Texto de Carlos Drumond de Andrade - Antiguidades
Para meu pai Orizon.
Menino meigo,
risonho.
Humor sempre à flor da pele.
Suas gargalhadas explodiam
Com o encantamento de alguém que descobre o mundo
E está sempre enamorado pela vida.
Colocava o coração
no doce olhar brejeiro
e faceiro
Construía poemas pra amada Mercês.
Talvez
Sem sabê-lo fosse um poeta
Não, talvez não, ele o era de fato
Na simplicidade de suas palavras,
tecia lindos poemas
Cujo tema versava sempre o amor
Grande amor dedicado à eterna amada.
desenhava neles, a menina dos sonhos.
Também foi valente
passou pela vida de uma forma
Magnificamente inteligente!
Homem decente e prudente.
Pois, apesar de muito pobre delineou com exemplos, os perfis dos seus filhos.
Com sua bela herança de honestidade
e generosidade.
Hoje somos todos ricos de valores humanos.
se estivesse aqui entre nós
Teria completado 86 anos de uma exemplar existência.
como partiu, compõe agora lá infinito
86 bilhões de bonitos
Fachos de luz.
Minha constelação de estrelas.
Meu sol
Meu herói imortal.
Meu dilúvio de amor.
Solidão
Na escuridão soltaram a minha mão.
Não me deram sequer o tempo para o prumo
Sem rumo
Tateei trôpega a parede do Universo.
Sem visão escorreguei no labirinto dos sonhos.
Perdi-me nele.
Não encontrei saída.
Sem guarida, patinei no lodo das desilusões.
Estive órfã toda a eternidade.
Meus deuses não me responderam.
E em todos os cantos
Apenas os meus prantos,
Jorraram em uníssonos enlouquecedores.
Não tive amores
Apenas o eco das minhas paixões
Desabridas e Jamais correspondidas.
Por isso mesmo, vãs.
Fugazes.
Pequenas e pobres como as minhas lembranças.
Não fiz nenhuma história.
Fui sempre um ser totalmente insosso
Vagueei por aí.
E, então, um dia eu morri.
Sonâmbula na minha solidão.
Vazio
Não tive dedos suficientes pra contar
As dores vividas no calabouço
Da minha alma perdida entre mentiras
De que eu sabia que o meu cantar
Levaria com o vento
Para os amados, alento.
Eu nada aprendi dessa troca
De idéias e ideais
Não guardei um só instante
As memórias do aprendizado
Sobre o amor
Que eu vim buscar
Tive apenas ilusões arredias
E apostei em atitudes tresloucadas
Correndo atrás dos que me renegaram.
Acreditei que estes
Poderiam preencher o vazio despudorado
Da agonizante despedida
De quem parte solitária e oca
E solta.
Desprovida de alegria.
Vazia de vida.
Desnutrida e carente
Completa indigente.
Morte
O mundo mudou, com medo e muda/
Escondi-me na despensa atolada/
Da minha alma covarde e reclusa/
Cheia de entulhos e assombrada.//
Estendi minha mão para segurar a flor/
Que despontava envergonhada/
Do meu débil e frágil amor/
Qual cadela faminta e enxotada.//
Vaguei desnorteada pelos caminhos/
Tédio e dor me acompanharam pela estrada/
Feriram-me sem trégua os espinhos/
E eu morri antes de ser purificada
Lágrimas vãs
Fui eu que chorei o Pacífico
Quando enxerguei as muralhas erigidas
Com toda aquela riqueza lá dentro.
Enquanto crianças de ruas cheiravam cola.
Fui que verti em lágrimas o rio Nilo
Quando soube que mentiriam
Para angariarem muito dinheiro.
Espoliando os pobres e desinformados.
E mal-intencionados
Inventariam sistemas financeiros.
Cruéis e excludentes.
A fatia seria dividida desigualmente
Muitos sem nada
Poucos com muito.
Gente comeria lixo,
Viraria nada.
Na desabalada
Carreira individualista,
Egoísta.
O mundo chegaria ao caos.
Então,
Minha aflição foi tanta.
Que chorei todos os outros mares e oceanos
E rios, e lagos e lagoas
E riachos perenes e temporários.
E no auge da minha dor,
Quando não me restava mais lágrimas.
Suguei as águas do chão,
Sequei a terra
Do deserto do Saara.
Quando entendi que o homem
Trocaria por dinheiro a sua alma.
Milhões de amores
Tenho milhares de almas
Milhões de amores.
Milhares de bocas
Trilhões de beijos
De carícias.
De desejos.
Para quem confessaria o meu amor
Se apaixonada sou multidões
De mulheres
Todas gritando por liberdade.
Fisicamente um único ser
Sensível e indecifrável
Dentro de uma solidão incomensurável.
Todos os passantes pela minha vida
Piedade...
Pois se tenho todas as promessas do sim
Tenho de suportar, também, todas as renúncias.
E renunciar quando se ama, é morrer
Disse o poeta
Vim morrendo pela vida aos longos dos meus anos.
Morro todo o dia
Morro toda à hora.
Morro a todo instante.
E morro agora.
Impregnados de TEREZA
Os que não conheceram Tereza ao tomarem conhecimento da sua partida
Pensando em nós que ficamos consternados, talvez digam:
Faz sete dias que eles estão sem ela...
Que pena!
No entanto, enganam-se...
Ela tinha um mágico pincel
E desenhou nas nossas almas seu sorriso, seu semblante
De uma forma tão marcante,
Que ficaram incrustados nas nossas mentes
E fica impossível para nós que a amamos.
Esquecê-la um só instante.
Com o tempo a dor diminuirá.
A saudade, por sua vez, aumentará
Então, nós estaremos com certeza
Predestinados
Determinados
Em permanecermos
Impregnados.
De TEREZA.
Crônica para Tereza
Sorriso meigo, olhar sereno.
Tereza deixava-se derramar em amor
Porque sabia ser uma interlocutora dos Arcanjos,
na sua magnífica caminhada entre os homens.
Trejeitos leves de quem perdoa sempre...
Eu pude beber na sua fonte, suprema alegria
de ter Tereza no seio familiar e contemplar
o perfil de uma mulher singular.
Belo exemplo deixou-nos do saber, que somente uma alma
generosa traz para compartilhar com os semelhantes:
Paz, e se lhe faltavam as palavras....
ela se transmutava em Anjo para serenar
as pessoas que tiveram o privilégio
Doce mistério.
De ter Tereza, de ver Tereza, de saber Tereza.
Mais que amiga, era minha irmã
Por isso,
ficará no meu baú de saborosas recordações.
Por que?
Tereza partiu, mas imprimiu no mundo a sua marca
Que jamais se apagará.
Mudou-se, foi para um castelo reluzente
E se encontra nos braços do Pai tão sorridente!
E estaremos sempre, todos nós, seus amigos e familiares
Num eterno encantamento, abraçados.
Entrelaçados.
Mais que saudosos, apaixonados.
Mágico Menino Neymar
Voa o menino. É alado?
Talvez tenha asas invisíveis
Que os olhos humanos não percebem
Apenas quem pode como ele
Crer na vontade de ser grande.
Ser o melhor naquilo que faz com amor.
Pode enxergá-las.
É contorcionista?
De certo que sim.
Pois, entre pernas adversárias lá vai ele
Com seus requebros estonteantes
Desintegra-se diante de abismados oponentes
Para se recompor lá na frente
E em giros espetaculares golpear redes.
E, quando vestido de verde amarelo,
O garoto multiplica-se em
Duzentos milhões de amantes da bola.
Deixa-se usar por todos nós.
Nós nos entranhamos nele e
Rolamos com ele nos gramados.
Vão junto, também, as nossas almas
Nosso querer e os nossos sonhos
E, então somos com ele, vencedores.
Também é o menino um perfeito desenhista
Quando reproduz nas suas cobranças
Com o floreio dos passistas
Nossos semblantes
Risonhos...
Com seus chutes certeiros e implacáveis
Aí então ele é um mágico gigante, e
Dobra o mundo que maravilhado
O aplaude de pé.
E, então, senhores?
É um Pelé?
Sim, ele o é.
Cidadela
Cidadela da minha desguarnecida.
Meu coração, o arqueiro já não tem
A zaga protetora, a guarida
Dantes disposta no sorriso de alguém.
Minha postura muito aquém de regular
Põe contra mim meu próprio time, os sentidos.
Ai, quantos gols angústias permiti marcar
E meu juízo, o juiz, valida os impedidos.
Meus adversários poderosos
Exploram meus rebotes desconexos.
Sempre fatais seus ataques perigosos.
Ai, que se extinguem meus reflexos.
O espetáculo não tem mais atrativo
Golearam meus sonhos e anseios.
Ai que o meu saldo se torna mais negativo
Se se eu me perco até nos escanteios
Da vida...
PARALELO ENTRE O POLÍTICO E O HOMEM DE ESTADO
O político tem a voluptuosidade do poder. O Homem de Estado, a fascinação de um ideal.
O político tem a magia da transigência e é única a sua finalidade: durar no poder. O homem de Estado tem o fetichismo da intolerância de seus princípios, e nada o afasta da diretriz a que se traçou.
Um é plástico. O outro, irredutível.
Um segue a curva das conveniências. O outro, o fio a prumo do seu destino.
O primeiro pode sofrer todas as influências do meio e acomodar-se às cores, às ideias e à temperatura do ambiente. O segundo é insensível às reações contrárias e é inamolgável.
O político tem em vida as cortesias da popularidade, mas, quando morre, a multidão se diverte em espetar-lhe a língua com estiletes. O Homem de Estado possui fidelidade e pureza de ideais. Não é em vida, vitoriado em carros de triunfos. Mas, à sua morte, o povo o eleva à glorificação dos altares.
É com a matéria prima dos homens de Estado que os regimes plasmam a sua glória.
O político faz-se como o gramático. O homem de Estado nasce, como o poeta.
Um é a conquista do próprio homem, obtida pelo estudo ou pelo interesse. O outro é uma criação que surge de séculos a séculos; é um presente da natureza, uma dádiva do destino.
Um é a glória de uma ambição. O outro é uma apoteose de uma vocação.
O político vive do presente. O homem de Estado do futuro.
Um vive para os seus contemporâneos. O outro se projeta na prosperidade.
Um fala o idioma comum dos homens. O outro, a linguagem mística dos tempos, e, por isso, nem sempre o Homem de Estado pode ser compreendido em vida.
O político surge na vida pública sob os únicos estímulos do seu interesse. O Homem de Estado traz para o poder uma idéia que deve ser posta em marcha.
O político orienta-se pelo interesse privado. O Homem de Estado, pelo interesse público.
Para um, a política é o trapézio, onde as vitórias do cinismo têm as galas de habilidades acrobáticas. Para o Homem de Estado, a ação de governo é um sacerdócio e, em vez de trapézios, deve construir arcos de triunfo.
O renome do político dilata-se facilmente em superfície e atinge muitas vezes ampla popularidade. A fama do Homem de Estado cresce em profundidade, lentamente, mas mergulha suas raízes nas sombras da História e a posteridade aprenderá o seu nome de cor.
Um tem a escassa limpidez do vidro. O outro, a fulguração eterna do diamante.
Minha escolha
Não sofro de solidão
'Experencio' uma liberdade que me faz tão bem pra alma...
Por que você quis ficar só? Alguém me perguntou.
Para ser livre. Respondi.
Livre pra quê?
Para ser Só
Mas, ser só por quê? Esse alguém insistiu.
Pra poder escolher. Retruquei.
Escolher o quê?
Ser livre. Conclui.
"O amor é uma espécie de preconceito. A gente ama o que precisa, ama o que faz sentir bem, ama o que é conveniente. Como pode dizer que ama uma pessoa quando há dez mil outras no mundo que você amaria mais se conhecesse? Mas a gente nunca conhece."
(Charles Bukowski)
"Nunca me senti só. Gosto de estar comigo mesmo. Sou a melhor forma de entretenimento que posso encontrar."
(Charles Bukowski)
"É este o problema com a bebida, pensei, enquanto me servia dum copo. Se acontece algo de mau, bebe-se para esquecer; se acontece algo de bom,bebe-se para celebrar, e se nada acontece, bebe-se para que aconteça qualquer coisa."
(Charles Bukowski)
Revendo um recorte da história e refletindo um pouco, percebi que a maior mentira já contada sobre a educação no Brasil é: 'Na ditadura é que as escolas eram boas. Para ser admitido em escolas, os estudantes precisavam passar por uma prova. O ensino público era de boa qualidade'.
Pois bem, o problema é que na verdade, as escolas estavam evoluindo nas décadas de 60 até o início da de 70, por causa dos 'avanços' anteriores a essa época. É ingenuidade (ou esperteza demais) pensar que em tão pouco tempo, todo o ensino mudou, porque a ditadura se instaurou. É muito mais lógico, acreditar que foi um crescimento alcançado por décadas de esforço. O que a ditadura fez, a mando dos EUA e com o aval da imprensa (e da elite) Brasileira, foi acabar com o avanço da qualidade do ensino. Os maiores brasileiros do século passado foram presos, torturados e os que não conseguiram exílio foram mortos. Não foi o aumento do número de vagas que diminuiu a qualidade, mas sim o plano do capitalismo, em manter o Brasil como subdesenvolvido. Se nossas escolas, nossos educadores, nossos políticos honestos não tivessem sucumbido aos 24 anos de atraso extremo, poderíamos até não estar lá nos 90%, mas com certeza estaríamos muito melhor.
Perceba a Lua cheia sobre nós.
Sejamos como essa luz, que mostra seu valor
Quando não há energia elétrica,
Quando o homem do campo está voltando para casa.
Que sejamos cheios, mas conscientes
De que também haverá minguante.
Mas é essa "crise"
Que torna a lua Nova.
Que renovemo-nos sempre,
Sem deixar a essência, os princípios.
Que a cada fase nova,
Cresçamos mais, juntos,
Para celebramos o estar cheio novamente.
Somos luz para tantos jovens
Somos luz, um para o outro.
Mas saibamos que a nossa luz
Nada mais é do que a luz de Deus
Que reflete no seu povo.
Não é a chuva
Que está forte demais.
Somos nós que continuamos
Degradando, devastando, desmatando.
Não foi a chuva
Quem derrubou a casa, a árvore, alagou as ruas.
Fomos nós que produzimos a falta de espaço,
Arrancamos as outras árvores,
Entupimos rios, córregos, sistemas de esgoto.
E jogamos tudo no mar
Com a sínica pretensão
De que todo o lixo desapareça
Como num passe de mágica.
Por que jogamos quase tudo no mar?
Chega um momento, na vida do(a) cristão(ã), que agir somente dentro dos limites do templo já é pequeno demais para ele(a). Aí, a ação evangélica transborda os muros e os preconceitos. Já não é cabível a essa pessoa, ver um irmão, ou uma irmã, com necessidades e não parar para ajudá-lo(a). Já não é humano passar por alguém que sofre e não sofrer junto. Num determinado momento, amar o outro como a ti mesmo pede que quase nada seja mais importante do que a vida do outro. O "sair de si mesmo" torna-se obrigatório. Não há cristianismo, se agimos somente para nós, em nosso favor, por nós.
A vida começa ser ínfima, diante do que pode-se fazer. Então, o Eterno sobrepõe-se ao Agora e tudo faz sentido: minha vida, meus dons, já não me pertencem mais. Eles devem ser colocados à disposição de algo maior. O Eterno vai ficando mais presente a cada dia e tornando-se o guia do agir, do pensar, do falar.
Não é para viver esses 70, 80 anos como se nunca fosse morrer. É para amar nesses 86400 segundos que temos todos os dias.
O negro precisa trabalhar mais, ser mais honesto, para estar acima de suspeitas no trabalho. O negro precisa se vestir melhor, fazer mais a barba, alisar mais o cabelo, para não ser confundido com um assaltante. O negro precisa ter dinheiro para comprar um sapato para o filho e nunca esquecer a nota fiscal, porque a qualquer momento pode ser abordado. E além disso, há muita gente que acha que o negro deve permanecer calado.
A pessoa passa a vida inteira sonhando com o dia que terá condições de melhorar de vida, dar o que não pôde ter para seus filhos. E aí, quando consegue, a sociedade lhe nega o direito de ser.
Lute, resista, persista.
São histórias que não batem
Amores que não nascem
Caídos que não reagem.
Muita coisa precisando de "lavagem"
E tudo é devastado por causa da pastagem.
No outono, troca de folhagem
Para reconstruir a imagem
De que temos a coragem
De enfrentarmos a viagem
Dessa vida, que é só uma passagem.
Cada vez que vejo um ser humano sendo massacrado pelo sistema (seja o sistema político, religioso, econômico, etc.), sinto o estômago revirar, a garganta fechar e o choro vir à tona.
É questão de direitos. O Estado, as igrejas, os sustentadores da economia têm a obrigação de "morrer" antes de qualquer cidadão da "base". Essa é a ordem correta.
Nenhuma instituição é mais valiosa do que uma única vida.
Eu tento entender, mas não consigo. Tento de novo, e não me é possível compreender o ciclo vicioso que caímos, porque quem sempre pôde ajudar a mudar a realidade, sem muito esforço, também nunca se interessou por isso. Colocam seu dinheiro acima do prato de comida digno para muitos outros.
Quem se negaria a ter educação de alta qualidade? E aqueles que têm a oportunidade de dar educação de qualidade para todos, mas não dão?
E são esses mesmos, que negam os direitos para todos, os primeiros a puxar o gatilho, quando alguém os incomodam. Para eles, a lei é matar qualquer um que os enfrente, ou que seja ser humano demais para sobreviver com o que eles oferecem.
Temos o dever moral de desrespeitar leis injustas.
- Relacionados
- Poesias de Carlos Drummond de Andrade
- 58 textos motivacionais para equipe de trabalho
- Poemas de Carlos Drummond de Andrade
- Textos para amizade colorida declarando os seus sentimentos
- 35 textos para melhor amiga chorar e se emocionar
- Frases de Carlos Drummond de Andrade
- Textos de Carlos Drummond de Andrade