Sonetos
SINO DE NATAL
O sino da devota matriz
Pela cidade o som espalma
E para nossa fé, assim, diz
Soando dentro de cada alma
Rútila badalada no ar a soar
União, afeto, celebrar a vida
O Menino Deus a nos amar
E nós a exaltá-Lo na batida
Belo os lares aconchegados
Os corações apostos, alados
Soa-nos n’alma significante
A cada pancada celebrativa
Vibrante no céu tão festiva...
E o amor toando o instante!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
03/12/2021, 19’21” – Araguari, MG
ENTÃO SOMENTE
Encontraste-me, e eu um verso triste
Um escrito solitário e amargo estava
Pela minha emoção a aflição passava
Com tristura que na teimosia insiste
Riste, meu semblante dor sussurrava
Como quem só no desengano existe
Sem gozo, e no próprio pesar fruíste
Aonde a minha alma se via escrava
Amei-te mais, quando tu não hesitou
Quando do amor era, então somente
Amor em minha carência, me amou...
Quando me deste presença, veemente
Quando junto a mim agruras suportou
misericordiosissimamente.
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
04/12/2021, 17’36” – Araguari, MG
paráfrase Guimaraens Passos
MINHA TERRA
Minha cidade, um cromo mineiro
Ruas largas, a Matriz, árido chão
Maritacas na praça, povo faceiro
Pasmaceira, tudo calmo, ramerrão
Curicacão em bando no ar, ligeiro
Os sonhos além duma porteira, vão
O tempo no seu tempo corriqueiro
E o passado descascado no casarão
No alto da planície, cerrado e serra
Araguari, das Gerais, a minha terra
Altaneira, hospitaleira, bela cidade
Cada canto um encanto de sensação
Do meu peito canta numa só emoção
Já ida a mocidade, aboio de saudade!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
05 dezembro, 2021 – Araguari, MG
DIÁLOGO
Saudade torturante, é assim que te suponho
Com a sofrência a pisar na emoção sofrida
Nas dores letais dum sentimento de partida
Deixando estar o coração árduo e medonho
Quando tu vens apertando o sentido da vida
Imploro, sussurro, e na tua suplica deponho
Meu silêncio, meu choro, o apagado sonho
Hão de te tocar, sem me espancar, dor doída
Que seja sempre mais, e não apenas externo
O afeto mais profundo a tudo quanto existe
Sem o peso do vazio e do desejo subalterno
Vejo-te sempre passageira, fugaz para o triste
E, como uma emenda no desencontro traidor
Confessor, nesta tão inquieta tortura de amor!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
05 dezembro, 2021, 14’44” – Araguari, MG
SENSAÇÃO
Sagaz e singular, a saudade é sombria
e, senhora sanha, sufocante. Saboreia
ser saudosista, uma sovina que serpeia
a satisfação. Serelepe. Ao ser surrupia!
Sempre súdita e sorumbática, semeia
sobretudo severidade, no sofrer sangria
sangra ao sentir, sente o que não sentia
sacode a sabedoria e ao saber saqueia
Sopro sucinta sopra o súbito que suspira
sacode solenemente a solidão suprema
sinistramente, numa sinistra segregação
Sobre o semblante, sombra, susto e sátira
suplica a soluçar no sentimental sistema
socando o surreal na sabatinada sensação...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
06 dezembro, 2021, 11’14” – Araguari, MG
Parafrase José Rodrigues Pinagé
BIOMA (soneto de 1 sílaba)
Cerrado
tão
arrojado
chão
agigantado
ancião,
encantado
quão
traz
o
diverso
primaz
do
universo
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
06 dezembro, 2021, 21’08” – Araguari, MG
PRESENÇA
Quando os olhos arremesso no outrora
De quanto amei me acho privilegiado
Vejo que tudo foi agrado no passado
Que toda a prova uma cortês aurora
Sempre na mais pura sentimental hora
Tudo que dadivava, mais apaixonado
Dor, choro, lamento, deixava de lado
Asilando, então, na caixa de pandora
Os castelos aprumados, o firmamento
Na sensação mais bela e alta os erguia
E, assim, os via tão cheios de portento
Que carinhoso ganho faz a companhia
Pois, tudo é tão maior, maior o contento
Triste a hipocrisia, que faz a alma vazia!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
19/11/2020, 19’43” – Triângulo Mineiro
TURRA
Que desmedidas saudades se formaram
Sob os olhos da lembrança. Imensa hora!
Em que o silêncio surgiu! Funesta aurora!
Que amargas lágrimas na face escoaram
Falta, que o peito rasgado, amortalharam
Que aflitivos suspiram, e a saída implora
Chora, e das tétricas angustias brotaram
Pra abraçar a sofreguidão que vive agora
Depois uma sensação em treva chorando
E o passado em sombras, que não partiu
Morre, nasce, seca, flora. Flagelo infando!
Até quando o sentir no que já separou
És emoção que o flagelo empederniu
Ou turra viva do amor que não acabou?
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
21/11/2020, 15’15” – Triângulo Mineiro
ADIANTE
No amor todo feito de grandeza
De afeto, de atenção e verdade
É que eu vi haver com vontade
E (mais que vontade) gentileza
Não era o vulgar ar de incerteza
Nem o olhar cheio de banalidade
Era outro sentimento, suavidade
Que nem sei expressar a beleza
Um vário sentir, certa candura
Feito de abrigo, certa ternura
Que abraça a alma por inteira
Ô emoção, tão forte e carinhosa
Que deixa a fraqueza corajosa
E nos faz sonhar sem fronteira
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
21/11/2020, 20’20” – Araguari, MG
SÚBITO REVÉS
Súbito revés de algum sentimento oculto
entre as dobras da frustração em entono
sacode-me, eu tristonho, e no abandono
da solidão, e que na emoção faz tumulto
Mas este terror sombrio e sem indulto
que levo no peito, e a tirar meu sono
apodera-se e se declara agente e dono
do sossego, tirano e vomitando insulto
E eu sinto o árduo suspirar da saudade
preso no encolhimento da imensidade
que me joga na sofrência que me guia
Sinto nada de mim, salvo a sensação
que bate desesperada e com tensão
e que amofina a poética vazia e fria
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
22/11/2020, 15’04” – Araguari, MG
REMOINHAR
Fui no destino um amador exaltado
Tudo era pra vida um bem ovante
Ser, o haver, uma sensação cintilante
Do desejo, um sentimento sagrado
Fui apegando ao amor arrebatado
A vida se importava com o instante
A alegria no peito mais penetrante
Este um afável e amante passado
Sei bem o ruim de se achar solitário
Na eloquência dum triste cenário
Singular, então, não seja tardança
Ó emoção tão enigmática, talvez agora
Gire, e seja contagiante como outrora
Diz-se que o amor é eterna esperança!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
23/11/2020, 08’22” – Araguari, MG
CHICOTE
Se punição por vos desejar se merece
Qual desejo está isento? e ao vento?
Na sua razão do ingênuo sentimento
Solto das amarras, e que se esquece
Qual mor amor no fado se oferece
Que dedicar-se a vos todo o tempo
Em glória e tão repleto de fomento
Que no bem e ventura se apetece
Porém se ei de punir a quem, infando
Que seja ao meu coração sofrente
E assim o meu amargar é todo vosso
No meu haver, podeis, até quando
Ordenar nele o ocaso inteiramente?
Se ter-vos enamorado, não posso!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
26/11/2020, 08’34” – Triângulo Mineiro
A MINHA SORTE
Quis Deus dar-me a sorte dum amor amado
Como o pôr do sol no cerrado, pura poesia
Dar-me uma cumplicidade, ser apaixonado
Um bailado de emoção em boa companhia
Quis Deus dar ao fado fortuna e empatia
Com sensação ardente e olhar enamorado
No prazer ter a sede com volúpia e ousadia
Incrível, como é bom ter o afeto povoado!
Quis Deus mimar-me com áurea dourada
Da satisfação, e então, a graça encantada
Dos carinhos e dos beijos que eu sonhei!
Anda! Depressa! Onde? Eu posso embalar?
Nada mais se esconde, no vão, quero amar
E suspirar o viril sentimento que encontrei!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
27/11/2020, 20’01” – Triângulo Mineiro
APARTADO
Cansei-me de tentar o teu enredo
Na tua poética sem frase e afeto
Meu versar anuviei por completo
Tal o pôr do sol atrás do rochedo
Sentimento da tua alma, segredo
Teu, perturbado eu, neste soneto
Foi meu desejo, não mais secreto
Se chorei foi somente por degredo
Cansei! Sossegado está o cerrado
Esfriou sobre o desprezo concreto
A quem um dia estava apaixonado
E desse meu turvo silêncio discreto
Leia entre linhas um sofrer calado
Que assim tem o apartado adjeto!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
28/11/2020, 11’01” – Triângulo Mineiro
QUANDO FOR AMOR
Não há amor que não tenha um encanto
Todos são cheios de emoção e de magia
O haver, por mais dissonância, tem tanto
Lirismo, que há de ter sensação e poesia
Mas acaso nada tem, temos, no entanto
A quimera que nos dá a ingênua fantasia
A pureza, a companhia, então, portanto
Cada um, um bem, um cheiro e ousadia
E nas surpresas da vida, aquele certo
Amor. Sentimento liberto e sem dor
Pois, no querer o desejo foi desperto
O sonho que se vive, ó curioso valor:
Farto em ventura ou se falto na flor
O amor, se define, quando for amor...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
28/11/2020, 19’51“– Triângulo Mineiro
TRISTE MENINA
Chora cá a tua morte pra eternidade
os soluços que assim a memoraram
as lágrimas arrancadas não secaram
nos carecentes campos da saudade
Aflitiva entre as aflitas a tua verdade
molesta por todos faltos que faltaram
as tuas consumições nunca cessaram
na tua meiga e agitada sensibilidade
Então, sonha aí, posta na conciliação
no teu moimento da campa santa
agora pode aquietar o teu coração
Dorme, na graça e na união Divina
dói n’alma o silêncio que agiganta
ide em paz, saudosa, triste menina!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
28/11/2020, 11’23” – Triângulo Mineiro
Sétimo dia da Páscoa da prima Flávia Magalhães Nogueira
VENDAVAL EM CANTILENA PROSA
Cai no cerrado, ó chuva, e nos beirados
Sussurrando sons que o apavorar fiança
Em pingos d’água numa enfada dança
Purgando áridas angustias e pecados
Temporal no sertão, e tão agitados
Escoam nas planícies numa pujança
Deitando melancolias numa trança
De saudades e suspiros desolados
Do teu copioso gotejar, o luzidio
Relampejar, eriçando em arrepio
Que agita a tempestade tão furiosa
Troa lá fora, em um agravo vitupério
Estrondeando e envolto em mistério
De um vendaval em cantilena prosa...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
30/11/2020, 20’51” – Triângulo Mineiro
BOM DIA!
Acordo cedo com a passarada
D’alvorada vejo toda a magia
Sacode-me com jeito, a poesia
E abre-me a manhã iluminada
Estremunhado pela madrugada
Vou, louvando a todos mais valia
Afagando meus votos de alegria
Com voz torpor do sono deixada
Senhor! Gratidão por mais este
Avidar! Que seja sem abrolhos
Dá-me amor e agrado por guia
E reserva também, ó Pai Celeste
Ventura, sonhos aos bons olhos
E aos aqui ledores: - o bom dia!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
03/12/2020, 08’58” – Triângulo Mineiro
A UMA SAUDADE
Entre as custosas saudades, pobrezinha
Que eu velo, no sentimento, uma existi
Que dói, corrói, inquieta, deveras triste
Que suspira quando a solidão avizinha
E nesta sorte da sensação tão sozinha
Uma carência na poética ainda insiste
Que no trovejar um desalento persiste
De tu, paixão, que não mais convinha
Sabe a lembrança velha abandonada
Que espanca, que não mais acontece
E ainda atucana na emoção acordada
E assim para, a olhar com nostalgia
Faminta de saudade, tal se quisesse
Tê-la vivente na ruminada poesia!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
03/12/2020, 15’17” – Triângulo Mineiro
FASE
Cisma a dor n’alma descrente e fria
De uma emoção solitária e calada
Em sua fronte tristonha e chorada
Pesadas rugas duma sorte sombria
A luz da paixão, vazia de alegria
Carrega a saudade amargurada
Suspira sofrência na madrugada
A solidão, companheira da agonia
Ao pé da lua prateada. Pendente
A boa dita, o bem amigo da gente
Parece que dos céus nada realiza
Geme a brisa no cerrado, agrado
Qualquer, só o penar imaculado
É ventura, fase, o tolerar divisa!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
04/12/2020. 08’22” – Triângulo Mineiro
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