"Ele reparou na marca do meu... Amanda Seguezzi

"Ele reparou na marca do meu cigarro e em tudo que o meu corpo dizia.
Você disse para eu encher os pulmões de ar e caminhar de olhos fechados. Você segurava a minha mão em meio ao sol forte da Costa Oeste. E naquele momento, querido, eu confiei até nas batidas incertas do teu coração.
Dizem que para um beijo ser bom, ele tem que combinar. E acho que combinávamos. Não só as bocas, mas a sincronia das mãos, o encaixe das pernas, a ordem das respirações.
Nossos corpos combinavam, mas nossas almas não.
Eu queria a minha inocência de antes, junto do que sou agora, mas você me ensinou a ser de outros garotos, a ser menos eu mesma. E, enquanto eu me perdia em pecados, você era o pior deles, guri. Era tão doce a tua malícia, a luxúria da tua alma, tua gula por situações banais. Era tão triste a soberba do teu coração e o teu mau de amor. E eu ainda te vejo como um menininho de olhos grandes. Tolo te congelar no tempo, enquanto você o acelera.
Por atrás destes olhos castanhos habita um mundo que ninguém conhece. Eu tive que te chamar de amigo, para depois te chamar de amor, e só ali, no ponto que não tem volta, te descobri um perfeito estranho. Espero, sinceramente, que você encontre garotas com mentes tão vazias quanto o teu coração.
É que eu tinha urgência de você. E nenhuma pressa em nós. Queria a garantia de que você viveria bem sem mim para que eu pudesse respirar aliviada. Mas cada respiração regulada me matava aos pouquinhos. Cheguei a conclusão então de que preciso das tuas oscilações de humor e da maneira como você desequilibra os meus sinais vitais. Eu precisava sofrer por uma causa perdida. Eu precisava da adrenalina de te perder para os infortúnios justamente para não me perder de vez, mas você não diz nem que sim e nem que não, e assim vai me matando por me deixar tão solta.
Nunca fui de acreditar em reencarnações, vida após morte ou sinas pré-escritas pelo destino. Mas se você me sussurrasse um "te vejo do outro lado", eu bem que te esperaria nesse infindável tão breve. Coloco-te então em mais um conto por achar que isso pese o teu livro arbítrio, afinal. Porque se eu me perder das tuas recordações nesta vida, tenho argumentos e culpas que podem te pesar até a outra eternidade. Estão sendo tempos difíceis de finitos que não cessam.
Acho que você consegue me salvar dos meus demônios, e até agradeço por servir de alicerce para todas as culpas que carrego do mundo. Os quilômetros de distancia dos nossos pensamentos não se comparam a tristeza de poder te olhar sem te tocar. Descobrindo que o infinito não passa da manhã do outro dia, eu sigo virando a noite só pra te sentir de novo."