Texto Pai do Mario Quintana
VIDA EM APRECIAÇÃO (soneto)
Lancei minha sorte aos ventos
Escrevi no reverso varia poesia
Tive amor, devaneios e fantasia
Nas aventuras, radicais eventos
Que nem sempre foram tirania
Ou tão universais sentimentos
E de cada um eu fiz momentos
Não soube lhe dar com vilania
E assim, nas ramas dos lamentos
No meu quintal plantei harmonia
Para alastrar somente portentos
Então, nesta hera de ter ousadia
Féis e fecundos foram os alentos
Na desventura, novo foi outro dia
Luciano Spagnol
Agosto de 2016
Cerrado goiano
Ronda (soneto)
Esta noite com a lua vou confidenciar
As minhas lembranças mais secretas
Numa vigia nas memórias prediletas
Que na vida me fizeram assim sonhar
Nestes eflúvios aos sons de trombetas
Do crepúsculo do cerrado, quero poetar
Nos braços da emoção, então devanear
Em suspiros, delírios em cores violetas
Sim, serão sensações na alma a enlear
De um amar nos jardins das borboletas
Das ilusões, assim, ter vontade de voltar
E aí, então, neste cenário de profetas
Quero nesta ronda poder eternizar
O soneto: em linhas, curvas e retas
Luciano Spagnol
Agosto de 2016
Cerrado goiano
CORTEJO
De que vale evitar a morte, indesejada
Se para o silêncio do chão é o fado
Pois, o que parte, no óbito é calçado
E com solidão a personagem é levada
Com que cortejo desfilar no cerrado
Se o culto deveria estar na jornada
No forrar o cascalho da árida estrada
E não suspiros ao morto derramado
Que importância terá a vida finalizada
Se o elo no amor, então, não foi selado
E tão pouco, a vida, daquele, foi amada
Pra nada adianta ter tarde vazio agrado
Se de volta ao pó, a alma é consagrada
Deixe as rosas de lado, e avance calado
Luciano Spagnol
Agosto de 2016
Cerrado goiano
SONETO NUM ATO
Em ti tem de mim pedaço
Num espectro multicor
Emergido passo a passo
Num coração ao dispor
Em ti encontro compasso
No olhar que oferece flor
Por ti o meu afeto é laço
Num sonho terno e coesor
O meu corpo por ti é espaço
Sinto em ti desejo condutor
De calor no apego e abraço
És tudo neste ato maior
No meu mundo, regaço
Na emoção, o meu amor!
Luciano Spagnol
Agosto de 2016
Cerrado goiano
ANDOR DO AMOR
Quem não quer, não estar sozinho
Na noite fria acobertar-se de calor
Estadear estórias e paixão compor
E ter a cumplicidade pelo caminho
A solidão é sentir no vazio, amargor
É grito sem eco, mimo sem carinho
Avitar a rosa por ferir-se no espinho
Querer no azedado ter doce sabor
Cada qual traz ideal no seu cantinho
Um oferece o abraço em laço e flor
Outro doa afeto num olhar mansinho
Pois, não se é perene no retiro opressor
Nem tão pouco um solitário mesquinho
Que não orne de rosas o andor do amor
Luciano Spagnol
Agosto de 2016
Cerrado goiano
SONETO VAGINDO
Na saudade a alma não canta
Chora, e triste fica o triste riso
O peito pulsa numa dor tanta
Que o nada se torna conciso
A memória vem e nada espanta
A vida se encolhe num improviso
A alacridade deixa de ser santa
E a solidão surge sem dar aviso
Quando a saudade se agiganta
O olhar se perde nu, no infinito
Tão frívolo, que não hei escrito
Aí um nó se enlaça na garganta
A lágrima pela face sai a procura
Dum vagido, pra banzar a tristura
Luciano Spagnol
09/08/2016, 06'20"
Cerrado goiano
SONETO DA SORTE
Onde foi que eu errei, se errei
Quem pode responder, diga
Se pecado cometi, prossiga
Pois, na sorte os dados rolei
Já sofri, por tanta e tal intriga
Que no peito nem mais poderei
Ter vencedor ou vencido, freei
Agora quero palavra amiga...
Se perder é o destino, tolerarei
Mas, a injustiça não será viga
Nem tão pouco um fator de lei
Quero estar onde o amor abriga
No jogo da vida, ali então estarei
E quem me quer, então me siga...
Luciano Spagnol
agosto, 2016
Cerrado goiano
TOLICES
Não se atenhas nas vãs tolices
onde o valor é de mero acaso
e que no fado imprime atraso
e na lucidez pascácias burrices
Não tenhas pelo juízo descaso
só bons intuitos trazem ledices
pois futilidades são só sonsices
e na vida se tem um curto prazo
Sê sensato, saia das mesmices
não gaste o tempo criando caso
nem tão pouco com tagarelices
Tudo é precioso, e o mérito é raso
pra desperdiçar com parlapatices
pois o banal pode virar compraso
Luciano Spagnol
agosto, 2016
Cerrado goiano
SONETO NO ENTARDECER
Sai o dia, vem à noite no cerrado
treva fria, palia o sol na cor bisonte
breve e leve, tão encantado, é fonte
num manto real no tempo dourado
Ó sombra que se esvai no monte
do entardecer na noite aterrado
desnudando o planalto aluado
numa luz sidérea em desmonte
E no turvo motim no céu calado
surgem alvas estrelas, defronte
ao cais da vida, num ato fiado
Assim como num beijo simbionte
a noite abarca o dia tão esfalfado
para lhe adormecer no horizonte
Luciano Spagnol
Agosto de 2016
Cerrado goiano
CIRCO DE ILUSÃO (soneto)
O amor opõe ao que o desprezo dizeis
pois, palavras reles dissolvem-se no ar.
Pra que no afeto tenhais o que quereis
conjugue no presente o verbo amar...
Só assim, que o bem terá cetro de reis
que será uma verdade, uma voz a falar.
E na alma te encontrarás, e nela fluireis
fique atento, acaso lhe venha chamar!
Pois, nos teus braços não se é alguém
a mais, é plena emoção, e se vai além;
é o coração sorrindo cheio de atenção.
Então, entenda o poder que ele tem
porém, cuidado com o infiel desdém.
Sob a lona do céu há um circo de ilusão
Luciano Spagnol
Agosto de 2016
Cerrado goiano
SONETO DA VOLTA
Estou de volta, intento por aqui ficar
nos caminhos busquei novos planos
no passado ficou a chaga a sangrar.
Sim tive erros, e também enganos...
No perdão, pude então saber perdoar
tudo é veloz, e passa por nós os anos
assim, o fado me atendeu para voltar
pois, nas orações remi de meus danos
Nas minhas desventuras, soube amar
nas tristuras, agora quero dias ufanos
por lá fechei o ciclo de ter que cuidar
Na mala, pouco trago pesares tiranos
pois, aqui está a meada, o meu lugar.
Estou de volta, sem enredos profanos
Luciano Spagnol
SONETO COM QUIMERA
Estás onde, amor? O peito clama
a tua imagem nos desejos chora
a poesia sem ti assim vai embora
o leito está morno, e sem chama
Fico imaginando teu olhar agora
no meu olhar enflorar em rama
invadindo meu corpo, que flama
em afagos de tempos de outrora
Vem! Não me deixes aqui tão só
num tal vazio laço de um uno nó
e no silêncio que fere com solidão
É um amor tão ausente que dá dó
na afável emoção faz um forrobodó
e traz ganido no saudoso coração
Luciano Spagnol
Agosto de 2016
Cerrado goiano
SONETO TEMPORAL
Querer os sonhos dos dezessete
Quando já passou dos cinquenta
É quimera que pouco se aguenta
Já as horas, nos estende o tapete
De repente, tão frágil, e tão atenta
A vida nos põe atrás dum colchete
Deixa de dar rosas num ramalhete
Pra dar a proximidade dos setenta
É o tempo no tempo por um filete
Pensamento com voz barulhenta
E expectativa grifada num bilhete
Os passos tintos na cor magenta
A idade lenta, o querer em falsete
O amor, ah o amor, este ementa
Luciano Spagnol
Agosto de 2016
Cerrado goiano
ESPELHO (soneto)
Este vulto no espelho na minha frente
Serei eu dividido numa só consciência
Desta visão exata, é outra referência
De um tempo de longa data, vertente
Que ilusão quer iludir minha inocência
Refletindo cabelos alvos tão aparente
Num eu outro, ignoto por minha mente
E tão desfigurado nesta contundência
Será meu eu, além de mim, reluzente
Se não vejo em nada alguma ausência
E precisa é a reverberação ali poente
É! Terei que me deixar nesta essência
Ser dois neste espelho integralmente
E uma só pessoalidade em gerência.
Luciano Spagnol
Agosto de 2016
Cerrado goiano
CICATRIZ (soneto)
Vou tirar você da minha história
Arrancar-ti do meu olhar infeliz
Se ainda insepulto tenho a raiz
Porque vivo estava na memória
Mas agora, te poetarei com giz
E na trilha outrora contraditória
Desta dor não terei escapatória
Se não sair, pois pouco me quis
E não ouse ter alguma rogatória
Te doei muito, e muito por nós fiz
Nesta toda tão pugnada trajetória
Tenhas sorte na sua nova diretriz
Pois eu terei, e não é só vanglória
É a certeza da cura desta cicatriz
Luciano Spagnol
13 de agosto, 2016
Cerrado goiano
Num veloz piscar, tudo passa e não para
Segue adiante, um instante, tempo vivido
E no mesmo sentido, as marcas na cara
Vindas, amores, idas, flores, no existir diluído
Não compensa o ódio, a nada se compara
Pois, tudo se desfaz logo ali, no jazigo...
Viver é breve, deve ser leve, uma peça rara!
Luciano Spagnol
Agosto/2016
Cerrado goiano
SONHOS (soneto)
Vou hastear meus sonhos lá no alto
onde o céu desabotoa o caminho
o vento sopra a brisa de mansinho
e as estrelas poetam como arauto
Quero sair deste meu desalinho
dum fado de dano sem incauto
tal qual ao por do sol do planalto
que matiza o olhar com carinho
Quero ter simplicidade, e afeto
deixar as quimeras sem parede
e a ilusão livre, fluindo pelo teto
E assim, a boa nova que venha
seja recebida com afago e sede
e no meu eu, o amor convenha...
Luciano Spagnol
Agosto/ 2016
Cerrado goiano
PARALELA (soneto)
Deixe o sorriso adentrar a janela
Do viver, traga luz na escuridão
Aprecie a rosa desde ser botão
Designe a vida a ser leve e bela
Tenha no rosto só boa expressão
Sofrer em vão põe dor na cancela
Da felicidade, então permita a ela
Inundar-ti por todo o seu coração
Transborde de harmonia, seja dela
A lamúria destila toda boa emoção
Nesta reta com amor trace paralela
Estar vivo é um motivo de gratidão
Pense positivo, e dele tenha tutela
Ser feliz traz sonhos, é pura razão!
Luciano Spagnol
Agosto/ 2016
Cerrado goiano
SOM DO CERRADO (soneto)
Escuto o cerrado a cantar, em atroada
Canção do vento, da sequidão, escuto
Numa trovoada, e a emoção em fruto
De silêncio, no coração em disparada
Cada uma melodia deste chão tão bruto
Rasga o planalto numa voz empoeirada
De cantigas pela caliandra emoldurada
De bela cena e de árido hino em tributo
As flores do ipê, caem em fúnebre toada
No ritmo do por do sol se pondo soluto
Orquestrando a vida diversa e iluminada
E pela estrada os sons no olhar arguto
Cantam e encantam, minuto a minuto
Os ruídos sonoros numa alma calada...
Luciano Spagnol
Agosto/ 2016
Cerrado goiano
TEMPORADA DA VIDA (soneto)
A temporada da vida, apressurada
De encenação tão ágil e tão breve
Aspira a existência tal qual ar leve
E nos leva numa célere enxurrada
O fado de asas que não susteve
Se enlaça na fragilidade tramada
Em tênue mormaço e mais nada
Criando a história do que se teve
Por que a tão delgada cadência?
Dissolvida nesta árida impotência
Quando se quer mais no amanhã
Num sopro de alta magnificência
O dom de existir, se contingência
É a morte, que a vida seja anfitriã
Luciano Spagnol
Agosto/ 2016
Cerrado goiano