Sou So um Palhaco

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Quando me surpreendo ao fundo do espelho assusto-me. Mal posso acreditar que tenho limites, que sou recortada e definida. Sinto-me espalhada no ar, pensando dentro das criaturas, vivendo nas coisas além de mim mesma. Quando me surpreendo ao espelho não me assusto porque me ache feia ou bonita. É que me descubro de outra qualidade. Depois de não me ver há muito quase esqueço que sou humana, esqueço meu passado e sou com a mesma libertação de fim e de consciência quanto uma coisa apenas viva. Também me surpreendo, os olhos abertos para o espelho pálido, de que haja tanta coisa em mim além do conhecido, tanta coisa sempre silenciosa.

Clarice Lispector
Perto do coração selvagem. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Sou de opinião de que não se devia desprezar aquele olhar atentamente para as manchas da parede,para os carvões sobre a grelha,para as nuvens,para a correnteza da água,descobrindo assim coisas maravilhosas.

Sou apaixonado pelo mistério, porque sempre tenho a esperança de desvendá-lo.

Eu sou esperta porque pego quem eu quero, a hora que eu quero e como eu quero. Eu sou carente porque tudo isso é idiota, vazio e solitário.

O pior é que sou vice-versa e em ziguezague. Sou inconcludente. Mas é preciso me amar como involuntariamente sou. Apenas me responsabilizo pelo que há de voluntário em mim e que é muito pouco.

Clarice Lispector
Um sopro de vida. Rio de Janeiro: Rocco, 2015.

Sou realista no sentido mais alto da palavra, sou realista da alma humana.

Sou feito das ruínas do inacabado e é uma paisagem de desistências que definiria meu ser.

"Circunstâncias? O que são as circunstâncias? Eu sou as circunstâncias!"

Para que escrevo? E eu sei? Sei não. Sim, é verdade, às vezes também penso que eu não sou eu, pareço pertencer a uma galáxia longínqua de tão estranho que sou de mim. Sou eu? Espanto-me com o meu encontro.

Clarice Lispector
A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Eu sou criança. E vou crescer assim. Gosto de abraçar apertado, sentir alegria inteira, inventar mundos, inventar amores. O simples me faz rir, o complicado me aborrece.

Se sou esquecido, devo esquecer também.

Pablo Neruda

Nota: Trecho de poema atribuído a Pablo Neruda, mas sem autoria confirmada.

Sou bandida
Sou solta na vida
E sob medida
Pros carinhos teus
Meu amigo
Se ajeite comigo
E dê graças a Deus

Levantei-me. O tiro de misericórdia. Porque estou cansada de me defender. Sou inocente. Até ingênua porque me entrego sem garantias.

Clarice Lispector
Água viva. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1998.

Sonho. Não sei quem sou neste momento.
Durmo sentindo-me. Na hora calma
Meu pensamento esquece o pensamento,
Minha alma não tem alma.

Não sou de ficar chorando por aí, pra todo mundo ver. Quando eu choro na frente de alguém, acredite, é porque cheguei ao meu limite.

Minha tribo sou eu.

Resposta a Vinicius

Poeta sou; pai, pouco; irmão, mais.
Lúcido, sim; eleito, não;
E bem triste de tantos ais
Que me enchem a imaginação.
Com que sonho? Não sei bem não.
Talvez com me bastar, feliz
– Ah, feliz como jamais fui! –
Arrancando do coração
– Arrancando pela raiz –
Este anseio infinito e vão
De possuir o que me possui.

Manuel Bandeira
BANDEIRA, M. Poesia Completa e Prosa, Ed. Nova Aguilar, Rio de Janeiro

Nota: Em resposta ao poema "Saudade de Manuel Bandeira" de Vinicius de Moraes

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Sou o abismo perdido entre o não ser e a escuridão. Sou o desejo e alma, correndo nua na meia-noite esquecida, procurando aquilo que não é, mas pode vir a ser; o verdadeiro anseio, a paixão.

Desconhecido

Nota: A citação costuma ser atribuída a Clarice Lispector, mas não há fontes que confirmem essa autoria.

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Medo da Chuva

É pena
Que você pense
Que eu sou seu escravo
Dizendo que eu sou seu marido
E não posso partir
Como as pedras imóveis na praia
Eu fico ao teu lado, sem saber
Dos amores que a vida me trouxe
E eu não pude viver...

Eu perdi o meu medo
O meu medo
O meu medo da chuva
Pois a chuva voltando prá terra
Trás coisas do ar
Aprendi o segredo
O segredo, o segredo da vida
Vendo as pedras que choram
Sozinhas no mesmo lugar...

Eu não posso entender
Tanta gente
Aceitando a mentira
De que os sonhos
Desfazem aquilo
Que o padre falou
Porque quando eu jurei
Meu amor eu traí a mim mesmo
Hoje eu sei!
Que ninguém nesse mundo
É feliz tendo amado uma vez
Uma vez...

Eu perdi o meu medo
O meu medo
O meu medo da chuva
Pois a chuva voltando prá terra
Trás coisas do ar
Aprendi o segredo
O segredo, o segredo da vida
Vendo as pedras
Que choram sozinhas
No mesmo lugar
Vendo as pedras
Que choram sozinhas
No mesmo lugar
Vendo as pedras
Que sonham sozinhas
No mesmo lugar...

– Desabrocho em coragem, embora na vida diária continue tímida. Aliás sou tímida em determinados momentos, pois fora destes tenho apenas o recato que também faz parte de mim. Sou uma ousada-encabulada: depois da grande ousadia é que me encabulo.
– Você conhece os seus maiores defeitos?
– Os maiores não conto porque eu mesma me ofendo. Mas posso falar naqueles que mais prejudicam a minha vida. Por exemplo, a grande fome de tudo, de onde decorre uma impaciência insuportável que também me prejudica.

Clarice Lispector
A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Nota: Trecho da crônica Perguntas e respostas para um caderno escolar.

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