Soneto da Paixao
SONHOS (soneto)
Vou hastear meus sonhos lá no alto
onde o céu desabotoa o caminho
o vento sopra a brisa de mansinho
e as estrelas poetam como arauto
Quero sair deste meu desalinho
dum fado de dano sem incauto
tal qual ao por do sol do planalto
que matiza o olhar com carinho
Quero ter simplicidade, e afeto
deixar as quimeras sem parede
e a ilusão livre, fluindo pelo teto
E assim, a boa nova que venha
seja recebida com afago e sede
e no meu eu, o amor convenha...
Luciano Spagnol
Agosto/ 2016
Cerrado goiano
PARALELA (soneto)
Deixe o sorriso adentrar a janela
Do viver, traga luz na escuridão
Aprecie a rosa desde ser botão
Designe a vida a ser leve e bela
Tenha no rosto só boa expressão
Sofrer em vão põe dor na cancela
Da felicidade, então permita a ela
Inundar-ti por todo o seu coração
Transborde de harmonia, seja dela
A lamúria destila toda boa emoção
Nesta reta com amor trace paralela
Estar vivo é um motivo de gratidão
Pense positivo, e dele tenha tutela
Ser feliz traz sonhos, é pura razão!
Luciano Spagnol
Agosto/ 2016
Cerrado goiano
SOM DO CERRADO (soneto)
Escuto o cerrado a cantar, em atroada
Canção do vento, da sequidão, escuto
Numa trovoada, e a emoção em fruto
De silêncio, no coração em disparada
Cada uma melodia deste chão tão bruto
Rasga o planalto numa voz empoeirada
De cantigas pela caliandra emoldurada
De bela cena e de árido hino em tributo
As flores do ipê, caem em fúnebre toada
No ritmo do por do sol se pondo soluto
Orquestrando a vida diversa e iluminada
E pela estrada os sons no olhar arguto
Cantam e encantam, minuto a minuto
Os ruídos sonoros numa alma calada...
Luciano Spagnol
Agosto/ 2016
Cerrado goiano
TEMPORADA DA VIDA (soneto)
A temporada da vida, apressurada
De encenação tão ágil e tão breve
Aspira a existência tal qual ar leve
E nos leva numa célere enxurrada
O fado de asas que não susteve
Se enlaça na fragilidade tramada
Em tênue mormaço e mais nada
Criando a história do que se teve
Por que a tão delgada cadência?
Dissolvida nesta árida impotência
Quando se quer mais no amanhã
Num sopro de alta magnificência
O dom de existir, se contingência
É a morte, que a vida seja anfitriã
Luciano Spagnol
Agosto/ 2016
Cerrado goiano
BORDÃO (soneto)
Recordar-te é fazer brotar o amor
que não morreu, estava prostrado
e num gesto apenas demonstrado
revive que amei, com um tal fervor
É de um silêncio tão ensurdecedor
que o presente então vira passado
o passado na saudade é lembrado
e guardado no peito a ti acolhedor
No tempo e espaço, a imaginação
delira com sofreguidão da evasão
aos tinos, por mais que não olhe-os
Então, que me resta é a recordação
e sonhar, pois és sempre o bordão
de nostálgica memória aos olhos!
Luciano Spagnol
Agosto/ 2016
Cerrado goiano
ÚLTIMO SONETO PRA TI
Alega o teu olhar não me querer mais
com palavras tão vazias e sem dispor
Agora como sair deste vicio imperador
se no coração, ter-ti, ventura me traz
Alega tuas mãos, negação e mal humor
é um artifício impensável que dói demais
E nesta meada a tramontana é a que vais
se com plangor, é por ter tédio no clamor
Agora me sinto um nada nos teus sinais
São tantos versos esquálidos e sem cor
Deserção, desencontro e desapego tais
Pois, minha emoção sempre foi dispor
o laço, nos laços não foram desiguais...
Se lhe é aversão, saiba que eu fui amor
Luciano Spagnol
Agosto de 2016
Cerrado goiano
FRONTEIRA (soneto)
Em cada rosa, sempre existe espinhos
Nos árduos caminhos, também vitórias
Na humildade é que se escreve glórias
E com amor no amor se tem carinhos
Somos breve nestas águas transitórias
Para que seja leve, deixe os desalinhos
No tempo, tão valioso, e tão torvelinhos
Então, sê a figura mor de suas histórias
Nutre-se do néctar de querer mudança
Pois cada instante da vida é esperança
E a cada espera, objetivos e memórias
Perder ou ganhar são só da vida aliança
Tente. Persevere. Ai terás mais bonança
Trace nestas diversidades as trajetórias
Luciano Spagnol
Agosto de 2016
Cerrado goiano
EU POETO, ELA POESIA (soneto)
Não sou só, os poemas são companhia
Sempre comigo, falam com a inspiração
Traz lá de fora o diverso numa multidão
De cores, e sabores, em total demasia
Sou poeta! Na reta: curva e ondulação
Num labirinto de devaneios como guia
Aquecidos pela chama duma tal magia
Do doce amor, saídas do meu coração
Sim, não estou só: eu poeto, ela poesia
Que vive em mim numa eterna emoção
Se estranho ou comum, a mim sacristia
Nesta verve, não sei o que é ter solidão
Se assim me compraz, não tenho ironia:
Pranto, canto ou nostalgia, só questão.
Luciano Spagnol
Agosto de 2016
Cerrado goiano
SONETO SILENTE
Dia nublado no cerrado com ventania
Nostalgia nos olhos alumia o nebuloso
Tal como folha seca me sinto fragoso
Na brisa árida dum céu de monotonia
Range o peito num cântico escabroso
Apofântico, sem firmamento na poesia
Num par romântico de solidão e euforia
Tal chuva escassa no sertão sequioso
Alvorecer sem brilho e luz com alegria
Trazendo imenso sentimento saudoso
E na disposição uma tão nada ousadia
Caminho soturno neste vazio rigoroso
De chão cascalhado e de desarmonia
Que o silêncio comutou, vinho precioso
Luciano Spagnol
Agosto de 2016
Cerrado goiano
UMA CANÇÃO (soneto)
Este meu trovar é para nós dois
Num poema aterrado no coração
Com versos cifrados na emoção
Ouça! E não o deixe para depois
É fruto da lembrança em inspiração
Que surge do que para mim tu sois
Não de um tal silêncio em vão, pois
Este, só faz saudosar e ter distinção
Se aqui no canto tem algum pranto
Saiba que é porque eu te amo tanto
E cada lágrima poetada é de paixão
Eis, então, a minha voz, entretanto
Leia nas entrelinhas só o encanto
E verás muito mais que uma canção!
Luciano Spagnol
21, agosto, 2016
Cerrado goiano
AMOR POUCO (soneto)
Num amor pouco, parco é o afago
É não saber quão bom é o presente
Assim, poder a alma estar contente
E ter por alguém um sorriso largo
Aí, fica tão carente do sentir quente
Perde-se do alvo do farejado frago
Têm-se na solidão o gosto amargo
E ausência do beijo, de repente (roubado)
Sem amor, saudade é vazio selado
Dos rumos da vida se é deslocado
É mergulhar na luz sem densidade
E neste universo do eu tão calado
Desta redoma de um olhar isolado
Amor pouco, é ter-se pela metade
Luciano Spagnol
Agosto de 2016
Cerrado goiano
SONETO EM SENSAÇÕES
Amor é abstrato, figura do coração
É tal qual perfume grassando o ar
Promessa e jura apoiada no altar
Quando dois olhares num só são
É sentimento, que nunca é em vão
Traz sonho e nos faz assim sonhar
Faz picada no anseio, pra caminhar
Um desejo nutritivo para a emoção
Amar do amor vai além, é o gostar
Espírito numa perfeita comunhão
Dança que põe o sangue a dançar
Nesta atração há poesia e canção
Que invade o peito e põe a tilintar
E aos sentidos traz varia sensação
Luciano Spagnol
Cerrado goiano
IPÊ AMARELO (soneto)
No teu fugaz aflorar. És partitura
Duma melodia cálida fulgurante
De etérea figura num semblante
No ápice duma passagem pura
Se ergue na paisagem, vibrante
Em efígie no cerrado, escultura
Tão cróceo de aparata candura
Num teor pomposo e insinuante
Ave ipê! Natureza na sua mesura
Aos olhos se faz guapo arruante
Ao poeta estro em embocadura
E neste Éden de aptidão gigante
Ao belo, a quimera se aventura
Numa viagem de visão alucinante
Luciano Spagnol
Agosto de 2016
NOTURNO (soneto)
O silêncio sobrou-me como alento
E o vento ressoa a última vindima
De ilusão... Desagregada da estima
No tempo noturno bem mais lento
O sino da matriz soa em pantomima
Chamando a esperança do relento
Para que se funda ao sentimento
E derrame em fé e não só lágrima
O sono evoca vinho como fomento
A solidão adentra na noite a cima
O relógio no pensamento, tormento
Me busco, e não encontro a rima
Me olho, o passado vira lamento
E o aninar na vigia não aproxima
Luciano Spagnol
Agosto de 2016
Último dia do mês
UMA TRAMA (soneto)
A trama da perda tece o vazio
com fios do sofrer trançados
numa arte com a dor casados
que não abafa o frio arrepio
Ter e perder, já estão tramados
no fado, sem nenhum extravio
mesmo que a sorte cate desvio
as intenções darão seus brados
Pratique perder no ritual e feitio
para assim adoçar os finados
alvejando o olhar no ato sombrio
Perdi, perdeu, são passados
até perder, viva sem fastio
pois elas não deixam recados...
Luciano Spagnol
06, setembro, 2016
Cerrado goiano
SONETO BREVE
Curto é o caminho que termina a vida
E nele: por do sol, luares, risos e dores
Pra no final mancheia de terra e flores
E se deixar saudade lágrima na partida
E nesta despedida, que seja sentida
Se não, que seja pelos reles valores
Afinal: - amei e tive os meus amores
Todos na forma pela alma absorvida
Senti sabores por onde pude passar
Tive traidores, mas aprendi a perdoar
Não se vive inteiro se não tiver amor
E na morte, brando quero ter o olhar
Minha fé é minha sorte, meu rezar
Neste sonho vou sonhar com o Criador!
Luciano Spagnol
Cerrado goiano
SONETO CINZA
Então, matizei de cinza os meus passos
na secura do cerrado, todo empoeirado
me enroupei de gesto insano e calado
para dar cor aos sonhos tão escassos
No céu cinza, ressecado, me vi sentado
a rua silenciosa era só rotina e cansaços
num claustro cinza, tão cheios de traços
e todos irregulares, opaco e acinzentado
Tentei colorir a saudade, já sem espaços
aí, então em mim, o cinza ficou afogado
como se pudesse, eu haver mais regaços
Sumido neste cinza, estava o meu brado
e vi que nascia em mim, vários pedaços
do tempo, que carecia ser, então, colado
Luciano Spagnol
MEDIDA DO AMOR (soneto)
Não se tem saudade, sem ter lembrança
Não se tem amor, sem que se tenha dor
A separação é a pétala de uma rara flor
Que se desgarra do fado em sua dança
A nossa existência é um bafo de vapor
Na emoção tem renúncia e esperança
É nos riscos que nos faz perseverança
De um olhar, um sonhar, de um clamor
Não se deixa os trilhos de ser criança
Sem paixão, afeto, calor a se interpor
Pois, na vida sempre há semelhança
A distância de um amor, vai onde for
Sua medida não se afere na balança
Viverá sempre conosco, no interior...
Luciano Spagnol
Cerrado goiano
SONETO PRA OUTUBRO
Outubro, o mês da vida renovada
da casta, pura e bela primavera
tempo que fala poesia, nova era
com a vitalidade toda iluminada
É o mês dos corações na esfera
da nova celebração, nova estrada
do vento aflando cálida madrugada
de mãos dadas com terna quimera
Outubro das flores, natureza florada
em que o dia e a louvação se esmera
festejando a vida com hora marcada
E na dança da superfície da biosfera
o cerrado enroupa de frugal camada
de cor, odor, enodoando a atmosfera
Luciano Spagnol
01, outubro de 2016
Cerrado goiano
LUGAR (soneto)
Se aqui vim, o lugar cativo é além
pois aqui, acolá, tudo é transitório
no definitivo tem-se o provisório
somos todos, e todos ninguém
E nesta morada frugal, o porém
não é fazer e ou ter, em inglório
mas ser mais que o satisfatório
sorte, fado, sem tornar-se refém
Tudo tem tempo marcado, notório
se revela para alma o mal e o bem
livres na escolha, dor é purgatório
Entretanto a ignorância nos retém
no breu das chances do absolutório
pra se ter um lugar, do amor advém!
Luciano Spagnol
Cerrado goiano
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