Recados de Amor
Farei o possível para não amar demais as pessoas, sobretudo, por causa das pessoas. Às vezes o amor que se dá pesa, quase como uma responsabilidade na pessoa que o recebe. Eu tenho essa tendência geral para exagerar, e resolvi tentar não exigir dos outros senão o mínimo. É uma forma de paz… Também é bom porque em geral se pode ajudar muito mais as pessoas quando não se está cega de amor.
Nota: Trecho de carta para Elisa Lispector, escrita em 19 outubro de 1948.
...MaisVocê quer me contar que sente angústia e não sabe amar. Você sempre quer me contar que sente angústia e não sabe amar como se isso fizesse de você mais misterioso e complicado e “escolhido pelo capeta” do que os outros mortais. Ninguém sabe amar, todo mundo tenta amar porque é preciso pra não se matar, todo mundo ama entre essa de não saber e tentar e não se matar. Ter um estômago enjoado é o que nos diferencia de bonobos. Buhuhu pra você. Mimimi pra você. Lembro de quando eu não sabia dirigir carro automático mas te vi dormindo tão bonito e quis tirar o seu carro da rua perigosa e colocar na minha vaga. Eu demorei trinta minutos pra conseguir fazer isso. Eu voltei pro quarto e você me olhou com dó e disse que não conseguia ficar e foi embora. Eu também não consigo ficar. Eu também não consigo pensar que estou estacionada na vaga de uma pessoa.
A ti... a quem um dia conheçi sem conhecer.... a quem um dia amei...pensando ser amada....e do qual agora apenas restaram recordações... do que foi sem ser...do que tive sem ter....de um sonho ,que como todos os sonhos acabam.
"Um dia voçê foi meu
seu corpo cansado foi meu
seus lábios em brasa, só meus
seus olhos em mel de maio
as mãos de procura no vazio
cabelos macios de vento
só meu você todo, só meu
um dia você se foi
seu corpo em brasa, se foi
seus lábios em fel de março
seus olhos de procura macios
de vento dos seus cabelos
só meu o vazio, só meu
vazio cansado, abandono
das mãos de adeus, adeus
procuro no nada você
e vejo que nunca foi meu"
Quando elas nos amam, não é de fato a nós que amam. Mas é bem a nós que, um belo dia, elas deixam de amar.
Que esta minha amada paz e este meu
amado silêncio
Não iludam a ninguém
Não é a paz de uma cidade
bombardeada e deserta
Nem tampouco a paz compulsoria
dos cemitérios
Em mim, na minha alma,
Pressinto que vou ter um terremoto
Da amada: Como uma macieira entre as árvores do bosque, assim é meu amado entre os moços.
Do amado: Como o lírio entre os espinhos, assim é minha amada entre as moças.
