Tag amanda
Com tal zelo eu te dei meu endereço
Com apreço você decorou a rota
Com desprezo você fechou a porta
E foi entrando sem pedir licença
Com meia luz você sorriu fraquinho
Com inocência pediu um vinho
Com olhar baixo meio tristinho
E foi descarrilando meu coração
Com certeza arranjou desfecho
Com dúvida sussurrou um fim
Com tranquilidade sorriu pra mim
E foi desenterrando a minha aflição
Com convicção você foi embora
Com pesar mudou de sentido
Com tristeza segui sorrindo
E foi saindo sem pedir desculpa
Com o teu mal eu fiz um poema
Com desgosto foste a última linha
Com pena gargalhei sozinha
E foi assim que te eternizei
“Então, senhora
Vista-te com a tua melhor ironia
E cace os teus sonhos no infinito
Minha doce senhora
Não rompa o teu encanto
O mundo vai estancar teu pranto
Menos a tua dor
Ó mulher da armadura de cetim
Despe os meus sentidos
Brinca com a minha ternura
Me faz teu refém
Pequena dama que exala cereja
Dê-me aquela certeza
De ser minha também
Quiçá, menina
Eu ache os teus espinhos
Enquanto te mato de carinho
Apenas para ver-te sorrir
Desculpa a gentileza
Por contemplar a tua beleza
Que enamora os querubins
Pois sim, estranha
Esconda os teus cacos
Mascare as tuas veias
Descubra o amor
Comigo, teu senhor
Enfim”
"Ele reparou na marca do meu cigarro e em tudo que o meu corpo dizia.
Você disse para eu encher os pulmões de ar e caminhar de olhos fechados. Você segurava a minha mão em meio ao sol forte da Costa Oeste. E naquele momento, querido, eu confiei até nas batidas incertas do teu coração.
Dizem que para um beijo ser bom, ele tem que combinar. E acho que combinávamos. Não só as bocas, mas a sincronia das mãos, o encaixe das pernas, a ordem das respirações.
Nossos corpos combinavam, mas nossas almas não.
Eu queria a minha inocência de antes, junto do que sou agora, mas você me ensinou a ser de outros garotos, a ser menos eu mesma. E, enquanto eu me perdia em pecados, você era o pior deles, guri. Era tão doce a tua malícia, a luxúria da tua alma, tua gula por situações banais. Era tão triste a soberba do teu coração e o teu mau de amor. E eu ainda te vejo como um menininho de olhos grandes. Tolo te congelar no tempo, enquanto você o acelera.
Por atrás destes olhos castanhos habita um mundo que ninguém conhece. Eu tive que te chamar de amigo, para depois te chamar de amor, e só ali, no ponto que não tem volta, te descobri um perfeito estranho. Espero, sinceramente, que você encontre garotas com mentes tão vazias quanto o teu coração.
É que eu tinha urgência de você. E nenhuma pressa em nós. Queria a garantia de que você viveria bem sem mim para que eu pudesse respirar aliviada. Mas cada respiração regulada me matava aos pouquinhos. Cheguei a conclusão então de que preciso das tuas oscilações de humor e da maneira como você desequilibra os meus sinais vitais. Eu precisava sofrer por uma causa perdida. Eu precisava da adrenalina de te perder para os infortúnios justamente para não me perder de vez, mas você não diz nem que sim e nem que não, e assim vai me matando por me deixar tão solta.
Nunca fui de acreditar em reencarnações, vida após morte ou sinas pré-escritas pelo destino. Mas se você me sussurrasse um "te vejo do outro lado", eu bem que te esperaria nesse infindável tão breve. Coloco-te então em mais um conto por achar que isso pese o teu livro arbítrio, afinal. Porque se eu me perder das tuas recordações nesta vida, tenho argumentos e culpas que podem te pesar até a outra eternidade. Estão sendo tempos difíceis de finitos que não cessam.
Acho que você consegue me salvar dos meus demônios, e até agradeço por servir de alicerce para todas as culpas que carrego do mundo. Os quilômetros de distancia dos nossos pensamentos não se comparam a tristeza de poder te olhar sem te tocar. Descobrindo que o infinito não passa da manhã do outro dia, eu sigo virando a noite só pra te sentir de novo."
“E mais uma vez, mais um maldito final de semana, eu comprovo a teoria de que você não consegue viver sem mim. Talvez o álcool no seu sangue tente nunca me matar dentro de você. E isso é bom. Talvez, só talvez, eu nunca tenha morrido aí por dentro, quem sabe eu estava adormecida este tempo todo apenas esperando um momento vacilante de guarda baixa. Ou, eu seja tão sua, de uma forma tão especial que você só lembre de mim em momentos especiais. Contudo, querido, preste atenção, a coisa mais especial que aconteceu na tua vida, você jogou de um penhasco e parece não se importar com os hematomas. Eu explodi por dentro, amor, eu explodi todos os dias aos quais eu sabia que estavas respirando sem a minha ajuda e conseguindo se reconstruir sem mim. Ai vem a minha sorte por ser o primeiro número da tua agenda, porém não tua primeira prioridade, vem o meu pensamento de sempre atender aos seus chamados para que, ao menos, eu possa te salvar do que você se transformou. Ou talvez que tente me salvar do que eu me tornei.”
Você me chamou e eu te devolvi um “hoje não dá, desculpa”.
o coração explodiu, mas a alma ficou em paz
AMANDA SEGUEZZI
“A solidão ficou sem par por minha causa a partir do momento que decidi desistir de você. Eu tinha pena dela. Porque, mesmo me abandonando, ela assombraria as paredes do teu coração pra sempre, meu bem. E não há nada pior do que gritar até os pulmões queimarem e perceber que o amor tapou os ouvidos para você."
"Neste último mês eu pensei em tantas formas que te encontrar casualmente e perguntar como vai a sua vida de um modo aleatório e desinteressado. Pensei na possibilidade de você estar feliz e isso me matou. Pensei em como eu sou descartável pra você e tentei me refazer. Pensei na expectativa de você sentir um pouquinho de saudade das sardinhas do meu rosto e fiquei feliz. Eu gostava de me iludir com essas coisas. Tinha a esperança de que, se tocasse nossa música no rádio, você pegasse o telefone pensando em me ligar.
Possui teu cheiro o cheiro da ilusão.
Você é como uma daquelas valsas tristes, poesia que não rima no final. É um vazio tão inexplicável este teu, dá vontade de saltar nele só para te curar. Talvez você não queira a cura, por que não? Eu te imaginava numa daquelas danças a dois que alguém cisma em dançar sozinho, com um cigarro na boca e um copo entre as mãos. E no meio da euforia de ser um par tão ímpar, senti o teu vermelho de dentro petrificando. Senti o teu vazio gritando por mais vazio. Senti que a nossa poesia jamais rimaria. Eu estava apaixonada por um homem morto ao qual a solidão tratou ela própria de querer enterrar.
Penso na vantagem ser o primeiro nome da tua lista telefônica. Penso na possibilidade de você estar à toa, abri-la e se deparar com o meu nome. Talvez você pense num "Será?”ou "Mas porque não?“. Talvez você tenha o meu número por educação, por casos emergenciais. Talvez, talvez, talvez. Talvez eu tenha te apagado da minha lista simplesmente porque, mesmo não tendo a vantagem de estar no topo dos meus contatos, ainda permanece na escala de prioridades da minha vida, e se eu não fosse tão estúpida e nem um pouco burra, não tentaria excluir o que eu já decorei. Isso vale tanto para você quanto para o seu número. Acho que te ligaria só para saber como foi o seu dia.
Eu te queria pra mim feito uma conquista, um troféu exposto numa estante empoeirada. Queria-te para obter novos inimigos, novas pessoas me invejando. Tanto esforço por um pouco de reconhecimento, eu também queria. Porque eu devo ter batido o recorde mundial de alguém que te quer nesse mundo. Eu queria mostrar a todos que vale a pena esperar por você. Queria te guardar pra sempre num porta-retrato, te levar no bolso e fazer disso algo suficiente. Queria esfregar na cara de quem não te aprecia o quanto te conhecer me mudou. Eu queria mostrar ao mundo que você é bem mais do que aparenta. Eu muito queria mostrar as tuas belas qualidades ao universo, tirando aquelas que fui inventando ao longo dos anos. Eu queria te provar que você é sem graça sem o meu brilho, mas isso todo mundo já sabe. Menos você.
Então, tigre, faça aquela tatuagem que você sempre quis e eu sempre odiei, vá morar na praia, já que eu nunca gostei de verão. Faça tudo que me impeça de gostar de você, e talvez eu te esqueça. Talvez eu volte para os teus braços te desejando em dobro.
Vai entender."
“”Hoje eu contei as estrelas até cair no sono, e antes disso fiquei procurando uma aresta da escuridão ao qual nós despencamos. Sim, nós despencamos! Você caiu primeiro e ficou tão horrorizado com os tons de tristeza quanto eu. Você me conheceu no hiato das minhas pieguices e resolveu desfazer as malas, marcar o sofá sentando sempre no mesmo lugar. Eu entendia os teus dramas obscenos e deixava de lado os meus próprios dramas. Você tentou minimizar minha poesia e, por você, eu canalizei os meus excessos escrevendo-os apenas nas paredes sólidas do meu corpo. Implodia-me todos os dias para viver a tua realidade – tão triste. Perdia-me entre os teus atritos e achava que os meus beijos te despertariam para o meu mundo de fantasia. Tive então que dosar o meu amor justamente para não me afogar nele. Fui obrigada a conviver com um fantasma, ensiná-lo a ser menos solidão e mais nós. Já não tinham mais cores os olhos que tanto dançaram com os meus e, no lugar do brilho intenso, a imagem do caos ficou marcada em sua pupila como a última coisa que vira. Dói ter que transformar a primavera em inverno por tua causa. Doeu transformar-me num jornal velho que ninguém lê. Tive que refazer alguns versos, lidar com a presente ausência, juntamente com as tempestades, precisei fechar os meus olhos para me encontrar por dentro feito uma fugitiva. Precisei brincar de adulta enquanto virava um dos teus fantoches, ah meu amor, eu abri mão de tudo que tinha por um sentimento movediço que cisma em escapar pelos meus dedos. Eu era a louca das sílabas sem sentido que acreditava em horóscopo e você o menino dissolvido em ego e aceitação. Faças as tuas malas, meu amor, esgotou o estoque de piedade e covardia, porque você foi covarde, foi sim! Você não se adaptou ao meu conjunto de abismos e abreviações. Descobri então que assim como as estrelas mais brilhantes do céu, você já havia morrido há algum tempo também. É que eu preciso de um incêndio, sabe? Desordenar as frases, confundir os caminhos. Eu preciso mudar a cor do cabelo, tentar chegar à Lua apenas pisando em certezas inventadas. Porque, talvez, a realidade seja a minha parte insana que te quer por perto enquanto me mata de solidão e sede de ti. E no meu mundo de literatura barata você nunca morre. É por isso que me salva da própria loucura, amor. Insanidade. Foi o que sobrou de você em mim.”
Estranho eu ainda não ter me desfeito do nosso antigo apartamento, acho que são pelas paredes cor lilás. Estávamos juntos há quase dois anos, pode-se chamar isto de um encontro de almas. Às vezes as pessoas estão juntas há um mês e você sabe que é muito importante. E às vezes estão juntas há dois anos e você acha que vai acabar a qualquer momento. Nós éramos assim, sempre por um triz, apesar de que ao mesmo tempo nossa essência era quase igual.
Sempre fui uma menina que nunca gostou de andar de ônibus. Na verdade, tinha medo de não alcançar a campainha ou de embarcar para o rumo errado. Também nunca gostei de finais de livros ou finais de estações. Eu sempre esperei por um grande final das coisas, aliás, eu sempre esperei muito de tudo. Isso sempre acabava me decepcionando. Deve ser por isso que nunca aceitei o nosso fim. Não gostava de recomeço e novas histórias. Não gostava de pensar num futuro sem que você fizesse parte dele.
Eu vivia confinada nas paredes da minha própria liberdade.
Reposicionava os móveis, trocava as cores das cortinas tentando esquecer a tua paz apenas para ficar em paz. Contudo, mesmo te exorcizando aos pouquinhos, te sepultando a cada vez que cochilava no sofá ao invés de ir para a cama, ainda tinha a proeza de posicionar dois lugares à mesa e duas xícaras de café na cômoda. Tinha a esperança de que, se colocasse o copo sujo em cima da pia, você apareceria com aquela expressão doce-furiosa, assim como fazia antes. Que engano.
Eu não queria ser uma daquelas pessoas desesperadas que procura o amor a cada esquina da cidade. Você me transformou num ser analfabeto tanto de metáforas quanto de sentimentos. Você amaldiçoou meus verbos enquanto eu me sentia perdida em meio as tuas veias. Não importa quanto tempo passe, eu sempre vou te admirar com os olhos transbordados de passado e amargura sustentados pelas lacunas que você deixou ao sair da minha vida. E agora, quando um dia a mais se torna um dia a menos, eu penso na vontade de te doar os meus segundos, já que os pensamentos estão me lembrando que você também está morrendo a todo o momento. Mas onde estás agora?
Afinal, quanta maldade existe no mal? Quanto amor cabe no sofrer? Desmentir o amor é uma maldade, mas alimentá-lo em vão desafia o castigo que é sentir sem estar vivo na alma de outra pessoa.
Desculpa, mas eu acho que nunca vou superar você.
É lilás a cor do teu riso.
"Lamento muito ter que te deixar, mas é assim que tem que ser. Meu coração já não aguenta mais tanto sofrimento!"
“Me dá só mais um motivozinho pra desistir. Anda! Me xinga, me expulsa do teu quarto, da tua vida, dos teus problemas. Bate com a porta no meu rosto, queima as nossas lembranças, o meu telefone. Esquece o meu endereço que eu prometo esquecer o teu gosto. Muda de perfume e faz outra garota decorar a essência dele e levá-la aos sonhos também. Vamos! Troca de cidade, de nome, de arcada dentária. Some! Aprende outra língua, aprende a dizer “Eu te amo” em francês e ilude mais algumas outras. Por favor! Eu que nunca chorava por nada agora te transbordo de dentro de mim todas as noites. Estou cansada! Desta obsessão pela tua respiração e por esse sorriso que tirou a graça de todos os outros. Nasce de novo, se joga da janela do oitavo andar e sinta a dor de não ter notícias tuas. Anda, me promete! Diz que nunca mais vai ligar, que vai arranjar amigos novos, que vai pintar a íris com giz de cera preto. Pega os meus ombros, balance com todas as tuas forças. Diga-me que tudo foi um sonho, que no mundo real nós nem nos conhecemos. Me manda uma carta pedindo desculpa pelos mais de cem textos iguais ou pelas horas de insônia e até pelos rostos tão borrados nas ruas. Porque eu te procuro em todos os corpos desde o dia que te vi pela última vez. Vamos! Diga que nunca foi ao meu apartamento e que sequer sabe o nome da minha rua. Fala pra mim que você nunca deu “bom dia” pro porteiro ou pegou os jornais na porta. Murmura que não tem a menor noção de onde eu escondo a chave reserva, que não sabe os tons das cortinas e dos meu olhos. Morre um pouquinho, só um pouquinho. Experimenta a agonia do impossível que é te olhar sem te tocar. Sinta a falta de ar que é a dor comprimindo os teus pulmões e ossos. Diz que eu estava meio grogue quando disse que queria tatuagens iguais e entrar de branco na igreja. Risca o nome dos nossos futuros pequenos que eu risco as quatro paredes para que elas nunca contem os nossos segredos. Você vai ter que morrer para me entender. Vai ter que amar a sua metade até se dar conta de que, se ela se for, uma parte de você também irá partir. Se não quiser me assombrar, pelo menos me passa a fórmula mágica para esquecer as tuas risadas e vocabulário sacana. Me ajuda a ser mais eu e menos você. Eu só te peço paz, trégua, carta branca. Ainda não percebeu? Você precisa estar morto para que eu possa viver.”
Ou quem sabe renascer.
"Não havia mais concordância, afinal.
Nos teus olhos, estes versos tão rimados, tão completos e dissimulados, eu via no teu mundo o meu “onde”, resposta de todas as perguntas que ainda não fiz. Estava mesmo ficando louca. Rindo com os sussurros do vento nos teus cabelos, tentando te colocar dentro de mim junto das tuas melhores metáforas e bebidas fortes. Assim eu te reescrevo, rascunho a lápis os teus traços de provocação e cabelos escuros como a noite.
Brilhando como um amontoado de constelações era a estrela mais bonita. Rara, cadente. Desejo proibido que rasga o horizonte do meu mundo. Ainda não sabia se o furacão da tua presença era melhor do que a consternação da tua ausência e isso me matava aos pouquinhos. E no meu peito o gosto suave do teu amor, levando-me a pensar que mesmo com rotas totalmente opostas, os nossos caminhos tinham que colidir. É uma sorte na minha vida ter achado você, até mesmo quando procuravas a beleza dos céus, mal sabendo que estava o tempo todo em seu olhar. Constatei, sem muito esforço, que suas pernas são os demônios dos meus olhos. Precisava te desvendar para me compreender melhor. Eu precisava entender o porquê de você brilhar tanto.
Descobri que és feito de versos por si só, que não precisa de ninguém para se escrever.
Fui embora.
Fui perdendo os meus passos a cada ramificação de saudade que me acusava o corpo. Corpo. Teu corpo. Corpo feito de estrelas como se tivesse o meu próprio sistema solar dentro dos meus olhos.
Tragando o cigarro como quem prova o teu hálito e gosta, - te tenho entre os meus dedos. A fumaça vai deixando ecos e marcas de caos, nenhum estrago que não tenhas feito aqui por dentro. Nesses momentos de últimos suspiros, contemplava o infinito de segundos incessantes e a solidão dispersa, desejando que o tempo acelerasse nessas tediosas tardes vazias. Meus olhos flamejavam ressaca, impacientes. Eu queria adiantar os meus “quase” apenas para amar as tuas rugas. Este é o problema das minhas crises de insanidade – pensei; não perceber que a alma é imortal, mas o corpo também cansa.
Eu quero as linhas do teu corpo junto do incalculável de linhas que é o teu universo. Eu quero olhar o deserto que é a tua alma, através dos teus olhos, para dizer que ainda te amo."
Você, moço, é belo como um poema que eu ainda não li.
Vamos dançar aquela valsa que nunca terminamos. Daquela vez que rodopiávamos na sala, eu com a sua camisa e você com o meu coração. Vamos! E quando terminar, me diga que vai apertar o repeat, vai mudar de música e estaremos ainda sim dançando no mesmo ritmo. Seja o meu par esta noite, seja meu par para a viva toda e guie os meus passos. Mata a minha sede. Desafoga a tristeza do meu peito e abre um caminho entre as costelas até o meu coração. Fica por lá. Constrói uma cabana, junto de uma história nova, e vamos contar as estrelas do céu do meu peito. Não me larga e me gira mais algumas vezes. Deixa eu desmaiar nos teus braços e aceita a condição de que eu more entre eles também. Esquece tua camisa no chão do quarto de propósito, deixa eu dormir com ela e te imaginar em mim. Vem, vem pro meu mundo de nuvens cor de rosa! Causa um alvoroço nos meus nervos, me deixa dormente, me traga, me corrompe. Me faz de refém, me sequestra, me prende. Sacia essa crise, essa guerra que levo na mente. Me alimenta de esperança e vamos ferver. Venha! Faça o verão comigo, querido! Deixe os teus rastros na cozinha, na sacada, deixe esse teu cheiro sinuoso de problemas sobre os meus lençóis. A chuva começou a cair, não vá! Tem um mundo tão cruel lá fora. Fica! Assopra hálito doce no meu pescoço, descobre os meus pés, descobre as arestas do meu corpo e me usa pro teu bem. Ou pro nosso. Espetáculo majestoso, atraente. As gotículas de chuva tocando as janelas lembraram-me os teus traços. Ecoavam uma sinfonia desajustada, como se induzissem a mais uma valsa. A chuva tinha o seu próprio brilho, seu próprio show. Você dormia, tão inofensivo. Ouvia as tuas pulsações, o teu corpo falando por ti. Juntei as orquestras. As lágrimas silenciosas da chuva em harmonia com a tua respiração ritmada. Aquilo com certeza era mais uma música. A última música. A última valsa. Não se sabe. Não tinha a menor noção do tempo que demoraria para a chuva cessar e você partir. Eu tinha que aproveitar ao máximo esse barulho tão silencioso. A chuva permitiu ser amada. E por um momento eu também te amei.”
“Você pode chamar de magia ou encanto, hora errada no lugar certo, superstição boba, carência inusitada. Eu chamo de amor. Chamo de amor a explicação que a tua alma me dá, junto da verdade que habita em ti - que nem tu próprio conhece. E nas músicas tão lentas quanto o teu bocejo, no meio desse temporal breve que é a vida, eu fico procurando no céu a estrela mais bonita para te presentear. Na medida que minha postura é prejudicada, contrastando a falência dos órgãos, me pergunto qual deles vai ser o último a resistir para conseguir te amar por mais um meio segundo. Quando a minha memória enfraquecer, peço que não se perca nela, meu amor. Mesmo na morte certeira, nos nós tão cegos quanto nosso futuro, um brinde as rugas, aos calos das mãos, a visão turva, pois até assim eu consigo amar o teu temperamento ranzinza e os horários dos medicamentos. Eu prometo amar essa tua mania de não achar respostas para todos os mistérios que habitam o universo, compartilhando um silêncio agradável e sem questionamentos. Amar é encontrar sua metade na metade de outra pessoa. Talvez isso seja a mágica. Saber que o infinito não passa de momentos ligeiros - porém intensos. Saber que você aceitou o compromisso de cuidar do outro até o último suspiro, não se arrependendo da escolha final. Eu prometo amar toda a extensão da tua pele, desde as constelações de sinais até as tuas cicatrizes. Prometo que posso esquecer o teu nome, mas jamais a cor dos teus olhos e os rabiscos do teu coração. Te prometo a cada dia até o último que te olharei com os mesmos olhos e que você ainda vai me fazer corar quando tentar desvendar a minha alma cansada através da íris. Amor é nunca temer. É o apoio, estepe quântico. É encontrar segurança no meio do caos. Eu te prometo, meu amor, que serás o meu zelo, minha oração e libido. Prometo o arrepio do toque, o sorriso de orelha a orelha. Prometo amar nossos futuros pequenos, nossos netos, e porque não bisnetos. Prometo ser o teu alicerce, teu desejo, tua força. Prometo deixar este corpo e continuar te amando na eternidade tão desconhecida. Acho que isso é mesmo mágica, afinal.”
“E mais uma vez a euforia do teu sorriso me desfez em pranto. Me ensina a ser assim, me ensina a achar graça da vida de novo. Te invejo. Te amo.”
“Você me amou como um daqueles seus carrinhos que colecionava quando criança. Desculpe a comparação meio besta e sem sentido, mas é que nunca passou disto, certo? Bem, não responda! Nunca tive nenhum atributo que me diferenciasse das outras gurias que você conhece, além do coração fraco e irregular. Desculpa também a falta de introdução nesta história que mal teve começo e já tratou logo de desenrolar o final. Você foi como um daqueles momentos importantes que a gente espera a vida toda. Mais uma vez te peço desculpa por dizer que sou um pouco dos teus restos também. Olhos opacos, eu te preciso tanto! Sempre tive medo que você melhorasse a minha vida, medo de que me jurasse amor eterno até a manhã do outro dia. A verdade é que me acostumei com as tuas repentinas ausências e até tentei amá-las. Eu te amei através das quedas, do caos e do cosmos, e nestes instantes, até achava que seríamos infinitos se fossemos apenas letras de músicas. Você despertou um lado bom meu que nem sabia que poderia ter, fazendo-me tatuar ao vento que eu namoraria qualquer verso que viesse de você. E assim como o grito involuntário do corpo, você se tornou uma característica minha. Desculpe-me pela saudade também, olhos opacos. Teus olhos, estes, mãos que deslizavam sobre minha pele.
Nas vezes que pensei em desistir do seu sorriso, lembrava das tantas outras vezes em que sussurravas o meu nome no escuro como se conseguisse a proeza de fazer carinho nele. Infelizmente, a gente sente quando termina, e junto daquele quase-outro-mês, quase-outro-ano, você virou o meu quase. Você se perdeu no meio dos meus caminhos e seguiu em frente. Eu procurava saídas pela tangente e becos escuros, me convenci de que não somos almas gêmeas por não possuirmos o mesmo ascendente. Talvez eu tenha perdido muito tempo sentindo inveja de quem você conheceu antes de mim, sentindo ciúmes do seu passado, das outras bocas, dos outros abraços. Eu tentava te fazer esquecer das cicatrizes enquanto o próprio mundo já estava se encarregando de te mudar.
Sabe, os meus joelhos, antes o encosto da sua cabeça para aqueles dias que o universo parecia conspirar contra você, eles se sentem abandonados também. Era como se entre a pele e a carne ainda existisse algum resquício dos teus espasmos. Eu perdi para um espaço vazio na tua vida, quem sabe até você tenha se assustado com o peso dos meus ombros e isso tenha te feito ir pra longe. Não sei.
Só sei que preciso te odiar todos os dias para lembrar que você existe. Porque, bem no fundo, somos todos substituíveis - eu sou a prova, somos também restos daquilo que nunca compreendemos, infelizes restos de amor.
Na última vez que te vi, fiquei surpresa por não tremer ao te encontrar. Observei teu reflexo através das poças d’água e não vi nada além de um perfeito estranho. Reparei no seu cheiro de hortelã e percebi o quanto sentia falta disto. Naquele dia eu te enterrei e bebi para comemorar, senti falta de ar por enterrar junto de ti pequenos fragmentos de mim. Eu nunca serei tão eu sem a parte de mim que foi embora.
Você me fez criar preguiça do mundo, preguiça das pessoas, preguiça de recomeços. Você vai seguir sozinho, acariciando o vácuo, fazendo carinhos apenas em objetos, como se implorasse dá-los uma vida. Vai conhecer alguém de mente tão vazia quanto o teu coração. Você vai ser aleatório, inofensivo e melancólico. Talvez eu te mande um cartão-postal de uma paisagem bonita. Talvez eu te esqueça. Talvez eu te leve na bagagem dos meus olhos em segredo apenas para não me sentir sozinha. Nada é definitivo.
Até qualquer dia.”
“Peguei-me, de olhos semicerrados, encarando uma das tuas fotos. Tinha vergonha de encará-la por mais de meio segundo, não sei. Ficava com medo de que ela se mexesse, de que ela também soubesse ir embora, assim como você fez. Eu evitava admirá-la por não saber exatamente lidar com a vontade de levá-la comigo para qualquer canto feito um amuleto. Não queria perder nenhum detalhe dos teus olhos pequenos e fundos. A imagem não envelheceria, não escaparia. Ela apenas eternizava a melhor coisa que eu nunca tive.
Eu era muito metódica. Desde muito cedo aprendi a conviver com um pai que foi embora e me acostumei a não criar laços. Você chegou de mansinho, sem pedir licença. E numa dessas noites patéticas eu cometi a burrada de emprestar um pedacinho do meu peito para você morar. Logo você, que ria de tudo o que eu dizia, brincou de adulto enquanto minha boca tremia falando que te gostava. Você deveria ter me calado com um beijo na metade da frase, poderia ter uma crise de pigarros ou simplesmente fingir que foi só mais uma piada minha e rir daquilo também. Mas não. Você me surpreendeu olhando nos meus olhos, repetindo a mesma frase e apertando a minha mão. Naquele momento, não sei porque, me pareceu que este verso estava atravessado em sua garganta há muito tempo. Parecia ser algo que sua alma sempre esperou ouvir apenas para flamejar o seu ego. Abaixei a cabeça aceitando o erro mais bonito que já havia cometido na vida. Isso só me mostrava o quão frágeis somos nesses assuntos sentimentais.
Você não reparou, mas eu pintei as unhas com a cor de um café fresco. Queria te saciar, queria que até as pontas dos meus dedos matassem a tua sede. Eu vivia pra isso, não? Sanar os teus demônios e dançar com eles. Uma vez você me disse para ser menos “sei lá”. Fiquei por horas procurando uma definição disto, mas logo percebi que eu era intensa demais para a sua superficialidade, e que você mal sabia se definir, quanto mais outra pessoa.
“sei lá”
Porque talvez eu tenha te dado o que ninguém nunca deu: Paciência, colo e oração. Sim, eu aprendi a rezar por você, pedia por um coração mais leve, dias não tão cinzas. Eu te pedia sorte na vida e nos engarrafamentos das quintas-feiras!
Você deveria ter vindo com um daqueles alertas que estampam as caixas de cigarros. Enquanto o seu adeus estiver camuflado em um até-qualquer-dia, eu vou continuar me enforcado nos meus próprios finais. Talvez seja por isso que eu não consiga me adaptar a mais ninguém agora. Sempre vai ter um espaço vazio no meu peito. O teu espaço. Ninguém nunca vai ter a capacidade de preenchê-lo justamente porque nenhum novo amor vai ser o suficiente para acabar com o abismo que você me tornou.”
— Faz de mim teu abismo.
“Como se fosse tão fácil, feito as ondas do mar; levar o amor embora. E ele continuar velejando calmo através do tempo; sem precipitações. Quem dera o amor ser um pássaro e voar pra longe nos momentos de nostalgia; sem rancor. Quem dera o amor uma doença benigna que se cura; e some. Quem dera. Como se fosse belo, abrir o próprio coração e arrancar a dor de si. Como se fosse alívio te tirar de mim. Como se eu não quisesse navegar nas ondas do teu corpo; e quero. Quem dera o amor soltar-se do passado; soltar-se de mim. Quem dera o amor um abismo; e por lá sumir. Quem dera o amor um grão de areia que move-se junto ao vento; indo pra longe. Como se fosse certo te apagar dos cadernos rabiscados de ti. Como se fosse fácil te apagar de mim. Quem dera o amor fosse apenas o nosso amor.”
“Sabe, está sendo tão, mas tão difícil. Tão, mas tão vago e sem graça. Não tem mais cor, mais nada. Você levou tudo. Tudinho. Você levou a parte que mim que eu mais gostava, a minha risada mais engraçada e o meu abraço mais confortável. Talvez eu ainda os use, inconscientemente. Talvez tenha apelidado um dos beijos com o teu nome, não sei. Eu tive que me tornar tão má e ir além de fazer das pessoas que eu conheço apenas uma imagem em preto e branco ao redor de mim. Nada mais importa, entende? Não faz diferença quem cruza o meu caminho agora, até porque, algum beco daqui de dentro tem um outdoor com os teus olhos estampados e, com certeza, alguma rua também traz o teu nome completo.
Eu te quero tão bem ao ponto de me fazer mal. Quero o meu nome gravado em um dos teus sentimentos confusos, - porque não em uma das tuas melhores lembranças. Você me deixou uma marca tão profunda, mais que profunda; você tatuou em mim as tuas birras e hesitações. Ensinou-me a ser medrosa e aparentemente convincente, cigana dissimulada feito Capitu, me ensinou a ser do mundo, das crises, dos elementos água, terra, ar e ah, o fogo. Aprendi a ser fria, dormente por dentro, desconfiada, ranzinza, chata, metódica. Aprendi a ser tua.
Fecho os olhos por você ainda, ontem e amanhã. Na verdade, bem verdade, eu nunca vou amar alguém como amei você. Como eu amo você. E como eu amo o modo como o meu batom fica borrado na tua boca. Eu respiro você, eu zelo pela tua vida, pela tua morte, pelas tuas faltas. Eu sinto a dor de um parente querido que foi embora. Mas, sem eufemismo, o seu “você” meu, morreu. Morreu pra sempre. Morreu tão fatalmente que eu simplesmente mal consegui acompanhar. É o que dizem, morreu tragicamente em um acidente. Acidentes acontecem. E foi um acidente desde o primeiro “oi”.”
— E quem disse que quem não é visto não é lembrado, certamente não te conheceu.
“Então, Helena, quando tua recordação for apenas cinzas, você irá sentir falta dos dias coloridos e das pessoas arco-íris que te sorriam todos os dias.
Minha doce Helena, quando o vazio estancar o teu sofrimento, sentirás saudade da própria dor.
Helena, enquanto tuas células morrem, eu sinto a perda delas, pois assim como eu amo as sardas do teu rosto, também amo o que se regenera em ti.
Sabe, Helena, quando eu me for, sentirei falta das tuas pálpebras cansadas silenciando lentamente o teu olhar.
Mas te cuidarei lá de cima para que não lhe falte raios de sol para iluminar os teus dias.
Pequena Helena, quando a solidão se alojar no teu peito, a cumprimente como uma velha amiga. Abrace-a e recite uma de minhas tantas poesias sobre o brilho dos teus olhos.
Quando eu me for, Helena, ainda te amarei por mais alguns segundos antes de passar pela porta dos céus.
Então, Helena, caso sinta vontade do meu gosto, beba aquele chá no fim de tarde de domingo assim como fazíamos, conte as tuas queixas ao silêncio que lá estarei te escutando.
Minha doce Helena, quando os anos passarem e o último grito da tua garganta ser o meu nome, lembre-se que estarei te esperando do outro lado.
Um lado tão belo quanto as nebulosas da tua íris.
Um lugar tão tranquilo quanto o encosto da tua clavícula.
Quando eu me for, Helena, conte as estrelas por mim e pelo futuro que nunca tivemos – porém que já amo.
Helena, quando o céu não for tão azul, o mar não tão calmo, a tormenta não tão assustadora, você perceberá que cresceu e tomará um rumo diferente.
Minha Helena, lembre-se sempre: Nada é tão assustador quanto crescer.”
— eu te espero do outro lado
Hoje eu entrei em outro coração.
O assoalho não rangeu e a luz não se apagou.
Eram batimentos ritmados e esperançosos.
Estranhos.
Aceitou-me que uma forma tão sutil, serena.
Eu vi paz nas ramificações, nas veias azuis, vermelhas e multicores.
Porém percebi que ali não era a minha casa, e que, apesar de muito querer ficar e aprender o que pudesse sobre uma felicidade real, eu levaria tristeza para este mundo tão bonito e orquestrado.
O queria bem.
O queria regular e sem arritmia.
Queria que alguém realmente merecesse e ocupasse este lugar.
Certamente não aguentaria a minha solidão e teria uma parada cardíaca dos meus dramas.
Não me suportaria.
Não que seja fraco ou irregular.
Apenas não quero acabar com a sua paz.
Fica bem.
PRA ELE.
Escapou ali então um beijo sussurrado ao vento
Palavras tão doces quanto a Dona Moça
Tinha uma risada tão única
Como quem compôs sozinha
Ela sorria doce como quem solta frases bonitas
Distribuía beijos na ventania
Nada que precisasse ser dito
Enquanto cada relicário meu se acomodava a ela
Escapou ali as minhas epifanias e o meu mal de poeta
Ela sorriu
Eu deslumbrei nos seus olhos
Eu quis migrar em seus braços
Ela falou baixo em francês
Um Je T'aime que não se lê por aí
Escapou ali então a alma perdida
Que não se encontra em qualquer mesa de bar
Do vinho tinto com gosto de cerveja
O corpo pedindo um porre de qualquer coisa
Naquele instante surgiu a certeza
Do amor que não precisa ser dito
Que o importante é esperar
Esperar alguém tropeçar na sua vida
E encontrar a paz
No sorriso de outra pessoa
Amanda abriu a janela do seu quarto repousando a cabeça sobre os braços, olhando o céu escuro se perguntou aonde estaria a sua estrela.
Tantas estrelas, passadas na vida dessa menina lua. Menina lua que é tão intensa a cada gesto, que ama eternamente cada estrela que se passa.
Corre corre pelo espaço e a sua estrela nunca vem. Menina Amanda, que se ama como no próprio nome te julga. Suspira fundo e fecha os olhos querendo uma constelação inteira só para si. Moça diferente, que veio ao mundo para mostrar que a lua também ama e mesmo parecendo tão grande, acesa e dominante, também é pequena, meio apagada e chorona. Amanda fecha sua janela com a decepção nos olhos, não encontrou sua estrela certa. Menina lua sorri agora, pois o espaço todo já conquistou.Repousa sua cabeça naquele velho pensamento do que já passou,do que já viveu. Suspira fundo e olha a lua la fora, que ao contrário do que dizem, nunca está solitária.Amanda lua, é como a lua que se julga diferente, que se julga tão sozinha, mas nem desconfia quantas estrelas se apagam na espera dessa lua as fazerem brilhar.
Hoje é apenas mais um dia que eu penso em você.
Hoje não senti fome, frio, cheiro e nem sabor
É como se meus sentidos não existissem
Apenas resignaram-se com as amarguras de anteontem.
Mais do que nunca estou sem chão.
Um, dois, três, quatro ou cinco anos não farão diferença,
dia esses que virão, assim como aqueles que passaram,
que se foram e que obedecem uma frequência inexata.
Eu, embora seja fraco,
penso em continuar resistindo, pois de nada adiantaria se não estivesse pensando em
você.
