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ESPAÇOS EM BRANCO (soneto)
No inverno do cerrado, seco, desbotados
meios tons desalentando o olhar, suspiros
a vida na acinzentado pousa baços retiros
que no vário tecem baralhados bordados
Ao fim do dia, o tardar e ventos em giros
tudo se perde no abstrato e, são levados
aos amuos incógnitos, e tão rebuscados
dos balés rútilos dos voos dos lampiros
Há em toda parte fumo nos vazios atados
vago, cada passo, e pelos ipês quebrados
em colorido breve, e cascalhado barranco
Os tortos galhos tão secos e empoeirados
traçam variegados em poemas anuviados
pra assim versar, os espaços em branco...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2017, agosto
Cerrado goiano
Os brancos pretendiam saber melhor do que nós quem nós éramos e de onde vínhamos. Eles nos apalparam, nos pesaram, nos mediram. As conclusões a que chegaram foram categóricas: nossos crânios eram caucasianos, nossos perfis, semíticos, nossa estatura, nilótica. Eles conheciam até mesmo nosso ancestral, estava na Bíblia e se chamava Cã.
“Quando o SENHOR DEUS criou todas as coisas, os céus, terra e mar e tudo que nele existe, e tudo o SENHOR coloriu, e tudo ficou tão bonito, e então nos Criou DEUS, sua melhor criação, e não se esqueceu de nós e assim nos fez DEUS, de diversas cores: Negros, Brancos, Mulatos, Pardos..., e ainda usou de mais amor e nos fez de diversas raças e origens e línguas e diferentes uns dos outros, mas iguais perante ele, em tudo isso está sua Gloria, mostrando o seu Grandioso Poder.”
Histórias furiosas brotam, de homens brancos que tentaram tocá-las. (...) Mas a dicotomia de amor e desprezo vivendo lado a lado é o que me surpreende. A maioria é convidada para o casamento das crianças brancas, mas só se for de uniforme. Essas coisas eu já sei; no entanto, ouvi-las da boca da pessoa de cor é como ouvi-las pela primeira vez.
São todas essas pessoas brancas que fazem eu chegar no meu limite, essas pessoas brancas, ali em pé, na vizinhança negra. Pessoas brancas com armas apontadas pros negros. Porque quem vai proteger os nossos? Não existem policiais pretos.
Os Cisnes
O que sou?!...
Já que só estou.
Sou eu...
Só, neste ser meu.
E este eu...
É ainda amigo, teu.
Estando nesta solidão,
Se deixares, te darei a mão...
Para ânimo, darmos,
Aos brancos cisnes...
Para com eles, juntos nadarmos...
Em lago este. E às aves, cantarmos.
Novos cânticos rítmicos...
Para que nadem firmes, os cisnes!
Não sei porque com a idade os cabelos ficam brancos na cabeça, mas, nas sobrancelhas e areas adjecêntes não, que não precisavam tanto. É injusto isso, RS.
É a autoridade da estética branca quem define o belo e sua contraparte, o feio, nesta nossa sociedade classista, onde os lugares de poder e tomada de decisões são ocupados hegemonicamente por brancos.
A única coisa que os brancos dominam é mexer com nossas paixões ao ponto de esquecermos o que importa.
Sabe, alguns brancos só querem uma chance de se parabenizar por não serem cruéis conosco. Como se devêssemos dar graças por eles terem tido a gentileza de nos tratarem quase como seres humanos. Você espera que um cachorro lhe dê uma medalha por não chutá-lo um dia?
Eu queria que os pretos fossem brancos e que os brancos fossem pretos. Mas porque eu deveria desejar algo que já existe, se já somos pretos e somos também brancos? Porque a vergonhosa negação de uma verdade universal, que é a igualdade absoluta entre nós todos, que nos autodenominamos como humanos... nos desumaniza mais e mais a cada instante.
Para mim não existem brancos, negros, índios ou amarelos, apenas seres humanos: opressores e oprimidos.
Ainda aqueles caras
Ainda existe aqueles caras?
Aqueles caras se apaixonaram pelas moças
As tal moças coloridas afastadas da família
Mas isso já faz tanto tempo
Aqueles caras ainda existem?
As moças coloridas continuam se apaixonando por aqueles caras
E aqueles caras continuam não assumindo.
Esses brancos adoram nosso continente (...). Alguns parecem adorar os animais e nossa terra mais do que nosso povo.
Coronavírus... A gripe letal dos ricos
Aqui se faz...
Aqui se paga...
Nasci para ver esse dia acontecer...
Mas sinceramente, não queria...
O dia que chegaria a doença dos ricos...
Vinda dos melhores aviões, das maiores potências do mundo...
Onde os patrões transmitem doenças para os seus humildes empregados...
Os poderosos trazendo um vírus importado como lembrancinha...
E como sabemos, a maioria, brancos...
Os "sangue azul"
Infectando os negros, mulatos, pardos...
Particularmente, chamo ironicamente, a doença (vírus) dos ricos...
Vamos ficar nas nossas casinhas, barracos, setor habitacional, nas nossas favelas...
Pois, dessa vez não queremos nada importado...
Nenhum souvenir...
Nenhuma gripe...
Obrigada, Sr e Sra.
Att. Maria, a tia, a secretaria do lar, a moça, o seu João, o fulano, o moço, o limpador, o que vem trabalhar aqui...
Quando foi que o meu Conto de Fadas virou um Conto de Terror...
Os maiores defensores e propagadores do antirracismo são os que mais alimentam o oposto, pois dentro de si brota a semente do preconceito.
A ternura incondicional ao diferente sem julgamento, é sempre o maior ato de coragem exercido em vida na plenitude do amor.
Vozes do Brasil
Gritos das matas do Brasil
Palavras que a cidade nunca ouviu
O choro inquietante
que preenche o azul anil
Do verde que pouco resta
Nossa vida, nossa pesca
O que a mata tem pra nos dar
voce veio para nos tirar
A revolta vem armada
Na estrada interditada
no arco apontado
com a flecha afiada
Ainda assim você não vê
que eu sou como você
passo cede, fome e frio
para lutar pelo meu Brasil
A sua dívida histórica
que insistem em ofuscar
do amarelo ouro que levaram
do que era o meu lar
Vieram la do mar
para meu povo escravizar
minhas terras demarcar
e minha cultura dizimar
Só pedimos uma parte do meu lar
E o homem "civilizado"
há de pré julgar que é meu povo que vive
sem ao mínimo trabalhar!
Quando é que vão perceber
que só tendem a perecer
destruindo nossa cultura
sem ao mínimo conhecer?
E mais uma vez ninguém ouviu
as vozes das matas do Brasil...
Triste é ver autores (certamente brancos) colocarem brancos para interpretarem índios, brancos para interpretarem indianos e ainda brancos para representarem personalidades negras em filmes, peças de teatro e novelas!
Deixem-nos contar a nossa história através da representação!
