Rompendo Lacos-Carlos Drumond de Andrade
Amor
Vamos brincar, amor? vamos jogar peteca
Vamos atrapalhar os outros, amor, vamos sair correndo
Vamos subir no elevador, vamos sofrer calmamente e sem precipitação?
Vamos sofrer, amor? males da alma, perigos
Dores de má fama íntimas como as chagas de Cristo
Vamos, amor? vamos tomar porre de absinto
Vamos tomar porre de coisa bem esquisita, vamos
Fingir que hoje é domingo, vamos ver
O afogado na praia, vamos correr atrás do batalhão?
Vamos, amor, tomar thé na Cavé com madame de Sevignée
Vamos roubar laranja, falar nome, vamos inventar
Vamos criar beijo novo, carinho novo, vamos visitar N. S. do Parto?
Vamos, amor? vamos nos persuadir imensamente dos acontecimentos
Vamos fazer neném dormir, botar ele no urinol
Vamos, amor?
Porque excessivamente grave é a Vida.
O sentimento segue aquilo que amamos. Se amamos o que é verdadeiro, bom e belo, ele nos conduzirá para lá. O problema, portanto, não é sentir, mas amar as coisas certas. Do mesmo modo, o pensamento não é guia de si próprio, mas se deixa levar pelos amores que temos. Sentir ou conhecer, nenhum dos dois é um guia confiável. Antes de poder seguir qualquer um dos dois, é preciso aprender a escolher os objetos de amor – e o critério dessa escolha é:
Quais são as coisas que, se dependessem de mim, deveriam durar para sempre?
Há coisas que são boas por alguns instantes, outras por algum tempo. Só algumas são para sempre.
A melhor definição do amor não vale um beijo.
Nota: Trecho ligeiramente modificado do original, presente no conto "O Espelho".
...MaisTempo é um tecido invisível em que se pode bordar tudo, uma flor, um pássaro, uma dama, um castelo, um túmulo. Também se pode bordar nada. Nada em cima de invisível é a mais sutil obra deste mundo, e acaso do outro.
- Exatamente, disse a raposa. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos.
E eu não tenho necessidade de ti.
E tu não tens necessidade de mim.
Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás pra mim o único no mundo. E eu serei para ti a única no mundo...
Mas a raposa voltou a sua idéia:
- Minha vida é monótona. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei o barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora como música.
E depois, olha! Vês, lá longe, o campo de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelo cor de ouro. E então serás maravilhoso quando me tiverdes cativado. O trigo que é dourado fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento do trigo...
A raposa então calou-se e considerou muito tempo o príncipe:
- Por favor, cativa-me! disse ela.
Nota: Trecho do livro "O pequeno príncipe"
Esquecer é uma necessidade.
Nota: Trecho do conto "Verba Testamentária" de Machado de Assis. Link
É preciso tomar cuidado com as paixões impossíveis, nestes casos achamos que quanto mais difícil for para conquistar a pessoa, melhor, mais seduzidos ficamos. Isto não é amor, isto é vontade de ganhar, não é vontade de amar. Este amor idealizado é que gera sofrimento. Se o amor não é correspondido, deve-se simplesmente deixar a outra pessoa ir embora. Se um amor não correspondido está gerando muito sofrimento, provavelmente não se trata de um amor verdadeiro, sendo apenas uma idealização feita da pessoa, em que alguém se apaixona por aquilo que pensa que o outro é, e não por aquilo que ele realmente é.
Escolho os meus amigos pela cara lavada e pela alma exposta.
Nota: Esse pensamento vem sendo repassado como sendo de diversos autores, entre eles Oscar Wilde. No entanto trata-se de um trecho do texto “Crônica para os Amigos” de Sérgio Antunes de Freitas, publicado em 23 de setembro de 2003.
...MaisAcho que a felicidade é uma espécie de susto; quando você vê, já aconteceu. Ela é justamente uma construção pequena de todos os dias...
Pois o que faço não é o bem que desejo, mas o mal que não quero fazer, esse eu continuo fazendo.
Eu sem você
sou só desamor
um barco sem mar
um campo sem flor.
Minha vida é monótona. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente de outros...
Curiosidade: instinto que leva alguns a olhar pelo buraco da fechadura, e outros a descobrir a América.
Nota: Versão adaptada de Link
LUÍZA, A MULHER QUE NOS ENSINA
Luíza é o seu nome. A dor que sente não tem nome. Brota das razões mais secretas da alma. Coisa de mãe, coisa de gente que soube recriar o mundo a partir do próprio ventre. A maternidade coloca as mulheres numa parceria invejável com Deus!
Luíza contou-me rapidamente sobre sua dor. Eu não pude ver os seus olhos, mas pude escutar sua alma.
O seu filho de 30 anos, médico, oficial da marinha estava morto. Vítima de uma fatalidade, perdeu a vida ao atravessar um cruzamento em Florianópolis.
Depois que ouvi Luíza eu fiquei pensando no mistérios das perguntas que nos rondam, toda vez que a dor vem nos visitar.
Fiquei tentando entender o quanto deve ser difícil para uma mulher ter que protagonizar a imagem da Pietá, a virgem que segura o filho morto nos braços, aos pés do calvário.
Recolher o filho do chão, aconchegá-lo ao colo e despedir-se dele definitivamente.
A crueza da cena é uma proposta ao silêncio. Arranca-me do mundo das palavras, das respostas prontas e faz-me sentar ao chão, ao lado da mãe, para que eu possa ouvir sua respiração ofegante de dor.
Arranca-me dos meus livros, da minha Teologia sistematizada e convida-me a sujar-me na terra do calvário, onde o sangue do filho mistura-se às lágrimas da mãe.
Mistura diferente daquela que o trouxe à vida, quando o seu sangue circulava dependente do sangue da sua primeira mulher.
Lágrimas diferentes de tantas outras já derramadas. Lágrimas de alegria por ver o filho dar os primeiros passos; lágrimas de preocupação em noites em que ele demorava voltar pra casa. Lágrimas de vitória, quando em noite especial e de gala, aquele garoto crescido, que até tão pouco tempo lhe confiava os joelhos esfolados de futebol, de quedas de bicicleta, agora estava pronto para medicar as dores do mundo.
Um filho especial, como ela mesma me confiara.
Luíza e sua dor. Luíza e suas saudades. Luíza e suas lições.
Fiquei pensando nas minhas pequenas reclamações. Nos cansaços diários que me desiludem e que me despregam da alegria. Pensei no coração de Luíza e quis deixar de reclamar da vida.
O meu sofrimento perde a sua força quando eu o coloco ao lado dessa mulher. E nisso já está a ressurreição do seu filho. Esta dor nos ensina e nos coloca no rumo da sabedoria. Da mesma forma que Maria nos aponta para o sofrimento de Jesus, para que entendamos o nosso sofrimento.
Maria e Luíza são mulheres parecidas nesta hora. Ambas embalaram o filho morto nos braços. Canções de ninar secretas foram entoadas nos silêncios dos lábios. O choro de mãe é oração que tem o poder de mudar o mundo. Só precisamos parar para ouvir...
Hoje, no silêncio de sua dor, pare pra pensar no sofrimento de Luíza. Exercite-se na proeza de esquecer o que lhe aflige, e recorde-se dessa mulher que desconhecemos o rosto, mas conhecemos a dor. Ela tem muito a nos ensinar. Ela é um livro que pode ser lido sem palavras. Ela é um testemunho vivo de que na vida, mesmo nas perguntas mais doídas, há sempre uma esquina que pode nos dar outras opções, além da morte.
Na prece silenciosa que essa mãe nos desperta, permaneçamos.
Amém.
Acreditar em si mesmo.
O maior inimigo que nós podemos ter na vida não está de fora. O maior inimigo que nós podemos ter na vida está aqui dentro, sou eu, eu é que faço perder. Durante muito tempo eu pensei que os meus problemas fossem causados pelas pessoas que estavam de fora, mas não é verdade. O maior problema quem causa somos nós, é o tanto que a gente deixa o outro nos afetar, é o tanto que a gente deixa o outro nos dominar. O primeiro passo para mudança tem que ser meu, eu é que tenho que tomar posse dessa mudança e reorientar a minha vida então se eu cometi erros demais no passado, eu preciso me reconciliar com eles agora. Não é possível a gente continuar a vida sem fazer esse processo da reciclagem do que passou. O passado tem que ser reciclado. Da mesma maneira que o rio precisa ser purificado, eu também preciso dessa purificação todos os dias porque se não daqui a pouco eu sou um lugar insuportável para os outros. Pessoas são semelhantes aos rios, gente, nós vamos vivendo um processo de poluição...passa um joga um lixo, passa um joga uma garrafa. O ser humano é a mesma coisa, por onde você já passou por essa vida, o que que foi que os outros jogaram em você e que você não retirou das águas? Se a gente não põe em ordem os sentimentos do dia, se a gente não faz uma triagem das coisas, nós vamos nos transformando num rio poluído. Sou eu que tenho que acreditar em mim, não é o outro que tem que ficar olhando pra mim e dizendo ‘eu acredito em você’. O que vai convencer o outro de que eu estou mudado e reconciliado com o meu passado não é o que eu falo, é o que eu vivo! E o que nós precisamos muitas vezes é firmar um novo jeito de viver. O que as vezes falta em nós é justamente essa coragem, determinação, de tirar logo as coisas que estão nos incomodando. Vamos pra frente, minha gente! Pra que ficar lamentando o que não deu certo, pra que ficar lamentando aqui o lixo que jogaram em mim naquele dia ou a poluição que me causaram. Eu agora estou diante de tudo isso, preciso dar um jeito, não tenho como negligenciar essa limpeza, sou eu que tenho que fazer, o inimigo não está fora, o inimigo está é aqui dentro e se tem alguém que pode fazer eu perder esse jogo sou eu mesmo. Quantas pessoas na vida não conseguem chegar lá, não conseguem alcançar os objetivos porque entregam os pontos antes da hora? Não teimam. Gente, nós temos que ser teimosos e Jesus nos ensina isso, essa teimosia bonita, né: eu quero isso, eu vou lutar por isso porque eu acredito no valor disso. É como você amar alguém, não desistir, porque você está vendo o que o outro ainda não viu.