder, mentir. Eu não queria que fosse assim. Eu queria que tudo fosse muito mais limpo e muito mais claro, mas eles não me deixam, você não me deixa.
É, eu confesso que não é exatamente a realidade que eu esperava encontrar. Talvez isso mude. Talvez você entre na minha vida sem tocar a campainha e me sequestre de uma vez. Talvez você pule esses três ou quatro muros que nos separam e segure a minha mão, assim, ofegante, pra nunca mais soltar. Talvez você ainda possa pular no rio e me salvar. Ou talvez eu só precise de férias, um porre e um novo amor. Porque no fundo eu sei que a realidade que eu sonhava afundou num copo de cachaça e virou utopia.
