Somos Ligados pelas nossas Alma
Nós não iremos mais adoecer fingindo ser quem não somos. Nossa liberdade é inegociável. Nossos valores pessoais transcendem qualquer imposição religiosa.
Nós que somos pais por mais presente que somos na vida dos nossos filhos não sabemos o que é um amor mãe, um dia seremos convidados a experimentar esse Dom divino.
A magia do Dia das Crianças
No Dia das Crianças, somos chamados a escavar o que o tempo enterrou em nós. Crescer é como um lento naufrágio, onde nos afogamos nas correntes da rotina e no peso das horas que se multiplicam sem cor. Perdemos, entre os dedos, o assombro que outrora dançava livre em nossos olhos. O mundo, antes vasto e inexplorado, agora é uma paisagem estática, onde já não vemos a magia que as crianças respiram.
Lembro-me do dia em que observei meu filho na cozinha, como um pequeno alquimista, sorrindo ao transformar ingredientes comuns em arte efêmera. Mexia a colher com a solenidade de quem conhece segredos ancestrais, e o açúcar, dissolvendo-se, era um rio de luz. As gotas de chocolate caíam como constelações em um céu de farinha. Para ele, aquele bolo era mais que um simples bolo. Era um sonho que se formava entre suas mãos.
Nós, que já não sentimos o encanto nos gestos diários, repetimos nossos passos sem poesia. Perdemos o ritual da criação. Fazemos, mas já não criamos. Esquecemos a dança do instante, trocamos nossos olhos de espanto por uma lente endurecida, que só busca o fim, que só quer o resultado. Quando foi que deixamos de encontrar o universo em um grão de areia? Quando foi que a música da vida se calou dentro de nós?
Que neste Dia das Crianças possamos redescobrir o caminho perdido. Que voltemos a andar descalços na terra do encantamento. Que nos permitamos tocar, outra vez, a beleza das pequenas coisas – o riso de um amigo, a sombra de uma árvore no fim da tarde, o brilho de um olhar que nos acolhe. As crianças conhecem a canção secreta da vida. Elas sabem que o tempo não é uma linha reta, mas uma dança circular. Sabem que a alegria não se alcança, mas pode ser encontrada nos detalhes mais sutis.
O mundo nos ensina a sermos frios, a contarmos o tempo em segundos. Mas as crianças nos lembram que a vida se conta nos sorrisos e nos gestos despretensiosos. A criança antevê a felicidade, não espera que ela chegue para ser feliz. Elas sabem ver o voo delicado de uma borboleta como um milagre, sabem que uma flor pode conter todos os segredos do universo. Elas nos ensinam que a verdadeira sabedoria está em desaprender. Desaprender o peso, reaprender a leveza. E assim, voltar a acreditar naquilo que só o coração pode ver.
Que neste Dia das Crianças, aprendamos, assim como elas, a amar a véspera, a alegria que já habita o instante antes da chegada. Que possamos, enfim, abrir nossos corações para a inocência e para a curiosidade que nos habita, adormecida. Porque são elas que nos mostram o caminho de volta ao que sempre soubemos: a vida é um mistério a ser vivido, não resolvido. E, ao olhar novamente através de seus olhos, talvez, só talvez, reencontremos o brilho que deixamos cair ao longo da estrada.
Se pensarmos bem, somos responsáveis por aquilo que somos
e pelo que deixamos de ser, ponhamos a culpa nas ordens que nos regem e nada seremos além de palavras passadas por telefones sem fio, aquela velha história que não chega a lugar nenhum, pois sempre tem boi na linha.
Se nossos dejetos fossem cuidados em um espaço vago do edificio já existente poderia fazer muita diferença, sacolinhas de plástico biodegradável e usinas bem dimensionadas de biogás. Talvez uma sala de logistica para o lixo e uma sauna acoplada para dar emprego para um novo tipo de profissional do futuro, que toma conta dessas prosperidades do prédio. Milagre da fermentação.
Com as sobras, tem-se ainda uma margem bem grande do que fazer, pensar nas fachadas dos prédios para utilização de métodos de aquaponia.
Arromba as privatizações, mas também pudera, não foram feitas para dar certo mesmo.
Enquanto não tomarmos plena consciência de que somos parte integrante da sociedade, ela continuará sendo o que é: boa para alguns e péssima para a maioria.
Se estamos encobrindo o que não somos por uma qualidade que podemos não ser (destruidores da natureza), estamos vivendo uma ilusão maior do que daqueles que não encobrem.
Pense bem, podemos, inclusive, virarmos fósseis e fazermos parte de uma caverna, por exemplo, mas não do aço, não da brita que destrói os fósseis, talvez da madeira bem cultivada, mas não do asfalto que edifica estradas.
Somos homens primatas, parentes de macacos
Sem rabos, símios, gibões, gorilas e orangotangos
Chimpanzés e bonobos, anões curiosos
Evoluímos, mas o caminho é doloroso
Somos o todo
Maravilhoso esse tempo infinito da nossa existência...
Uau!... Uma frequência de luz, ilimitada, que nos conduz pela escuridão da vida, somente para clarear a nossa mente; para sentir o aroma do horizonte que sempre esteve perfumando o nosso ser...
Amo sentir o seu cheiro!...
A essência da sua Essência!...
Somos espectadores
Nem sempre privilegiados,
Espectadores da vida
E tudo que não é encenado.
Por vezes trocamos de lado
E viramos os diretores
Somos também malfeitores,
Quando as coisas dão errado.
O certo, o inquestionável,
É que não haverá outro ato
Nesse espetáculo da vida
Morre-se dentro do teatro.
Somos como o sol e a lua, tão diferentes um do outro. Não vivemos um com o outro, porém, um complementa a parte que falta. Somos ímãs com ligações iônicas diferentes, mas, de alguma forma, nos conectamos como magnetismo.
Acreditar que somos meros espectadores da vida e transferir a responsabilidade para forças externas impede nosso crescimento pessoal.
A auto-responsabilidade é a chave para moldarmos nossos destinos.
O sucesso não tem o tamanho que contam pra gente. Quem sabe o tamanho somos nós.
TODAS AS FORMAS DA ESCRAVIDÃO
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Desde que somos país, já estava aqui este povo,
contraparte de sua carne, de sua alma e seus valores.
O último deles aqui chegou – proibido, em contrabando.
As correntes – do mar e ferro – trouxeram-no quase ao fim
da forma antiga da escravidão.
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Talvez fosse mulher, talvez homem...
Vou supor seu retrato: porém, jamais revelado;
vou pensar o seu corpo: ferido-acorrentado.
Para nome, darei Maria,
para não dizer que é João.
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Vocês queriam canções: doce-brancas como açúcar...
Mas, do oceano que lambe as praias, eu só quero falar destas gentes:
dos males que lhes fizeram, do pouco que lhes demos, do tanto
que lhes devemos
(vou me ater, no entanto, a Maria – aos seus filhos e pentanetos
Vou lhes seguir cada passo, geração a geração).
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Deste povo, “Todas e Todos”,
todos nós temos um pouco.
Levante a primeira gota quem souber ou achar que não,
e depois disso se cale, ou se vá para a Grande Casa,
se não se sentir como irmão.
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Primeiro nasceu Pedro, já depois da Abolição.
Filho enfim liberto de Maria, quase ficou famoso
por ser primo do já célebre Operário em Construção.
Mas não encontrou trabalho,
e, por isso, roubou um pão.
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Foi linchado em via pública
por gente de bom coração,
e isso na mesma época, em que num país mais ao norte
– entoando canções patriotas – matava-se à contramão.
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Pedro, coitado, nascera
na Era dos Linchamentos.
Já longe, entregue ao rio dos tempos,
ia-se a Era Primeira – a da velha Escravidão.
Ao norte, matava-se à farta – aqui, por um pouco de pão.
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Mas então nasceu Jorge – de uma nova geração.
Chamaram-lhe para uma guerra, para defender o país
dos tais fascistas que nos queriam impor outra escravidão.
Como neto tão direto de Maria, não lhe deram qualquer patente,
mas lhe atribuíram missão: deveria buscar minas (quando fosse a folga
de ser bucha de canhão).
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Em um passo em falso, pisou na morte!
Não teve sequer a sorte – o bravo soldado forte –
de merecer uma Missa Breve, ou de ganhar um monumento
(“É um pracinha desconhecido, de fato, mas não é da cor que queremos;
o mármore que temos é branco, passemos a honra ao próximo:
eis aqui a solução”).
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Iam-se os tempos da Escravidão,
fora-se a Era dos Linchamentos,
acabara (de acabar) a Idade da Desrazão.
Abria-se novo momento: A Era-Segregação!
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Datam de então as Favelas
tão próprias para todos; mas especialmente talhadas
para os bisnetos de Maria.
E ali, no calor de um dia,
nascia o nosso João:
finalmente um João!
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Pouco sabemos dele
por falta de documentos.
Dizem que morreu das meninges
no mais duro chumbo dos anos tristes,
na época em que a doença – proibida nos jornais –
aceitava a segregação.
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Só sabemos que foi pai
do Trineto herdeiro de Maria.
Este, por falta de qualquer emprego,
e por vergonha de pedir esmola,
tornou-se um bom ladrão.
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Roubava dos ricos para dar a pobres,
ainda que nem precisasse tanto:
seu destino já fora traçado,
indiferente à profissão,
nesta Era da Prisão.
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Também ele deixou filho
– o brilhante e sábio Tetraneto de Maria –.
A vida deste bateu na trave: quase recebeu a cota!
Mas então soube que já chegava
a Era da Assombração.
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[BARROS, José D'Assunção. publicado na revista Ensaios, 2024].
O Peso Invisível
Não, não somos obrigados a estar bem o tempo todo.
Há uma expectativa de sermos o que os outros querem,
mesmo quando eles não se entregam a nós.
Buscar paz e sossego na igreja, hoje, parece uma ilusão.
A verdade se perdeu;
Agora é como se estivéssemos em uma competição de vaidades.
E quando penso em desistir de caminhar juntos,
vem o julgamento cruel,
como se o meu amor por Deus fosse medido por mãos humanas.
Cansada de provar minha fé,
quando só Deus conhece meu coração.
Ainda assim, a culpa me pesa, silenciosa,
como uma explicação não pedida,
corroendo a alma,
matando um pouco mais a cada dia.
Clamamos por socorro, todos os dias,
e, mesmo assim, a solidão nos abraça.
Mesmo na presença do Altíssimo,
o vazio não nos deixa.
Mônica Borges
