Soneto da Saudade
Cristais vazios
Sou escultora de silêncio
Onde teço as palavras,
Contemplando as letras
Nas veredas do ócio!
O murmúro de um grito
Rasga o verbo das asas
Infesta o sangue nas veias
Sepulta por dentro feito luto!
Libertas libélulas são células
Nos lábios que sentencio
A voz perco nas fagulhas...
Os olhos são fios de cílios
E na tez, brancas ressalvas
Diposto feito cristais vazios!
Afeto de gangue
A totalidade de alguma coisa é incrível
E a totalidade de gente, alguém viu?
Gente é tal diagnóstico do inevitável,
Há tipos do bem e típicos metal vil!
Humanos nem a si mesmo conhecem:
-Ora ali vai com'a onda da boa doçura,
Ora constróem o mal sem compostura
E a epidemia contaminando a cultura!
Pega pena a nódoa de nada na caixa,
Borra indireta direta na reta da fala,
Orêia bondade, que não se encaixa!
Há quem valorize o afeto de sangue,
Que se respeitam entre si e amparam,
Outros que preferem afeto de gangue!
Ciranda de celular
Se pá, acontece de pá se apaixonar
Não pinta de escuro o seu coração
A não ser que pá, cumpriu a missão
E pá, sucumbiu desmanchando no ar!
Sem um coração á pulsar na ilusão
Vai cor sem que possa impressionar
Um despedaçado pedaço de papelão
Colado no sentir do estrado de um lar!
Senão uma viela debaixo do viaduto,
Onde há vivos perambulando na rua,
Mortos pra quem passa ali resoluto:
- Mendigos, na afirmação que anda!
É caixote a feira mascote sob a lua,
Por certo pá, um celular vira ciranda!
O mito do vento
Tantas vezes a face estampada no reflexo,
Das águas, espelhos, telas e estampas...
Sabem lá inúmeras vezes escancaradas
Este enigmático ser humano sem nexo!
Ah! Existem aqueles a acusar o outro:
- Como és narcisista seu rosto á postar!
Entres flashes surgem as selfies no ar:
Rostos, caras e expressões, é o colostro!
Há quem desdenha dizendo assim:
- Vais ver quantas curtidas recebestes?
Naquele ar de quem não age por tal fim!
Daí, amplificando o mito, decifro o atrito:
-Todos, sem exceção, narcisistas rebeldes!
Pois, todos carregam sua imagem no vento!
Enlaço do abraço
Se fosse definir alguma coisa de sentir,
Iria contemplar o abraço surpreendente!
Aquele abraço que abraça de repente,
Que faz o coração pular e a alma sorrir!
Se olhamos pra nós envergonhados,
Com jeito de não misturado com sim,
O pulsar de seu coração junto a mim
Parecemos dois tolos desgovernados,
Sem saber que rumo deveríamos seguir!
Fingimos ser apenas um amigo qualquer,
Mesmo que fosse impossível conseguir!
Então sempre voltamos lá no abraço,
Sem nenhuma vontade de esquecer
Mas, com vontade de ficar no enlaço!
Sem água, só o pó
Choro da Terra de onde brota a fonte,
Suor que escorre por entre os poros!
Águas vindas dos fios da chuva forte,
Gotas de orvalho onde ouço os coros!
Sinfonia do sereno doce do anoitecer,
Enleio da valsa triste de uma lágrima!
Germina a vida em cada amanhecer,
Ou seca a seca no sopro em lástima!
Sem água! Na sede da terra, sem nada,
Nem flor, nem folha, nem raiz, o pó, só!
A poeira na testa, veio de Terra rachada...
Lá onde a serra espanta a nuvem sem dó!
Por canto de jeito, um cacto e mais nada...
Em outro, outra serra a deixar cair só o pó!
Carrossel gigante
Sol, gigante de luz em movimento,
Círculo que, sem parar vai girando,
A cada volta que dá leva - me junto,
Carrega-me sem piedade do mundo!
Sei lá se este universo é início ou fim,
Por certo que, tudo acabará num raio.
Queimará o fogo num rastro sem fim,
Ou tropeçarão os planetas em um fio,
Ou alinham os anéis soltos lá no céu,
Ao girarem em torno do sol a queimar...
Nesta semelhança, gira um carrossel:
Roda gigante, a gente no mundo a girar...
Somos parte do giro deste imenso anel,
No giro, vai o mundo aprendendo a amar!
Ufa!!!
Pindorama, meu índio pescador;
Depois semeia sonhos de açúcar,
O português que aqui aportou
E o índio feito bicho se assustou!
Pajé não é mais curandeiro,
Agora o seu nome é Jesus,
A terra Ilha de Vera Cruz,
Não importa quem foi o primeiro!
Importa agora a Terra Nova,
Terras de Papagaios, renova:
- É minha Terra de Vera Cruz!
Bem melhor: Terra de Santa Cruz,
Ou, Terra de Santa Cruz do Brasil!
Não! Terra do Brasil; então: Brasil!
Ufa!!!
Oração das almas
Pai, a ti de coração puro venho
Trago minha alma transparente
Abençoa - me neste instante
Pois, o meu corpo já não tenho!
Suposto merecer o acento etéreo
Venho a teus pés humildemente
Perdoa - me se o dia fostes triste
Porque a vida ainda é um mistério!
Depois deste desterro, Senhor Deus
Mereça eu, ser luz sob sua proteção
Que sejais amparo á todos os meus!
Assenta a fé e a paz nalgum coração
Fazei de mim eterno nos braços teus
Faz - me rasto de luz em sua direção!
O seu sorriso
Se tudo está escrito e a gente já se viu
Meus olhos encontraram sua boca e caiu
Despencou em seu sorriso cor de mar
E me fez mulher de corpo nu te desejar.
Me entregar mesmo que de pensamento
E desenhar seu corpo sob olhar perfeito
Nas suas curvas me enrolar sem medo
E no seu peito desvendar nosso segredo.
És louco o destino que quer me falar
Te ver todos os dias e nunca te tocar
E em apenas um olhar te pedi pra ficar.
Mesmo que em seu suor me encontrar
Por nós dois juntos me apaixonar e
Por uma noite inteira a cama nos segurar.
Codinome poesia
Renato Russo faria mais sentido se estivesse aqui
Nando Reis me prova que é na saudade
Que devo te encontrar quando não está
Ah se você soubesse minha forma de amar.
O príncipe virou um chato? E o sapo?
Talvez quisesse me dizer que é criança
Pois é assim que te conto que sou poeta
E o tempo que tenho é só para (amar).
Por onde andava? Eu como sempre atrasada
(Será) que o que tentei foi pouco? Em vão
Nesse tempo perdido ganhei sua falta.
Eu não sei dizer o que sinto, o amor real
Sentimentos em um congestionamento
Sou poesia lembrando cada momento.
Amor bonito
Ah! Já posso dizer-te sobre o amor!
Amor, amor, amorzinho, amorzão,
amor grande, grande amor, só amor,
amor, amor, amor com definição!
Definição de coração no amor bonito
tem olhos de amor sublime e límpido,
corpos de amor vibram, sempre junto,
e o tudo é lindo e o tudo se faz rindo!
Neste tudo cabe o tudo e tudo mais,
mas tudo também é vida de razão,
em que um mais um são dois...
e...depois, e depois, e depois, depois?
Depois mais nada além de só os dois,
só os dois no universo, só os dois!
Saga Do Herói
Quando nos agarramos às saudades,
sem dúvida, é porque nosso presente
está uma daquelas... bem fedidas...
Mas que fazer, Glorinha, que fazer
nesta hora tão sem pétalas, sem cores?...
.................................................
Talvez fosse melhor não ter nascido!...
Se bem que... como iríamos saber
que nossos males, nossas dores, penas
não valiam o heroísmo de sofrê-las?
...................................................
Por isso, minha amiga, vamos rir!...
Sim, — se possível — rir e gargalhar...
E agradecer a Deus que ao ser humano
lhe permite a bravura de lutar —
lutar heroicamente... e se enganar.
LA
Madrugadas
Era bom despertar carente e falto
Em meio à noite, Nina, e procurar...
Buscar suave e tenso: cabisalto,
Por entre a samambaia ciliar...
Os dedos orvalhados no cobalto
De sonhos celestiais sempre a buscar
O instante de passar, de dar o salto
Da relva pra ribeira: mergulhar...
Entrar-lhe pela vinha devagar
A lhe apalpar os cachos com ardor —
Seu corpo todo-inteiro vindimar...
Com os lábios a roçar-lhe a boca e a face
Eu ia lhe servindo o bom licor
Até que sua taça transbordasse...
LA
Aeróbia Musa
Ah, Musa, se te pego! Espera só!
Tu andas inspirando o meu vizinho, —
deixas-me só: jogado aqui sozinho
e levas a outro o teu borogodó!
Quase um mês de securas... não tens dó...
Tu me negas, safada, o teu carinho
e cantarolas desde bem cedinho
como a dizer que sou teu zé-coió...
Se bem que, ciúme à parte, fazes bem
em servir dois ou mais de cada vez...
Diz o adágio: Tem um o que dois tem.
Sim, fazes muito bem, aeróbia Musa,
saber de português, economês
e do quadrado da hipotenusa.
LA
Somos Uma Só Carne...
Somos uma só carne, um corpo só,
uma só alegria, um só lamento,
uma baixeza, um alto pensamento —
a grandeza divina em nosso pó.
Somos Judas e a luta de Jacó,
o Balaão safado em seu jumento,
a Canaã de angústia e sonhamento,
tédio de Salomão, sofrer de Jó.
Somos Ana abençoada por Eli,
somos Tomé e aquele centurião...
e a bravura e a baixeza de Davi.
Somos a confiança de Abraão
no silêncio de Sara que sorri...
e as águas do Jaboque e do Jordão.
LA
Tu És Um Homem...
Tu és um homem, não um pobre rato —
tu vieste do sonho para a vida,
da vida com o dom de renascida,
da vida que é um poema e não relato.
Tu és um homem, não um coelho ou pato —
tu vieste da Mão que te convida
ao retorno genial da mais subida
estirpe do nascido: além do fato.
Tu és um homem, esse vasto sonho —
o sopro constelado (sonho inconho)
na argila pelo próprio Criador.
Tu és um homem, cujo dom descansa
na luz eterna de perene amor —
brilhas mais que a mais plácida esperança.
LA
A Noite Inteira, Nega...
A noite inteira, nega, revirei
que revirei você em minha mente
tentando despejá-la inutilmente,
mandá-la para o quinto e mais nem sei,
nem sei pra que país nem tribo ou grei,
contanto me deixasse bem urgente
em paz e a sós comigo eternamente,
eternamente sem ninguém nem lei
E fizeram-se eternos os segundos:
me reentrava de lado e pelos fundos
de toda a mente, sem nenhum chiquê
Aí (que alívio!) o telefone toca,
fui atender (que alívio: me desfoca...),
fui correndo atender: era você.
LA
Há Um Medo Gostoso
Há um medo gostoso, se te espero.
O amor é sempre aquela porcelana
tão frágil sempre, sempre tão humana —
o amor é e não é: tal como um zero.
Sim, um medo gostoso, mas severo
como o olhar que protege, mas esgana...
como a alma que sonha, mas se engana...
pedra rara incrustada sem esmero.
Sempre um medo gostoso na esperança
de se alcançar a flor que ao vento dança...
Sempre um suor a rorejar a espera.
Sim, um suor gostoso, mas medroso
a ponto de tirar da espera o gozo...
O amor é sempre aquilo que não era.
LA
Alforria
Não me peças pra calar-me à tua fera
Nem que sejas para ti contentamento
Meu amor é felino, tu bem sabes
Na tua vida não serei aditamento
Áurea flava zombeteira me sequelas
Afrodite, Psiquê e tantas outras
Em silêncio veleidoso me revelas
Mais que beijos matinais de outra boca
Como bicho que sou, e tu já sabes
Meu ciúme não terás um só momento
Se estou preso a ti é por vontade
Da tua pele, do teu toque e teu alento
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