Poesias de Olavo Bilac a Ultima Flor
Uma teoria ambígua não é NUNCA uma hipótese legitima, capaz de submeter-se a um teste científico. O marxismo e a teoria da evolução são exemplos: mudam de interpretação cada vez que são refutados.
[...] uma segunda hipótese NÃO É uma segunda 'interpretação' dos fatos mas uma segunda EXPLICAÇÃO deles. Enquanto subsistem interpretações divergentes, é impossível formular uma hipótese.
Mil vezes já expliquei que, se a conduta de um filósofo pode ser explicada pela hipocrisia, pelo fingimento proposital ou por algum distúrbio mental, não faz sentido apelar ao conceito de 'paralaxe cognitiva'. É óbvio: se algo tem uma explicação psicológica banal, para quê recorrer a um conceito histórico-cultural ao descrevê-lo? [...]
Falei em paralaxe cognitiva mais especialmente a propósito de Kant e Marx. Nenhum dos dois era louco, nenhum dos dois era burro, nenhum dos dois era um farsante proposital. Nos casos de Maquiavel e Rousseau preferi explicações mais propriamente psicológicas: a inépcia, no primeiro caso, a autopersuasão histérica, no segundo. [...]
Paralaxe cognitiva é o deslocamento (estrutural, entenda-se) entre o eixo de uma construção intelectual e o eixo da experiência real à qual nominalmente ela se refere. É um fenômeno cultural que aparece na história da filosofia, endemicamente, a partir do século XVII, e que, por definição, nada tem a ver com hipocrisia, mentira ou loucura pessoal.
Em resumidas contas, a paralaxe cognitiva aparece quando o filósofo, no seu juízo perfeito e sem nenhum intuito de mentir, descreve como realidade aquilo que ele está pensando em vez do que está vendo.
A paralaxe cognitiva resulta inevitavelmente do abandono do realismo filosófico.
A paralaxe cognitiva é um engano fundamental, básico, que o filósofo comete na interpretação da SUA PRÓPRIA filosofia.
A coisa que mais me enoja num escrito é o autor que não escolhe as palavras pela precisão com que correspondem ao objeto descrito, mas pela impressão emocional que, em total prejuízo da exatidão descritiva, deseja despertar no leitor. Esse procedimento é ainda mais perverso e revelador quando se trata de termos técnicos que, por possuírem significados convencionais bem definidos, só se prestam a essa operação mediante distorções forçadas que denotam precário domínio do idioma. [...] O estilo é o homem, mesmo quando a criatura em questão tem, de homem, pouco mais que o rótulo taxonômico.
Esse tipo de eloquência, que é menos canina do que simiesca, nunca funciona, exceto ante plateias previamente dessensibilizadas para as propriedades do idioma.
Ante plateias normais e cultas, ao contrário, a precisão é a condição primeira e indispensável da força persuasiva.
O mais velho e constante chavão anti-olaviano é: 'Os alunos dele obedecem-no servilmente.' Aquele que emite essa opinião oferece-se, automaticamente, como modelo de pensamento independente e busca desapaixonada da verdade, qualidades que ele comprova ao julgar com tal segurança um curso que jamais frequentou e cinco mil pessoas que jamais viu.
É óbvio que ninguém pode praticar semelhante atividade mental sem grave incompreensão das suas próprias palavras, num paroxismo de impropriedade vocabular em que o uso do idioma mal se distingue dos grunhidos pré-verbais. Por exemplo, que significa o verbo 'obedecer' quando aplicado a uma exposição teórica? ou que significa o termo 'servilismo' quando aplicado a uma situação pedagógica em que o professor não dá ordens a ninguém e, se as desse, não poderia, pela distância, averiguar jamais se foram obedecidas?
Em geral as pessoas só reagem -- externa e internamente -- a fatos que são do domínio comum do seu meio social mediato e imediato. O homem que investiga por si mesmo, tendo acesso a fontes mais ricas e fidedignas do que a mídia popular e o zunzum do quarteirão, terá portanto reações e decisões que parecerão estranhas, incompreensíveis ou chocantes à platéia em torno, a qual provavelmente só virá a compreendê-las depois de muitas décadas. Não é sensato você querer saber o que os outros não sabem e esperar que eles o compreendam na mesma hora. A incapacidade ou relutância de suportar essa tensão é uma das maiores causas de fracasso numa vida de estudos.
Os intelectuais de esquerda gostam de posar de 'outsiders', mas na verdade só sabem ser outsiders coletivos e sob a proteção do 'establishment'.
A condição de todo debate, com efeito, é alguma intimidade com a mente do adversário, alguma compreensão das percepções que o levaram à sua visão do mundo. Isso pressupõe a disposição e a coragem de deixar-se permear pela sua influência, confiando na própria força de superá-la depois.
Mas quem sobrou vivo entre os 'intelectuais públicos' deste país para absorver e, se possível, superar ou contestar o que ensinei em O Jardim das Aflições, em Aristóteles em Nova Perspectiva, em O Futuro do Pensamento Brasileiro, em A Filosofia e seu Inverso e em nada menos de quarenta mil páginas de aulas e conferências transcritas, sem contar uns quinhentos artigos publicados na mídia desde 1998 e os trezentos e tantos programas de rádio em que traduzi (ou talvez deformei) um pouco do meu pensamento na linguagem do mais acessível esculacho popular?
No Brasil a vida intelectual superior, mesmo na sua expressão mais tosca, que é o debate ideológico, acabou. Se nos testes internacionais os nossos estudantes tiram sempre os últimos lugares, não é sem razão: o exemplo vem de cima.
Portanto, o conteúdo da minha obra, ou de qualquer outra que pareça detestável, não interessa mais. Basta a rotulagem superficial, passada de pata em pata entre bichinhos assustados para mantê-los a uma profilática distância de uma influência ameaçadora.
Se você é burro, não desanime. Todos nascemos burros, inclusive os gênios. Só o que não pode é dizer, como um amigo do Pedro aos dez anos de idade:
— Sou burro com muito orgulho.
Uma coisa que me deslumbra diariamente é ver o número de pessoas que acreditam possuir a solução completa e definitiva de problemas que a mim me parecem insolúveis. Quase todas elas se sentem confiantes e tranqüilas pela simples razão de que, deslumbradas com a solução, não chegaram a perceber que há um problema.
A questão da influência dos astros sobre a vida humana é um caso típico. Às vezes parece que existe, às vezes parece que não. Li não menos de trezentos livros a respeito, e até hoje não cheguei a qualquer conclusão que seja. O restante da população brasileira já chegou a conclusões definitivas sem ter lido nenhum.
O discurso ideológico é, no fundo, nada mais que retórica – o tipo de pensamento que não é voltado para o conhecimento, mas para a ação imediata. A persuasão retórica é absolutamente indispensável à ação prática, na esfera privada como na vida pública. Querer eliminá-la é tão utópico – e tão ideológico – quanto querer suprimir o mercado.
O mal não está na mera existência do pensamento ideológico, nem mesmo na sua onipresença na vida social. O mal aparece quando as esferas de atividade que deveriam ser orientadas por formas de pensamento mais exigentes e mais voltadas à descoberta da verdade se deixam infectar de ideologismo, como acontece, no Brasil, com a quase totalidade do que se produz sob o rótulo de 'ciências sociais'.
Foi Maquiavel quem ensinou ao Ocidente que olhar a humanidade pelas lentes deformantes da malícia corrosiva, atribuindo a tudo os motivos mais baixos e sórdidos, é realismo. Mas isso não é realismo nenhum. É uma redução metonímica da substância a algumas de suas propriedades e acidentes. É fantasia de um tímido ressentido que, incapaz de se opor eficazmente à adversidade, se vinga da própria fraqueza xingando e rebaixando a espécie humana.
A deformação maquiavélica do rosto humano se tornou, no último século, quase uma obrigação para muitos escritores, mas, da minha parte, desde jovem notei que nada poderia compreender da realidade se não me vacinasse primeiro contra o vírus desse Ersatz de realismo.
***
O negativista maquiavélico posa de valentão que não precisa de ilusões e tem a coragem de chamar as coisas pelos seus verdadeiros nomes. Bem, ele pode até dizer os nomes verdadeiros de algumas coisas, mas nunca é valente o bastante para chamar o seu próprio fingimento de fingimento.
Todo sujeito que acha que é culto porque teve boas notas na universidade ou na escola militar não tem a menor idéia do que é cultura.
Universidade, especialmente no Brasil, dá apenas formação profissional, quando muito, CULTURA é SEMPRE E INVARIAVELMENTE AUTODIDÁTICA.
Milagres são fatos da ordem física, só conhecíveis por observações, testemunhos e testes científicos. Não são, por si, objetos de 'fé', pois se o fossem não poderiam ser observados por descrentes.
Isso quer dizer que uma opinião sobre milagres [...] só vale alguma coisa se emitida por alguém que tenha lido muitos relatos de milagres ou presenciado ele próprio algum milagre.
Caso contrário, o sujeito está tomando um conceito abstrato -- ou, pior ainda, a mera palavra que o designa -- como se fosse a coisa conceituada.
Sou o primeiro escritor que, na história do mundo, se tornou slogan em protestos de rua. Depois disso, querer uma vaguinha em ministério seria humilhação.
Também fui louvado pelos gigantes e achincalhado pelos pigmeus -- Ives Gandra e Paulo Bundadelli, por exemplo -- o bastante para entender que minhas obras não são para qualquer zé-mané.
Confundir a cultura filosófica com o exercício da filosofia é como confundir a cultura musical com a música. É uma atitude tão idiota que basta, por si, para excluir o sujeito tanto da música quanto da cultura musical.
TODO o ensino de filosofia no Brasil é baseado nessa confusão digna de um orangotango.
Entendem por que os verdadeiros filósofos -- Mário Ferreira dos Santos, Vilem Flusser, Vicente Ferreira da Silva, eu -- fomos sempre rejeitados no ambiente universitário brasileiro, enquanto nulidades como José Arthur Gianotti, Marilena Chaui e Renato Janine Ribeiro eram ali celebradas como grandes filósofos?
Você só se torna um homem culto quando a cultura adquirida fecundou e moldou a sua personalidade, o seu modo interior de sentir e perceber — não quando ela apenas lhe deu alguns instrumentos de raciocínio, que você carrega como equipamento exterior.
Estudar filosofia, ciência política, direito, sociologia etc. jamais fará de você um homem culto, se você não consumir literatura em doses ainda maiores, e com aquela ânsia incontida de apreender novas e mais ricas maneiras de sentir, de perceber, de ouvir e de falar.
Os frankfurtianos NUNCA pensaram em como alimentar pessoas ou bichos, nunca pensaram em resolver problema NENHUM. Só pensaram em levar às últimas consequências o projeto marxista de destruir, pela crítica, 'tudo quanto existe' (sic). Felizmente eles jamais tiveram o poder de levar à prática suas idéias. Mas, idéia por idéia, eles são monstros incomparavelmente mais desumanos que Stalin, que se fechavam na torre de marfim para observar de longe, esteticamente, a destruição geral que eles mesmos fomentavam.
Aos dezessete anos, eu admirava os Horkheimers e Marcuses. Quem continua a admira-los aos sessenta ou setenta é um boçal definitivo, incurável, que nunca saiu da adolescência.
Os frankfurtianos desprezavam qualquer ideal positivo e só acreditavam na força supostamente redentora da 'crítica radical de tudo quanto existe' (expressão de Karl Marx). É o mesmo que dizer: desprezavam qualquer tentativa de fazer o bem e idolatravam a pura destruição.
Não é estranho que seus admiradores sejam, quase sempre, devotos também de Heidegger, cuja filosofia leva à mesma devastação geral de tudo.
Faço afirmações históricas graves e bem documentadas, e me respondem com picuinhas, fofocas e lacrimejações de autopiedade. Discussão séria, nada.
Nunca vi antes tamanho festival de baixeza.
✨ Às vezes, tudo que precisamos é de uma frase certa, no momento certo.
Receba no seu WhatsApp mensagens diárias para nutrir sua mente e fortalecer sua jornada de transformação.
Entrar no canal do Whatsapp