Poeta Viver Sozinho Solidao
Quem é do bem, quem é da luz não faz do ódio o seu cartão-postal. Entende-se por fazer do ódio um cartão-postal, é quando se odeia com a desculpa de "ódio do bem", para se vingar, para fazer protestos inconsequentes, enfim.. tudo aquilo que é contrário à luz!
SÚBITO REVÉS
Súbito revés de algum sentimento oculto
entre as dobras da frustração em entono
sacode-me, eu tristonho, e no abandono
da solidão, e que na emoção faz tumulto
Mas este terror sombrio e sem indulto
que levo no peito, e a tirar meu sono
apodera-se e se declara agente e dono
do sossego, tirano e vomitando insulto
E eu sinto o árduo suspirar da saudade
preso no encolhimento da imensidade
que me joga na sofrência que me guia
Sinto nada de mim, salvo a sensação
que bate desesperada e com tensão
e que amofina a poética vazia e fria
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
22/11/2020, 15’04” – Araguari, MG
REMOINHAR
Fui no destino um amador exaltado
Tudo era pra vida um bem ovante
Ser, o haver, uma sensação cintilante
Do desejo, um sentimento sagrado
Fui apegando ao amor arrebatado
A vida se importava com o instante
A alegria no peito mais penetrante
Este um afável e amante passado
Sei bem o ruim de se achar solitário
Na eloquência dum triste cenário
Singular, então, não seja tardança
Ó emoção tão enigmática, talvez agora
Gire, e seja contagiante como outrora
Diz-se que o amor é eterna esperança!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
23/11/2020, 08’22” – Araguari, MG
Aqueles que amamos nunca morrem, apenas partem antes de nós.
Fica a saudade, e nossas orações em um monólogo de fé. Que se
torna um diálogo com Deus.
Luciano Spagnol - poeta do cerrado
Triângulo Mineiro, novembro de 2020
Você abrir todo dia sua boca pra falar de seus problemas, de seus fracassados e tribulações, faz cada dia apagar uma estrela não no céu de sua boca, mas no céu de sua vida.
CHICOTE
Se punição por vos desejar se merece
Qual desejo está isento? e ao vento?
Na sua razão do ingênuo sentimento
Solto das amarras, e que se esquece
Qual mor amor no fado se oferece
Que dedicar-se a vos todo o tempo
Em glória e tão repleto de fomento
Que no bem e ventura se apetece
Porém se ei de punir a quem, infando
Que seja ao meu coração sofrente
E assim o meu amargar é todo vosso
No meu haver, podeis, até quando
Ordenar nele o ocaso inteiramente?
Se ter-vos enamorado, não posso!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
26/11/2020, 08’34” – Triângulo Mineiro
O atalho é o caminho curto. Quem segue o caminho curto não curte a vida, porque encurta a sua vida.
A MINHA SORTE
Quis Deus dar-me a sorte dum amor amado
Como o pôr do sol no cerrado, pura poesia
Dar-me uma cumplicidade, ser apaixonado
Um bailado de emoção em boa companhia
Quis Deus dar ao fado fortuna e empatia
Com sensação ardente e olhar enamorado
No prazer ter a sede com volúpia e ousadia
Incrível, como é bom ter o afeto povoado!
Quis Deus mimar-me com áurea dourada
Da satisfação, e então, a graça encantada
Dos carinhos e dos beijos que eu sonhei!
Anda! Depressa! Onde? Eu posso embalar?
Nada mais se esconde, no vão, quero amar
E suspirar o viril sentimento que encontrei!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
27/11/2020, 20’01” – Triângulo Mineiro
APARTADO
Cansei-me de tentar o teu enredo
Na tua poética sem frase e afeto
Meu versar anuviei por completo
Tal o pôr do sol atrás do rochedo
Sentimento da tua alma, segredo
Teu, perturbado eu, neste soneto
Foi meu desejo, não mais secreto
Se chorei foi somente por degredo
Cansei! Sossegado está o cerrado
Esfriou sobre o desprezo concreto
A quem um dia estava apaixonado
E desse meu turvo silêncio discreto
Leia entre linhas um sofrer calado
Que assim tem o apartado adjeto!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
28/11/2020, 11’01” – Triângulo Mineiro
QUANDO FOR AMOR
Não há amor que não tenha um encanto
Todos são cheios de emoção e de magia
O haver, por mais dissonância, tem tanto
Lirismo, que há de ter sensação e poesia
Mas acaso nada tem, temos, no entanto
A quimera que nos dá a ingênua fantasia
A pureza, a companhia, então, portanto
Cada um, um bem, um cheiro e ousadia
E nas surpresas da vida, aquele certo
Amor. Sentimento liberto e sem dor
Pois, no querer o desejo foi desperto
O sonho que se vive, ó curioso valor:
Farto em ventura ou se falto na flor
O amor, se define, quando for amor...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
28/11/2020, 19’51“– Triângulo Mineiro
TRISTE MENINA
Chora cá a tua morte pra eternidade
os soluços que assim a memoraram
as lágrimas arrancadas não secaram
nos carecentes campos da saudade
Aflitiva entre as aflitas a tua verdade
molesta por todos faltos que faltaram
as tuas consumições nunca cessaram
na tua meiga e agitada sensibilidade
Então, sonha aí, posta na conciliação
no teu moimento da campa santa
agora pode aquietar o teu coração
Dorme, na graça e na união Divina
dói n’alma o silêncio que agiganta
ide em paz, saudosa, triste menina!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
28/11/2020, 11’23” – Triângulo Mineiro
Sétimo dia da Páscoa da prima Flávia Magalhães Nogueira
VENDAVAL EM CANTILENA PROSA
Cai no cerrado, ó chuva, e nos beirados
Sussurrando sons que o apavorar fiança
Em pingos d’água numa enfada dança
Purgando áridas angustias e pecados
Temporal no sertão, e tão agitados
Escoam nas planícies numa pujança
Deitando melancolias numa trança
De saudades e suspiros desolados
Do teu copioso gotejar, o luzidio
Relampejar, eriçando em arrepio
Que agita a tempestade tão furiosa
Troa lá fora, em um agravo vitupério
Estrondeando e envolto em mistério
De um vendaval em cantilena prosa...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
30/11/2020, 20’51” – Triângulo Mineiro
BOM DIA!
Acordo cedo com a passarada
D’alvorada vejo toda a magia
Sacode-me com jeito, a poesia
E abre-me a manhã iluminada
Estremunhado pela madrugada
Vou, louvando a todos mais valia
Afagando meus votos de alegria
Com voz torpor do sono deixada
Senhor! Gratidão por mais este
Avidar! Que seja sem abrolhos
Dá-me amor e agrado por guia
E reserva também, ó Pai Celeste
Ventura, sonhos aos bons olhos
E aos aqui ledores: - o bom dia!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
03/12/2020, 08’58” – Triângulo Mineiro
A UMA SAUDADE
Entre as custosas saudades, pobrezinha
Que eu velo, no sentimento, uma existi
Que dói, corrói, inquieta, deveras triste
Que suspira quando a solidão avizinha
E nesta sorte da sensação tão sozinha
Uma carência na poética ainda insiste
Que no trovejar um desalento persiste
De tu, paixão, que não mais convinha
Sabe a lembrança velha abandonada
Que espanca, que não mais acontece
E ainda atucana na emoção acordada
E assim para, a olhar com nostalgia
Faminta de saudade, tal se quisesse
Tê-la vivente na ruminada poesia!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
03/12/2020, 15’17” – Triângulo Mineiro
FASE
Cisma a dor n’alma descrente e fria
De uma emoção solitária e calada
Em sua fronte tristonha e chorada
Pesadas rugas duma sorte sombria
A luz da paixão, vazia de alegria
Carrega a saudade amargurada
Suspira sofrência na madrugada
A solidão, companheira da agonia
Ao pé da lua prateada. Pendente
A boa dita, o bem amigo da gente
Parece que dos céus nada realiza
Geme a brisa no cerrado, agrado
Qualquer, só o penar imaculado
É ventura, fase, o tolerar divisa!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
04/12/2020. 08’22” – Triângulo Mineiro
