Sonetos de Florbela Espanca

Cerca de 176 frases e pensamentos: Sonetos de Florbela Espanca

Um retrato é apenas a ideia aproximada de uma pessoa. A graça de um sorriso, o olhar, a expressão e tudo quanto para mim é a beleza, não pode verdadeiramente existir num retrato.

" Amar não é ser egoísta, é tantas, tantas vezes o sacrifício de nós próprios! A dedicação de todos os instantes, um interesse sem cálculo, uns cuidados que em pequeninas coisas se revelam e o pensamento constante de fazer a felicidade de quem se ama. "

"É uma resposta aos que chamam ao suicídio um fim de cobardes e de fracos, quando são unicamente os fortes que se matam! Sabem lá esses pseudo-fortes o que é preciso de coragem para friamente, simplesmente, dizer um adeus à vida, à vida que é um instinto de todos nós, à vida tão amada e desejada a despeito de tudo, embora esta vida seja apenas um pântano infecto e imundo!"

O mundo quer-me mal porque ninguém tem asas como eu tenho. Porque meu reino fica para além... Porque eu sou eu e porque eu sou alguém!

Eu ...

eu sou a que no mundo anda perdida,
eu sou a que na vida nao tem norte,
sou a irmã do sonho, e desta sorte
sou a crucificada ... a dolorida ...

Sombra de névoa tênue e esvaecida,
e que o destino amargo , triste e forte,
impele brutalmente para a morte !
alma de luto sempre incompreendida !...

sou aquela que passa e ninguém vê ...
sou a que chamam de triste sem o ser ...
sou a que chora sem saber por quê ...

sou talvez a visão que alguém sonhou,
alguém que veio ao mundo pra me ver,
e que nunca na vida me encontrou !

Leste os meus versos? Leste? E adivinhaste
O encanto supremo que os ditou?
Acaso, quando os leste, imaginaste
Que era o teu esse olhar que os inspirou?

Adivinhaste? Eu não posso acreditar
Que adivinhasses, vês? E até, sorrindo.
Tu disseste para ti: “Por um olhar
Somente, embora fosse assim tão lindo,

Ficar amando um homem!… Que loucura!”
- Pois foi o teu olhar; a noite escura,
- (Eu só a ti digo, e muito a medo…)

Que inspirou esses versos! Teu olhar
Que eu trago dentro d’alma a soluçar!
………………………………………………….
Aí não descubras nunca o meu segredo!

Florbela Espanca
O Livro D'Ele

Gritando que me acudam, em voz rouca
Eu, náufraga da vida, ando a morrer

-Eu sou Aquela de quem tens saudade,
A princesa do conto : "Era uma vez..."

A fantástica e estranha rapariga
Que um dia ficou presa nos teus braços...

Neste mundo vaidoso, o amor é nada,
É um orgulho a mais, outra vaidade
Mentira! Não te quis... não me quiseste...
Mentira! Não fui tua... não! Somente...
Quis ser mais do que sou, mais do que gente,
No alto orgulho de o ter sido em vão!

Nesse triste convento aonde eu moro,
Noites e dias rezo e grito e choro
E ninguém ouve... ninguém vê... ninguém...

E ser-se novo é ter-se o paraíso,
É ter-se a estrada larga, ao sol, florida
Aonde tudo é luz e graça e riso!
Dizem baixinho a rir : "Que linda a vida!..."
Responde a minha Dor : "Que linda a cova!"

... A felicidade na vida é já uma coisa
tão restrita e quase convencional que tirar da
vida uma parcela mínima desse luzente tesouro, tão ambicionado e tão quimérico,
é a maior das loucuras humanas...

Na vida nada tenho e nada sou;
Eu ando a mendigar pelas estradas...
No silêncio das noites estreladas
Caminho, sem saber para onde vou!

Tinha o manto do sol...quem mo roubou?!
Quem pisou minhas rosas desfolhadas?!
Quem foi que sobre as ondas revoltadas
A minha taça de ouro espedaçou?

Agora vou andando e mendigando,
Sem que um olhar dos mundos infinitos
Veja passar o verme, rastejando...

Ah! quem me dera ser como os chacais
Uivando os brados, rouquejando os gritos
Na solidão dos ermos matagais!...

Não ser
Ah! arrancar às carnes laceradas
Seu mísero segredo de consciência!
Ah! poder ser apenas florescência
De astros em puras noites deslumbradas!
Ser nostálgico choupo ao entardecer,
De ramos graves, plácidos, absortos
Na mágica tarefa de viver!

Quem nos deu asas para andar de rastos?
Quem nos deu olhos para ver os astros
– Sem nos dar braços para os alcançar?!…

Anseios Meu doido coração aonde vais,
No teu imenso anseio de liberdade?
Toma cautela com a realidade;
Meu pobre coração olha cais!

Deixa-te estar quietinho! Não amais
A doce quietação da soledade?
Tuas lindas quimeras irreais
Não valem o prazer duma saudade!

Tu chamas ao meu seio, negra prisão!...
Ai, vê lá bem, ó doido coração,
Não te deslumbre o brilho do luar!

Não estendas tuas asas para o longe...
Deixa-te estar quietinho, triste monge,
Na paz da tua cela, a soluçar!

Florbela Espanca
A Mensageira das Violetas

Mentiras
Ai quem me dera uma feliz mentira
que fosse uma verdade para mim!
J. DANTAS

Tu julgas que eu não sei que tu me mentes
Quando o teu doce olhar pousa no meu?
Pois julgas que eu não sei o que tu sentes?
Qual a imagem que alberga o peito meu?

Ai, se o sei, meu amor! Em bem distingo
O bom sonho da feroz realidade...
Não palpita d´amor, um coração
Que anda vogando em ondas de saudade!

Embora mintas bem, não te acredito;
Perpassa nos teus olhos desleais
O gelo do teu peito de granito...

Mas finjo-me enganada, meu encanto,
Que um engano feliz vale bem mais
Que um desengano que nos custa tanto!

Florbela Espanca, in "A Mensageira das Violetas"

SER POETA

"Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! morder como quem beija!
È ser mendigo e dar como quem seja
Rei do reino de Aquém e de Além dor!

È ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
È ter cá dentro um astro que flameja,
È ter garras e asas de condor!

È ter fome, e ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
È condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
È seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!

Inserida por DraJaneRebello

Sonhos que logo são realidades,
Que nos deixam a alma como morta!

Inserida por dia_marti

Fecha os teus olhos bem! Não vejas nada!
Empalidece mais! E, resignada,
Prende os teus braços a uma cruz maior!

Inserida por dia_marti