Sonetos
MADUREIRA
Minha Madureira, além cerrado, lamento
Tê-la deixado, no passado, saudade havia
Em cada ideia, indo mais longe a cada dia
Silêncio, falta do agito, penoso detrimento
Para ti, então, voltar não mais alimento
Nem nos sonhos, nem na ávida fantasia
Certo de contar é envelhecer na agonia
Que há de trovar memória e sofrimento
De toda a dor, pudera eu em ti caminhar
Olhar, estar e sentir o movimento, enfim
Esperar é navegar na ilusão, eu bem sei
Porque por não te ver é que vivo a poetar
E nem a poesia é um conforto para mim
Pois, por tuas ruas, julgo, não mais andarei...
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
21 maio, 2021, 15'15" – Araguari, MG
DE SAUDADES MORRO
Eu senti uma saudade que renderam
sutis recordações ao coração, coitado
e que, doído, assim, se viu assustado
contra mim sofreguidão arremeteram
Me vi na solidão do que prometeram
um prosar do meu destino já cansado
e que, aqui pelas bandas do cerrado
pesar nos versos que um dia elevaram
Remédio ao mal que sofro, sem pista
cresce a dor, no engano então presente
no rendido suspiro: que pede socorro...
Assim, vejo que não há como resista
toda lembrança na saudade presente
E, de lembrar-te, de saudades morro!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
2021 maio, 22, 11'09" – Araguari, MG
CERIMÔNIA
Do contente fado na felicidade, quando
meiga sensação vem ao coração da gente
eu vou minha ventura, assim, tão vivente
aos sentimentos à satisfação numerando
Quando o querer agrado vem mostrando
dentre olhares, aquele, auriesplendente
com suspiros, sedução e o ardor fervente
vou os encantadores encantos renovando
Se doira ao desejo em áureo sacramento
do amor, ah! como é doce e bela a poesia
dobra-me a valia numa poética inspiração
Vem o júbilo, então, na sede, alimento
que a alma necessita, de noite e de dia!
E para vida a comemoração e a gratidão...
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
2021 maio, 23, 08'55" – Araguari, MG
MALFEITO
Que eu tramasse um soneto quis o fado
Logo ao comando da sorte me submeto
Aí, tramei versos românticos no soneto
Em cada verso, estórias, e haver amado
Jamais pensei num poetar compassado
Tudo é fugaz. Cá estou noutro quarteto
E caminhando adiante para um terceto
Tu, amador, ainda não saiu do passado
No primeiro terceto busco mais glória
E me parece que ainda não está feito
Nada espanta, é mesmice na memória
Assim vou, e assim me torno suspeito
Nenhum beijo, o olhar, sequer vitória
De um amor, neste soneto sem jeito!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
2021 maio, 23, 16'28" – Araguari, MG
CERRADO, da sua maneira
O belo dentro do cerrado perfumado
Canta o vento andante, canta, alheio
Entre tortos galhos, lá, bem no meio
Do sertão duro, ressequido e areado
E de encanto teus arbustos é armado
Gorjeia a vida, pulsa, do vário cheio
De uma imensidão o planalto adveio
É diversidade no cenário cascalhado
Da mesma beleza a variação do prado
Floresce o ipê, quaresmeira e lobeira
Desenhando as fronteiras do cerrado
Chove, seca, trovoa, a brenha inteira
É o agreste no seu santo apostolado
Encantado, imenso, da sua maneira...
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
2021 maio, 24, 05'55" – Araguari, MG
MANIFESTO
Do instante que vos escrevi, soneto
Fiquei cativo de uma predestinação
E nas entranhas dessa piegas criação
Do amor, me vi um desditoso repleto
Piedade! Pois neste versar inquieto
Do coração, eu só desejei inspiração
De afeto, os versos de jura e paixão
E, só criaram saudades por completo
Então, caridade! Quis apenas carinho
Que a tua estrofe a tenha, compaixão!
Tal uma luz que guiei o meu caminho
É a minha perdição sonetar pra amar
Pois, se amar cheguei, tive intensão!
Certo, soneto, hei de apenas sonhar...
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
24 maio, 2021, 07'05" – Araguari, MG
SONETO SENTIMENTAL
Eu poeto e poetarei sempre como poeto
Uma poesia de amor é o bem que se tem
Cheio de encanto, e da poética vai além
Onde nos há de ser aquele sentir secreto
Porta da sensação, que se abre no soneto
Sentimento de poesia e paixão, também
Nos acolhe, e pro viver, nós faz tão bem
Porém, tem de afazer do medo discreto
Um amor! que bravo, que bom que belo
Ali está a emoção, o ter, vamos facilitá-lo
A estimar-nos em galardão de estimá-lo
Assim, não se pode versar sem conhecê-lo
Pois, é singular querer haver, e ganhá-lo!
E, és sentimental até na ilusão ao perdê-lo
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
25/05/2021, 13’02” – Araguari, MG
UM OUTRO DIA
Que hei de fazer, ó fado, sem ser amado
quando a solidão chegar com o seu vão?
Já não terei as mãos, a achada inspiração
de um amor, dum sentimento imaculado
Porém, desta poética do afeto banhado
nas trovas duma prosa cheia de sensação
restará saudade, e entre linhas, a paixão
pouca, dum querer no tempo silenciado
E quando lembrares, do que isto era...
E que na recordação não mais sentir
o perfume, a emoção, aquela poesia
Eu lhe lembrarei que fui a primavera
os suspiros do abraço, olhar, o sorrir
e que hoje, na emoção, um outro dia!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
26/maio/2021, 09’27” – Araguari, MG
AZARADO
Como um azarado, nascido para o luto
e a tristura, na má sorte, estou marcado
por um peso colossal em meu duro fado
o do amor no acaso, de um ardor bruto
Como o do apreço, fica diminuto
todo o meu sentimento desanimado
e, do desejo ainda, sim, enamorado
eu, como um azarado, ao querer reluto
Avulto, tal um teimoso, ante o castigo
na sensação, na alma, na dor estacada
tentando e tentando a sorte ao dispor
Como um incessante, ao amor persigo
deixando a minha direção desfolhada
e eu, solitário, agonizo, de ser amador!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
27/maio/2021, 08’27” – Araguari, MG
GUIÃO DO AMOR
Fado! Leva essa sorte, outra que venha
maior, que dessa dita o destino exceda
leve-a, e traze outra já, seja uma vereda
de sonho, e que toda sensação contenha
Acaso o coração a sofrência desgrenha
no pranto e lamento a poesia enreda...
Anda! Venha e me colhe dessa queda
se é desejo, deixe então que se tenha!
Deixe que devaneie, cada verso afora
deixe, então, criar meu próprio alinho
ao coração. E, que eu seja feliz agora!
E que com o amor seja tal, o caminho
eu quero carinho, dá-mo sem demora
pois, não há guião só de azar e espinho.
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
27/maio/2021, 19’27” – Araguari, MG
QUESITO
Ao ver-te, saudade, na dor em glória
Altiva, tristonha, dando à vida pesar
Eu lacrimejei todo o meu festo olhar
... também sou parte nesta memória
Engasgada e atada toda essa estória
Tão frios breus, guardado a me sugar
Quem sabe donde saltar desse lugar
Se já ido cada tom, cada dedicatória
Agora sós, e a vaguear por lembrança
Ao léu, somos passados sem o porvir
Trovados na ilusão sem ter esperança
Então, fico detido sempre a refulgir
O olhar, a nossa promessa, a aliança
Por que então tivemos que partir?
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
29/maio/2021, 13’34” – Araguari, MG
LIVRAI-NOS...
Oh paixão fumeante, no sentimento imerso
Dai suspiros ao coração e conceitos serenos
Mostra de ti sensações e o benigno anverso
Da afeição. Aos amadores que creem menos
Aquele que só conta com o que é previsível
Sem importar com o olhar que já é indefeso
O abraço carente, e a fúria do beijo incrível
Disfarçados de monotonia, dando desprezo
Piores dores é o desdém da ardilosa dolência
Sem perdão, sem expiração e, nos atrai nus
Na alma, na emoção sem qualquer essência
Molda o querer, ó ilusão, olhai a nós, Jesus!
Que apenas deseja o afeto, sem aparência
Pra só então, amar e ser amado. Livrai-nos!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
02, junho, 2021, 10”29” – Araguari, MG
MEU AMOR NÃO TEM AMARRAS
Meu amor não é só nem solidão nenhuma
É olhar sem sujeição, sem leito de abrigo
Um navegante eterno, talvez um castigo
Não sei, só sei que é leve tal uma pluma
Por isso amador constante, sem um leme
No desejo, são gemidos e delírios d’amor
Vasto na liberdade, e tão cheio de ardor
Da saudade, o que o coração mais teme
Assim vou, assim, por aí me encontrarás
Entre carinhos, os beijos, então me verás
solto, e tão farto de propósitos e garras
Tristezas não trago, trago o afeto pra dar
Deixando sensação, que me dou ao chegar
Pois, sou, e o meu amor não tem amarras
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
10, junho, 2021, 18’18” – Araguari, MG
SUSPIROS DE AMOR
(dia dos namorados)
Quando à saudade amorável no poetar
A sensação é sempre aquele palavroso
Carinhoso, que a recordação vai buscar
No rastro daquele suspiro tão gostoso
Da paixão, do coração, ó emoção rara
Do ardor que n’alma então aconteceu
E que rompeu cada sentido, e amara
Cada momento que o afeto anoiteceu
Posso então exaltar o nada esquecido
O tudo a palpitar e cheio das histórias
Do desejo, da quimera, jamais perdido
Tornando ao destino doces memórias
Prazer, glória e nostálgico pensamento
Vai o dia e fica o consorte sentimento!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
12, junho, 2021, 12’26” – Araguari, MG
SONETO DE AMOR VIVENTE
Todo amor vivente em mim foi afeito
Tudo em mim dum amor vivo foi dito
Emanou do espírito e me fez infinito
Ser, pois, todo amor tem divino jeito
Tão muito de amor trovou meu peito
Suspirei, fui fácil em amar e fui aflito
E, em cada voto o meu poético grito
Tenho defeito e, também o conceito:
Sou amor, ao ser amador, - o ofereço!
Amor mais que coubesse tenho dado
Esse devoto amor que não tem preço
E se por tanto dar não me fiz amado
Fui querido a quem sobe ter apreço
Assim, vário, me restei enrabichado...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
2021, 15 de junho, 17’42” – Araguari, MG
SABER DE AMOR
De afeto avassalante a união com quimera
Nada há que vete, paixão é paixão, e amor
Intenções sinceras e uma sensação sincera
Amor com amor dissolve qualquer temor...
Amor é de uma poética eterna, dominante
É o desejo e a determinação com bravura
É um olhar terminante e o coração amante
É aquele sentimento que vive com ternura
O amor não teme o outro, muito embora
Brade e chora, mas, vive na sua santidade
Não é carrilhão que toca de hora em hora
É voto que se sustenta para a eternidade
Dá a alma ardor. Feliz aquele que provou
Pois, amor só sabe quem um dia já amou
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
16, junho, 2021, 08’42” – Araguari, MG
SUPERAÇÃO
Quando poesias de amor eu escrevia
Entre poética e sentimentos singelos
Cercados de mágicos enredos, belos
De agrados e de venturas, eu me via
Eu era só agitação sem a monotonia
A essência atraente da emoção, elos
Onde construía a ilusão e os castelos
De um bem querer, o que mais valia
Cá estou, seguindo, e ainda escrevo
Sensações, estórias e em nada devo
Ao tempo... audaz... ligeiro... voraz
A esperança que no fado se repara
Com o oportuno desenlace, ampara
E que no prosseguimento se refaz!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
14 de julho, 2022, 16’29” – Araguari, MG
Triste pássaro negro,
Já o vi mais feliz a ponto de rir.
Outrora batiam forte suas asas,
Hoje velho corvo, nem sabe voar!
Triste pássaro negro!
Com ansias por uma vida cruel.
Ovelha desgarrada! anda dissoluto;
E com olhos de pássaro triste.
Triste pássaro negro!
Teu olhar traz o presságio
De uma violenta dor abstrata,
Triste pássaro negro!
De dor em dor, anda sem amor
E pairando sobre a desgraça.
MISÉRIA POÉTICA
Vi-a, erodente trova, chorã, fustigada
Vãs rimas, mesmo assim, com melodia
Em seu lânguido versejar, desvairada
Queixar do amor, qualquer, na poesia
Sensível, miserável. Verso apaixonado
Duma emoção, que assim, me seduzia
Escorrendo na trova ardor enamorado
Num prelúdio divino de afeto e agonia
Me feriu. Em cada cântico a dor ecoava
Do poeta golpeado, então, resvalava
Da poesia: pranto, sussurro e clamor
Suspirei. Gemia o verso num lamento
De inquietação, sensação e sentimento
Da miséria poética sofrente de amor...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
29 julho, 2022, 14’33” – Araguari, MG
SAUDADE SUPREMA
Silêncio, tarar, ideia envolta na solidão, murmura
Nos versos sussurrantes do meu versejar sombrio
Eu, agoniado, privado, numa poética de amargura
Velo a minha angústia com cântico insosso e frio
De onde? quem? Essa sensação de uma clausura
E está dor, um acaso demente, um talvez doentio
Que deixa meu sabor com aquela amarga doçura
Apertando o peito, e a emoção sem o suave feitio
E vai a madrugada a meio, nostálgica, importuna
Nos rogos de minh’alma, e tão repleto de lacuna
Divagando falta no pesar de outrora, triste tema!
E eu quisera, outro ponto, nesta pontual sofrência
Na aflição de cada rima ter aquela muita existência
Na suprema ausência de uma saudade suprema! ...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
30, julho de 2022, 03’23’ – Araguari, MG
