Somos aquilo que fazemos quando Ninguem nos Ve
Mas é claro que essa luz clareia
Na dúvida, resta sempre o óbvio
Mas ninguém presta atenção
A culpa que se esconde
Meia-lua, lua e meia dupla
Noite escura, lua-cheia
Escuridão na vida
Na certeza, uma ponta de dúvida
Uma corda, uma pedra, uma ponte
Atrás da porta fechada
Um tudo ou nada
Por detrás de uma janela aberta
A pesada cortina
Uma luz apagada
Uma dúvida certa
Uma vaga certeza
Mas é claro que essa luz se apaga
Como há de se apagar
A própria vida.
Edson Ricardo Paiva.
Hoje
Pra mim
Assim como ontem
Não é dia nenhum
Assim como eu
Pra você
Não sou ninguém
Sendo apenas mais um
Posso ser
Um poeta idiota
Um palhaço
Um cara legal e desconhecido
Um amigo, um bandido ou um bebum
É provável que não seja nenhum deles
Assim como esse dia
Também tem tudo pra acabar
Sendo apenas uma marca vermelha
Num calendário que foi parar no cesto
Na primeira terça-feira do ano seguinte
Pode ser que aconteça
No instante em que você passar
Pela moldura da porta
Que estiver mais perto
de repente
Chover no deserto
Num dia qualquer
Nesta vida, onde nada está escrito ainda
O errado pode ser
Que esteja certo
Mas a visão advinda
Lá de um lugar que não se sabe aonde
Venha abrir teus olhos
Pra tudo aquilo
Que você escondia
de você
Pode ser que hoje seja
o grande dia
Tudo depende
Se você
Aprende ou não
Abrir os olhos de ver
As coisas que você procura
debaixo da moldura
das portas que essa vida dura
Permitia a você enxergar
e ao mesmo tempo
te impedia de ver.
Edson Ricardo Paiva
Era quase que assim
Um leve tremor de terra
Prenuncia o apito do trem
Só que quase ninguém percebia
O sermão durante a missa
A igreja tão cheia
E quase ninguém ouvia
Quanto ao resto da vida
Não o sabe até hoje
Da secura na boca
Calma, aguda, iludida
Muda algia rói alma
Carece de companhia
Um tanto menos pernóstica
Só fantástica e desabrida
O contrário
Era um jeito de olhar o Céu
Enxergar nele a vida
Um tanto profunda
e de olhar esquecido
Quem lhe visse podia jurar
Era antes pequeno desejo
Jamais um pedido
A vida meio vazia
A outra metade era vida
No outro dia tanto faz
A semente bem regada
Cuidada por cuidar
Pois de lá não saia nada
Assim era tudo
Enfim, um saber calado
Um verso oculto
Cujo vulto do tempo
Escreveu apressado
Se está fora de lugar
O correto é cair
Equilíbrio é o silêncio que faz
A vidraça parecer escura
A paz que precede a chuva
Sempre que a chuva vem
A água evapora
A alma cura
Entretanto ela chora
Tempestade, água turva
A curva do rio, a lagoa
Fatalmente o ponteiro, a hora
Por ora, balaio no chão
Canta muda
A canção silenciosa
E somente o coração escuta
Roupa suja, varal
Ensaboa um sinal da vida
Outro aceno do mundo
Desalento um segundo
Quando meio segundo
é momento
A saber
Água limpa
Não lava alma turva
Acredite em não crer
O saber de cada receio
Escondido em gavetas
Espalhado pelo imenso mundo
Se contar nos dedos
A qualidade de tantos medos
Reais e de faz de conta
Um mais um, às vezes são dois
Mas, de vez em quando, não
É aí que mora a diferença
Entre pensar
E pensar que pensa
Olhar e saber na hora
Àquilo que vem
Sem demora.
Edson Ricardo Paiva.
"Vale o escrito
Desde que tal ato
A ninguém seja dito
E assim segue a vida
Mesmo que ninguém saiba pra onde
E no fim se descobre
Que o maior alívio é viver sem motivo
Evitando o desconforto
De saber-se vivo
Apesar de morto"
Edson Ricardo Paiva.
Apesar de tudo, estamos sós.
Tem horas que a luz da verdade
Sem a ajuda de ninguém
Ela vem, ela invade, ultrapassa
A velha linha imaginária
Que, em algum momento
Nós nos impusemos
De maneira tão despercebida
Permitimos que fizesse parte
Parte integrante de toda uma vida
Vida inteira, delirante
Palavras e palavras
Que, sem conta e sem sentido
Tanto açoitam meus ouvidos
Tem horas, raras horas
Que a verdade vem
Sim, tem momentos assim
Que imploramos que se vá no vento
E nos deixe em paz
Porque depois de algum tempo
Simplesmente nos acostumamos
Estamos velhos e cansados
Tanto faz e pouco importa
Sim, nós somos loucos o bastante
A permitir que esses poucos momentos
Se vão, que nos deixem aqui
Do lado de cá da linha
Tristes e sozinhos
Apesar da luz e tudo que ela faz
Na verdade estamos sós
Nós, as nossas lembranças
e o medo do desconhecido.
Edson Ricardo Paiva.
Não preciso provar nada mas,também não quero ser duvida pra ninguém,não quero correr atrás mas, também não sou uma árvore pra fica sempre no mesmo lugar,não sou todo luz mas, também não sou aquela escuridão absoluta,não quero ser selvagem mas também não serei domesticado facilmente,suas mãos me acalma...
Existe alguma coisa
da qual ninguém se recorda
É como um sonho
Que rapidamente se dissipa
Assim que a gente acorda
E isso permanece latente
Independente do que a gente viva
E enquanto a gente vai vivendo
Coloca tantos outros interesses
Acima daquilo que interessa realmente
Principalmente a pressa
Que não nos permite
Enxergar os raios coloridos
Que a Terra também emite
Todo dia, quando o Sol se põe
O quão bonito que é
Olhar os pássaros a se recolher
Eles pousam em algum lugar
Sempre em bando
E um deles fica distante
Piando de vez em quando
Procurando algum recalcitrante
Que ainda não veio
Eu gosto de olhar as folhas que caem
e a maneira que se comportam
Cumprindo a sua missão
encerrando seu ciclo, humildemente
às vezes, elas tem ao seu lado as pedras
E está tudo interligado
Intrinsecamente unido
de modo que a única coisa que falta
é aquilo que eu disse
que a gente não recorda
Se a gente descobrisse isso
Talvez a gente se integrasse a esse todo
E deixasse de ser somente
Um Ser à parte
Perdido e esquecido
Tenho a impressão de que somos
Em meio à criação
O pássaro que não veio
E tudo isso está esperando por nós
Pra não nos deixarem sós
O Alfaiate de Jerusalém
Trabalha como ninguém
Fazendo os acessórios necessários
para acompanhar a dor alheia
Isso não lhe causa, em absoluto
O mínimo prazer
Mas alguém precisa fazer
E ele procura atender à demanda
Outrora produzia Cruzes
Mas a Humanidade concluiu
Que toda aquela produção
Era por demais pequena
E, desde que produzimos
A bela primeira centena de arcabuzes
A produção vem, desde então
Crescendo vertiginosamente
O alfaiate só promove as despedidas
E não gosta do que faz
E também não faz
Somente consolida
Nomes, o alfaiate os tem, de toda sorte
Muita gente o chama de Morte
Conclamando seu nome
Qual fosse uma vitória
O Alfaiate produz
Indumentárias em madeira
E as costumeiras tralhas
Que as acompanham
Por hora faz mais de Cem
Pra mandar embora, sem demora
Aqueles que um grupo encomendou
Enquanto outro grupo chora
Amanhã, se invertem os papéis
Há milhares de anos não tem descanso
Nunca o teve, nem um dia
Não há lugar para os mansos
Bem-Aventurados, amanhã serão
Aqueles que hoje tiverem
A mais precisa pontaria
Vida
Passagem mágica
Em algum lugar
Onde não há de ficar
Ninguém
Esquecida
essa viagem sem lógica
Ela será perdida
Se eu mesmo não fizer valer
Esse absurdo que deu certo
Eu nasci só
e ao pó hei de voltar
e vivo sem haver
Ninguém distante
e muito menos perto
Que tenha merecido
O amor que dediquei
Não faz mal
O amor de Deus me quis
E o amor de Deus me fez
Talvez demore
Mais um ano ou mais um mês
Pra que Ele desfaça
Entre eu e este Mundo
Seus laços
E eu possa mergulhar, enfim
Numa ausência
Constante e sem fim
Eu deixo a vocês um abraço.
Não sei dizer
Quantos anos vivi
E creio que ninguém saiba
Eu acho que nada explica
Aquela coisa pequena
Pura e boa
Que em dado momento
a gente vive como coisa à toa
Mas...por mais que o tempo passe
Ela fica:
Minha mãe ao meu lado
Nós dois escorregando num Tobogã
A primeira vez
Que eu vi cada irmã
A namorada me dizendo
Que estava tricotando pra mim
Uma touca de lã
Esses pequenos pedaços
de coisas alegres e bonitas
Que não deixamos escritas
é que definem quem somos
E vão morrer junto com a gente um dia
Pois se desta vida algo se leva
Não é rancor nem sofrimento
Porém, aquilo que a alma eleva
Resume e faz valer uma vida
Mesmo que dure
Somente um momento
Não deu no jornal
Ninguém veio dizer
Mas eu sei
Que as pessoas solitárias
Podem muito bem
Acabar eternamente
Com essa solidão
Que de longe parece
dolorida e constante
Mas quando se olha de perto
e pra dentro
Percebe-se
Que quase todo mundo
Esconde em si
Um deserto bem maior
Enfeitado
De algo que já não existe
E vive num mundo
Insano e delirante
Recheado
de uma esperança cortante
Um diamante às avessas
Torna-se carvão
Um coração repleto e completo
Rodeado
da pura, boa e velha
Solidão.
Não conheço
Ninguém que não sonhe
Conheço gente
Que mente a si mesma
Enquanto tenta
Conformar-se e desistir
Negando-se o direito
de ao menos tentar
Viver como gostaria
E passa um tempo infinito
Afogando tudo aquilo
de bonito que traz no peito
E tenta viver sem sonhos
Enganada
Quer viver de outro jeito
Julga não valer à pena
Tamanho sacrifício
Não percebe, que na verdade
Difícil
É viver a realidade
e triste
É viver sem sonhar
Ainda bem que o ontem se foi
Ninguém suportaria revivê-lo
O ontem que se foi, deixou saudade
Mas é só isso
Meu compromisso é com o presente
E nem assim posso cumpri-lo
da maneira eficiente
Que o momento merece
Esperei anos e anos
Pra chegar ao presente instante
E ele passou correndo
Invisível
Bem diante dos meus olhos
indiferente ao fato
de nenhum de nós haver se preparado
convenientemente para aguardá-lo
Mas o tempo é assim
Passa
e parece indulgente
mas não o é
ele sempre nos aguarda
Um pouco mais adiante
Até que, num instante qualquer
realmente
Haverá de ser
Aquele momento para o qual
Você jamais se preparou
e passaste a vida vivendo à esmo
Quer saber?
Não faz mal.
Vai sem preparo mesmo.
Edson Ricardo Paiva
Uma centelha de vida
Surgiu, brilhou, voou
Escapuliu
Aquele tempo passou
e ninguém viu
Nem Percebeu
O tempo é um relógio
Quebrado e parado
Todas as coisas impossíveis
Apenas assim as são
Até que se tornem possíveis
O colorido que se apagou
Não mais poderá
Eternizar-se assim
Não se pode enganar o tempo
Aquela centelha de vida
Que surgiu
de onde ninguém sabia
Que viria
Voou, brilhou
Salvou o dia
Escute a melodia
Que vem do outro lado do espelho
E a tudo desmonta
Pra que as coisas possam
Eternamente e pra sempre
Remontar-se novamente
Num sonho
e é lá
Que a gente se encontra.
Edson Ricardo Paiva
Talvez a ninguém interesse
Creio que não vale a pena
Eu sou apenas um velho tronco
Um pedaço de árvore
Que um dia existiu
Só semente que cresceu aos poucos
E os lugares onde eu fui
Foi seguindo o mundo
Conforme o tempo flui
Eu viajei no tempo
Vendo irem-se os dias
Assim como vão as montanhas
Assim como as pedras
Porque nada é eterno
E tudo é sempre
Sempre louco
Não andei como andam as nuvens
Mas as nuvens também se vão
Sempre se vão
E eu não sei pra onde é que elas vão
Pois duram pouco
E eu só sei que todas se foram
E eu aqui parado
Fui vivendo ao lado de estrelas
Fui vivendo ao lado do Sol
Penso até que o Sol seja uma delas
Penso que tudo flutua
Flutua junto ao rio do tempo
O rio do tempo ruma
A caminho de lugar nenhum
E eu, por não ser nada
Não sou nada
Como nada são as montanhas
Como nada são as pedras, as nuvens
Estrelas e as gentes
Sou somente um velho tronco
De outra árvore que existiu
Que outro dia era semente
E foi crescendo
Cresceu em direção ao Céu
Não sei meu nome
Não me lembro se gravaram
Nome em mim
Só sei que o Céu se move
E move as nuvens e elas chovem
E molhavam minhas folhas
Que secaram, porque tudo chega ao fim
Assim se foram
Como tudo sempre vai
Se vai sem rumo
Destino a lugar nenhum.
Edson Ricardo Paiva.
Tantas vezes
Ninguém poderá dizer
Quantas vezes
Eu vi pássaros voando
E desejei voar com eles
A saber que jamais poderia
Até que eu percebi
Outras coisas que eles ensinam
Com seu jeito simples de viver
Que não se vê
Se pensa em voar
Por causa de coisas assim
Que não se lê
A poesia
Que o pássaro escreve
Sempre que ele pousa
Com seu jeito leve
A viver com tão pouco
E de estar satisfeito com a vida
A calma que me traz seu canto
Faz minh'alma flutuar
E por um breve momento na vida
Me convida a voar como o vento
Voar de um jeito que eu um dia irei voar
Mesmo que esse dia não seja hoje
Voar pra longe, muito longe
Voar pra mais longe
E nunca mais voltar.
Edson Ricardo Paiva.
Eu duvido
Quase nunca
Ninguém
Há de saber
Qual é
Devido
À fé que não se tem
Até que não se tenha
É como apanhar
Um espinho num jardim
Apanhe
Sem saber qual é
Até que assim ele te arranhe.
Edson Ricardo Paiva.
Um sonho em preto e branco
É sempre um sonho
Pois ninguém que há neste mundo
Nunca sonha por vontade própria
O vagabundo que sonhou ser luz
Iluminou todo o universo
Em sua vasta imensidão
Pra descobrir que só ser luz não basta
E concluiu
Que, por veloz que seja a luz
O seu destino é sempre o escuro
E que o vento que arreia a floresta se vai
Sobrando sempre um ipê que cai
Aquele vento que passou
Não há de voltar jamais
Mas ninguém vê
Não perde tempo a pensar
E nem pensa
Que quem derrubou o ipê não foi o vento
Foi o tempo, que o fez crescer
As árvores que não caíram
Se vergaram por sabedoria
E jamais em reverência
Um sonho em preto e branco
É como um sonho colorido
Pois todo aquele que não tem ouvidos
Desconhece o som de um ruído
E pra ele é boa a vida e o mundo é bom
E cego e surdo como a luz
Veloz me sento à sombra de um ipê
Entrego ao chão o sal de uma última
lástima
Pra que deixasse ficar
No vácuo que há em volta de mim
Um espetáculo de luz e de som
E concluí que a vida foi um sonho muito bom
Pois meu mundo sempre foi desse jeito
Eu aprendi a ser feliz assim.
Edson Ricardo Paiva.
Um dia um amor existiu
como flor que ninguém nunca viu
uma flor por você, que partiu
E esse amor foi maior do que eu
uma flor que você não colheu
e que só por você insistiu
e que eu não dividi com ninguém
um amor que você não sentiu
uma flor que era sua também
um jardim que criei só pra nós
e esperei por você que não veio
pra poder dividir meio a meio
foi assim que deixei de cuidar
de um amor que você não sentia
uma flor que você não queria
um jardim que existiu e era seu
agora escrevi pra avisar
Que hoje essa flor morreu.
Fechei meus olhos para não chorar
chorei pra dentro sem ninguém ver
as lágrimas escondidas
são sempre as mais sentidas
menos acreditadas
e apesar de ter chorado
sou eu quem precisa perdoar
