Poeta Viver Sozinho Solidao
UMA TRAMA (soneto)
A trama da perda tece o vazio
com fios do sofrer trançados
numa arte com a dor casados
que não abafa o frio arrepio
Ter e perder, já estão tramados
no fado, sem nenhum extravio
mesmo que a sorte cate desvio
as intenções darão seus brados
Pratique perder no ritual e feitio
para assim adoçar os finados
alvejando o olhar no ato sombrio
Perdi, perdeu, são passados
até perder, viva sem fastio
pois elas não deixam recados...
Luciano Spagnol
06, setembro, 2016
Cerrado goiano
CADÊ A CHUVA?
Cerrado, árido, ressecado
sem chuva, cheio de curva
pede , implora, sem demora
pingos, pode ser respingos
agora, embora hora é hora
água, pra molhar a mágoa
veloz, feroz, gotas em nós
venham, e se mantenham...
Oh chuva!
Com sol casamento de viúva
qualquer forma, o que vier
breve, leve , releve
você nos deve!
Então, cadê o trovão
traga pra secura candura
e ao dia pura alegria...
Piúva! Cadê a chuva?
Tão bão, ouvir-te no chão.
Luciano Spagnol
Cerrado goiano
NA SEQUIDÃO DO CAMINHO
No caminho tinha uma folha seca
desgarrada uma folha seca tinha
no caminho do cerrado
uma folha seca no caminho tinha
Nunca me esquecerei desse evento
na sequidão do cerrado ao vento
no caminho tinha uma folha seca
Nunca me esquecerei que no caminho
tinha uma folha seca
Na sequidão do caminho
uma folha seca tinha
no caminho tinha uma folha seca
Luciano Spagnol
Cerrado goiano
Parodiando Carlos Drummond de Andrade
(No caminho tinha uma pedra)
LÁGRIMA QUE CAI
Se cada lágrima cai, da ilusão
vinda do coração
há uma fenda
por onde a emoção tenda
há de então fazer oclusão
com a razão
e na paciência de condutor
abrir as comportas do amor
Luciano Spagnol
Cerrado goiano
AVE DOLOROSA
Ave no peito num letargo
Que arde sem um fulgor
Postulo por rever o amor
Perdido no olhar amargo
O fado, ave negra de dor
Ajoelhada num embargo
Orada na fé sem ter argo
Duma crença sem clamor
Ave cheia da graça, Maria
Aos teus pés em romaria
Meu lúrido olhar, mendiga
Quero fé, mas não irradia
Ave dolorosa sem poesia
Deixe-me desta má figa!
Luciano Spagnol
Cerrado goiano
SONETO BREVE
Curto é o caminho que termina a vida
E nele: por do sol, luares, risos e dores
Pra no final mancheia de terra e flores
E se deixar saudade lágrima na partida
E nesta despedida, que seja sentida
Se não, que seja pelos reles valores
Afinal: - amei e tive os meus amores
Todos na forma pela alma absorvida
Senti sabores por onde pude passar
Tive traidores, mas aprendi a perdoar
Não se vive inteiro se não tiver amor
E na morte, brando quero ter o olhar
Minha fé é minha sorte, meu rezar
Neste sonho vou sonhar com o Criador!
Luciano Spagnol
Cerrado goiano
CLAUSTRO
No silêncio do claustro solitário
Do vazio acerado desta morada
Numa vastidão da noite calada
Sombria aflição urde o cenário
Nele vagueio, e levo vergastada
Da tristura, desfiada num rosário
De lágrimas, sem um destinatário
Em cinzas de uma época passada
Na cíclica ladainha do fado vário
Aí, rezada em oração desfilada
Os ás da solidão do proprietário
E pelo claustro, a lacuna é criada
Em saudades, ausente no sacrário
Silenciado em uma muda fachada
Luciano Spagnol
Cerrado goiano
AMANHECER
Abra a janela dos teus olhos,
preze a maravilha
do amanhecer.
É a vida renascendo, cantante,
bela,
No seu fugaz instante.
É preciso ir além, da cancela...
Acreditar,
tudo é constante,
quando existe o admirar...
Da dor faça um mirante
pra ver a alegria
contemplar.
Sorria! É mais um dia...
Luciano Spagnol
Cerrado goiano
Balbuciam os tímidos
Juntos com olhos
Que tecem ideias no ar
Dizem não dizendo
Quanto são incapazes
De amar
(Trecho do poema Sayonara e Nara...)
Não é o excesso de dinheiro que tornará um homem verdadeiramente rico e nem é a sua pouca quantidade que o fará humilde.
Vencer é um conceito muito relativo. Pois a premissa da derrota não é a consequência da disputa, mas sim a ausência da lição!
Todos os lares são reinos. Que se não forem totalitários e nem tampouco desgovernos, tornar-se-ão seguramente sólidos paraísos!
Os fogos são mesmo grandes e covardes artifícios, que iluminam faces alienadas, que contrastam com seus corações anoitecidos e que nunca alcançam a penumbra sob os viadutos da exclusão social. Porque feliz ano novo só existe com pão e dignidade para todos!
Até o céu é menor que a arrogância daqueles que se julgam superiores. Razão por que ficarão de fora todos os racistas!
Toda mulher tem o direito de fazer o que quiser com o próprio corpo e não sobre outra vida. Aborto é crime moralmente hediondo, cujas consequências são físicas e terrenas, mas de repercussões eternas!
E o que é o amor em sua filosófica amplitude, senão a bandeira da verdade, chamando o coração e o caráter ao justo e necessário conflito?
O valente não é aquele que esbofeteia a face de seu adversário, mas sim o que aniquila seus próprios interesses a guerra por um bem maior!
Que o mal corriqueiro e banalizado regresse urgentemente para o reino das raridades, antes que seja tarde demais para a prática do bem!
