Poesia do Preconceito Vinicius de Morais
É abobrinha
Sempre enganado, sempre jogado, sempre esquecido
Nunca amado, nunca teve felicidade, nunca relatou
Afundado em sua própria mente
Dominado por embalagens de si mesmo
Enjoado de viver
Enjoado a toa, pois nunca viveu
Não vai ter fim
Sempre estará atrás de algo
Sempre estará padecendo
Sempre crítico
Mais crítico de si, mesmo enjoado
Não vive em paz
Olhando no espelho
Só vê duas crateras
Padece em desespero
Em medo
Em auto amor
Em auto ódio
Padece por ajuda
Ajudem esse ser
Esse ser não é ser mais
É um brinquedo
Só existe na hora de brincar
Não se preocupe
Ele sobrevive
Não respeite-o
Use-o e jogue-o
Não leve-o a sério
Ninguém leva
É tudo brincadeira
É tudo Shakespeare
É tudo abobrinha
Nós somos os seres
Mais apegados da terra,
Ate males quando se vão
Disfarçado de amor,
nos fazem chorar.
Acredito que o amor exista movendo mundos mas que não se movimenta no meu. Nas histórias de princesas salvas da morte por épicos príncipes em cavalos muito ligeiros, sempre acreditei mais nos cavalos. Os cavalos são a força e a celeridade. Os cavalos são os verdadeiros heróis.
Isto que acabei de dizer não é uma conclusão — é uma mão no peito.
Olhar de Anjo
Dizem que os Anjos aparecem,
Apenas para crianças.
Elas não os reconhecem, porque
Eles sempre estão disfarçados.
São aqueles que, lhe fizeram o curativo,
Quando caiu da bicicleta.
Que ficou, acordado a noite inteira,
Quando você estava com febre.
Que levou você para passear,
Mesmo sem te conhecer,
Junto com os amiguinhos da escola.
Que te presenteou com balas, bolos, festas.
Aqueles que tiveram sempre um olhar terno.
Quando mais você precisava.
Quem disse que Deus não cuidou de você....
Só que; você só lembra de tudo isso;
Depois que cresce.
Achava, no seu mundo infantil,
Que tudo o que acontecia, lhe pertencia
Por direito.
Na verdade lhe pertencia. Mas os Anjos
Que lhes guardavam de tempos em tempos.
Eram tão especiais, que não mediam esforços
Para fazer uma criança sorrir. Mesmo,
Eles possuindo, seus próprios problemas.
Olhavam-no com olhares de Anjo.
Te formaram. E foram para o Céu dos Anjos.
E isso, se repete, em cada geração.
Mesmo que a criança, não reconheça,
Os Anjos em sua volta.
Eles estão sempre ali com seus olhares.
E sentir-se só. É quando; nos lembramos,
Daqueles Anjos, que nos cuidaram.
E não tivemos tempo de agradecer.
Marcos fereS
Iniciação
Infalível, dia após dia
mergulhas no mar das trevas
decúbito na cama esquife
entre lençóis mortalha.
O cansaço te prostra
e arrasta pelas sendas
abissais do nada.
Em parêntesis de tempo
sonhos irrompem tênues
devolvendo-te do mundo
quebra-cabeças e farelos.
Firme instala-se o hábito
da ausência e da renúncia:
vais ensaiando a morte,
última exigência do corpo,
em teu colchão de espuma
Navio-esquife
Correm as águas do rio
Corre veloz o navio
Entre as faces do vento
Entre as faces do tempo
Corremos nós.
Ao abraço de que foz
Viajam as águas
Viajamos nós?
Árvores nas margens
Céleres passam
Sob remansos de céu
Onde se apaga o sol.
Eis que longe o porto acende seu colar de luzes:
Grinalda para os mortos
Que no navio-esquife
Ante-somos todos.
Tragediazinha
Cansou-se da eterna espera
o morno amor chove-não-molha
e retirou seu cavalinho
da chuva peneirando lá fora.
Casou-se com a igreja
o fogão a máquina de costura
e recheou os frios dias
de tríduos e novenas
biscoitos bolos rendas.
Mas na calada da noite
no recato escuro
ainda embala o velho sonho
de um amor absoluto.
Sonho interrompido
É como um sonho impossível
Que está se realizando
Me sinto cada vez mais sensível
Com essa mudança de planos
Estava tudo programado
Data, hora e lugar marcado
Mas esse "serzinho", causou muitos danos.
Eu sonhei com aquele dia
Em que veria seu sorriso
Pensei até na poesia
Que eu faria de improviso
Mas um "serzinho" insensível
Microscópico e invisível
Causou um enorme prejuízo.
Preparei meu melhor abraço
Para entregar todo à você
E assim teria feito
Se fosse do meu querer
Mas as portas se fecharam
E os sorrisos se calaram
Tudo por conta desse ser.
Mas aprendemos que não importa
Se é homem ou mulher
Se é rico ou se é pobre
Ou a cor que tu tiver
Esse "serzinho" tremendo
Mostrou que mesmo pequeno sendo
Não é um "serzinho" qualquer.
Mulher menina
Menina bonita.
Menina sapeca.
De ponta cabeça
Para brincar.
Menina alegre.
Menina amiga.
Que a Vida anima,
Para cuidar.
Menina madura.
De cabeça pra baixo,
Fazendo traquinas.
Para encantar.
Menina Amiga.
Alegre menina.
Que veio para mundo.
Para Amar.
Marcos fereS
Oh morte
Sei que anda comigo
Apareça e me leva embora
Tire de mim esses dias sombrios
Mata-me as sensações de dor
Cura-me desses traumas
Afasta-me esses demônios
Leve-me ao vazio
Tire-me a consciência
E me apresente a inexistência.
Toda história tem seu texto
tem seu pretexto e pronúncia.
Tem seu remorso, seu sexto
sentido de arte e denúncia.
Graça
O meu para sempre
é provisório.
Sou viço falho de infinitos
Fagulha afogada de sonho
Ave aviltada de si.
Grito falhado,
sorte ufanada.
Mas onde sou vencida em tudo
um anjo mudo
me abençoa os nadas.
Caixa
Carregamos pela vida afora
os cheiros dos encontros raros,
dos acontecimentos,
da nossa primeira casa,
do quintal, se houve quintal,
da mãe na cozinha,
dos sonhos quando acordamos.
Se houvesse uma caixa
para guardá-los, seriam
nosso tesouro.
E então, em dias de saudade,
abriríamos nossa caixa
e mergulharíamos
como num túnel do tempo.
Das sete faces do desprezo
A Carlos Drummond de Andrade
Quando eu nasci, não teve sequer um anjo torto
Que me dissesse que a vida não é
Tão fácil o quanto parece ser
Disse: Vai, Valter, ser baiano na vida.
Ladeiras faz bem ao coração
Jovens apaixonados na esquina
Dizendo que não se apega a ninguém.
A tarde de puro sol, o perigo
É imprevisível mesmo que o dia
Seja azul.
O ser vestido de uniforme
Vai trabalhar no ônibus lotado
Sequer sabe se vai ser assaltado,
Acha que tem muitos amigos
No fim de semana.
O ser vestido de uniforme,
Mal sabe quando vai quebrar a cara.
Meu Deus, que sociedade de muita fé,
Que muito chama pelo Senhor,
Pessoas de muita fé e pouco amor.
Mundo mundo vasto mundo
Se eu me chamasse Carlos,
Eu seria outro poeta (?)
Nesse mundo vasto
Que maltrata meu coração.
Mundo mundo vasto mundo
Chega de ilusão?
Eu bem que vou dizer,
Esse mundo cheio de gente eu solitário
Em meu ego e vaidade
Vou me afogando
Sem sequer um abraço!
Que, em todo caminho,
por menor que seja,
eu tenha a grandeza
de valorizar
as flores tocadas
por minhas mãos
e as marcas deixadas
por meus pés...
Amor Eterno de Alexsandra
Surgiste na minha vida
Trouxe consigo teu puro amor
Curou minha ferida
Acalentou a minha dor
O que senti foi algo raro
Quando minha mão, sua mão tocou
E por isso eu nunca paro
De mostrar como meu coração te amou
Teu sorriso me faz tão bem
Que você nem imagina
Vejo na tua face que ainda tem
Teus sonhos doces de menina
Linda és tu como a flor do campo
E teu olhar brilha como o sol
Eu sei bem como te amo tanto
Tu és meu jardim de girassol
Tudo em você é tão perfeito
Desde a mente ao coração
Não vejo nada de defeito
Teu abraço me dá proteção
E por isso o que aqui escrevo
Veio do fundo da minha alma
Nosso amor que aqui descrevo
É como um toque palma à palma
E por ti minha mente sonha
Me tira do pesadelo
É o sono da minha insônia
E o acorde do violoncelo
Vamos comigo dançar ciranda
Girar na chuva e molhar os pés
Correr na areia contra as marés
Amor eterno de Alexsandra
Autor : Wélerson Recalcatti
Borboletas, tão lindas e coloridas
Voam e brincam
São artes vivas
Desenhadas e pintadas
Pôr mãos divinas
Não Somos o Que Queremos Ser
Somos o Que Podemos Fazer
Não Somos o Que Desejamos
Somos o Que Nossos Desejos Trouxeram a Nós
Wélerson Recalcatti
Palavras que eu escrevo aqui
Foram feitas pra dizer
Que no dia que fui te conhecer
Todo o vazio que havia em mim
Tua presença foi suprir