Poesias de Olavo Bilac a Ultima Flor
Todas as opiniões, com efeito, nascem de alguma reação à experiência vivida, mas muitas delas são uma reação de fuga, o fechamento neurótico numa redoma de palavras. São expressões de almas frágeis e vacilantes, que se apegam a opiniões como se fossem amuletos, para escapar ao terror da incerteza, ao thambos aristotélico, portanto à possibilidade mesma de acesso à verdade.
O método Stanislavski ensina-nos a técnica da identificação psicológica profunda com os vários personagens, de modo que o conflito dramático da peça [teatral] seja interiorizado como conflito psicológico na alma do próprio ator. Uso isso até hoje para entender as idéias mais absurdas e perceber nelas, senão um fundo de razão, ao menos um princípio de verossimilhança. Isso tornou-se para mim tão rotineiro e natural que não me atrevo a contestar uma idéia se antes não a tornei minha ao menos por alguns minutos, de modo que falo sempre com a autoridade segura de quem está discutindo consigo mesmo. [...] Todo mundo tem direito a ter opiniões, mas é melhor tê-las depois de um mergulho aristotélico-stanislavskiano no mar das contradições. Quem quer que tenha amor à verdade anseia por esse mergulho, mesmo quando não tem a certeza de encontrar alguma verdade no fundo. A fuga generalizada ante esse desafio é o traço mais geral e constante dos 'formadores de opinião' no Brasil. Em última análise, esse fenômeno expressa o medo de viver, o desejo de fugir logo para um mundinho imaginário imune a riscos intelectuais.
A doença política do Brasil é a condensação de um handicap cultural crônico, a pequenez da alma e o estreitamento do imaginário ante a complexidade da existência. Os brasileiros vivem citando Fernando Pessoa, mas não tiram de um de seus versos a conclusão mais necessária e urgente: Nada vale a pena quando a alma é pequena.
Natureza é a forma interior da espécie ou do indivíduo, o algoritmo permanente das suas mutações possíveis.
Vivem perguntando minhas opiniões sobre assuntos a respeito dos quais não tenho nenhuma. Quem tem opiniões sobre todas as coisas são os palpiteiros da mídia e da internet. Um filósofo só pode ter opiniões sobre casos e questões que ele examinou pessoalmente.
Está na hora de parar com essa história de 'Fulano é boa pessoa, mas, sacumé, coitadinho etc. e tal'. Quem quer que ouse ocupar um cargo ou desempenhar uma responsabilidade que está MANIFESTAMENTE acima das suas capacidades e conhecimentos NÃO É UMA BOA PESSOA.
Desde que o mundo é mundo, há um conflito insolúvel entre a busca do conhecimento e a busca do prestígio, da respeitabilidade, da aceitação na 'boa sociedade'. O saber avança contra todo bom-mocismo, contra todo convencionalismo, contra todo conformismo bem-pensante. Hoje em dia, porém, a ciência, especialmente sob a forma do 'consenso acadêmico', tornou-se um dos pilares do convencionalismo e o guardião do portal da 'boa sociedade'. Você pode matar sua mãe sem deixar de ser uma pessoa respeitável, mas conteste algum artigo-de-fé do consenso acadêmico e imediatamente fazem de você um réprobo, um monstro, um inimigo da humanidade.
Como, em princípio, nenhuma filosofia tem uma interpretação perfeita e definitiva, a mais usual e prestigiosa caricatura da filosofia – que as universidades brasileiras acreditam ser a filosofia propriamente dita – é discutir eternamente miudezas de significado nas obras dos filósofos. Na USP chamam essa frescura de 'rigor'.
Só um idiota completo acredita que uma política se define pelos seus ideais proclamados e não pelos meios materiais de ação que emprega. Não é por coincidência que os maiores genocidas foram também os maiores propagandistas da democracia e da igualdade.
A ordem social depende da ordem fundamental da mente humana, baseada nas constantes universais a que me referi outro dia. Se esta se perde, as próprias leis se tornam instrumentos de desordem, e toda esperança de restaurar a ordem por meios jurídicos e políticos é vã. A ordem da mente depende da cultura, da religião e da arte -- se estas se corrompem, tudo está perdido.
[...] a filosofia, quando o é de verdade, não reside nos textos, nas 'obras' filosóficas, e sim no filosofema, no conteúdo essencial de uma conexão de pensamentos, intuições e outros atos cognitivos que forma o mundo e o estilo próprios de um determinado filósofo. É isto o que nos permite distinguir entre 'as obras de Aristóteles' e 'a filosofia de Aristóteles'. (Esta distinção é impossível em literatura: em que consiste a poesia de Shakespeare senão nos textos de Shakespeare?) Há filósofos sem obra — a começar do pai de todos nós: Sócrates —; há filósofos cujo pensamento nos chega por obras escritas por testemunhas ou por ajudantes (não conheceríamos o pensamento de Husserl sem a redação de Fink). Mas não há filósofo sem filosofema — e aquele que publique dezenas ou centenas de livros eruditíssimos, com opiniões de estilo filosófico sobre assuntos filosóficos, não se torna por isto um filósofo. A filosofia de um filósofo não está em seus textos, mas num certo modo de ver as coisas, que é transportável para fora deles e participável por quem quer que, saltando sobre os textos, faça seu esse modo de ver, integrando-o no seu próprio.
No Brasil, agir com a maior boa-fé e sem visar a nenhuma vantagem imoral torna você um réprobo, um inimigo público.
O que estabelece uma analogia entre dois entes, portanto, não são as similitudes que apresentam no mesmo plano, mas o fato de que estão ligados a um mesmo princípio, que cada qual representa simbolicamente a seu próprio modo e nível de ser, e que, contendo em si um e outro, é forçosamente superior a ambos. [...] Visto desde cima, desde o princípio que os constitui, eles revelam a proporcionalidade entre as funções simbólicas que desempenham para a manifestação desse princípio, cada qual no nível cosmológico que lhe corresponde, e é essa proporcionalidade que constitui a analogia. Vistos desde baixo, desde a fenomenalidade empírica, eles se desmembram na multilateralidade das diferenças. Assim, a analogia é simultaneamente evidente e inapreensível; óbvia para uns, inconcebível para outros, conforme a unidade ou fragmentação das suas respectivas cosmovisões.
Ademais, nem o sucesso póstumo da minha obra é coisa que mexe com o meu coração. Só o que espero é estar no céu com Nosso Senhor Jesus Cristo, com a Santa Virgem e com os meus entes queridos.
Quantos brasileiros vocês conheceram que assumiam o esforço de tornar-se pessoas cada vez melhores, do ponto de vista moral e espiritual, como sua missão mais importante -- ou única -- na vida? Eu só conheci um. E no meio jornalístico nunca vi nenhum que sequer concebesse, mesmo de longe, essa possibilidade.
"Todo sujeito que escreve só na linguagem da sua profissão, sem domínio suficiente da língua geral, não passa de um jumento mal treinado. Mas, no Brasil, esse é o protótipo do 'homem culto'."
Quando o Paulo Francis deu a um de seus livros o título de 'Opinião Pessoal', foi por pressentir que se tratava de objeto em extinção no Brasil. Hoje em dia só há opiniões de grupos e partidos, e eu me tornei o representante incompreensível de uma espécie desaparecida.
Os jornalistas e acadêmicos, no Brasil, usam de um método arqueológico: pegam um fragmento irrisório qualquer e com base nele constroem o desenho inteiro de uma inteligência, de uma alma, de um personagem do qual não sabem e continuarão não sabendo nada.
Se todos somos de certo modo produtos da sociedade em que estamos, nossas opiniões, incluindo as negativas que [temos] sobre a própria sociedade, são criações dela mesma e fazem parte do mesmo mal que denunciam. A única possibilidade de haver uma crítica social legítima, que funcione, é a de que o indivíduo humano de algum modo se coloque acima da sociedade e consiga ver nela algo que ela mesma não vê. É necessário que a consciência dele esteja acima do nível de consciência que aparece nas próprias discussões públicas. Para criticar minha sociedade como um conjunto, preciso me colocar numa perspectiva que me permita vê-la como objeto, e daí já não sou mais um personagem ou um participante da coisa, mas um observador superior; consegui uma posição acima da confusão, de onde posso ver o que está acontecendo e julgar o sentido geral das coisas. (palestra, 2001)
O que chamamos 'método científico' -- mesmo supondo-se que seja aplicado com máxima probidade e correção, o que é rarissimamente o caso -- não ocupa senão uma parcela ínfima do território abrangido pela razão humana. Mais ainda: essa parcela não tem NENHUMA autonomia, mas depende de pressupostos lógicos, epistemológicos e metafísicos que estão infinitamente fora do alcance desse mesmo método. Dar à ciência moderna o estatuto de representante única ou máxima da razão é VIGARICE.
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