Texto de Carlos Drumond de Andrade - Antiguidades

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– Se eu soubera, dizia Soares, que no fim de tão pouco tempo a senhora me faria beber fel e vinagre, não teria prosseguido em uma paixão que foi o meu castigo. Fernanda, muda e distraída, mirava-se de quando em quando em um psyché, corrigindo o penteado ou simplesmente admirando a esquivança desarrazoada de Fernando. Soares insistia no mesmo tom meio sentimental. Afinal, Fernanda respondia desabridamente, exprobrando-lhe o insulto que fazia à sinceridade dos seus protestos.
– Mas esses protestos, disse Soares, é que eu não ouço; é exatamente o que eu peço; jure que eu estou em erro e fico contente. Há uma hora que lho digo.
– Pois sim...
– O quê?
– Está em erro.
– Fernanda, juras-me isso?
– Juro, sim...

Machado de Assis

Nota: Trecho do conto Fernando e Fernanda (1866).

Soneto de Montevidéu

Não te rias de mim, que as minhas lágrimas
São água para as flores que plantaste
No meu ser infeliz, e isso lhe baste
Para querer-te sempre mais e mais.

Não te esqueças de mim, que desvendaste
A calma ao meu olhar ermo de paz
Nem te ausentes de mim quando se gaste
Em ti esse carinho em que te esvais.

Não me ocultes jamais teu rosto; dize-me
Sempre esse manso adeus de quem aguarda
Um novo manso adeus que nunca tarda

Ao amante dulcíssimo que fiz-me
À tua pura imagem, ó anjo da guarda
Que não dás tempo a que a distância cisme.

Não te rias de mim, que as minhas lágrimas
São água para as flores que plantaste
No meu ser infeliz, e isso lhe baste
Para querer-te sempre mais e mais.

Não te esqueças de mim, que desvendaste
A calma ao meu olhar ermo de paz
Nem te ausentes de mim quando se gaste
Em ti esse carinho em que te esvais.

Não me ocultes jamais teu rosto; dize-me
Sempre esse manso adeus de quem aguarda
Um novo manso adeus que nunca tarda

Ao amante dulcíssimo que fiz-me
À tua pura imagem, ó anjo da guarda
Que não dás tempo a que a distância cisme.

A QUE VEM DE LONGE

A minha amada veio de leve
A minha amada veio de longe
A minha amada veio em silêncio
Ninguém se iluda.

A minha amada veio da treva
Surgiu da noite qual dura estrela
Sempre que penso no seu martírio
Morro de espanto.

A minha amada veio impassível
Os pés luzindo de luz macia
Os alvos braços em cruz abertos
Alta e solene.

Ao ver-me posto, triste e vazio
Num passo rápido a mim chegou-se
E com singelo, doce ademane
Roçou-me os lábios.

Deixei-me preso ao seu rosto grave
Preso ao seu riso no entanto ausente
Inconsciente de que chorava
Sem dar-me conta.

Depois senti-lhe o tímido tato
Dos lentos dedos tocar-me o peito
E as unhas longas se me cravarem
Profundamente.

Aprisionado num só meneio
Ela cobriu-me de seus cabelos
E os duros lábios no meu pescoço
Pôs-se a sugar-me.

Muitas auroras transpareceram
Do meu crescente ficar exangue
Enquanto a amada suga-me o sangue
Que é a luz da vida.

Hei de seguir eternamente a estrada
Que há tanto tempo venho já seguindo
Sem me importar com a noite que vem vindo
Como uma pavorosa alma penada.

Sem fé na redenção, sem crença em nada
Fugitivo que a dor vem perseguindo
Busco eu também a paz onde, sorrindo
Será também minha alma uma alvorada.

Onde é ela? Talvez nem mesmo exista…
Ninguém sabe onde fica… Certo, dista
Muitas e muitas léguas de caminho…

Não importa. O que importa é ir em fora
Pela ilusão de procurar a aurora
Sofrendo a dor de caminhar sozinho.

Com que inocência demito-me de ser
eu que antes era e me sabia
tão diverso dos outros, tão mim-mesmo,
ser pensante, sentinte e solidário
com outros seres diversos e conscientes
Da sua humana, invencível condição.
Agora sou anúncio, ora vulgar ora bizarro,
em língua nacional ou em qualquer língua
(qualquer, principalmente).
E nisto me comprazo, tiro glória
de minha anulação.

Elegia

Ganhei (perdi) meu dia.
E baixa a coisa fria
também chamada noite, e o frio ao frio
em bruma se entrelaçam, num suspiro.

E me pergunto e me respiro
na fuga deste dia que era mil
para mim que esperava,
os grandes sóis violentos, me sentia
tão rico deste dia
e lá se foi secreto, ao serro frio.

Perdi minha alma à flor do dia ou já perdera
bem antes sua vaga pedraria ?
Mas quando me perdi, se estou perdido
antes de haver nascido
e me nasci votado à perda
de frutos que não tenho nem colhia ?

Gastei meu dia. Nele me perdi.
De tantas perdas uma clara via
por certo se abriria
de mim a mim, estrela fria.
As arvores lá fora se meditam.
O inverno é quente em mim, que o estou berçando
e em mim vai derretendo
este torrão de sal que está chorando.

Ah, chega de lamento e versos ditos
ao ouvido de alguém sem rosto e sem justiça,
ao ouvido do muro,
ao liso ouvido gotejante
de uma piscina que não sabe o tempo, e fia
seu tapete de água, distraída.

E vou me recolher
ao cofre de fantasmas, que a notícia
de perdidos lá não chegue nem açule
os olhos policiais do amor-vigia.
Não me procurem que me perdi eu mesmo
como os homens se matam, e as enguias
à loca se recolhem, na água fria.

Dia,
espelho de projeto não vivido,
e contudo viver era tão flamas
na promessa dos deuses; e é tão ríspido
em meio aos oratórios já vazios
em que a alma barroca tenta confortar-se
mas só vislumbra o frio noutro frio.

Meu Deus, essência estranha
ao vaso que me sinto, ou forma vã,
pois que, eu essência, não habito
vossa arquitetura imerecida;
meu Deus e meu conflito,
nem vos dou conta de mim nem desafio
as garras inefáveis: eis que assisto
a meu desmonte palmo a palmo e não me aflijo
de me tornar planície em que já pisam
servos e bois e militares em serviço
da sombra, e uma criança
que o tempo novo me anuncia e nega.

Terra a que me inclino sob o frio
de minha testa que se alonga,
e sinto mais presente quando aspiro
em ti o fumo antigo dos parentes,
minha terra, me tens; e teu cativo
passeias brandamente
como ao que vai morrer se estende a vista
de espaços luminosos, intocáveis:
em mim o que resiste são teus poros.
E sou meu próprio frio que me fecho
Corto o frio da folha. Sou teu frio.

E sou meu próprio frio que me fecho
longe do amor desabitado e líquido,
amor em que me amaram, me feriram
sete vezes por dia em sete dias
de sete vidas de ouro,
amor, fonte de eterno frio,
minha pena deserta, ao fim de março,
amor, quem contaria ?
E já não sei se é jogo, ou se poesia.

Menino chorando na noite
Na noite lenta e morna, morta noite sem ruído, um menino chora.
O choro atrás da parede, a luz atrás da vidraça
perdem-se na sombra dos passos abafados, das vozes extenuadas.
E no entanto se ouve até o rumo da gota de remédio caindo na colher.
Um menino chora na noite, atrás da parede, atrás da rua,
longe um menino chora, em outra cidade talvez,
talvez em outro mundo.
E vejo a mão que levanta a colher, enquanto a outra sustenta a cabeça
e vejo o fio oleoso que escorre pelo queixo do menino,
escorre pela rua, escorre pela cidade (um fio apenas).
E não há ninguém mais no mundo a não ser esse menino chorando.

DIANTE DAS FOTOS DE EVANDRO TEIXEIRA

A pessoa, o lugar, o objeto
estão expostos e escondidos
ao mesmo tempo, sob a luz,
e dois olhos não são bastantes
para captar o que se oculta
no rápido florir de um gesto.

É preciso que a lente mágica
enriqueça a visão humana
e do real de cada coisa
um mais seco real extraia
para que penetremos fundo
no puro enigma das imagens.

Fotografia-é o codinome
da mais aguda percepção
que a nós mesmos nos vai mostrando,
e da evanescência de tudo
edifica uma permanência,
cristal do tempo no papel.

Das lutas de rua no Rio
em 68, que nos resta,
mais positivo, mais queimante
do que as fotos acusadoras,
tão vivas hoje como então,
a lembrar como exorcizar?

Marcas de enchente e de despejo,
o cadáver insepultável,
o colchão atirado ao vento,
a lodosa, podre favela,
o mendigo de Nova York,
a moça em flor no Jóquei Clube,

Garrincha e Nureyev, dança
de dois destinos, mães-de-santo
na praia-templo de Ipanema,
a dama estranha de Ouro Preto,
a dor da América Latina,
mitos não são, pois que são fotos.

Fotografia: arma de amor,
de justiça e conhecimento,
pelas sete partes do mundo,
viajas, surpreendes, testemunhas
a tormentosa vida do homem
e a esperança de brotar das cinzas.

Inserida por cacaufernandes

Eterno! Eterno!
O Padre Eterno,
a vida eterna,
o fogo eterno.

(Le silence éternel de ces espaces infinis m'effraie.)

— O que é eterno, Yayá Lindinha?
— Ingrato! é o amor que te tenho.

Eternalidade eternite eternaltivamente
eternuávamos
eternissíssimo

A cada instante se criam novas categorias do eterno.

Eterna é a flor que se fana
se soube florir
é o menino recém-nascido
antes que lhe dêem nome e lhe comuniquem o sentimento do efêmero
é o gesto de enlaçar e beijar
na visita do amor às almas
eterno é tudo aquilo que vive uma fração de segundo
mas com tamanha intensidade que se petrifica e nenhuma
[força o resgata
é minha mãe em mim que a estou pensando
de tanto que a perdi de não pensá-la
é o que se pensa em nós se estamos loucos
é tudo que passou, porque passou
é tudo que não passa, pois não houve
eternas as palavras, eternos os pensamentos; e
[passageiras as obras.
Eterno, mas até quando? é esse marulho em nós de um
[mar profundo.
Naufragamos sem praia; e na solidão dos botos
[afundamos.
É tentação a vertigem; e também a pirueta dos ébrios.
Eternos! Eternos, miseravelmente.
O relógio no pulso é nosso confidente.

Mas eu não quero ser senão eterno.

Inserida por annefreitas

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus,
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Inserida por usuario438345

[…] É que os pequenos gestos são mais verdadeiros diante das grandes demonstrações e das grandes promessas de amor que com o tempo se perdem. O vento sopra, e leva tudo embora. A verdade é que o que mais dá saudade são os pequenos detalhes, não é verdade? O jeito único de algumas pessoas, porque são os pequenos gestos, os mais marcantes, os mais inesquecíveis. É dentro das pequenas coisas que o amor tá escondido, dentro dos olhares, no calor de um abraço, no breve aperto de mão, no aconchego. São nos pequenos detalhes que a gente se sente amado, querido, é através das pequenas coisas que a gente percebe quem gosta de verdade da gente.
Pequenos flamejos me fascinam, pequenas estrelas me conquistam. Luz demais ofusca, luz demais irrita. Gosto do pequeno, do frágil, do único, do efêmero. Por mais insignificante que um grão de areia seja, um por um, eles forma uma bela praia. De estrela em estrela, o universo se compõe e de gesto em gesto, o amor se forma.”

SONETO

O quanto perco em luz conquisto em sombra.
E é de recusa ao sol que me sustento.
Às estrelas, prefiro o que se esconde
Nos crepúsculos graves dos conventos.

Humildemente envolvo-me na sombra
que veste, à noite, os cegos monumentos
isolados nas praças esquecidas
e vazios de luz e movimento.

Não sei se entendes: em teus olhos nasce
a noite côncava e profunda, enquanto
clara manhã revive em tua face.

Daí amar teus olhos mais que o corpo
com esse escuro e amargo desespero
com que haverei de amar depois de morto.

Para Fazer um Soneto


Tome um pouco de azul, se a tarde é clara,
e espere um instante ocasional
neste curto intervalo Deus prepara
e lhe oferta a palavra inicial
Ai, adote uma atitude avara
se você preferir a cor local
não use mais que o sol da sua cara
e um pedaço de fundo de quintal

Se não procure o cinza e esta vagueza
das lembranças da infância, e não se apresse
antes, deixe levá-lo a correnteza

Mas ao chegar ao ponto em que se tece
dentro da escuridão a vã certeza
ponha tudo de lado e então comece.

Esse texto é pra você! Sim você mesmo que está lendo agora, porque tenho certeza que já passou por isso ou vai passar... Todos nos temos aqueles momentos de "BASTA", aquela hora em que queremos gritar "CHEGA", mas nem força pra isso temos mais! E sabe porque? Pois as vezes achamos que estamos sozinhos e temos que segurar tudo para que os outros não se afetem com a situação... Mas vou te dizer uma coisa, Você não está sozinho, você tem amigos, familiares, pessoas perto de você que podem sim te ajudar! Pedir ajuda não é sinal de fraqueza e sim amadurecimento! E se o problema for exatamente com a pessoa que você que você deveria estar contando com a ajuda? Então te digo: você tem a mim!! Isso mesmo que você leu, posso não te conhecer, mas irei ajuda-lo com meu texto, assim como um cantor te toca na alma com sua letra e melodia, assim como um ator te emociona com sua atuação e história! O que quero dizer com isso??? To dizendo que ao mesmo tempo algumas pessoas conseguem te "tirar do serio", te machucar, te ofender, te entristecer, etc! Outras, mesmo que não se conheçam, tem o poder de te ajudar, alegrar, te acalmar, às vezes mesmo sem saber, e cada uma te ajudando de sua própria maneira!
Então não desacredite nas pessoas, existem as que valem a pena, se cerque delas, ou melhor, seja uma delas, a primeira delas! Porque quem melhor que você mesmo para começar a te ajudar? Seja você a pessoa que consiga te fazer sorrir, se distraia, ouça aquela música que gosta, ou melhor, aquela que te faz querer sair dançando por ai!
Meu amigo ou amiga, se é que ja posso lhe chamar assim... Deixe os sentimentos fluirem, o sorriso aparecer, os olhos brilharem, seja pela felicidade, ou por lágrimas estarem escorrendo deles, chore pra lavar a alma, se tiver que gritar, grite, deixe seu espirito falar mais alto tambem, faça o que você quiser fazer, o que sentir que deve fazer, só me prometa uma coisa!!! Me prometa que, mesmo sofrendo, triste, chorando ou brigando, vai se lembrar que essa fase vai passar!!! Porque é exatamente isso, uma fase, elas passam, e quando ela passar, adivinha: "EU" ainda estarei aqui, pronto para a proxima! E entenda que com esse "EU", quis dizer qualquer pessoa que te ajudou, e olha, "EU" posso precisar da sua ajuda um dia...
E ai meu amigo, entenda que saberei que posso contar com você, e sabe por que?
Porque sei que você é uma pessoa do bem, e é forte, bem mais forte do que imagina, mas alem disso, eu te digo obrigado, porque leu meu texto, e essa ja foi a forma com que você me ajudou... Então não gritarei CHEGA, nem BASTA, e sim irei te dizer: OBRIGADO, e mesmo sem te conhecer, ou te conhecendo, saiba que te quero feliz, com um belo sorriso no rosto, porque sei que merece... Seja feliz meu amigo! Isso é apenas uma fase, VAI PASSAR!

Prece aos Orixás de Bará a Oxalá
(Texto adaptado)

Bará
Alupô meu pai! Senhor das encruzilhadas, permita que todo esse axé aqui presente preencha as nossas vidas. Destranca todas as fechaduras, todos os cadeados, tira do caminho tudo o que esteja atrapalhando a nossa caminhada.
Desata todas as amarras, tanto no plano material quanto no plano espiritual.
Alupo!


Ogum
Ogunhê meu pai! Senhor das conquistas e das batalhas! Que a tua espada e teu escudo nos protejam sempre. Que nenhuma demanda chegue a porta da nossa casa, que o senhor tire donosso caminho tudo e todos aqueles que demandarem energia negativa.
Ogunhê!

Oiá
Eparrei minha mãe! Afasta pra longe todos aqueles que nos querem o mal. Senhora dos ventos e das tempestades, que o teu sopro traga a motivação e a coragem minha mãe. Senhora da alegria e do bom viver, traz a perseverança e a bênção de cada novo dia.
Eparrei!

Xangô
Kaô cabecile! Senhor da justiça, permita a nós a percepção do certo e do justo, nos defende das inustiças desse mundo, que a tua balança de a sentença com rigor e que nada escape dos teus olhos meu Pai, mas tenha misericórdia pelas falhas dos seus filhos quando houver arrependimento e uma busca por evolução.
Kaô meu pai!

Odé e Otim
Oquêbamo! Meu pai Odé, minha mãe Otim! Nos dêem o alimento, as riquezas da mata, não deixem que falte o pão de cada dia. Que nunca nos falte a companhia na nossa jornada, que tenha sempre alguém ao nosso lado pra nos acompanhar. Que a vida seja sempre de fartura e abundância.
Oquêbamo! Odé e Otim!

Obá
Exó minha mãe! Senhora da roda, do movimento, do fluxo de energia. Que a sua navalha corte qualquer fofoca, briga ou desavença de nossas vidas. Que o fluxo da vida seja sempre contínuo. Que possamos enxergar a bondade no coração mais duro.
Exó minha mãe!

Ossanha
Eu eu, meu pai! O senhor que conhece o poder das folhas, nos permita alcançar a cura do corpo físico e espiritual. Nos da a força e a vitalidade, o senhor que é um dos médicos do plano espiritual, peço com misericórdia.
Eu eu!

Xapanã
Abau sapata! O senhor que é o médico da espiritualidade, o senhor da vida e da morte, traz o entendimento de que a matéria é uma morada provisória e de transição. Que a sua vassoura varra as más companhias, as doenças e as tristezas.
Abau sapata!

Oxum
Ieieô Oxum! Mãe das águas doces, dos rios, das cachoeiras. Acolhe-nos com tua ternura, nos faz enxergar a vida com a tua doçura. Protetora das crianças e de todos aqueles que necessitam da tua graça. Nos acolhe no teu seio e nos proporciona a paz de espírito e alegria. Ieieô!

Iemanja
Mãe de canto doce, acalanto dos aflitos, tenha piedade de nós! Nos proteja, nos dê o sustento e leve embora toda a dor.
Mãe de todos os orixás, mãe que cuida e zela de seus filhos, a senhora que é a dona do nosso pensamento, nos dê a clareza com a tua luz minha mãe. Odoiá!

Oxalá
Epao babá, senhor da perfeita sabedoria e do bendito amor. Nos proteja das ilusões desse mundo, nós que muitas vezes afogados na ignorância, em sentimentos inferiores, pedimos a tua misericórdia, nos envolve com o teu alá de compaixão, de amor e misericórdia.
Epao babá!

TEXTO:
Ao amor da minha vida

De verdade, meu bem, eu não acredito que você exista. Mas cheguei à conclusão de que, se não for por amor, que seja por você.
Que eu te encontre num dia ensolarado, nublado, chuvoso, com névoa e te diga alguma coisa. Que eu te reconheça no momento exato em que puser meus olhos em você. E que você saiba que houve um encontro ali. Que você esteja vestida de vermelho, amarelo, azul, verde, preto e branco. Que você me ache engraçadinho, pelo menos. Quem sabe tímido, quem sabe babaca demais, quem sabe charmoso, quem sabe eu nem te chame a atenção. Mas que você me veja com bons olhos e eles encontrem os meus. Que eu acerte a cor dos seus olhos numa brincadeira qualquer. E que aí você perceba o quanto eu te enxergo em tão pouco tempo. Que você seja amiga de algum amigo, ou a gerente do banco, ou a colega de faculdade, ou a menina bonita da balada, ou filha da amiga da minha mãe. Que você se encante comigo de alguma maneira. Que você se permita me conhecer melhor e saber que eu sou legal, ou que sou interessante, ou que não tenho nada a acrescentar a você, ou que eu sou um completo egoísta, ou que eu tenho um blog bacana que fala dessas coisas bonitas que as pessoas acreditam. Mas que você não seja um ponto final. Que seja as aspas, as reticências, o parágrafo, o travessão. Que você seja.
Que você saiba como eu sou complicado, ou que eu sou desajeitado, ou que eu sei dançar muito bem, ou que eu piso no seu pé porque não sei andar em linha reta, ou que eu detesto o cheiro de queijo ralado. Mas que você decida ficar e me conhecer mais, seja por curiosidade ou porque acha que pode se encontrar no meio da minha bagunça. Que a gente se conheça aos poucos, aos muitos, aos tantos, aos beijos, aos toques, aos olhares, aos filmes de fim de tarde, aos cheiros de perfume novo, aos dias de dormir de conchinha, aos minutos de ligações intermináveis. Que você possa contar comigo, possa dormir comigo, possa brigar comigo. Que você não se arrependa naqueles momentos em que a gente questiona o amor, que você tenha orgulho de me mostrar pras suas amigas e que elas tenham inveja de você. Que eu possa te trazer café na cama, te dar um beijo de surpresa, te ver sem maquiagem, te morder até você ficar sem graça. Que eu não seja odiado pelos seus pais, que eles não me chamem de filho, que seu irmão torça pro mesmo time que eu. Que você me queira como pai dos seus filhos, que você se orgulhe de mim, que você esteja linda quando entrar na igreja.
Que eu possa te fazer sonhar. Que eu possa realizar os teus maiores sonhos e te consolar caso alguma coisa dê errado no meio do caminho. Que eu não saia nunca do seu lado, nem quando você pedir. Que os seus dias de TPM sejam lembrados com risadas e justifiquem aqueles quilos a mais que você ganhar com o brigadeiro. Que você chore bastante. Chore de rir, chore de saudades, chore de alegria. Que eu possa garantir que você não vai se machucar. Que o nosso filho tenha os seus olhos, a sua boca, o seu nariz. Que ele me lembre todos os dias de você. Que a gente caia um pouco na rotina e não mude por isso. Que a gente saia da rotina e se encante com algumas aventuras de vez em quando. Que a gente saiba reconhecer o valor da companhia do outro. Que eu te ame como nunca amei ninguém e que você me modifique da maneira que o seu amor quiser.
Mais importante que isso tudo: que você exista. E que não demore tanto pra chegar na minha vida.

O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.

O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.

POEMA

A minha vida é o mar o abril a rua
O meu interior é uma atenção voltada para fora
O meu viver escuta
A frase que de coisa em coisa silabada
Grava no espaço e no tempo a sua escrita

Não trago Deus em mim mas no mundo o procuro
Sabendo que o real o mostrará

Não tenho explicações
Olho e confronto
E por método é nu meu pensamento

A terra o sol o vento o mar
São a minha biografia e são meu rosto

Por isso não me peçam cartão de identidade
Pois nenhum outro senão o mundo tenho
Não me peçam opiniões nem entrevistas
Não me perguntem datas nem moradas
De tudo quanto vejo me acrescento

E a hora da minha morte aflora lentamente
Cada dia preparada

A arquitetura como construir portas,
de abrir; ou como construir o aberto;
construir, não como ilhar e prender,
nem construir como fechar secretos;
construir portas abertas, em portas;
casas exclusivamente portas e tecto.
O arquiteto: o que abre para o homem
(tudo se sanearia desde casas abertas)
portas por-onde, jamais portas-contra;
por onde, livres: ar luz razão certa.

Até que, tantos livres o amedrontando,
renegou dar a viver no claro e aberto.
Onde vãos de abrir, ele foi amurando
opacos de fechar; onde vidro, concreto;
até fechar o homem: na capela útero, com confortos de matriz, outra vez feto.

Por trás do que lembro,
ouvi de uma terra desertada,
vaziada, não vazia,
mais que seca, calcinada.
De onde tudo fugia,
onde só pedra é que ficava,
pedras e poucos homens
com raízes de pedra, ou de cabra.
Lá o céu perdia as nuvens,
derradeiras de suas aves;
as árvores, a sombra,
que nelas já não pousava.
Tudo o que não fugia,
gaviões, urubus, plantas bravas,
a terra devastada
ainda mais fundo devastava.