Poesias de Olavo Bilac a Ultima Flor
"No meio cultural subdesenvolvido, o maior risco que você corre não é o de permanecer inculto. Isso você pode superar mediante o estudo. O maior risco é o da alienação, o de viver num mundo de idéias gerais que não têm nada a ver com a sua existência concreta."
É claro que, para cada domínio especial do conhecimento e da vida, uma faculdade em particular se destaca, ainda que sem se desligar das outras: o raciocínio lógico nas ciências, a imaginação na arte, o sentimento e a memória no conhecimento de si, a fé e a vontade na busca de Deus. Mas, sem a inteligência, que é cada uma dessas funções, ou a justaposição mecânica de todas elas, senão uma forma requintada de fetichismo? Que é uma imaginação que não intelige o que concebe, um sentimento que não se enxerga a si mesmo, uma razão que raciocina sem compreender, uma fé que aposta às cegas, sem a visão clara dos motivos de crer? São cacos de humanidade, jogados num porão escuro onde cegos tateiam em busca de vestígios de si mesmos. Toda “cultura” que se construa em cima disso não será jamais senão um monumento à miséria humana, um macabro sacrifício diante dos ídolos.
A prova lógica pela contingência nos dá a certeza suficiente da existência de "um" Deus criador, mas não prova que esse Deus seja o Deus do cristianismo, o Deus da Santíssima Trindade. O que nos assegura que Ele o seja é a Revelação, a fé. Mas, depois de dois milênios de cristianismo, não temos indícios suficientes da ação de Deus no mundo que nos permitam reforçar a fé com novos argumentos racionais? Quando digo que a prova pela contingência só nos oferece uma "certeza razoável" em vez de absoluta, estou me referindo ao Deus da cristandade, não ao Deus genérico; é claro que da existência deste a prova lógica dá certeza absoluta, mas isso, evidentemente não basta.
"O desejo imoderado de subir socialmente muito acima das próprias capacidades intelectuais é uma DOENÇA MENTAL GRAVE que só pode ser curada mediante a devolução do doente ao lugar modesto que lhe cabe naturalmente na hierarquia dos méritos e poderes. No Brasil essa doença tornou-se endêmica e requer uma ação firme e urgente antes que a presença dessas pessoas nos altos postos leve o país à catástrofe. Não existe o direito à incompetência presunçosa, ao fracasso arrogante, ao desastre triunfal."
Nosso próprio ideal de perfeição é o grande instrumento do diabo, que com ele nos acusa, nos humilha, nos castiga e faz de nós, a título de miserável compensação psíquica, acusadores do próximo, da humanidade, do universo inteiro — pequenos diabos intoxicados de angelismo. A única Perfeição real que existe, em contrapartida, é o perdão universal oferecido com sacrifício da própria vida — não uma vez, mas infinitas vezes até o Juízo Final.
A precisão na escolha das palavras é o primeiro dever de um escritor, mas a maioria dos que no Brasil de hoje se apresentam como escritores não pode praticá-lo, pois ele depende de percepção exata, autoconsciência exigente, humildade e sobretudo a mais rigorosa distinção entre percepções e impulsos. Todas essas virtudes só se cultivam na solidão. São totalmente inacessíveis a indivíduos que vivem de um sentimento de solidariedade grupal — os eternos signatários de “manifestos de intelectuais”.
Qualquer que seja o seu emprego, por mais humilde e até deprimente, dedique a ele o melhor de si, como se fosse um dever de religião, porque de fato é. Nunca se ouviu dizer que Nosso Senhor, no seu emprego de carpinteiro, deixasse de entregar alguma encomenda sob o pretexto de que “Tenho de falar com o meu Pai lá em cima”.
Às vezes me divirto, às vezes me entristeço, ao ver a desenvoltura autoconfiante com que alguns jovens me enviam objeções que lhes parecem imbatíveis, sem nem por um segundo suspeitar que um homem que está estudando o assunto há meio século pode já tê-las pensado ele mesmo décadas atrás e até acreditado nelas por algum tempo. A maior tragédia da incultura é sua impossibilidade de imaginar o que se passa na cabeça do homem culto.
É típico da charlatanice demagógica apegar-se a chavões compactos, que lançam uma má impressão no ar sem poder nem querer apontar a que fatos da realidade correspondem, e que por isso mesmo fogem da análise como o diabo da cruz.
"'Respeitar' uma opinião da qual discordamos só é possível em questões muito obscuras e difíceis -- por exemplo, o alcance ontológico da física quântica, ou as causas das mudanças climáticas -- nas quais, não sendo possível chegar a conclusões definitivas, temos de admitir que certas opiniões que nos parecem erradas podem ter sido úteis e valiosas na busca progressiva da verdade. Opiniões erradas dignas de respeito são comuns nas ciências e na filosofia. Mas, nas discussões populares, onde a maioria não busca a verdade e sim apenas a persuasão, nada disso é possível nem necessário. A afetação de respeito por qualquer imbecilidade que se pretenda contestar é um fingimento que só serve para tornar o debate mais confuso do que ele já é."
NADA estupidifica mais perfeitamente um ser humano do que o uso habitual do vocabulário das ciências naturais em contextos que escapam ao horizonte cognitivo próprio delas. O sujeito tem a impressão de que está nomeando a realidade das realidades, quando está apenas fazendo metáforas e metonímias muito vagabundas.
A primeira e mais notável característica do ensino da filosofia no Brasil é o seu amor idolátrico aos "textos" e seu total desprezo aos assuntos dos quais eles tratam. O sujeito passa anos esmiuçando o pensamento de Descartes ou de Nietzche, e quando você pergunta "Mas isso que eles estão dizendo é verdadeiro ou falso?", ele olha para você com a cara de quem estivesse vendo um recém-egresso do Pinel.
Todo sujeito incapaz de apreender um problema filosófico pode, no entanto, perceber por mera leitura como esse problema aparece formulado em Kant, em Hegel ou em Nietzsche. Assim, cria-se uma filosofia sem assunto próprio e reduzida a "uma atividade com textos", como dizia o prof. Gianotti. É um fenômeno exclusivamente brasileiro, desconhecido no resto do mundo.
No meu modesto entender, todo diploma de letras ou ciências humanas obtido numa universidade brasileira deve conferir ao seu portador o direito de cortar cana pelo resto da sua vida.
Iluminismo e liberalismo estão certos nos valores que afirmam e errados naqueles que negam. Leibniz já havia observado que isso acontece com muitas filosofias.
"A fé sem as obras é morta" não quer dizer apenas que a fé sem obras é uma fé diminuída, incapaz de salvar. Quer dizer que ela NÃO OPERA como verdadeira fé, que é mera crença ou idéia e não fé, isto é, que ela não existe de maneira alguma. Se a fé mesma já não é em si um agir, um trabalho, uma OBRA no interior da alma, ela não existe exceto como hipótese.
O princípio de TODA compreensão histórica e sociológica é o amor ao próximo, incluindo a preocupação pessoal com o seu destino eterno. Ignorando isso, o estudioso não se coloca na posição real de indivíduo humano concreto, mas na de um observador divino hipotético, na qual toda a sua visão da realidade histórico-social se reduz a uma dança de estereótipos.
"Uma criança pequena pode aprender matemática, gramática, ciências naturais, desenho, música, dança e esportes sem grande dificuldade. Mas a História e sobretudo a filosofia dependem de uma compreensão mais madura da vida."
É no mínimo curioso, para não dizer cômico, que alguém se considere filósofo por ter cursado uma faculdade de filosofia. Pela lógica, o que o sujeito é se define pelo que ele faz e não pelo que recebeu pronto dos outros. A qualificação numa atividade profissional prova-se no seu exercício e não na mera autorização recebida para exercê-la. Um diploma de letras não faz de você um escritor, um diploma de Direito não faz de você um advogado. Tudo depende do que você faz depois de recebê-lo. Isso é tão óbvio que ter de explicá-lo já prova que o nosso interlocutor é um jumento. Escreva pelo menos três livros de filosofia que os outros filósofos considerem importantes, ou dê cursos onde as pessoas sintam encontrar algum ensinamento filosófico valioso, e aí sim diga que é filósofo. Um diploma prova apenas que seus professores o consideraram apto a tornar-se filósofo, e não que você já o seja efetivamente.
A coisa mais difícil e arriscada, na vida intelectual, é apreender um sistema, uma ordem, uma rede de conexões por trás de dados fragmentários e inconexos. No mínimo é preciso experimentar muitas hipóteses contraditórias até encontrar a que seja menos inviável, e essas hipóteses só acabam se revelando bastante tempo depois dos fatos transcorridos, quando várias tentativas já falharam (as famosas 'opiniões dos sábios', que segundo Aristóteles são o começo de toda investigação). Mas, no Brasil, as coisas mal acabam de acontecer e já aparecem mil espertinhos desvendando as conexões mais espetaculares por trás de tudo, sem nem mesmo cogitar de outras hipóteses possíveis.
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