Sonetos Pablo Neruda
SOBRE A HIPERGRAÇA
A lei veio para mostrar o tamanho do pecado. Mas a Graça veio para revelar que o pecado nunca foi maior que o amor de Deus. O pecado cresceu? A Graça abundou mais ainda. O erro se multiplicou? A Graça se derramou até transbordar.
A hipergraça não é uma licença para pecar — é liberdade para viver sem medo, sem culpa, sem condenação. Enquanto a religião grita: “Seja digno!”, o céu responde: “Está consumado!”
Você caiu? Ele te levanta. Você se sujou? Ele te lava. Você desistiu? Ele nunca parou de te amar. A Graça não tem freio, não tem medida. Ela é hiper, escandalosa, exagerada e eterna. Não se explica. Se recebe.
“Onde abundou o pecado, superabundou a Graça.”
– Romanos 5.20
Desista:
Sim, exatamente, desista
Desista assim como eu desisti
Desisti de ficar na zona de conforto
Desisti de ser o mesmo a cada dia
Desisti do medo da mudança
Desisti de não ser melhor
Desisti dos maus hábitos
Desisti das ideias ruins
Desisti das grosserias
Desisti de ser um personagem
Desisti de temer minha verdadeira personalidade
Desisti de ser sedentário
Desisti de ser destinatário
E me tornei remetente
Desisti de não ser o melhor de mim
Então, vos digo, desista
Desista de não evoluir
Persista para progredir
E insista para expandir
Esqueci
Eu finalmente esqueci
Esqueci seu rosto lindo
Sua voz doce
Seu corpo perfeito
Seu cabelo sedoso
Suas mãos pequenas
Suas unhas pintadas
Seus pés fofos
Suas coxas grandes
Seu nariz pontudo
Seus lábios carnudos
Seu beijo alegre
Seus olhos felizes
Suas roupas lindas
Seu vestido favorito
Seu jeito cativante
Sua presença formidável
Esqueci você.
De ti quero distância
Ó, meu amor
Nenhuma dor é tão certa
Quanto a dor que me penetra
Dia após dia
Sem sua companhia
Oh, distância, quero-te longe de mim
Por perto quero apenas minha amada
Que por mim foi cativada
E que me dá, a cada dia
Entusiasmo para a continuar minha jornada
Tristeza, afaste-se de mim
Quero apenas alegria, enfim
Ser feliz com o amor da minha vida
Que para mim, é mais valioso que marfim.
O que seria de mim sem meu amor?
Talvez apenas um homem qualquer
Com abundância na vida
De amargor.
Por favor, abandona-me tristeza
Busco unicamente felicidade
Talvez um dia rir com meu amor, que me alegra noite, dia e a tarde.
Cálice
Distância quero de ti, ó cálice
Eu tenho tanto a dizer
Mas o que posso ouvir é apenas
Cálice
Não quero um copo
Quero poder dizer
Não desejo bebidas
Apenas não quero ouvir, mais uma vez
Cálice
A dor que sinto diariamente
Me faz querer falar
Mas quando busco desabafar
Ouço apenas, cálice.
A desconhecida
Todo dia de manhã, ela está lá, a desconhecida
Quando vou ao banheiro, ela está lá, a desconhecida
Quando vou tomar café da manhã, ela sempre está presente, a desconhecida
Na minha corrida matinal, ela vai junto, a desconhecida
Na hora do almoço, com o filme na televisão, ela está ao meu lado no sofá, a desconhecida
No lanchinho da tarde, é ela quem me dá as frutas, a desconhecida
Na hora da janta, é ela quem prepara, a desconhecida
Quando vou dormir, ela está ao meu lado, a desconhecida
Eu sei que não a conheço, mas ela me faz tão bem, que para mim, ela não é uma desconhecida.
Enquanto o mundo desaba
Ó meu amor, na hora derradeira
É contigo que quero estar
É você que quero sentir e amar
De mãos dadas à morte, o céu vamos alcançar
Enquanto a bomba atômica explode
E a radiação pela mundo corre
Enquanto as árvores viram pó
E a água evapora sem dó
Você é minha companheira
Dia e noite, antes e após
Toda luz e calor
Sentimos nós, numa noite de fervor
Não temos muito tempo de vida
Que honra morrer com a minha preferida
Mas antes de nosso corpo derreter
Um último beijo, peço à minha amada
Antes da nossa alma finalmente desaparecer, nesta terrível cilada.
Sob controle
Alguns me julgam boa, outros má
Já eu penso, “por que tanto bafafá?”
Sou dona de tudo, tudo mesmo
Tenho o universo em minhas mãos
O sistema solar para mim é um brinquedo
Sol, lua, Terra… controlo tudo do meu jeito, por inteiro
Com um simples estalar, faço um movimento estelar, mudo de átomo à estrela, de planeta à poeira
Urano? não é capaz de me entreter
Júpiter? que tedioso ser
Saturno? Eu preciso mesmo dizer?
Às vezes penso o que fazer com tanto poder
Destruir, criar, viver, matar… para quê, afinal?
De nada adianta tamanho potencial se nada para mim é especial
Pilar da criação, da destruição, me perco no meu conceito de ser, será que fui criada por Deus, Lúcifer… mas por que meu tédio continua a crescer?
Será que quando eles morrerem, quem sobrará será apenas a mão dominante do universo, ou ela também será dizimada e, como todo o resto, dissolvida no verso?
Anjo da Terra
Tu és, meu amor, como um anjo da Terra
Como a sua beleza não tem igual
Não a nada que se aproxime, nenhum pouco
Do brilho que você emana de forma natural
Cientistas não são capazes de prever
Nem dizer, e muito menos entender
O quão grandiosa é a sua beleza
Quando Deus disse “haja luz”
Foi você que apareceu nas trevas, afinal
De todas as criações do todo poderoso
É você, que o deixa mais orgulhoso.
O sol tem inveja da sua luz
A lua tem inveja da sua paixão
E o mar, de sua vibração
Ó minha querida, tu és pura perfeição.
Aqueles que não estremecem lendo Neruda, ouvindo Bach, contemplando a humilde samambaia; podem ter certeza que há muito estão mortos e que, dificilmente voltarão à vida.
Não posso usar Caio, Clarice, Neruda ou Pessoa para dizer o que estou sentindo, pois o que estou sentindo acabou de nascer.
Não sou um poema de Neruda, tampouco a bossa de Jobim, sou apenas a mulher que te ama, tentando traduzir em meus versos o que sinto por você.
“Existe algum mapa, que me ajude a percorrer seus pensamentos,e depois encontrar o caminho mais perto do teu coração??.”
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